BRASIL: RJ: RIO DE JANEIRO:
França Antártica (France Antarctique) - Parte II
Antarctic France I - Part II
1) 1ª Fase: Conquista do Forte Coligny (anos 1559 e 1560)
a) Ano de 1559: Portugual manda uma frota ao Brasil para expulsar os
franceses
Don João III
(1521-1557), rei de Portugal, informado da presença dos franceses no Rio de
Janeiro, deu ordem ao Governador-Geral do Brasil, Duarte da Costa (1553-1558),
de reconhecer o estado do forte e da Baía de Guanabara. Este reconhecimento foi
feito com muito cuidado, aproveitando-se do desleixo da guarnição do forte, que
confiante em seu poder, relaxava na vigilância dos acessos ao mesmo.
“Como elRei D.
João o III. de Portugal fosse informado como os francezes tinhão feito neste
rio huma fortaleza na ilha de Viragalham , que foi o capitão que nella residia,
que assim se chamava , mandou a D. Duarte da Costa , que neste tempo era
governador d'este estado, que ordenasse de espiar esta fortaleza, e barra do rio,
o que D. Duarte fez com muita deligencia , e avisou d’isso a S. Magestade a
tempo, que tinha eleito para governador geral d'este estado a Mem de Sá, a quem
encomendou particularmente , que trabalhasse por lançar esta ladroeira fora
d'este rio.”
(Souza, 1589)
“Duarte da Costa
recebeu ordem de Noticias reconhecer o estado das fortificações francezas,
quando a devia ter tido de arrazal-as; e em consequência da parte que mandou,
derão-se a Mem de Sá instrucções para atacar e expulsar os Francezes.” (Southey, 1822,
pg. 392)
Preocupado com
as informações que recebeu da ocupação francesa do Rio de Janeiro, o rei mandou
uma frota de reforço à Bahia para expulsá-los. Esta frota, sob o comando de
Bartolomeu de Vasconcellos Cunha, chegou na Bahia em 30 de novembro de 1559, pondo-se
sob as ordens do novo Governador-Geral
do Brasil, Mem de Sá (1558-1572). Este realizou um conselho de guerra com seus
capitães e decide partir em uma expedição contra os franceses na Baía de
Guanabara.
"Senhor. A
Armada que V. Alteza mandou para o Rio de Janeiro , chegou a Bahia o derradeiro
dia de Novembro : tanto que me o Capitam Mor Bartolomeo de Vasconcelos deu as
Cartas de V. Alteza pratiquei com elle , com os mais Capitaens, e gente da
terra o que se faria se fosse mais serviço de V. Alteza : a todos pareceu que o
melhor hera hir cometer a Fortaleza ; por que o andar polla costa hera gastar o
tempo , e monçaõ em cousa muito incerta.” (Mem de Sá, 1560, in Araújo, 1820)
“74. [...] Sua
Alteza a Senhora D. Catherina de Austria, [...], mandou ao Brasil huma armada a seu Governador Mem de Sa, pera que com
todas as forcas procurasse lançar fóra aquella ignominia do nome Portuguez.” (Vasconcellos,
1623, Livro II, 74-76)
b) Ano de 1560: Men de Sá conquista a Ilha de Villegagnon
Em 16 dias de Janeiro de 1560, Mem de Sá partiu
de Salvador para o Rio de Janeiro, com a esquadra e seu jovem sobrinho Estácio
de Sá, com escalas nas Capitanias de Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo,
onde recebeu reforços.
“Eu me fiz logo
prestes o melhor que pude , que foi o peor que hum Governador podia hir , e
parti a desaseis dias de Janeiro da Bahia [...]” (Mem de Sá, 1560, in Araújo, 1820)
“75. O Governador, que de nenhuma outra cousa cuidava,
como era de coração generoso, zeloso da liberdade do Estado que lhe fora entregue,
poz em conselho o modo da execucão do mandado real; e não faltárão pareceres,
que não convinha com tão pouco poder accommeter inimigo tão fortificado; que se
devia dilatar o effeito até melhor occasião, em que houvesse cabedal seguro.
Menos mal he (dizião) sofrer o aggravo por algum tempo mais, que a ignominia de
ser propulsados: que era já a potencia do Francez de consideração, o sitio
quasi inexpugnavel, os auxiliares quasi infinitos: que as náos, bastimentos, e
aprestos de guerra entravão cada dia de França, e não se gastavão. Por outra
parte, que as nossas náos pera tanta empresa erão poucas, e a soldadesca de
conta não podia ser muita, nem demasiados os aprestos de guerra. 76. Estas erão
as razões em contrario: porém o Governador prudente, e christão, depois de
haver consultado com Deos, e com o Padre Manoel da Nobrega (de cuja virtude
tinha grande conceito) que lhe persuadia a empresa, e quasi segurava a
Victoria; e vendo que quanto mais tardasse, mais se difficultava, engrossando o
tempo as forças, e a paciencia dos nossos o animo ao inimigo; e que viria, não
so a defender-se depois com mais facilidade, mas tambem a offender aos descuidados,
e ganhar outras praças, com maior ignominia do nome portuguez: resolveo-se em
aprestar a armada, aggregando-lhe os navios que pôde ajuntar, e barcos da
costa, com a mór quantidade possivel de soldados Portuguezes escolhidos, e
alguns Indios. [...] Com estes, entrégando as velas ao vento, e
esperanças ao Ceo, se fez na volta do Rio de Janeiro, não obstante que alguns
fazião reparo na pessoa, que não parecia conveniente arriscarse com o mais
cabedal, quando tanto necessitava della todo o Brasil. Levava comsigo o seu
fiel amigo Nobrega, sem cujo conselho nada determinava; [...]” (Vasconcellos, 1623, Livro II, 75-76)
Na capitania de Ilhéus, veio lhe ao encontro,
desde São Vicente, o fugitivo
francês Jean de Cointa, senhor de Bolés, que lhe deu informações sobre as
defesas e fraquezas francesas, indicando-lhe os sítios vulneráveis, os costumes
dos franceses, as suas imprevidências. Sem o auxílio do foragido não teria Mem
de Sá tão facilmente tomado aquela posição bem guarnecida e artilhada.
“[…]
depojs disto [Jean de Cointa] foy ter
com o gouernador men de saa e lhe deu conta de tudo e de como os francezes
estauão lutheros [protestantes] / e
lhe deu elle comfesamte [Jean de Cointa] ardis e maneira como avyão de tomar a Fortaleza [Forte Coligny] e se embarcou elle comfesamte com o ditto
governador Men de saa e forão tomar a dita fortaleza dos franceses e os botarão
fora com os ardis que elle comfesamte pera jso deu […]” (Processo
de João de Bolés, 1564, pg. 274)
“Hao
tempo que me queria partir dos Ilheos veio da capitania de são vicemte hum
gemtill homem francez que se chamaua monçeor de bolees [Jean de Cointa, Senhor
de Bolés] pesoa de sangue segundo os
francezes afirmauão ho qual viera de frança pera pouoar ho Rio de Janeiro onde
estaua outro fydalgo monçeor de villa ganhão [messier Villegagnon] que tinha feito huma fortaleza muito fortee
e por desavemças que com ele teue se sajo de sua companhia e se foi pera são
vicemte e dahy veo ter comigo e me descobrjo algumas Roins determinaçojs de
villa ganhão em prejuízo desta terra e do serviço de sua allteza.” (Silva,
1570)
“[...]
dise ele testemunha que estando elle governador [Men de Sá] na capitania dos Ilheos viera hay ter da
capitania de são Vicente hum francez per nome monçeor de boles homem nobre
segundo se depois vjo ho qual lhe dera novaas como estando elle em uma
fortalleza no Rjo de Janeiro que hay tinhaão hos francezes muj forte ele por
ter deferenças com monçeor de villagalhaão que nela estaua por capitão se fora
sem sua licença e escondido delle pera são viçente pera os portugueses que hay
estauão donde viera ter com ele governador como dito hee o qual lhe descobrira
a detriminação do dito de villagalhão e dos malles que determinava fazer nesta
costaa [...].” (Silva, 1570)
Na Capitania do Espírito Santo, Mem de Sá
estabeleceu uma aliança com
Arariboia, que havia sucedido a seu pai como líder dos temiminós, conseguindo,
desse modo, reforçar os seus efetivos com indígenas conhecedores do território
e inimigos tradicionais dos tamoios.
“E indo o governador com esta armada
correndo a costa, de todas as capitanias levou gente que por sua vontade o
quiseram acompanhar nesta empresa, e, seguindo sua viagem, chegou ao Rio de
Janeiro com toda a armada junta, onde o vieram ajudar muitos moradores de São
Vicente.” (Souza, 1587)
As operações militares ocorridas no Rio de
Janeiro em 1560, que culminaram com a tomada da fortaleza de Villegagnon, não
estão bem esclarecidas nas fontes contemporâneas. Além disto, há pontos
contraditórios e obscuros no relato. As fontes francesas contemporâneas quase
não dão informações sobre estes fatos, limitando-se a relatar a fundação da
colônia e seus conflitos religiosos, até a partida do Brasil de Villegagnon,
ficando mudas a partir de então. As fontes portuguesas dão um pouco mais de
informações. A fonte contemporânea mais detalhada é o poema do Padre Anchieta, De Gestis Meni de Saa (1563), que no
entanto é uma obra poética e não histórica, além de ser escrita por um
religioso e não um militar. A outra obra essencial é o Instrumento dos Serviços de Men de Sá (1570), um inquérito feito pelo
Ouvidor-mor da Bahia, Fernando da Silva, por determinação real, a pedido do
próprio Men de Sá, para demonstrar os serviços feitos por este, enquanto
governador da Bahia, para o rei de Portugal. O que se pode dizer com certeza é
que Men de Sá atacou a ilha na tarde de 15 de março, e, enquanto os navios
bombardiavam o forte pelo lado leste, ele, com os barcos pequenos, desembarcou
suas tropas no lado oeste, subiu os rochedos e conquistou a Colina das
Palmeiras. Os franceses contra-atacam 2 vezes, mas forão repelidos. Men de Sá,
então, colocou canhões em terra e bombardeiou o forte francês. Estes à noite
resolvem fugir, abandonando o forte.
É difícil precisar os meios de ambos os lados. Mem
de Sá possuía, além da frota vinda de Portugal, sob a chefia de Bartolomeu de Vasconcellos Cunha, alguns outros
navios reunidos por ele no Brasil. No entanto, a frota de Bartolomeu de
Vasconcellos Cunha não trazia infantaria (o equivalente aos fuzileiros navais)
para realizar o desembarque. A frota, então, acabou sendo constituída de duas naus de guerra principais e
entre oito a dez embarcações menores (caravelões ou galés), uma das quais, a
galé Conceição, comandada por seu
jovem sobrinho Estácio de Sá. Sob o comando de Mem de Sá havia apenas 120
portugueses apoiados por cerca de 140 índios flecheiros em canoas, além da
tripulação dos navios. O efetivo inimigo na ilha era formado por 114 franceses (dos
quais, 40 que fugiram de uma nave capturada pelos portugueses assim que
entraram na baía) com o apoio de um grupo de guerreiros tamoios, que as fontes
portuguesas colocaram entre 800 e 1.500 homens, um número provavelmente
exagerado. As tropa portuguesa, e francesa além de pequenas, eram formadas
principalmente de colonos, e não de militares profissionais. Seu armamento
consistia em pesados arcabuzes, de carregamento frontal, de pequeno alcance e
baixa razão de tiro, além de espadas e lanças. Nem portugueses nem franceses
tinham na região tropas regulares de militares profissionais. Já os índios, de
ambos os lados, usavam suas armas tradicionais, lanças, arcos e flechas e
tacapes. A presença dos índios era fundamental. Eles erão mais numerosos que os
europeus, a razão de tiro do arco era bem maior que a do arcabuz, eles conhecem
bem o terreno, inclusive a terra firme, onde são mestres nas emboscadas e são
guerreiros experimentados e corajosos, o que os tornam decisivos no combate.
“Havia
nella setenta e quatro Francezes ao tempo que negociei , e alguns escravos ,
depois entraram mais de quarenta dos da Náo e outros que andavam em terra e
havia muito mais de mil homens dos do gentio da terra tudo gente escolhida e
tam bons espingardeiros como os Francezes , e nos seriamos cento e vinte homens
Portuguezes e cento e quarenta dos do Gentio os mais desarmados , e com pouca
vontade de pellejar a armada trazia desoito Soldados mossos que nunca viram
pelleijar. (Men de Sá, 1560)
“[…] na fortaleza estavam passante de sessenta franceses de peleja, e mais
de 800 índios […]" (Nóbrega, 1560, pg.
225)
“Detreminei
de hir em pesoa [Men de Sá] por mo sua allteza mandar e fuj com muy
pequena armada e pouqua jente ao menos do Reinno que não trazia majs que jente
do maar [...]” (Silva, 1570)
“[...] detreminara
djr ao dito Rjo como fora con huma armada que do Reino viera em que vinha por
capitão moor bertalomeu de vascogoumçellos e com a majs gente e navjos que ele
governador pode ajuntar que toda foi muy pouqua segundo a fortalleza estaua
forte porque narmada de portugall não vinha gente de peleja somente capitães e
gente do maar e com a dita armada que asy ele governador leuara, chegara ao
dito Rjo [...]” (Silva, 1570)
“[...] detremjnou
de hir em pesoa ao dito Rjo de Janeiro sobre a dita fortalleza e como de feito
foi e partio desta çidade com huma armada pequena e fraqua e de pouqua gente
que a majs gentee que a ditaa armada trazia hera gente de maar a quaall armada
viera do Reinno e bem desaperçebida [...]” (Silva, 1570)
“[...]estando
com majs de çento e vinte françezes e mill e quinhentos yndios [...]”
(Silva, 1570)
“[...] o governador fez prestes a armada, que do reino para isso lhe fôra, de
que ia por capitão-mor Bartholomeu de Vasconcellos; a qual ajuntou outros
navios de El-Rei, que na Baía havia, e dez ou 12 caravelões; e feita a frota
prestes, mandou embarcar nela as armas e munições de guerra e os mantimentos
necessários, em a qual se embarcou a mor parte da gente nobre da Bahia, e os
homens de armas, que se puderam juntar, com muitos escravos e índios forros.” (Souza,
1587)
“75 [...] Erão
os navios por todos (não fallando em barcos) dez, ou onze ; duas náos de guerra
principaes, oito ou nove navios ordinarios.” (Vasconcellos, 1623, Livro II,
74-76)
“19 [...] Os
víveres, e vitualhas naõ eraõ proporcionados para a facçaõ, porém o Governador
supprindo tudo com a sua pessoa, com poucos Soldados, que pode levar, alguma
gente voluntaria, que o quiz seguir, os petrechos, e mantimentos, que se
acharaõ, tres naos de guerra, e oito navios menores, que no porto da Bahia
escolhera mais capazes desta expediçaõ, havendo mandado aviso ás Villas de S.
Vicente, e Santos, que lhe tivessem prompto o soccorro de canoas, [...]”
(Pita, 1730, Livro III, 19)
“Apparelhárão-se para a jornada duas naus de guerra e
oito ou nove navios mercantes.” (Southey, 1822, pg. 392)
“O número dos gentios que estavam em favor dos
Francezes orçava o governador em mais de mil; «tudo gente escolhida e tão bons
espingardeiros como os Francezes.” (Varnhagen,
1854, vol. I, pg. 240).
“Mas os recursos são pequenos: duas naus, algumas
embarcações pequenas e, somando os reforços que trouxe da Bahia aos de São
Vicente, o seu efetivo de combate não ultrapassa 260 homens (dos quais 140
índios). Por isso, os capitães ouvidos se opõe à ação. Mais, criam uma certa
indisciplina intelectual que exige de Men de Sá uma grande energia, para
superá-la.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 129)
“[...] à frente de 120 soldados Portugueses e 140 auxiliares indígenas sob o
chefe temiminó Martim Afonso Araribóia.” (Marley, 2008, pg. 90)
As forças de Men de Sá alcançaram a barra
da Baía de Guanabara em 21 de fevereiro. Devido ao seu reduzido efetivo, Men de Sá planejou atacar os franceses
de surpresa, de noite, assim que chegasse ao Rio de Janeiro, pegando a
guarnição desprevenida. Para tanto mandou que os navios, assim que chegassem ao
Rio, entrassem de noite na baía sem serem vistos, ancorassem perto do forte e
lançassem os pequenos bateis imediatamente, de forma que suas tropas
desembarcassem na ilha antes do amanhecer. No entanto, quando os batéis se
aproximavam do forte já era dia, e foram avistados pelos franceses, perdendo o
efeito surpresa. Não está claro o motivo exato. Nóbrega diz que a esquadra
ancorou longe demais, por imperícia ou desinteresse do piloto guia, e os batéis
tiveram que cruzar esta longa distância, de forma que demoraram demais para se
aproximar da ilha e só chegaram ao ponto de desembarque de dia, de forma que
foram vistos pelos vigias franceses. Segundo Vasconcellos e Lisboa, na verdade,
por contingência da navegação no mar, os navios chegaram cedo de mais, ainda de
dia e foram logo avistados. Portanto, não ficou claro se os navios chegaram
cedo demais, ainda de dia, ou se ancoraram longe demais, de forma aos barcos de
desembarquem só chegarem próximo à ilha de dia. De qualquer forma, no fim, os
portugueses acabaram por fundear fora da baía. Quando os navios de Mem de Sá foram
avistados, os Franceses se achavam dispersos pelas várias aldeias dos tamoios e
poucos vigias guardavam a fortaleza. Eles deram o toque de recolher convocando
todos para a defesa da fortaleza. O próprio comandante francês, Bois-le-Comte,
estaria no continente caçando com os índios. É bem provável que, após o retorno
de Villegagnon à França, a disciplina se tenha afrouchada e os franceses tenham
frequentado habitualmente a terra firme. Mesmo falhando a surpresa, Men de Sá
tinha, no entanto, a vantagem de conhecer bem a posição dos franceses, graças
às informações prestadas pelo trânsfuga Jean de Cointa, Senhor de Bolés.
“D'alli nos partimos ao Rio de Janeiro, e assentou-se
no conselho que dariam de supito no Rio de noite, para tomarem os Francezes
desapercebidos; e mandou o Governador a um que sabia bem aquelle Rio, que fosse
adeante guiando a armada, e que ancorassem perto d'onde pudessem os bateis
deitar gente em terra, a qual havia de ir por certo logar; mas isto aconteceu
de outra maneira do que se ordenara, porque esta guia, ou por não saber, ou por
não querer, fez ancorar a armada tão longe do porto que não puderam os bateis
chegar sinão de dia, com andarem muita parte da noite, e foi logo vista e
sentida a armada.”
(Nóbrega, 1560, pg. 223-224)
“O
Governador prepara uma esquadra para expulsá-los / das terras mal havidas:
esquipa com armas luzentes / muitas naus e as enche de escolhidos soldados. /
Chega o dia em que manda largar porto à esquadra: / [...]
Finalmente junto às desejadas praias as popas deslizam / e de noite fundeiam no
porto [...] / Quando a aurora em seu
manto de luz trouxe ao mundo / o novo dia, eis que aparecem nos altos rochedos
/ as torres soberbas, cingidas de toda a sorte de armas, / e as fortificações
escavadas em vivo granito. / Por acaso, nessa ocasião, os Franceses se achavam
dispersos / pelas várias aldeias dos índios; poucos vigias guardavam / a
fortaleza. Ao avistar a esquadra, apavoram-se os guardas. / Dá o toque de
recolher a corneta estridente / e a todos chama à fortaleza o sinal da
fogueira. / Daqui e dali acorrem todos e apressados se acolhem / aos ninhos
altaneiros, [...] (Anchieta, 1563)
“[...] estando
com majs de çento e vinte françezes e mill e quinhentos yndios [...]”
(Silva, 1570)
“[…] o
resto dos homens estavam em terra firme com seu Capitão, chamado Boisleconte.” (Thevet, 1575, pg 908)
“77 Chegou a armada à barra do Rio de Janeiro, com
prospera viagem (indicio de fortuna prospera) nos primeiros mezes do anno
corrente; e suposto que o conselho era, que logo em chegando no mais escondido
da noite se entrasse a barra, e de repente se accommetesse o inimigo
desacautelado: com tudo, como successos do mar são incertos, forão
constrangidos os nossos a ser primeiro avisados de suas sentinelas, e obrigadoa
a lançar ferro por então de fora. Os Franceses se poserão em preparação; e
deixando todas suas náos, se recolherão à fortaleza com mais de oitocentos
frecheiros Tamoyos; porque assi com a multidão da gente, como das armas,
resistissem melhor a nosso poder.” (Vasconcellos, 1623, Livro II, 77)
“20 Com viagem prospera avistou Mendo de Sá a barra do
Rio de Janeiro [...] e tendo determinado entralla de noite, para
com improviso, e inopinado assalto render as forças dos inimigos, hum acidente
o fez mudar de resoluçaõ ; porque sendo descoberta a nossa Armada pelas suas
vigias, se tinhaõ preparado para a defensa, e foy preciso ao Governador esperar
de fóra os socorros, que mandara prevenir em Santos, e S. Vicente [...]”
(Pita, 1730, Livro III, 20)
“Era intenção do governador entrar pelas horas mortas
da noute e sorprehender a ilha; mas presentido pelas sentinelas, teve de lançar
ferro fora da barra. Apercebérãó-se os Francezes immediatamente para a defeza,
abandonando os navios, e acolhendo-se aos seus fortes com oitocentos frecheiros
indigenas.” (Southey,
1822, pg. 393)
“Não executou o seu premeditado designio de
surpreender aquella Ilha, atacando de noite, por ter sido presentido das
sentinellas inimigas, tendo aportado mais cedo do que esperava, e por isto
fundou fóra da Foz, e immediatamente os Franceses correrão ás fortificações da
Ilha, desamparando os seus navios, acompanhados de 800 sagittarios Tamoios.” (Lisboa, 1835,
vol. 1, pg. 73)
“Nossos homens estavam dispersos, a maior parte deles
sobre o continente, somente alguns no interior do forte. Bois le Comte tinha
abandonado o seu posto, e caçava nas florestas dos Tupinambás.” (Gaffarel, 1878,
pg. 311)
“[...] o governador Bois le Compte está a explorar
o interior com as suas melhores tropas, uma companhia de escoceses
calvinistas.” (Marley, 2008, pg. 90)
Imediatamente,
Mem de Sá mandou a galé Ezaura capturar
uma nau francesa, carregada, dentro da baía, mas sua tripulação de cerca de 40
homens conseguiu fugir para o forte francês.
“[...], e
cheguei ao Rio de Janeiro a vinte e hum dias do mez de Fevereiro , e em
chegando soube que estava uma Náo pollo Rio dentro do próprio Monsseor de
Vilaganhora , que lhe mandei tomar polla Galé Ezaura, que V. A. cá tem.” (Mem de Sá, 1560, in
Araújo, 1820)
“No
mesmo dia que chegamos, se tomou uma nau que estava no Rio para carregar de
brasil: a gente della fugiu para terra e recolheu-se na fortaleza: […]” (Nóbrega, 1560,
pg. 224)
“Uma
nau francesa carregada de inimigos e armas / estava surta no interior do porto
sinuoso. / Por ordem do Governador para lá se dirige / pequena galé, que a
ataca e rende: salvam-se apenas / a nado os índios com os franceses
acolhendo-se à praia. / A nau rendida é ligada à popa da nossa: a fortaleza /
tenta impedir-lhe a volta com projéteis incendiários / e o monstro de ferro
vomita suas bolas de fogo. / Com a ajuda divina, em vão as balas cortam os
ares: / antes, a pólvora explode no paiol inimigo / a um centelha, e o fogo em
turbilhão num momento / envolve e engole desprevenidos a sete soldados. (Anchieta, 1563)
Em
seguida, Men de Sá bombardeiou o forte sem grande sucesso, mas este respondeu
com suas bombardas e espinguardas, forçando as naus portuguesas a se afastarem.
Imediatamente ele cercou e bombardeou a fortaleza para impedir a entrada de
reforços e suprimentos e enfraquece-la, durando isto até o dia do ataque, ou
seja, do dia 21 de fevereiro até a tarde de 15 de março. No entanto, o
bombardeio da fortaleza não lhe provocou grande dano.
“[...] com
a dita armada que asy ele governador leuara, chegara ao dito Rjo honde loguo
serquara a fortaleza por estar em huma jlha mandando poer navjos por onde lhe
podia vjr socorros dos Jndios [...]” (Silva, 1570)
“[...] chegando
ao Rjo de Janeiro emtrando pela bahia ho dito governador mandou dar huma
betaria com artelharia dos navjos na fortalleza dos framcezes / a quall
fortalleza estaua setuada em huma jlheta pequena no meio do maar da bahia do
Rjo em hum piquo tam allto e de penedia muj áspera que hera espanto de ver a
quall muito temoor em todaa a gente portuguesa a qual fortalleza naquelle dia
que o dito governador entrou lhe atirou a dita armada muitos tiros de bombardas
que na fortalleza tinhão que segundo ele testemunha depois vjo hera a majs
fermosa artilheria que se podia ver de maneira que foi forçado os navjos
darmada se sayrem atraz por não Receberem danno dos framcezes [...]”
(Silva, 1570)
“Terminado o reconhecimento, Men de Sá, permanece
cerca de vinte dias à espera de reforços que devem vir de São Vicente [...] (Veríssimo,
1970, RIHGB, vol. 288, pg. 129)
Gaffarel
relata que Men de Sá imediatamente desembarcou suas forças no continente (ele
não cita o local, mas só poderia ser no centro, na Ponta do Calabouço, próximo
ao atual Museu Histórico Nacional, na Praia de Santa Luzia, atual Rua Santa
Luzia, e/ou no alto do antigo Morro do Castelo) para bombardear a fortaleza
francesa e impedir os reforços à mesma, vindos do continente, cercando a ilha. Ao
mesmo tempo os índios Temiminós ocuparam a terra firme, impedindo que franceses
e tamoios se reagrupassem para ajudar o forte. No entanto, este desembarque e
fortificação no continente não é citado pelas fontes contemporâneas e é difícil
de se explicar, com a grande superioridade numérica dos tamoios no continente.
Veja mais abaixo a suposta manobra de distração citada por Anchieta, que não
teria sentido se houvessem tropas portuguesas entrincheiradas no continente.
“Antes que ele
e os Franceses tivessem tido tempo de voltar para a cidadela, Men de Sá
desembarcou o grosso de suas forças sobre o continente, em face da ilha dos
Franceses, para impedir a concentração de seus inimigos e começou a construção
de baterias, destinadas a atirar ao mesmo tempo contra a cidadela e contra
aqueles franceses que tentavam um retorno ofensivo. Ao mesmo tempo os navios se
aproximavam do Forte Coligny, todos prontos a lançar fogo, junto com as
baterias de terra, enquanto numerosas embarcações vigiavam a barra da baía.
Enfim, muitos milhares de índios, os neófitos de Anchieta, ocupavam os campos,
impedindo os nossos compatriotas de se reagrupar, e de tentar uma defesa séria.
[...] e sustentaram bravamente o fogo por vários
dias” (Gaffarel, 1878, pg. 311-312)
Como o efetivo português fosse pequeno, Men de
Sá realizou vários Conselhos de Guerra. O comandante da frota, Bartolomeu de Vasconcellos Cunha, e demais
capitães foram contrários a atacar os franceses por causa da superioridade numérica dos inimigos e de
suas fortificações, julgando que as perdas poderiam ser muito grandes e os
escassos recursos seriam necessários para manter a soberania de outras partes
do território. Men de Sá, vendo que não tinha barcos pequenos para fazer o
desembarque nem gente que soubesse navegar naquelas águas, mandou pedí-los em
São Vicente, tendo para isto enviado Nóbrega e Anchieta, que eram influentes
lá.
“2 Mem de Sa
considerando a falta que auia de nossa parte de canoas, & embarcaçoens
pequenas , & de alguns práticos naquella enseada, & costa: Despedio sem
demora à S. Vicente mensageiros em busca de semelhante socorro: E como o Padre
Manoel da Nobrega , que hia com elle na mesma armada, era tam conhecido, &
amado naquella paragem, & tinha alli a Ioseph [José de Anchieta] seu
amigo, que poderia ajudalo: Foy elle o principal embaixador da proposta , com
esperanças géraes de bom successo , & nam se enganaram , porque em breues
dias, & quando menos o cuidauam , chegou a encorporarse coma armada hum
fermoso bergantim artelhado , com algumas canoas, de guerra , com mantimentos ,
& refrescos da terra & boa copia de soldados , destros na costa , &
peleja naual de embarcaçoens pequenas, Mamelucos , & índios, guiados por
dous Religiosos da Companhia Fernam Luis, & Gaspar Lourenço.” (Vasconcellos,
1672, Livro II, Cap III, 2)
“Só agora
viu Mem de Sá que lhe faltavão canoas, e embarcações de pouco calado, alem de
homens que conhecessem o porto. Foi Nobrega enviado a S. Vicente, onde
solicitasse o auxilio dos moradores, e cumprida a commissão com a usual
habilidade, despachou d'alli um bom bergantim, canoas, e botes carregados de
provisões, e tripolados por Portuguezes, mestiços e naturaes, gente practica da
costa, e amestrada na guerra com Francezes, Tupinambás e Tamoyos. Vinhão dous
Jesuítas conduzindo o reforço.”
(Southey, 1822, pg. 393-394)
Neste meio tempo, Mem de Sá saía em batéis e se punha de noite e de dia
em outras ilhotas que estavam ao redor a observar a fortaleza e a maneira e por
onde se podia atacá-la. Ficou ele, então, aguardando a mudança do vento e a chegada dos contingentes de reforço da Capitania
de São Vicente. Em 14 de março, após receber os contingentes de reforço de São
Vicente, na forma de um bergantim, canoas de guerra, homens, suprimentos e munições,
Men de Sá fez novo Conselho de
Guerra e os capitães novamente forão contrários ao
ataque e sugeriram
mandar uma intimação aos franceses. Apesar de sérios atritos com Bartolomeu de Vasconcellos Cunha,
Mem de Sá conseguiu, no fim, persuadí-lo a obedecer-lhe. Em 15 de março, Mem de Sá enviou um ultimato ao
comandante do forte, Bois-le-Comte,
exigindo sua rendição: era
uma sexta-feira, pelas quatorze horas. Bois-le-Compte respondeu que não lhe cabia julgar. A
sua obrigação era obedecer ao tio e chefe, afirmando a sua intenção de defesa
da praça. No entanto, como se viu acima, diz-se que Bois-le-Comte estava em terra quando Men de Sá
chegou e não pôde retornar à ilha. Teria ele respondido desde a terra firme? Disto
ser certo, o forte tinha, também, a desvantagem de não ter seu comandante, para
organizar a defesa.
“Quando o
Capitam Mor, e os mais da Armada viram a Fortaleza a sua fortaleza, a aspereza
do sitio, a muita artilharia e gente que tinha, a todos pareceu que todo o
trabalho hera de balde, e como prudentes arreceavam de cometer cousa tam forte
com tam pouca gente. Requereram me que lhes escrevesse primeiro uma Carta , e
os amoestasse que deixassem a terra , pois hera de V. A. Eu lhes escrevi , me
responderam soberbamente.” (Mem de Sá, 1560)
“[...] tomou-se
conselho no que se faria, e vendo todos a fortaleza do sitio em que estavam os
Francezes e que tinham comsigo os índios da terra, temeram de a combaterem, e
mandaram pedir ajuda de gente a S. Vicente; mas os de S. Vicente sabendo
primeiro da vinda do Governador ao Rio, já vinham por caminho, e como chegaram
determinou-se o Governador de os combater; mas toda a sua gente lh'o
contradizia, porque tinham já bem espiado tudo, e parecia-lhes cousa impossível
entrar-se cousa tão forte, e sobre isso lhe fizeram muitos desacatamentos e
desobediências. Mas eu sobre isto tudo, a maior difficudade que lhe achava era
ver aos Capitães da armada tão pouco unidos com o Governador e ver tão pouca
obediência em muitos, toda áquella viagem em que me achei presente; [...]”
(Nóbrega, 1560, pg. 204)
“[...] Mas, viu o
piedoso chefe que tal guerra só se faria / a peso de muito sangue e ao preço e
muitas cabeças. / Compassivo, preferiu evitar a crueza da guerra / e tenteando
a via da paz, ao general dos Franceses / mandou estes dizeres num pequenino
bilhete: / [...] / Enquanto correm
estas negociações de uma parte e de outra / o general português manda pedir à
cidade, / que se ufana do nome ilustre do Mártir Vicente, / enviem reforços e
tropas índias de auxílio. / Inflamaram-se os corações: preparam ligeiros / naus
velozes e armas e, sem tardar, conforme o pedido, / chegam, e com eles a flor
dos guerreiros brasis, / nas mãos esquerda o arco e na direita as rápidas flechas.
/ Vejo com seu Irmão de Ordem um
sacerdote adestrado / armado com o raio inflamado da palavra divina, /
membro da Companhia de Cristo Rei, para o soldado / confessar suas faltas e
lavar suas almas das manchas, / antes de entrar no combate, onde talvez deixe a
vida. / [...] Vinte vezes a aurora
erguera ao mundo o manto de trevas, / [...] O Governador prepara-se para o ataque do forte: / reúne os conselhos
dos chefes, ainda que saiba / a relutância de todos. Diziam eles que não era
possível / com armas algumas escalar o forte, cercado / por rochas enormes,
defendido por construções numerosas. / Mas o chefe magnânimo tinha a peito
acima de tudo / propagar a fé. Apoiado de força divina, / sozinho opõe-se a
todos e não sofre que o dobrem / discursos alguns: atira-se ousado contra o
impossível / e procura vencer os perigos da empresa que intenta: / [...] Logo que se reuniram todos os maiorais em
conselho, / o governador expõe o desígnio que guarda no peito, / e no meio da
assembléia profere estas palavras: / [...] Esse grito que o chefe arrancou do peito ardoroso / arrastou todos ao
seu parecer [...] / (Anchieta,
1563)
“[...] e depois de asy estaar no
dito Rjo ele dito governador tiuera muitos conselhos com a gente que comsiguo
leuava e com outros homens homrrados que vierão de são Vicente sobre ho cometer
da fortaleza os quajs forão muitos e em todos foi acomselhado ao dito
governador asym por o capitão moor bertalomeu de vascogoumçellos como per todas
as majs pesoas nobres e de toda a calidade que elle não devia de cometer a dita
fortalleza com tampouquo poder como tinha por ela ser tam forte como hera e
pareçer que por nenhuma maneira se podia tomar nos quajs comselhos perseverarão
sempree ate o dia a noitee da bespora [véspera] que se ella tomou no qual elle governador disera e desem guerra a todos
que avia de cometer e que saise o que noso senhor fose serujdo e o dito capitão
moor lhe Requerera a elle governador como pesoa primçipal da partee del Rey
noso senhor que ele não cometese a tal fortaleza porque estava serto a perdição
da gente de deus millagrosamente a não quisese salluar como a juizo e pareçer
de todos que milhor ho emtendião pareçia que seria asim / e vemdo todos que sem
embargo do que ao dito governador tinhão dito ele não quisera desistir do pareçer
e detreminação que tinha de cometer a dita fortaleza ho dito capitão moor como
todos hos majs que presentes herão lhe diserão que pois ele governador ho
detreminava fazer demtodo em todo elles o ajudarião ho milhor que pudesem como
de feito fizeram [...]” (Silva, 1570)
“[...] esteue
o o dito governador antes que se dese sobre estaa fortalleza alguns quinze ou
vinte dias com a dita armada em hum porto em fronte da fortalleza que lhe não
chegasse sua artilheria / E neste mejo tempo / o dito governador saya fora em
bateis e se punha de noitee e de dia em houtras Ilhetas que ao Redor estauão
para uer [ver] os lugares da
fortalleza e da maneira e por honde a podia emtrar e combater / hora allem
disto tornaua parecer com toda gente darmada capitão moor do maar e outros
capytajs [capitães] e pesoas
omrradas. E por quanto a fortalleza pareçia ser tão forte como ho hera e depois
se vjo asym o capitão moor como houtros capitais e a majs gente darmada todo
seu pareçer hera que se não devia combater a dita fortalleza e se deuia deixar
dizendo que hera emvemçiuel e emposiuell [impossível] poderse emtrar nem tomar a dita fortaleza. E elle testemunha por jr na
dita armada e meirinho do dito governador vjo e ouvjo pasar tudo jsto e contra
vontade detes capitajs e da major partee da gente ho dito governador detreminou
de dar na dita fortalleza com ajuda de deus [...]” (Silva, 1570)
“D'aqui
partio o Padre Nobrega pera S. Vicente, por parecer de Mem de Sa, assi por
chegar fraco do sangue que lançava, e ser necessario applicar-lhe remedio com
tempo, como tambem pera que lá solicitasse, por tão conhecido na terra, algum
soccorro de canoas, e Indios. Não foi em vão a esperança do Governador; porque
a poucos dias andados vio que vinhão encorporar-se com seus navios hum formoso
bergantim artilhado, com algumas canoas de guerra, e soldados destros em
semelhante genero, Mamalucos, e Indios, guiados de dous Religiosos da
Companhia, Fernão Luis, e Gaspar Lourenço : com cuja vista se alentarão todos
da armada. E com este bom presagio mandou o Governador Mem de Sa embocar a
barra da enseada, apesar de toda defensa, que lhes impedia a entrada: e postas
dentro nossas embarcações, se forão preparando pera accommeter a Fortaleza
principal da ilha, que chamão Villagailhon, e parecia inexpugnavel; […]
Horror causou visto de perto, o que ao longe parecia mais facil!” (Vasconcellos,
1623, Livro II, 77)
“[…] e tem, com
os seus capitães, uma espécie de conselho de guerra sobre a maneira de se fazer
o ataque. Mas os recursos são pequenos: [...]. Por isso, os capitães ouvidos se opõe à ação. Mais, criam uma certa
indisciplina intelectual que exige de Men de Sá uma grande energia, para
superá-la.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol.
288, pg. 129)
Ante a negativa, Men de Sá decidiu atacar no
próprio dia 15, sendo recebido da fortaleza de Villagagnon, com muitas
bombardadas. A ilha formato retangular, na forma de uma paliçada de madeira e
terra que contornava a ilha, com uma colina na extremidade oeste (Colina das
Palmeiras) e outra na extremidade leste, com um sólido baluarte quadrangular
sobre cada uma delas, armado de artilharia de médio e grosso calibre. No centro
havia um penedo de cerca de 15m de altura, onde estava instalada a casa do
Governador e o paiol de pólvora. Pouco depois do penedo, ficava a cisterna e
outras casas. Só havia um porto para desembarque, na forma de uma praia do lado
oeste. O resto da ilha era cercado pelas rochas e por escolhos no mar, sendo
impossível o desembarque por outro ponto além daquela praia. O Forte Coligny dispunha de cinco baterias apontadas para o mar.
“Este lugar é uma ilhota de seiscentos passos
de comprimento e cem de largura, rodeada de todos os lados pelo mar, larga e
longa de uma costa e de outra, do alcance de uma columbrina, que é o motivo
pelo qual eles não podem se aproximar, quando seu frenesi os toma. O lugar é
naturalmente forte, e com habilidade nós a provimos de contrafortes e baluartes
[...] É verdade que há um incômodo
em relação à água doce, mas nós fizemos uma cisterna, que poderá conter e
guardar água, no número que nós somos, por seis meses. Nós perdemos
posteriormente, um grande barco e uma barca contra as rochas, o que nos fez
grande falta, pelo que nós passamos a adquirir água, madeira e víveres apenas
através de barcos.” (Barré, 1556)
“Legua [6,6km] adiante está a ilha onde
estacionámos, e que era deshabitada antes da vinda dos francezes; tem meia
milha [800m] de circuito, sendo seis vezes mais comprida
que larga, e rodeada de pedras á flor do mar que impedem a approximação dos
navios e naturalmente a fortificam. Ninguem pode alli atracar senão em pequenos
barcos e sempre do lado do porto, sito em posição contraria ao mar alto; bem
guardada seria inexpugnavel, embora não tenha acontecido isso depois da nossa
partida, por culpa dos que lá ficaram. Nas extremas da ilha ficam dois morros
nos quaes Nicolau de Villegagnon fez edificar duas casinhas, erguendo a de sua
residencia em um penedo de cincoenta pés [15m] de altura, no meio da ilha. Lado a lado deste rochedo aplainamos e
preparamos pequenas areas onde se ergueram, não só a sala das predicas e das
refeições, como varios commodos de alojamento; oitenta pessoas, inclusive a
comitiva de Nicolau de Villegagnon, alli residiam. Fóra a casa sobre o rochedo,
construida com algum madeiramento e defendida pelos baluartes onde estava a
artilharia, o resto não passava de casebres de pau tosco e palha, construidos á
sua moda pelos selvagens. Eis o que era o fortim a que Villegagnon deu o nome
de Coligny para ser agradavel ao homem sem cujo favor jamais conseguiria emprehender
tal viagem, nem edificar coisa alguma na America.” (Léry, 1578, pg. 99-101)
“[...] Agora esta outra ilha ergue suas torres
ferozes, / forte por sua rochas inacessíveis, fervendo ao embate / do mar
furioso [...]. / Para o lado do ocaso
se levanta a pequena colina: / uma que outra palmeira ao longe a cobre de
sombra / com seus verdejantes leques. Perto dessa colina / está enorme rochedo
talhado todo ao redor / pelo picão tenaz. Em cima da pedra imponente / se eleva
o baluarte altivo, prenhe de artilharia. / Mais além há uma pequena altura e à
sua direita / uma cisterna, com casa dum lado e doutro, repleta de água. /
Bombardas numerosas defendem as estreitas veredas. / Entre estas e a cisterna
há enorme abertura, / onde as ondas remugem espumando de raiva. / Ponte de um
pau dá estreita passagem por cima do abismo. / Transposta esta, do lado da
aurora esplendente, / depara-se um monte que parece subir às estrelas, / com
escarpas a pique em redor. É impossível / subir por aí ao cume, ou descer de lá
para baixo. / Um só caminho escarpado e estreito conduz à altura: / talhou-o na
pedra, à força de golpes teimosos / e muito suor, o duro picão dos Franceses. /
E protegeu-o com baluartes de alvenaria. No cume / ergue-se a torre sob armação
de grossos madeiros / defendida por bombardas e pela estratégia do posto: / o
rochedo todo é inacessível e se lança às alturas / qual gigantesca montanha e
inexpugnável penhasco.” (Anchieta, 1563)
“[...] /
a dita fortalleza hera das majs fortes que se podia achaar antre cristãos e
moiros e afirmauassee que teria pasante de cem homens dentro tinha muita
artelharia de foguo grosa e meuda espingardas e llamças e corpos darmas estava
num piquo como dito hee não se podia emtrar nella somentee per hum caminho em
Rochedo que seria de largura obra de tres ou quatro pallmos [65-90cm] e com guoaritas e balluartes tudo temeroso e
allem desta fortallleza tinhão no baixo hum balluarte feito em um penedo ao
piquão, cousa muito forte e com muita artelharia e monjçois de fogo [...]”
(Silva, 1570)
“77 […] a
Fortaleza principal da ilha, que chamão Villagailhon, e parecia inexpugnavel;
porque tudo o que era ilha, era fortaleza, e tudo o que era fortaleza, era ilha
; e toda (excepto hum pequeno porto de praia) era cercada de penedia brava,
onde bate o mar, com cem braças [220m] de
comprido, cincoenta [110m] de largo,
em cujas ultimas duas pontas levantou a natureza dous Cabeços talhados ao mar;
e no meio de ambos hum singular penedo,
como de quatro braças [8,8m] em alto,
e sete [15,5m] em contorno. Da
circunferencia dos recifes, e penedia d'elles, tinhão feito defensavel muralha:
dos dous cabeços com pouco artificio, duas juntamente naturaes e artificiaes
fortalezas: e do penedo, hum pouco mais cavado ao picão, caixa de polvora
segura, e constante contra toda a artilheria. (Vasconcellos, 1623, Livro
II, 77)
“[…] Ilha,
de meia légua de circuito, seis vezes mais longa que larga, circundada de
pequenos rochedos à flor d’água, que só permitem que os navios dela se
aproximem até ao alcance de um canhão; dela, mesmo os barcos só podem se
aproximar do lado do porto oposto de quem chega do grande mar. Tendo uma
montanha em cada uma das extremidades, ele fez construir sobre cada uma, uma
Fortaleza, e, sobre o rochedo no meio da ilha, a sua casa: em volta daquela
estavam as outras casas, para a pregação e moradia do resto, com grandes
baluartes para artilharia, revestidos de alvenaria. O resto das habitações,
como os selvagens foram os obreiros, foram construídas à moda deles, quer
dizer, de toras de madeiras cobertas de ervas.” (La
Popelinière, 1582, Livro III, pg. 8)
“A
ilha tinha de natureza aos estremos dois pequenos morros, e em cada um delles
haviam os defensores construído grandes rancharias; e sobre o meio, em cima do
rochedo que se elevava uns cincoenta ou sessenta pés [15-18m],
ficava a casa abaluartada do governador. As vivendas construídas eram de
madeira e cobertas de palha, ao modo dos selvagens.” (Varnhagen,
1854, vol. I, pg. 240).
“Sobre
a eminência do meio se elevava um grande forte, ao qual ele dá de antemão o
nome de Coligny. Nas duas extremidades, na entrada do pequeno porto, e em dois
locais que se julgaram cômodos para esta destinação, foram construídas cinco
baterias destinadas a defender os acessos à ilha e a comandar as águas da baía.
A casa do governador, as casernas, os alojamentos dos trabalhadores e as
oficinas foram estabelecidas, com o tempo, nos locais que pareceram favoráveis.
Villegaignon fez aprovar este plano por seus principais oficiais, que ele
reuniu em conselho, e todo mundo se pôs ao trabalho.” (Gaffarel, 1878, pg. 189)
Aparentemente, o plano de Men de Sá era
bombardear o forte do lado leste com os grandes navios, para enfraquecer o
forte e atrair a atenção dos defensores, enquanto, do lado oeste, os pequenos
barcos faziam o ataque principal, desembarcando as tropas em terra. Na tarde
deste dia, quando o vento lhe foi favorável, Bartolomeu de Vasconcellos Cunha atacou a fortaleza pelo lado leste
com a artilharia de grosso calibre dos navios de maior porte, entre os quais duas naus de alto bordo, enquanto Mem de Sá, indo pelo
lado oeste da ilha, se dirigiu ao
litoral cheio de escolhos com os navios pequenos e as
canoas cheias de soldados e atacou a Colina das Palmeiras, onde ficava o
forte do lado oeste da ilha e onde os franceses haviam postado uma grande
guarnição de índios para a sua defesa, mas os esquadrões portugueses foram
repelidos. Concluiu-se, portanto, o primeiro ataque português, na tarde do dia
15, com insucesso.
“O
próprio chefe [Men de Sá], conduzido
em batel, passa em revista / a todos e manda que as naus avancem em ordem. /
Distribui seus homens: [...] / Assim
pois os navios, [...] vêm sulcando a
planície do mar: em direção do oriente, / já volvem as naus maiores para, do
meio das ondas, / atacar a fortaleza com suas terríveis muralhas. / Canoas
velozes, prenhes de soldados e armas fulgentes, / se dirigem ao litoral crivado
de escolhos / e atacam a colina das palmeiras, onde os franceses / postaram
inumerável guarnição de selvagens, / que a defendam afastando os esquadrões
portugueses. / Bem sabia o Francês que essa fortaleza altaneira / só daí podia
ser atacada por flechas e balas, / (Anchieta, 1563)
“[...] e no mejo do dia combaty
contra vontade dos darmada do reino e do seu capitão moor e dos mais capitães a
fortaleza por todas as partes que como ela estaua situada em um piquo alto no
mejo da bahia podião as naos e naujos serquar [...]” (Silva, 1570)
“[...] e a
outro dia depois disto asentado o dito governador fora cometer a fortalleza com
a gentee que consyguo lleuaua [levava] salluo
[salvo] hos que ficarão nos navjos do
Rejno que se poserão ao rredor da fortalleza e depois de asym se entrarão que
foi hum dia a tarde [...]” (Silva, 1570)
“[...] e
começo como de feito hum dia emtrando a viração pella barra dentro mandou ao
capitão moor dizer lhe por ele testemunha que elle avia de dar na dita
fortalleza ao tempo que emtrase a viração he portanto se fizesse prestes e
desse a vella com seus navjos por huma das bandas da fortalleza despejando sua
artelharia que ele gouernador avia djr [havia de ir] polla outra partee em barquos e navjos com a mais gente e assim se fez.
E loguo o governador a Remos e a vellas Remetteo a banda da fortalleza em que
ouue na emtrada comuem saber no baixo defendimento que a defendião com muita
artelharia grosaa que tinhaam hay em terra [...]” (Silva, 1570)
“20 [...] os
soccorros, que mandara prevenir em Santos, e S. Vicente; os quaes chegando
promptissimos, entrou pela barra a todo o risco das suas naos , sem temer as
defensas dos contrarios; e começando a bater a Ilha, que do seu Povoador tomara
o nome, e estava natural, e militarmente fortificada, e defendida pelos
Gentios, e Francezes, […] contra todo
o poder das forças inimigas ganhou terra nella: mas parecia inconquistavel pela
natural muralha de penhas, que cercava toda a sua circumvallaçaõ, e resistia as
incessantes ballas da nossa artilheria, que em tres successivos dias naõ tinhaõ
obrado effeito consideravel.” (Pita, 1730, Livro III, 20)
“Distribuídas
as ordens competentes ao ataque , dirigiu-se o alvo à Ilha de Villegaignon ,
fortificada à preceito, e sem obstar o fogo excessivo, que sobr' as nossas
embarcaçoens d' ali faziam os contrários , no dia 15 de Março [...]” (Araújo,
1820, Vol. I, pg. 11)
Segundo Anchieta (os outros autores, a não ser
parcialmente Gaffarel, não citam o fato), Mem de Sá, vendo que não conseguiria
tomar à força a fortaleza, usa de um estratagema: mandou as suas pequenas naus,
que atacavam pelo oeste, virar à esquerda, e tomar de corrida a praia para onde
um grande arroio, que corria da floresta, se lançava ao mar, para que os
franceses acreditassem que os portugueses tinham grande falta de água e
enganados por essa idéia abandonassem a colina inexpugnável. Mem de Sá sabia
que os índios eram indisciplinados e não perderiam uma chance de fustigar os
portugueses e capturá-los para os devorar. Não ficou claro onde seria esta
praia. Deveria ser no continente, em frente à ilha de Villegagnon, em alguma
praia entre a praia de Santa Luzia (Centro) e a praia do Flamengo, pois Anchieta
disse que havia um “grande arroio”
que “corria da floresta”, e a Ilha de
Villegagnon não tinha nenhuma fonte de água, e sua vegetação era de palmeiras,
boa parte já desmatada. O estratagema funcionou, pois assim que os franceses e
tamoios vendo que as naus portuguesas navegavam para este ponto do continente,
precipitaram-se da Colina das Palmeiras em desordem, subiram em suas canoas e
navegaram para o litoral onde desembocava o arroio, afim de poderem afastar os
portugueses da água potável e matá-los. Isto foi um grande erro dos franceses e
tamoios, pois eles desguarneceram a Colina das Palmeiras, permitindo aos
portugueses a conquista da colina, único posto que permitia o ataque do forte. Isto
explica como as forças portuguesas, menos numerosas, conseguiram desembarcar e
conquistar as fortificações francesas. No entanto, apesar de ser um manobra
supostamente decisiva e lógica, estranhamente, os outros autores contemporâneos
não citam esta manobra tão vital. Teria ela realmente ocorrida ou foi invenção
poética de Anchieta?
“[...] o
chefe inspirado pelo alto / manda volver à esquerda [...] / Manda voltar velas às outras naus e tomar de
corrida / a praia para onde forte arroio corre de altas florestas / e se
mistura ao mar. Era para que o incauto inimigo / cresse nos apertava grande
falta de água / e enganado por essa idéia abandonasse a colina. / Foi um
instante: apenas viu o bando inimigo / que as naus a velas cheias voavam para
esta abertura, / precipita-se da colina em desordem e sobe / às canoas ligeiras
e deslizando no dorso das vagas / ocupa o litoral sinuoso e em vertiginosa
carreira / se atira às torrentes marulhantes afim de poderem / afastar das
águas límpidas ou trucidar nossos guerreiros. / Loucos! deveriam ter ficado no
sítio marcado / para afastar do acesso à colina os soldados intrusos, / único
posto que permitia o ataque do forte. / Mas aguilhoada pela paixão infrene do
sangue, / a instável multidão em vão se arroja e furiosa / e tresloucada vence
o grande espaço de areia. /” (Anchieta, 1563)
“Men de Sá, que começa a se cansar da resistência deste punhado de
bravos, usa de um subterfúgio. Ele fingiu se retirar em pleno dia, retorna
durante a noite e consegue desembarcar sem ser percebido, e ataca os Franceses
e os auxiliares Brasileiros, então caídos no sono, [...]” (Gaffarel, 1878,
pg. 312-313)
Entretanto, os pequenos navios portugueses, que
tinham fingido ir procurar água no continente, voltando as velas com vento
propício, dirigiram-se à Colina das Palmeiras. Mem de Sá, à frente dos seus soldados e índios,
desembarcou na ilha, pelo lado oeste, e os portugueses avançaram pelo meio das rochas, escalaram pelo
lado oeste a Colina das
Palmeiras, mostraram-se de súbito a cavaleiro da fortaleza, e começaram a
atacá-la por terra com grande vantagem pela posição que tomaram. Assim que os portugueses ocupam os cimos da
Colina das Palmeiras, escavam fundas trincheiras e no alto do cume fincam a
bandeira portuguesa. Imediatamente trazem das naus um falcão (antiga arma de
fogo anti-pessoal de cano longo, parente da columbrina) e o instalam no cume,
passando a atirar contra a cantaria das casas; as balas de ferro arrombam a
casa e os madeiros dela se desmoronam. Um navio português próximo também
bombardeou a casa que acabou desabando. Os Franceses fugiram pelos penhascos,
seguros a cordas, escapando para a alta torre. Nestas ações se destacou
Araribóia.
“Entretanto,
voltando as velas com vento propício / nossos barcos armados ferraram a colina
das palmas. / Sem hesitar um momento, de todas as naus os guerreiros / rompem
como chama de fogo, pelo meio das rochas, / escalam de um salto a colina,
ocupam-lhe os cimos, / escavam fundas trincheiras e no alto do cume / fincam
vitoriosa a bandeira da cruz resplendente. / Outros correm às naus e entre
gritos possantes / arrastam o falcão: num momento, ei-lo postado / no cume a
vomitar incêndios, da boca tremenda, / e a arrojar pelouros, forçando a
cantaria das casas. / Já as balas de ferro arrombam a casa e os madeiros / se
desmoronam: responde feroz o Francês arrojando / balas que zunem. Entretanto
nosso bronze gigante / atira globos incandescentes do navio fronteiro. / Fere
duas vezes a casa, abala-a com toda a força; / e solapa a grande mole: as vigas
partidas desabam / em ruína. Fogem os Franceses e pelos penhascos, / seguros a
cordas, apressados se escapam / ao alto refúgio da torre.” (Anchieta, 1563)
“[...] e
depois de asym se entrarão que foi hum dia a tarde ho o dito governador se posera nas Ilhaas das palmas onde se posera hum
fallquão per seu mandado com que se loguo começou a combater a fortaleza
[...]” (Silva, 1570)
“[...] E
loguo o governador a Remos e a vellas Remetteo a banda da fortalleza em que
ouue na emtrada comuem saber no baixo defendimento que a defendião com muita
artelharia grosaa que tinhaam hay em terra de maneira que toda ha gentee com ho
governador sairão na qual fortaleza allem dos framcezes que nella estavão
tinhão sempree comsigo oito çentos yndios de peleja e mill yndios e dahy pera
sima que os ajudauão muito fortemente por serem grandes guerreiros e frecheiros
e morrião por parte dos framcezes [...]” (Silva, 1570)
“Porem
estando ambas partes, cercados, e cercadores metidos no furor do combate, uma
compahia de soldados valentes subiu por uma montanhazinha que ficava ao lado do
castelo, tão áspera e estreita, que parecia inacessível, porém os valentes
Portugueses, trepando pertinazmente, venceram a aspereza da encosta, e entraram
no castelo, e ocuparam repentinamente ma pólvora do inimigo.” (Paternina, 1618, pg. 68-69)
“78 Soube porém o valor portuguez huma vez empenhado
dissimular o medo. Accometeo a todo o poder, e em breve conflicto ganharão
terra, primeiro degrao de Victoria [...]” (Vasconcellos, 1623, Livro II, 78)
“78 [...] Tratavão
os nossos já de recolher as náos, a artilharia, e retirar-se, por esta causa, e
porque estavão feridos muitos soldados, e principalmente porque faltava já o
pelouro, e polvora pera o combate. Porém vio-se aqui o favor do Ceo às claras :
porque a força que pode resistir ao pelouro portuguez, não pode resistir a seu
braço: levado este do brio natural, feitos em hum corpo, arremetterão ao cabeço
principal, que olha pera a barra, chamado das Palmeiras, e o entrarão com morte
de muitos inimigos..” (Vasconcellos, 1623, Livro II, 78)
“21 Vendo o Governador Mendo de Sá, que ao seu valor
resistia mais a natural fortaleza do sitio, que a grande constancia dos
inimigos, dispoz , que a força vencesse a natureza ; triunfo raro , mas nos
apertos mayores , pelos corações generosos, e fortes muitas vezes conseguido.
Tal foy esta resoluçaõ, porque envestindo a peito descuberto huma elevacaõ da
Ilha , que chamaõ o sitio das Palmeiras, o ganhou, e animados os Portuguezes
com taõ feliz successo, proseguiraõ o combate, no qual de ambas as partes se
obravaõ valentissimas ações, [...]” (Pita, 1730, Livro III, 21)
“Com este auxilio entrou Mem de Sá no porto, e ganhou
o embarcadouro da ilha. [...] Investirão
e tomarão as obras exteriores, que dominavão o desembarque, e assaltado o
rochedo em que se excavara o paiol, também o levarão de vencida.” (Southey,
1822, pg. 394)
“[...] [Men de Sá] bateu
por dous dias sucessivamente [o forte na Ilha de Villegagnon], em todas as muralhas e baluartes de solida
rocha, com summa coragem dos combatentes, que olhavão com indignação o haverem
de voltar as costas ao inimigo, não conseguindo o êxito da expedição, e por
isso obrarão prodígios de valor, conseguindo o assalto della, escalando o monte
pelo lado do arsenal [Arsenal de Guerra, a oeste da ilha] que senhoreárão [...] Foi mui notável o comportamento valoroso
neste assalto do Indio, que no baptismo tomou o nome de Martim Affonso [Arariboia]
[...]” (Lisboa, 1834, vol I, pg. 74)
“Eles conseguiram também desmontar muitos dos canhões
da bateria estabelecida sobre o continente, se bem que Men de Sá foi obrigado a
transportar suas grandes peças de artilharia sobre o cume da mais alta montanha
vizinha, nomeada Monte das Palmeiras, que comandava a ilha. Desta vez, o fogo
dos sitiantes, melhor dirigido, danifica a cidadela, mas não o suficiente para
constranger seus defensores a capitular.” (Gaffarel, 1878, pg. 312)
“Avançando rapidamente contra as trincheiras dos intrusos na Ilha de
Villegagnon, o sobrinho do governador-geral, Estácio de Sá, comandante da
galera Conceição, e Gaspar Leitão, irmão do bispo brasileiro, ajudam a a
surpreender os defensores franceses e facilmente dominam estas posições,
ajudados pelo fato de que o governador Bois le Compte está a explorar o
interior com as suas melhores tropas, uma companhia de escoceses calvinistas.” (Marley, 2008, pg. 90)
Vicente Salvador narrou que o pardo
Manoel Coutinho, Afonso Martins Diabo e outros soldados nadaram à noite até a
ilha de Villegagnon, escalaram o castelo por um ponto que parecia inacessível e conquistaram
o paiol de pólvora francês, que ficava no penedo no centro da ilha; Silva em
parte corroboram a descrição. É difícil entender bem o que foi narrado. Como
isto se relaciona com o ataque anteriormente descrito à Colina das Palmeiras? Pode-se
supor que eles foram a parte avançada do ataque, os primeiros a desembarcar e
que asseguraram o controle do ponto de desembarque para, posteriormente, o
resto da tropa com Men de Sá vir em barcos e escalar a Colina das Palmeiras. E
qual foi este ponto? Seria a praia do porto a oeste, que permitiria o desembarque
dos pequenos barcos? Ou seria um outro ponto quase inacessível, junto aos
rochedos? Ou teria sido uma segunda manobra? Salvador disse que eles desembarcaram
em um ponto inacessível (o que sugere que não seria a praia do porto) e
conquistaram a pólvora dos franceses, que fica no Penedo Central e não na
Colina das Palmeiras. Será, que após Men de Sá conquistar a Colina das
Palmeiras, os mamelucos atacaram, de surpresa, o Penedo Central? No entanto,
não está claro como este ataque se relaciona com a conquista da Colina das
Palmeiras acima descrita. Pela descrição de Anchieta, entende-se que a Colina
das Palmeiras foi conquistada de dia, mas Salvador relata que o ataque dos
mamelucos foi de noite. Será que houve um primeiro ataque e conquista da Colina
das Palmeiras durante a tarde do dia 15, e, depois, durante esta noite, os
mamelucos vieram a nado e conquistaram o Penedo Central com o paiol francês.
Outros autores relatam que o Penedo Central foi conquistado por tropas vindas
da Colina das Palmeiras. Seria uma operação única com o ataque nos dois pontos
ao mesmo tempo, um feito pelos mamelucos a nado contra o penedo central e o
outro em pequenos barcos contra a Colina das Palmeiras? Ou haveria dois ataques
independentes, tendo primeiro os mamelucos atacado o penedo e depois o resto da
tropa atacado a Colina das Palmeiras. Os relatos, portanto, são contraditórios
entre si. Podem-se fazer, portanto, 2 hipóteses mutuamente exclusivas: 1ª. Men
de Sá ataca com os pequenos navios e conquista a Colina das Palmeiras, sendo os
mamelucos a nado a primeira tropa a chegar em terra e que assegura a cabeça de
praia, e, após a conquista desta colina, as tropas saem desta colina para tomar
o Penedo Central; 2ª. Men de Sá ataca com as pequenas naves e conquista a
Colina das Palmeiras, mas depois os mamelucos a nado desembarcam próximo ao
Penedo Central e o tomam em outra operação separada. Deve-se realçar que os
Portugueses nesta operação conquistaram o paiol de pólvora francês, mas
posteriormente se diz que os portugueses ficaram sem pólvora durante o ataque,
mas, alhures, se diz que quando a fortaleza se rendeu eles apreenderam grande
quantidade da mesma; isto não encaixa muito bem com a conquista neste momento
do dito paiol de pólvora francês.
“[...] ho
dito governador [Men de Sá] detreminou
de dar na dita fortalleza com ajuda de deus vendo se há podia emtrar de noite
com gente e mameluquos que fossem a nado e outras emvenções que em ventaua [inventava]
pera a combater porque sua vontade foi
sempree não alevantar banquo ate não ver o fim do dito negoçjo [...]”
(Silva, 1570)
“[...] com
o que começaram a bater o forte insuperável / ao parecer / ás forças humanas;
porem estando huns e outros mettidos no furor de combate, Manoel Coitinho, homem pardo, Affonso Martins Diabo e
outros valentes soldados Portugueses, subindo por huma parte que parecia
inaccessível, entrarão o castello, e ocuparão repentinamente a polvora do
inimigo.” (Salvador, 1627, pg. 70)
“O ataque vai comportar: uma ação de infiltração de índios e mamelucos
que, a nado e à noite, devem ocupar a praia de desembarque; bombardeamento do
forte; e, durante a execução deste, e sob a proteção daquela cabeça de praia,
se processará o desembarque de efetivos mais fortes.” (Veríssimo, 1970,
RIHGB, vol. 288, pg. 130)
Os portugueses precipitaram-se da Colina das
Palmeiras contra os fugitivos, ultrapassaram as ruínas da primeira casa e tomaram
o Penedo Central, onde ficava o paiol de pólvora. Ocuparam a cisterna,
defendendo-se num parapeito de terra elevada.
“Em
grita, nossos valentes / se precipitam do outeiro das palmas e seguem / de
vencidas aos fugitivos. Ultrapassando as ruínas / da primeira casa, se arrojam
com ímpeto ardente / à segunda colina. Ocupam as águas que a cisterna recolhe,
/ defendendo-se num parapeito de terra elevada. /” (Anchieta, 1563)
“78 [...]
Com este bom successo [a conquista da Colina das Palmeiras] animados accommeterão em segundo lugar ao
penedo, que acima dissemos servia de casa de polvora, com tal valor, que
desamparado dos seus, foi ganhado, [...].”
(Vasconcellos, 1623, Livro II, 78)
Enquanto isto, os franceses bombardeavam os
navios portugueses que bombardeavam a ilha, causando-lhes grande dano,
obrigando-lhes a se afastar avariados.
Entretanto
trovejam horrendas as altas muralhas / e com tiros tremendos espedaçam e
arrombam / os navios fundeados no meio das águas. / O bruto canhão vomita em
chamas pedras e balas [...] Para o lado do áureo levante, estava postada
/ junto de um baluarte uma bombarda de metal amarelo / sobre rodas de ferro. De
boca enorme, o monstro arrotava / penhascos e balas de metal, molestando à
vontade / com tiros contínuos as naus: fere as popas e arromba / um e outro
flanco, estilhaça mastros e pranchas / com fragor espantoso. Ora aponta a esta,
ora àquela, / e espedaça com um só tiro mortífero os corpos / de muitos
soldados. Os conveses se inundam de sangue. / Já não mais podem as naus
continuar fundeadas. / Livres das amarras fazem-se ao mar avariadas. /” (Anchieta, 1563)
À noite, Mem de Sá mandou fortificar as
trincheiras, enchendo de pedra e terra grandes canastras tecidas de vime
flexível, contra os tiros franceses. Os portugueses retiraram das naus alguns
canhões, os arrastaram e colocaram em postos escolhidos em uma ponta da ilha erguendo em redor um parapeito de terra. Da Colina
das Palmeiras o falcão continuou a bater o alto da torre.
“O sol
mergulha [...] e na abóbada celeste brilhavam mil luzes de
estrelas. / Não se dormia no acampamento; cada qual preparava / suas armas. Da
colina das palmeiras o falcão continuava / a bater o alto da torre, arrotando
bolas de fogo. [...] / Manda
entretanto o governador fortificar por inteiro / as trincheiras. Uns contra as
balas enchem de pedra e terra / grandes canastras tecidas de vime flexível. /
Outros retiram das naus os canhões e os arrastam / com o fragor gigantesco de
suas rodas pesadas, / e os colocam em postos escolhidos erguendo em redor / um
parapeito de terra. Depois esperam impaciente / as batalhas temerosas do dia
seguinte. /” (Anchieta,
1563)
“[...] e
como foi noite ele governador com a gente se achegou majs a ella e na mesma
noite mandara tirar dos navjos artilheria e fazer estançjas de maneira que
quando amanheçeo tinha tudo muito bem comsertado e das estançias que se fizeram
se fazia muito nojo a fortalleza por estarem jaa muito perto della [...]”
(Silva, 1570)
“E foi recebido da fortaleza de Viragalham,
que neste tempo era ido a França, com muitas bombardadas, o que não foi
bastante para Mem de Sá deixar de se chegar à fortaleza com os navios de maior
porte a varejar com artilharia grossa; e com os navios pequenos mandou
desembarcar a gente em uma ponta da ilha, onde mandou assestar artilharia,
donde bateram a fortaleza rijamente.” (Souza, 1587)
“78 [...] e
assestando n'ella [a Ilha de Villegagnon] grossa artilharia, forão batendo fortemente por dous dias e noites
continuas as principaes partes da força ; porém debalde; porque era viva a
penedia accommodada sómente por arte a poder de ferro, e não era possivel ser
rendida por esta via.” (Vasconcellos, 1623, Livro II, 77)
“[…], no
dia 15 de Março ganhou Sá a terra, onde assentada grossa artilharia, com os
seus tiros bateu o Forte por dous dias , e duas noites continuas. Como
trabalhasse a bateria sem produzir os effeitos premeditados , conservando-se a
praça livre de estragos, que o mar por fosso, e as rochas por muralhas
defendiam ; [...]” (Araújo, 1820,
Vol. I, pg. 11)
“Resolvido o ataque, começaram os nossos a desembarcar
na ilha, e a assestar nella artilheria, com a qual e a das náos combateram a
fortaleza por dois dias e duas noites [...].”
(Varnhagen, 1854, vol. I, pg. 240).
O primeiro dia terminou com os portugueses de
posse da Colina das Palmeiras e do Penedo Central, com o paiol de pólvora e a
cisterna e tendo colocado artilharia e se entrincheirado na ilha. No entanto, o
principal forte, a leste, ficava ainda em mãos dos franceses, sem sofrer grande
dano, apesar do bombardeio oriundo dos canhões dos navios portugueses e dos
colocados em terra por eles. Ao amanhecer, os franceses e tamoios, quase cinco vezes mais numerosos que os
portugueses, lançam um
contra-ataque para expulsar os portugueses da ilha. Anchieta relata que os
tamoios que tinham ido à aguada em terra firme, vendo-se enganados,
atravessaram a praia e pegaram as canoas retornando para a Ilha de Villegagnon,
onde escalaram as rochas da Colina das Palmeiras; as naus portuguesas tentaram
em vão com balas estorvar-lhes o acesso, enquanto a artilharia portuguesa em
terra atacava a fortaleza, causando-lhe muito estrago. No entanto, deve-se
lembrar das dúvidas colocadas sobre a veracidade desta manobra de despistamento
portuguesa, como relatado acima. Mem de Sá varreu a fortaleza com as balas de pequenas bocas de fogo e,
descendo do monte, fuzilou os franceses e tamoios que tentavam se aproximar. Após feroz combate os dois lados recuaram, sem
uma clara vantagem de nenhum dos lados. Neste meio tempo, as bombardas
francesas arrombavam o casco das naves, enquanto os canhões portugueses
bombardeavam a torre, partindo traves, parapeitos, portas e trancas. Pouco após o meio
dia, os franceses, armados de
couraças e espadas, e os tamoios se precipitam da penha, transpuseram a
estreita ponte de um tronco e pressionavam fortemente os portugueses, quando um
tiro da bombarda portuguesa mata a dois franceses de armadura, pondo o resto deles
em fuga. Ao fim da tarde, com a morte de muitos as naus se afastam da terra e
não mais bombardeiam os muros da torre elevada.
“Já os
primeiros clarões afastavam as trevas da noite / [...] quando refulgem no alto as falanges francesas / armadas de espadas e
longas lanças; os corpos / cobertos de reluzentes couraças. Armados de flechas
/ aí se acham também os selvagens que tinham voado / à aguada, para derramar o
sangue dos lusos, / quando nossas naus voltaram e deixaram as praias / com as
águas, ajuntando-se aos seus e enganado / o inimigo cruel que nutria feliz
esperança. / Viram-se então enganados, fremiram terríveis / em vão, acalentando
cruéis desejos, de novo / vencem num vôo a praia já em vão percorrida / e
deslizam nas canoas ligeiras até conseguirem / grimpar pelas rochas espumosas
ao alto da fortaleza. / Nossas naus tentaram com balas estorvar-lhes o acesso:
/ quanto preferiram eles subir à colina das palmas!... / Portanto, índios e
franceses, multidão numerosa, / atiram-se ao campo inimigo. Seus gritos abafam
/ o rumor do oceano. Pressurosos lhes vêm ao encontro / os outros. Travam-se de
mãos. Ferve duro o combate / de uns e de outros. [...] / De parte a parte voam nos ares as flechas
velozes / e o combate flutua daqui e dali, com sorte indecisa. / Não cedem
estes, nem aqueles recuam vencidos; / nem estes arredam pé, nem voltam as
costas aqueles. / Enfim, com os membros quebrados do longo trabalho / e
rendidos pelo esforço da luta renhida, / afastam-se os dois exércitos de tácito
acordo, / este para o acampamento, aquele para o forte altaneiro. / Entretanto,
de um de outro lado, vomita chamas horrendo / o canhão; voam incessantes as
balas traçando / riscos de luz, na densa fumaça, entre sons pavorosos. / Ora é
a bombarda inimiga que arromba o casco das naves, / ora é o nosso canhão que
fere a torre altaneira, / partindo traves e parapeitos e portas e trancas. / Já
o sol transpusera o zênite de sua carreira [...] / Os Franceses, como não puderam num primeiro combate / reconquistar em
contra ofensiva as águas perdidas, / espumam de raiva e aguilhoados pelo
despeito / retomam o combate, fiados em armaduras agora. / [...] Assim armados, se precipitam da penha,
cercados / pela chusma dos índios. / Sem temor algum transpõem a estreita ponte
de um tronco. / Começa a chover denso granizo de flechas: / sem cessar os
inimigos distendem os arcos e os tiros. / Crivam de inúmeras feridas as
fileiras contrárias. / [...] Mas os
Franceses, com o peito protegido de rija couraça, / já não combatem com dardos,
lançam mão das espadas / e se lançam à luta e com ousadia se esforçam / por
afastar das águas perdidas os arraiais inimigos. / Já as forças começam faltar
aos nossos, cansados / de tanta peleja, já lhes nasce o desejo da fuga: /
largar aos Franceses que avançam as águas tomadas. / Eis senão quando um tiro
da nossa bombarda arrebata / a dois franceses encouraçados, varando de um golpe
/ couraças e peitos altivos. Com que fulminados / rolam estraçalhados no chão
pernas e braços, / e o sangue que salta tinge armas e pedras em volta. / Fogem
os outros arrastando os corpos despedaçados / dos infelizes colegas e rápidos
galgam o forte. / [...] já próximos
do pouso da tarde. Com a morte de muitos / as naus se afastaram da terra. Não
mais bombardeiam / os muros da torre elevada: imenso cansaço / prostrara os
batalhões que pelejavam em terra, / tão porfiadamente.” (Anchieta, 1563)
“[...] combatemos
as duas fortalezas que na Ilheta estauão feitas estando com majs de çento e
vinte françezes e mill e quinhentos yndios os quais duas vezes sairão a nos e
pelejarão esforçadamente [...]” (Silva, 1570)
“[...] e
no mesmo dia sairão os framcezes com muito gentjo a pelejar com os portugueses
os quajs portugueses fizerão tornar a Recolher os francezes as suas estançias
com muito dano delles e dos Jndyos como sempre fizerão [...]” (Silva, 1570)
“[...] os
quais francezes com hos ditos yndios lhe sairão duas vezes em hum dia a dar
bataria pela manhaam e a tarde com muitas espingardas e llamças e houtras
armaas e a fortalleza de sima atiramdo artelharia grosa muj fortemente asym a
nosa gente em baixo como aos navjos darmada e estas duas vezes que sairão a dar
bataria aos portugueses foi cousa tão pellejada e vinhão tão fortes hos
framcezes e jndios que poserão aos portugueses em muito apreto porque de huma
banda e doutra foy a pelleja muj Rija e travada asym dartelharia como de bestas
e outras armaas que de huma partee e doutra avia hondee morrerão e se ferirão
muita gente de huma banda e de outra das bombardas e das frechadas [...]”
(Silva, 1570)
Não entanto, não havia meio algum de se
realizar o cerco do forte francês, rodeado todo de íngremes rochas e provido de
forte artilharia, defendido por franceses e tamoios. Além disto, no único
caminho de acesso ao forte, os franceses reuniram grandes montes de pedras para
esmagar os soldados que tentassem escalar a montanha. As fontes relatam que começou,
também, a acabar a pólvora dos portugueses. O que aconteceu com a pólvora
capturada no paiol francês? Na madrugada de 16 para 17 de março de 1560, após 2 dias de encarniçados combates
com numerosas perdas de ambos os
lados, vendo-se os franceses e tamoios com pouca água e pólvora e tendo
a Colina das Palmeiras e o Penedo Central sido tomados já pelos portugueses,
que não cessavam de os combater, eles desistiram da
luta e abandonaram o forte pelo lado leste,
descendo os rochedos abruptos das janelas da fortaleza, por cordas muito longas e providas
de numerosos nós, e correndo
a embarcar em canoas deixaram a
fortaleza indo para terra
firme meter-se pelos matos, onde os índios amigos os protegeriam. Algumas fontes portuguesas atribuem a fuga dos
franceses e tamoios a um pânico incontrolável lançado por Deus contra os
hereges franceses. Parece, no entanto, que foi uma combinação de fatores. Os
Portugueses tinham conquistando a Colina das Palmeiras e o Penedo Central, onde
tinham instalado artilharia trazida das naus, que devido à sua posição
estratégica desde o alto da colina dominava a ilha toda. Os portugueses também
conquistaram a cisterna francesa, única fonte de água para os sitiados. Havia,
também, a conquista do paiol de pólvora francesa. Por último, a pesar de não
mencionado nas fontes, com o domínio do mar pelas naus portuguesas, estes não
teriam como se abastecer de víveres e nem receber reforços do continente. Por
último, faltava liderança entre os francese, cujo chefe, Bois-le-Comte, estava
em terra firme, sem ter podido voltar para a ilha. Os portugueses, vendo os
muros desertos, atingiram a parte mais alta do penhasco e aí fincaram sua bandeira.
Entraram nas casas desertas e dentro acharam grande quantidade de bens. Os
franceses e tamoios abandonaram na fuga precipitada muita artilharia, pólvora e
munições e barcos a remos. Os portugueses arrastaram os numerosos canhões,
munições e bens para as naus. Distinguiu-se nestes combates Araribóia, chefe
dos índios Temiminós.
“Prouve a Nosso
Senhor que nos determinamos de a combater, e a combatemos por mar por todas as
partes uma sexta feira quinze dias de Março , e naquelle dia entramos a Ilha
honde a Fortaleza estava posta , e todo aquelle dia e o outro peleja-mos sem
descançar de dia nem de noite , até que Nosso Senhor foi servido de a entrarmos
com muita victoria , e morte dos contrários, e dos nossos poucos; e se esta
victoria me naõ tocára tanto poderá afirmar a V. A. que ha muitos annos que
senaõ fez outra tal entre Christaons. Porque suposto que vy muito , e ly menos a my me parece que senaõ viu outra
Fortaleza tam forte no mundo. [...].
A obra foi do Senhor , que naõ quis que se nesta terra prantasse gente de tam
máos zelos e pensamentos. Heram Luteros e Calvinos o seu exercício he fazer
guerra aos Christaons e dados a comer a gentio como tinham feito poucos tempos
havia em S. Vicente. O Monseor De Vilaganhaõ havia outo ou nove mezes se partira
para França com determinação de trazer gente e Náos para hir esperar as de V.
A. que vem da índia e destruir ou tomar todas estas Capitanias , e fazer-se hum
grande Senhor. Pollo que parece muito serviço de V. A. mandar povoar este Rio
de Janeiro para segurança de todo o Brasil e des outros máos pençamentos ,
porque se os Francezes o tornam a povoar hey medo que seja verdade o que o
Vilaganhaõ dizia , que todo o poder Despanha nem do Gram Turco o poderá tomar.
" (Mem de Sá, 1560)
“A segunda maravilha de Nosso Senhor foi que, depois
de combatida dous dias, não se podendo entrar e não tendo já os nossos polvora,
mais que a que tinham nas camaras para atirar, e tratando-se já como se
poderiam recolher aos navios sem os matarem todos, e como poderiam recolher a
artilharia que haviam posto em terra, sabendo que na fortaleza estavam passante
de sessenta franceses de peleja, e mais de 800 índios e que eram já mortos dos
nossos dez ou doze homens com bombardas e espingardas, mostrou então Nosso
Senhor sua mizericordia, e deu tão grande mêdo nos frenceses e nos índios que
com eles estavam, que se acolheram da fortaleza e fugiram todos, deixando o que
tinham sem o poderem levar [...]" (Nóbrega, 1560, pg. 225)
“Acometeram com
tudo isto por mar e por terra, confiados no Poder Divino e no seu próprio:
defendiam-se os Franceses com os inimigos, travando-se grande e cruel peleja:
de ambas as partes morreram muitos, e os mais deles dos nossos, e veiu a tanto,
que já tinham perdida a esperança da vitória, e tomaram conselho como sem
perigo se poderiam embarcar e transportar as munições que estavam em terra,
como pelos perigos, o que por certo não puderam fazer sem morrerem muitos; mas
tendo os nossos cometido cousa tão árdua, e ao parecer de quasi todos
temerária, pela justiça e fé foram ajudados do Senhor dos Exércitos, e quando
já nos navios não havia pólvora, e os que pelejavam em terra estavam
desfalecidos pelo muito trabalho, fugiram os Franceses, desampararam a torre,
recolhendo-se ás Povoações dos bárbaros em canoas, de maneira que é de crer que muitos fugiram mais
com o espanto que lhes pôs o Senhor que com as forças humanas. Tomou-se, pois,
a fortaleza, em que se achou grande cópia de cousas da guerra e mantimentos,
mas cruz alguma, imagem de Santo, ou sinal algum de católica doutrina se não
achou, mas grande multidão de livros heréticos, entre os quais (se por ventura
isto é sinal de sua reta Fé) se achou um Missal com imagens roidas.” (Anchieta, 1560)
“Não há meios algum para o cerco / do forte altivo,
rodeado todo de íngremes rochas, / peças de fogo, valentes franceses e ferozes
selvagens. / Ademais um caminho reúne grandes montes de pedras / para prostrar
e esmagar os soldados que tentem / escalar a montanha: é esta a única senda /
de acesso ao forte. [...]
Na guerra de mar e de terra, gastara-se a
pólvora toda, / [...] Contínuos /
cuidados vários começam a angustiar soldados e chefes. / [...] A dúvida e o medo de um grande desastre os
oprime. / [...] Ouviu o Rei celeste
estas vozes, ouviu juntamente / as que os jesuítas e os povos fiéis nesse tempo
/ arrancavam do peito, abalando com gemidos e prantos / as portas do céu
compassivo. Não houve demora. / [...] Mas,
eis que Deus chama um ministro do exército alado / Manda-lhe que corte os espaços com as céleres asas / afugente os
inimigos do posto altaneiro, / insuflando-lhes o terror pelas trevas da noite.
/ Cumprem-se as ordens: [...] / Apenas
o terrível temor transpôs os umbrais altaneiros / da primeira porta, já todos
dentro começam / a empalidecer; tremem, e pelos membros lhes côa / gelado
pavor. Em breve é a fuga por rochas e ondas. / Sem demora, sem descanso: o
temor agarra-se aos ossos. / [...] Tudo
incute terror a essas mentes turvadas, / e ameaça, aos valentes de há pouco,
morte cruenta. / Do lado em que o Sol se lança à corrida brilhante do dia, /
por rochedos abruptos, todos ele, agarrados em cordas, / muito longas e armadas
de nós numerosos, / vão-se acolhendo a barcas e através de ásperas rochas / e
de agitadas ondas buscam o litoral dos selvagens, / deixando o forte erguido em
formidável penhasco, / construções descomunais e inexpugnável rochedo. / Nos
aflitos arraiais lusos espalha-se em breve o boato / da fuga pelos rochedos e
abandono do forte. / Erguem-se todos à pressa, com a ânsia de verem / esses
muros desertos e atingem a parte mais alta / do penhasco, e fincam logo a cruz
vencedora / no cimo do forte e aclamam o nome santo de Cristo. [...] / Entram finalmente nas casas desertas. Dentro
se achava / número enorme de munições, cuja força não pode / segurar os
Franceses. Mas não se encontrava ali a imagem / da cruz resplendente, nem a dos
santos que habita, / o reino dos céus [...] / Encontrava-se aí um grande móvel, cheio de livros / que encerram
doutrinas crivadas de impiedades e erros. / Martim Lutero os compôs com mente
perversa / e mandou a seus filhos observá-los à risca. / Também aí estava [...] Calvino, a serpente de coleio variado e
horrendo [...] / Erguem um altar: o
sacerdote, na veste sagrada, / celebra o banquete augusto do pão sacrossanto, [...]
/ Então, os soldados vencedores, depois
da matança, / atiram-se ávidos aos mal adquiridos bens dos Franceses, /
carregam com eles as naus triunfantes, e arrastam / os canhões que tão negras
ruínas causaram lançando / seus fogos. Geme sob a massa enorme as rodas de
ferro / com horrendo ruído: o batel que os acolhe / mal pode levar aos navios
esses pesos gigantes. /” (Anchieta, 1563)
“[...] e por morrerem
muitos francezes e lhe teremos tomado huma fortaleza e não cesaremos de
combater a outra se sairão de noitee em canoas e nos deixarão huma das majs
fortes fortalezas da cristandade com muita e fermosa artelharia de metall e
outra muita de ferro coado com muita polluora e outras muitas moniçois e naujos
de remos que fazião para correr a costaa que sobre iso pasei com o capitão moor
e o muito que lhe sofry por não deixar de combater a fortaleza [...]” (Silva, 1570)
“[...] ate
que hos francezes llargarão a dita fortallezas e se embarcarão pera a terra
firme / na qual fortalleza se achou muita e boa artelharia de metall e ferro
coado com muita monição e polluora e muitos mantimentos e outras muitas cousas [...]”
(Silva, 1570)
“[...] e
por os ditos framcezes verem os portugueses com ho animo em que estauão e
cometerrem huma fortalleza tam forte como tinhão e lhes pareçendo que o
governador não avia de lleuar maao dally ate os não destrojr e por lhe ter
tomado a fortalleza de baixo e lhes não çesarem de combater a fortalleza grande
com tiros de foguo que lhes entrauão pellas portaas e janellaas dentro foi sua
ditrjmjnação de largarem a dita fortalleza como de feito se sairão della
todollos framcezes e jndjos por humas janellas e penedias aabaixo doutra banda
per cordas per que se llamçauão [lançavam] e se forão em canoas por a terra firme e por esta banda per onde se
sairão hera llugar que os portugueses lhe não poderam ffazer dano nem mall
alguum e desta maneira largaram a dita fortalleza com muita e fermosa
artelharia de metall e ferro coado / muita pollvora e outras moniçois e navjos
de Remos que tinham feitas pera andarem pella costa [...]” (Silva, 1570)
“Então foi o
nosso dito forte tomado pelos Portugueses e Margageaz, os quais, advertidos
desta fortaleza que lhes avizinhava, aí tendo permanecido contrariados por dois
anos após o termino daquela, com uma equipagem de vinte e seis navios de guerra
e alguns barcos à remo, assediaram o dito forte, e o tomaram; no entanto, isto
não ocorreu sem vender caro a conquista, apesar de que la dentro não havia mais
que dez homens, sem víveres e sem nenhuma munição, pois o resto dos homens
estavam em terra firme com seu Capitão, chamado Boisleconte. Os Portugueses,
prosseguindo em seu empreendimento, foram tão galhardemente recebidos e
enfrentados com uma tal coragem por este pequeno número de sitiados, que para
cada um Frances que foi morto, aí ficaram jazendo mais de centro e vinte dos
deles. Mas, por fim, tendo sofrido um sítio de dezenove dias, entregaram o
forte por acordo (como pessoas mal avisadas) a encargo e sob o juramento e fé
nos atacantes, que eles lhes permitiriam ir com suas vidas e seus bens: no
entanto, os inimigos apesar deste acordo e promessas, tendo posto pé em terra,
pilharam e saquearam tanto o que estava no forte quanto o que eles encontraram
na ilha. E, não contentes com isto, levaram escravos estas pobres gentes, que
se haviam rendidos sob sua fé e asseguramento.” (Thevet, 1575, pg
908)
“Depois que o Senhor de Villegagnon partiu deste país
de volta para a França, os Portugueses, que estavam sempre em vigia para
surpreender nossa gente e se fazerem senhores do forte, e, por consequência dos
habitantes do país vizinho, que estava em terra firme, armaram secretamente uma
armada de vinte e dois Navios, e outros barcos de guerra a remos, bem
equipados, tanto de Artilharia que de outras munições, que eles tinham tirados,
tanto da Etiópia quanto das Índias, e de outros lugares submetidos à sua
Jurisdição, quer dizer, que eles fizeram vir de toda aquela terra; e nasqueles
ditos barcos colocaram dois mil homens, ou cerca disto, para assaltar e
defender, quando isto for necessário. Desde que esta companhia chegou na Ilha,
eles a encontraram desguarnecida, tanto pela partida do dito Senhor Capitão,
quanto também porque os Françeses estavam em terra firme, onde estava a vila,
nomeada por nós Ville-Henry, do nome deste grande e venturoso Rei de França,
Henry [Henrique
II] segundo de nome, estabelecida próxima
do rio da Cariobe [Rio da Carioca].
Este forte, mesmo tendo assim sido surpreendido, e por uma tão grande tropa,
foi necessário que os Portugueses o golpeasse longo tempo, e com grande Fúria,
apesar de que os nossos fossem apenas treze lá dentro, e mal armados, e com
pouca munição e víveres [...] , e que
a água mesmo lhes era muito cara, pois lá não havia o uso de vinho; aqueles lá
de dentro resistiram vinte e um dias enteiros, não sem matar bom número dos
inimigos. Por fim, os nossos, vendo que eles não tinham meios de se defender, e
que os víveres lhes faltava e que lhes era impossível de ir para terra firme,
como eles estavam ao ponto de parlamentar, par chegar a um acordo com os
inimigos, os atacantes puseram pé a terra, e vieram furiosamente dar assalto ao
forte, que eles tomaram pouco depois, e saquearam, destruindo tudo, e se
fizeram mestres da Artilharia Francesa, e das outras muniçãos de guerra, usando
de tal avarice, que eu não sei se os Turcos, Árabes, ou outros bárbaros teriam
feito tanto.” (Thevet, 1575, pg. 910)
“E como os franceses se viram
apertados despejaram o castelo e fortaleza uma noite; e lançaram-se na terra
firme com o gentio tamoio, que os favorecia muito; e entrada a fortaleza,
mandou o governador recolher a artilharia e munições de guerra, que nela havia;
e mandou-a desfazer e arrasar por terra, e avisou logo do sucedido à Rainha em
uma nau francesa, que neste Rio tomou, e como houve monção se recolheu o
governador para a Bahia (visitando as capitanias todas) aonde chegou a
salvamento. Mas não alcançou esta vitória tanto a seu salvo, que lhe não
custasse primeiro a vida de muitos portugueses e índios tupinambás que lhe os
franceses mataram às bombardadas e espingardadas; mas como a Rainha soube desta
vitória, e entendendo quanto convinha à corôa de Portugal povoar-se e
fortificar-se o Rio de Janeiro, estranhou muito a Mem de Sá o arrasar a
fortaleza, que tomou aos franceses, e não deixar gente nela, que a guardasse e
defendesse, para se povoar este Rio (o que ele não fez por não ter gente que
bastasse para poder defender esta fortaleza); [...]” (Souza, 1587)
“[...] quando ja hia a nosso Exerçito faltando a poluora para ha artelharia,
entrarão os nossos por huma ponte da Ilha desuiada e muy fragoza e ganhando a
casa da poluora, os imigos, assy fransezes como Tamoyos largarão tudo, e
fogirão por huma roca abaixo e se puzerão em cobro, nas canoas [...]” (Rodrigues,
1607, pg. 211)
“Perdidos
de animo os Franceses com a perda da pólvora, e com o inopinado atrevimento dos
Portugueses, desampararam, cheio de máquinas de guerra, o castelo.
Recolheram-se a suas naves, e parte deles nelas retornaram à sua pátria, parte
ficou com os Tapuias, tanto para restaurar a guerra, e a opinião perdida, como
para exercitar con proveito das mercadorias e frutos do Brasil.” (Paternina, 1618, pg. 69)
“78 [...] e
juntamente com elle perdido de todo o animo dos Francezes, e Indios, que fiados
no secreto, e escuro da noite, se forão despenhando pouco a pouco das muralhas
abaixo, e embarcados em bateis, e canoas, se acolherão, parte às náos, parte a
suas brenhas, deixando nas mãos dos Portuguezes, com a fortaleza, e aprestos de
guerra, huma das insignes victorias d'aquelles tempos, no dia seguinte fez o
Governador Mem de Sa acção de graças a Deos nosso Senhor por merce tão grande,
celebrando os Padres da Companhia a primeira missa que vio aquella ilha.” (Vasconcellos,
1623, Livro II, 78)
“21
[...] porque perdendo já as esperanças de
conservarem o dominio, os Francezes nos seus bateis, e os Gentios nas suas
canoas se salvaraõ, penetrando o continente daquelle Certaõ , e deixando aos
Portuguezes lograr as palmas de huma gloriosa vitoria; [...]” (Pita, 1730, Livro III, 21)
“[...] combateram
a fortaleza por dois dias e duas noites até que os Francezes, sem água nem
pólvora, capitularam em número de setenta e quatro, e alguns escravos; aos
quaes depois se uniram mais de quarenta, dos de um navio aprezado, e de outros
que andavam em terra.” (Varnhagen,
1854, vol. I, pg. 240).
“Um
índio convertido, que no baptismo recebera o nome de Martim Affonso, tão
honrosamente se distinguiu n'este feito de armas, que em recompensa teve uma
pensão e a ordem de Christo.” (Southey, 1822, pg. 394)
“A guarnição, no entanto, não capitular até dois dias depois, quando 74
franceses sobreviventes e um punhado de escravos depuseram suas armas; outros
42 também foram capturados nas imediações. Os vencedores, então, removeram
todas as peças de artilharia, explodiram as fortificações e incendiaram
numerosos habitações, antes de partir para São Vicente e Salvador, deixando
para trás, espalhados, muitos residentes franceses. Essas pessoas irão
ressurgir a partir do interior e construir novas defesas fora da baía da Glória,
para proteger a praia do Flamengo e em Paranapuan (moderna Ilha do Governador),
com a ajuda de seu aliado Tamoio.” (Marley, 2008, pg. 90)
Men de Sá no dia 17 de março, um domingo,
arrasou até aos últimos
fundamentos o forte e os bastiões e ajuntam as toras enormes em altas
fogueiras. No mesmo dia, em meio às comemorações de vitória, foi celebrada a
primeira missa na ilha. Depois da tomada do forte, Mem
de Sá destruiu algumas aldeias fortes matando muitos tamoios. Ele não deixou guarnição na Guanabara, pois que não
dispunha de gente e nem de recursos para tal. Men de Sá partiu do Rio de Janeiro e chegou em São Vicente em 31 de
março, retornando a Salvador
em 03 de abril. Os defensores franceses que conseguiram se evadir para o
continente com o auxílio dos nativos, continuaram nos meses seguintes, as suas
atividades de comércio em terra firme. Os franceses que não foram mortos pelos índios Maracajás foram resgatados por um navio
que os apanhou na costa.
“Depois de
tomada a fortaleza deu o Governador em uma aldêa de índios e matou a muitos, e
não pôde fazer mais porque tinha necessidade de concertar os navios que das
bombardas ficaram mal aviados, e fazel-os prestes para se tornarem, o que veiu fazer a esta capitania de S. Vicente [...]” (Nóbrega, 1560, pg. 227)
“Arrasam
até aos últimos fundamentos o forte / e abatem todos os bastiões com mãos
impiedosas. / Tudo se desmorona, geme a terra ao baque dos pesos. / Com loucos
alaridos ajuntam as toras enormes / em altas fogueiras. Obras que há pouco
erguiam a fronte / até as estrelas, jazem agora por terra em pedaços, / presa
do fogo voraz: [...]/ Assim ruiu o forte francês desde as
cimeiras, e o fogo / num momento reduziu a cinzas esses muros altivos. ” (Anchieta, 1563)
“[...] distroy
allgumas alldeias fortes com matar muitos yndios / dahy fui a são viçemte onde
o gentio estaua alleuantado e o puz em paaz e todo este tempo que llaa amdej
que foi um anno dei mesa e todo o necessarjo as pesoas que diso tinhão
necessidade. [...]” (Silva, 1570)
“[...] e depois de
tomada a dita fortalleza ele governador dera em allgumas alldeias e estrojra e
fizera muito dano e tomara uma nao framceza que estaua no dito Rio / e depois
de ser tudo desbaratado se fora a são viçente onde prouera a dita terra e
posera em paaz por ho gentio estar alleuantado e não conforme aos cristãos em
qual tenpo ele governador gastara muitos meses pouquo majs ou menos ate tornar
a esta çidade dando sempree mesaa a muitas pesoas [...]” (Silva, 1570)
“[...] e despois
disto foi o dito governador algumas aldeias onde o gentjo non ousaua a esperar,
E que dahy se foi o governador a são Vicente [...]” (Silva, 1570)
“79 Havida a
Victoria, poz-se em consulta, se se havia de conservar a força, ou não?
Resolveo-se, que convinha antes arrasal-a, pela razão notória aos prudentes,
que as forças divididas necessariamente se enfraquecem, e as com que de
presente nos achavamos, não erão taes que podessem presidiar a ilha, resistir
às náos do inimigo, que ficavão, e acodir às necessidades precisas da Bahia. O
que visto, conduzida às nàos a artilharia, que o Francez na força deixara em
grande quantidade, e os mais despojos d'ella posto: por terra: tudo o que era
artificial, e podia servir de reparos determinou partir-se. Porém antes que de
à vela, he bem façamos menção do fim que houve hum soldado, famoso entre muitos
n'esta empresa, Capitão da principal estancia do combate, e hum dos principaes
authores da Victoria, por seu, grande valor, e prudencia. Chamava-se Adão
Goncalves, era morador em S. Vicente, dos mais ricos e poderosos da terra [...]” (Vasconcellos, 1623,
Livro II, 79)
“81 Entre os Indios se assinalarão alguns no combate
da fortalesa. O principal de todos foi hum, que depois do bautismo teve por
nome Martim Affonso. D'este publica a fama, que com os seus, de que foi Principal,
e Capitão, fez façanhas taes, que mereceo ser premiado pelo Governador geral, e
por el-Rei, com habito de Christo, e tença, que depois gozarão também alguns
seus descendentes. Do mesmo grande Martim Affonso, homem revera de coração, e
valor, como mais ao diante veremos, accrescentão alguns, que no conflicto maior
do accommetimento do penedo da polvora, elle lhe posera o fogo, attribuindo a
este feito muito principalmente a causa de desmaiarem os Tamoyos, e apoz
d'elles os Franeceses, desamparando a fortalesa com a pressa que vimos. Porém
não acho em escrittos este feito notavel. O certo he, que fez este soldado
façanhas dignas de memoria, que até hoje durão. [...]” (Vasconcellos, 1623,
Livro II, 81)
“21
[...] em cujo seguimento [da conquista da Ilha
de Villegagnon] passamos a térra firme, e
lhe destruîmos quantas fabricas tinhaõ , e todas as suas lavouras, tantas, que
podiaõ sustentar hum cerco dilatado.” (Pita, 1730, Livro III, 21)
Com a conquista da Ilha de Villegagnon, a fortaleza francesa na Guanabara,
termina a primeira fase da luta contra os franceses. Men de Sá carente de
recursos destruiu o forte e partiu. O forte jamais foi reconstruído pelos
franceses, ficando a ilha deserta até depois da expulsão definitiva dos
franceses em 1567. No ataque os portugueses consumiram quase toda a munição
existente (vide discussão acima), sobrando só a que cada um trazia consigo, e
vários barcos foram avariados. É difícil contabilizar as baixas: do lado
lusitano houve 10 a 12 mortos e vários feridos, dos franceses e tamoios não se
sabe. Por um erro, algumas fontes dizem que os franceses foram capturados, mas
na verdade eles fugiram para o interior. Muito material bélico francês foi
capturado, inclusive canhões e uma nau. A maioria dos franceses escapou para o continente;
destes, a maioria retornou para a França, cerca de 20 foram para Cabo Frio e
poucos ficaram no Rio de Janeiro. Em verdade, estes nunca foram muito numerosos
no Rio de Janeiro, dependendo principalmente do poderoso forte e do apoio dos
índios Tamoios. Os franceses que aqui permaneceram passaram a viver com os
índios em terra firme e jamais reconstruíram o forte, tendo optado por armar os
índios e fortificar suas principais aldeias. Também era frequente a vinda de
navios franceses ao Rio de Janeiro para comerciar, mas já sem a ambição de
colonizar estas terras.
“[…] eram já mortos dos nossos dez ou doze homens com bombardas e
espingardas (Nóbrega, 1560, pg. 225)
“Quando caiu o forte Coligny sob os golpes de
Men de Sá, grande número de colonos franceses se encontrava em terra. Bois le
Comte, o vice-governador, era do número daqueles que surpreendeu a agressão
portuguesa. Nem ele nem seus soldados puderam reentrar na cidade sitiada: ao
menos eles inquietaram os inimigos por seus ataques incessantes. Quando Men de
Sá destruiu a Fortaleza, a eles se reuniram todos aqueles que puderam escapar […]” (Gaffarel, 1878, pg. 342)
“Vitorioso,
Men de Sá, ocupa a ilha, arrasa o forte existente, apreende material. Mas é só.
[…] Houve falha na ação. Men de Sá não explorou o êxito, não separou o
francês do tamoio, não quebrou o apoio recíproco dêles. É verdade que êle não
tinha […] gente para logo povoar o
Rio e o fortificar como convinha.” (Veríssimo,
1970, RIHGB, vol. 288, pg. 129)
2) 2ª Fase: Expulsão dos Franceses da baía de Guanabara (1563-1567)
a) Ano de 1563: Decisão de expulsar os franceses e Paz de Iperoig
Persistindo o
comércio francês na Guanabara e diante da insistência do padre Manoel de
Nóbrega, de que se devia fundar uma cidade na região, a rainha regente dona
Catarina de Áustria encarregou dessa missão a Estácio de Sá, sobrinho de Mem de
Sá, que fora o encarregado de levar as notícias da destruição do Forte Coligny a
Portugal. Para esse fim, Estácio recebeu da regente o título de Capitão-mor,
com poderes e instruções para expulsar definitivamente os franceses da região. Os
Tamoios que viviam entre Cabo Frio (RJ) e Bertioga (SP) se uniram contra os
Portugueses na chamada Confederação dos Tamoios e tinham como principais chefes
Aimberê, Caoquira, Pindobuçu, Guaixará e Cunhambebe. No dia 21 de abril de 1563
os padres jesuítas Nóbrega e Anchieta partiram de Bertioga para Iperoíg, onde
eles fizeram as pazes com os tamoios de Coaquira, Pindobuçu e Cunhambebe, na
chamada Paz de Iperoíg. No entanto, Aimberê e Guaixará, no Rio de Janeiro,
ainda continuaram hostis aos portugueses.
b) Ano de 1564: Estácio de Sá chega ao Brasil com uma esquadra para
expulsar os Franceses
Estácio de Sá
aportou em Salvador, no início de 1564, à frente de 2 galeões guarnecidos de
artilharia e soldados, tendo recebido reforços de gente e de canoas, além de
provisões. No início de 1564, Estácio de Sá com as gentes e os meios reunidos,
partiu para o Sul, trazendo consigo o Ouvidor-mor Braz Fragoso. No Espírito
Santo, a expedição recebeu o reforço do Capitão-mor Belchior de Azevedo e do
chefe Araribóia, à frente de guerreiros Temiminós, inimigos dos Tamoios.
“Por o gentio do Rio de Janeiro não fiquar de
todo pasifiquo estando nesta capiatnia [Men de Sá] mandei huma armada bem
pequena pera tornar ao Rio de Janeiro e por estaa capitania não estar de toda
pasifiqua e não pareçer as pesoas da terra que a deuia deixar / mandei estacio
de saa meu sobrinho [...] capitão
moor com bras fragoso houvjdor gerall / os quajs cometerão a fazer pouoação a
yda e não poderão /” (Silva, 1570)
“[...] ele
governador mandara ao Rjo de Janeiro por o gentio estar de guerra estacio de
saa seu sobrinho e ho prouedor moor bras fragoso com uma armada pequena os
quajs forão ao dito Rjo onde tiveram guerra con os gentios e por não poderem
asentar e nem fazer povoação se forão a sao viçente [...].” (Silva, 1570)
“56 No
principio d'este anno preparou o Governador Mem de Sá na Bahia huma frota, que
enviou ao Rio de Janeiro. […] Tinha Mem de Sá escritto da Bahia á Rainha D.
Catharina, que governava Portugal, o successo da guerra que fizera contra
Villagailhon na enseada do Rio de Janeiro rendendo-o e pondo por terra a
fortaleza que alli tinha, na fôrma que dissemos no anno de 1560. Foi festejada
a nova como merecia e approvado tudo que alli se obrou: huma só cousa deo a
entender a Rainha e Conselheiros, que não satisfizera, e foi, o não deixar
presidiada a fortaleza com gente Portuguez. Por esta causa, e porque,
juntamente tinha chegado a nova das pazes, que por meio de Nobrega, e Joseph [José de Anchieta] se assentarão entre Tamoyos e Portugueses; chamou a Rainha a Estacio de
Sá, sobrinho do Governador Mem de Sá, homem de coração, e prudência; e mandando
preparar dous galeões, providos de aprestos de guerra, e soldadesca, mandou que
tomasse entrega d'elles, e lhe ordenou que fosse á Bahia, e ahi estivesse ás
ordens do Governador geral seu tio; porque queria que d’aquella cidade fosse a
huma empresa de seu serviço á enseada do Rio de Janeiro. 57 - Chegou Estacio de
Sá á Bahia, e abertas as cartas da Rainha, continhão […] que considerando o tempo accommodado, assi
pelo bom successo passado de nossas armas, como pelas pazes, que depois d'isso
se assentarão com os índios Tamoyos; parecia boa occasião de meter gente nossa
no Rio de Janeiro, senhorear a terra, lançar de todo fora o Frances, e começar
a povoar n'aquella parte: pera o que lhe mandava aquelle Capitão de effeito com
duas náos de guerra, que aggregadas ao poder do Estado, serião bastantes pera a
empreza; e tudo ficasse a sua ordem, e disposição. O cuidadoso Governador, que
nenhuma outra cousa mais desejava,
vendo-se com tão bom Capitão, e soccorro, aggregando a elle os navios da costa,
e alguma gente militar, com a mór presteza que pôde aviou a frota, e a despedio
no principio do anno Corrente, com o regimento seguinte.” (Vasconcellos, 1623,
Livro III, 56-57)
“24 […] Estas
noticias obrigaraõ a Serenissima Rainha D. Catharina, que governava o Reyno, a
mandar á Bahia dous Galeões com muita gente , governados por Estacio de Sá, sobrinho
do Governador, ordenandenando a seu tio; que com o mayor poder que fosse
possivel ajuntasse na Bahia, enviasse ao sobrinho a expulsar de novo aos
Francezes da enseada do Rio de Janeiro, senhorear a térra, e povoalla com gente
Portugueza.” (Pita, 1730, Livro III, 24)
“Despachou
pois Estacio de Sá, sobrinho do governador, para a Bahia com dous galeões e
ordem ao tio, que lhe prestasse para esta jornada as forças da colônia. Reuniu
Mem de Sá os vasos que pôde, e recommendou a Estacio que entrasse a barra do
Rio de Janeiro, reconhecesse a força do inimigo e o numero das suas naus, e, se
houvesse fundamento para contar com a victoria, o attrahisse ao mar alto; mas
que em caso nenhum quebrasse a paz com os Tamoyos, e que, se podesse haver os
conselhos de Nobrega, nada de importância sem elles emprehendesse.” (Southey, 1822, pg. 416)
As forças
portuguesas, desta vez, também não eram grandes. A frota que vinha com Estácio
de Sá era formada da nau capitânia Santa Maria, da carreira das Índias, do
galeão São João, e de 6 caravelas, vindo todos de Lisboa; juntaram-se a estes,
outros navios: um 3º galeão, uma galeota de 10 remos de cada lado, de Paulo
Dias Adorno, um caravelão de Domingos Fernandes, de Ilhéus, e outros navios
pequenos. Mem de Sá mandou seu sobrinho Estácio de Sá adotar a mesma estratégia
dos franceses: arregimentar apoio indígena. Como a superioridade naval
portuguesa era fragarante, Estácio de Sá deveria, se possível atrair os
franceses para um combate naval e derrotá-los no mar. O comandante português,
no Rio de Janeiro, era Estácio de Sá. Com ele vinha o provedor-mor Brás
Fragoso. Também eram figuras importantes o Capitão-mor Belchior de Azevedo,
Paulo Dias Adorno e o chefe temiminó Araribóia. Novamente faltam tropas de
infantaria aos portugueses. Do lado inimigo, há milhares de tamoios espalhados
pelo continente, alguns vivendo em aldeias fortificadas. A presença francesa é
pequena, algumas poucas dezenas de homens, mas eles servem de instrutores
militares aos tamoios. Os franceses também contribuíam com navios, alguns até
naus de guerra, que auxiliavam os tamoios nas batalhas navais. No entanto, as
principais batalhas navais ocorrem entre canoas portugueses e temiminós contra
canoas de tamoios e franceses. Tinham
os tamoios duas fortes posições, a principal das quais era o reduto de
Uruçumirim (morro da Glória), fronteiro à ilha de Villegagnon, e alojado nas
escarpas do morro de abas defendidas por paliçadas e artilharia. Outra
poderosa aldeia dos tamoios ficava na ilha donde tinham eles expulso os maracajás
(a do Governador). Enquanto dessa ilha partiam as canoas que infestavam o
golfo, de Uruçumirim desciam as patrulhas que fechavam aos de São Sebastião os
caminhos da costa, trazendo-os oprimidos de encontro à montanha a que se
encostavam.
“57 […] Que
fosse demandar a barra do Rio de Janeiro, e entrasse n'ella à som de guerra, e
observasse alli as disposições, e conselhos do inimigo, e se achasse ocaasião
que prometesse esperança de victoria, procurasse tirar o inimigo ao mar alto, e
ahi rompesse côm elle, fazendo sempre por conservar as pazes com os índios
Tamoyos: e ordenando-he por fim do regimento, que podendo tomar conselho com o
Padre Nobrega, não obrasse cousa de importância sem elle, pelo grande conceito
que tinha de sua virtude, e prudência.” (Vasconcellos, 1623, Livro III,
56-57)
“[…] lhe [a
Men de Sá] escreveo o Cardeal Dom
Henrique, que com ella [a rainha Dona Catarina] governava o Reyno, e para este effeito lhe mandarão pelo proprio seu
sobrinho Estacio de Sá, que levou a nova, huma armada de seis caravellas com o
galeão S. João e huma náu de carreira da India chamada Santa Maria a Nova, a
que ajuntou o Governador os mais navios que poude, e quizera ir em pessoa; mas
por o povo não lho consentir mandou o dito seu sobrinho, em o anno de mil
quinhentos e sessenta e tres, a quem accompanhou o Ouvidor Geral Braz Fragoso,
e Paulo Dias Adorno, Commendador de Sant-Iago, em huma galeota sua, que remava
dez remos por banda, e outros Capitães, […]” (Salvador, 1627, pg. 73-74)
“Rapidamente eles se tornaram bastante poderosos
para poderem fundar uma pequena fortaleza a Uruçumiry, sobre o Rio de Carioca
(Catete), não longe da pradria, que porta há longo tempo o nome de Pradaria do
Flamengo. Algumas semanas mais tarde, fortes pela impunidade, eles ousaram até
tomar possessão da ilha que os Brasileiros chamam Paranapacuy (ilha do mar),
próximo de Maracaïa (atualmente ilha do Governador).” (Gaffarel, 1878,
pg. 343)
“À sua esquerda ficava a região fortificada de
Biruaçú mirim (Glória), a de Uruçu mirim (Flamengo) para onde os sobreviventes
de Serigipe se acolheram.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 130)
“Como
meios de ação para expulsar os franceses que se achavam no Rio e aí fundar uma
cidade, Estácio de Sá, recebe dois galeões. Felizmente para ele, seu tio, na
Bahia, pode reforçá-lo um pouco. E, então, ele recebe: seis caravelas, um outro
galeão, uma nau, um galeote. Mas, embora, possuindo agora, mais navios, falta a
Estácio de Sá, meios de combate terrestres. Meios que assegurem conquistar e
manter os objetivos. O que possui só lhe permite ação naval e isto parece claro
nas instruções que lhe dá Men de Sá, como linha de ação operatória: “que fosse
demandar a Bahia do Rio de Janeiro e entrasse nela ao som de guerra”; e, “se
achasse ocasião que prometesse vitória, procurasse tirar o inimigo ao mar alto
e aí rompesse com êle”.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 131)
A 6 de
fevereiro, a frota ancorou fora da barra da Guanabara. A primeira coisa que Estácio
de Sá fez, foi enviar um emissário com um navio pequeno à Capitania de São
Vicente, convocando os jesuítas Anchieta e Nóbrega, conforme orientação do
Governador-geral Mem de Sá.
“58
Chegou o Capitão mór Estacio de Sá á barra do Rio de Janeiro no mez de
Fevereiro, e a primeira cousa que fez, foi despedir d'alli hum barco a S.
Vicente com cartas ao Padre Nobrega, pedindo-lhe quizesse avistar-se com elle
em pessoa, por serviço d'El-Rei, na conformidade que o Governador seu tio o
dispunha em seu regimento, o mais presto que fosse possível.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 58)
Em uma
incursão de reconhecimento, ao penetrar na barra, Estácio percebeu no interior
da baía uma nau francesa, que procurava fugir das naus portuguesas
adentrando-se mais na baía. De imediato ela foi perseguida pelos navios
portugueses, sendo capturada pela galé de Paulo Dias Adorno, a bordo da qual
seguiam Duarte Martins Mourão, Belchior de Azevedo e Braz Fragoso. Os franceses
abandonaram a nau que foi apresada para a Coroa, e o seu comando entregue a
Antônio da Costa; dentro foi apreendido muito pão, vinho e carne. Em seguida
ela foi levada para junto da nau capitânia Santa Maria e do galeão São João,
que estavam ancorados próximo à Ilha de Villegagnon, sendo incorporada à frota
portuguesa.
“[…] chegando
todos ao Rio de Janeiro acharão huma náu Franceza, que lhe quiz fugir pelo rio
acima, mas os nossos lhe forão no alcance, e a primeira que lhe chegou foi a
galé de Paulo Dias Adorno, em que tambem ia Duarte Martins Mourão, e Melchior
de Azeredo, depois chegou Braz Fragoso, e outros, os quaes entrando na náu,
acharão muito pão, vinho e carne, e assim a levarão pera baixo onde ficava a
Capitania Santa Maria a Nova, e o galeão, e o Capitão Mór Estacio de Sá fez
Capitão della a Antonio da Costa; […].
” (Salvador, 1627, pg. 73)
Estácio de Sá
decidiu montar sua base inicial na ilha abandonada de Villegagnon,
desembarcando perto do antigo forte e fazendo construir algumas palhoças na
ilha. Os tamoios, para pegarem os portugueses desprevenidos, primeiro fingiram
estar em paz e os trataram amistosamente, no que Estácio inicialmente acreditou,
mas um prisioneiro francês, lhes revelou que os tamoios do Rio não aderiram à
paz de Iperoig, ficando a dúvida no ar. Como não havia água na ilha, indo uma
madrugada três batéis portugueses tomar água à ribeira da Carioca, eles deram
com algumas (9 segundo Salvador, 7 segundo Vasconcelos e Southey) canoas de
índios inimigos, que estavam aguardando em cilada, as quais atacaram os batéis,
e da capitânia, que ia mais à frente, mataram o contra-mestre, o guardião e
outros dois marinheiros (Anchieta diz que foram 8 mortos), e no do galeão
feriram Christóvão de Aguiar, o moço, com sete flechadas, e outros sete homens,
e o levavam, mas Paulo dias Adorno lhe acudiu à pressa na sua galé, e atirando
com seu falcão os fez largar o batel.
“Estando a cousa
nestes termos chegou a armada que esperávamos da Baía, a qual vindo-se ao Rio
de Janeiro, foi recebida dos contrários como amigos, logo ao princípio, mas
entretanto estava-se ajuntando a gente das aldeias, [...] também outro dia mataram oito
homens e feriram todos os mais que tomaram em uma barquinha que se desmandou, e
se não lhes fora socorro mui depressa, todos os levavam para comer.” (Anchieta,
Janeiro 1565)
“58 […] Entretanto foi correndo a
costa, e postos d'ella, e achou por ditto de hum Francez que tomarão, que os
Tamoyos do Rio de Janeiro tinhão alterado as pazes e estavão em guerra.
Duvidarão os homens do mar, e alguns soldados; mas logo á custa de seu sangue,
se desenganarão, porque entrando em báteis da barra pera dentro a fazer aguada
em huma ribeira, hum d'elles que mais se empenhou, foi acommetido de sete
canoas de Tamoyos, de cujas mãos, supposto que escapou, foi com morte de quarto
marinheiros frechados; Declarou este successo a duvida, e logo a foi mostrando
mais ás claras a experiência; […].”
(Vasconcellos, 1623, Livro III, 58)
“[…] mas
como não ha gosto nesta vida, que não seja agoado, indo uma madrugada tres
bateis nossos tomar agoa á ribeira da Carioca, derão com nove canôas de Indios
inimigos, que estavão aguardando em cillada, os quaes repartindo-se tres e tres
a cada batel, matarão no da Capitania, o contra mestre, o guardião, e outros
dous marinheiros, e no galeão ferirão a Christovão d’Aguiar, o moço, com sete
frechadas, e outros sete homens, e o levavão, mas Paulo Dias Adorno lhe acudiu
á pressa na sua gale, e chegando a tiro mandou pôr fogo a hum falcão, que os
fez largar o batel. Enterrados os mortos em huma ilha, […]. ” (Salvador, 1627, pg. 74)
“Feito
isto principiou a reconhecer a costa. Aprizionou um Francez, de quem soube que
n'àquellas partes tinhão os Tamoyos quebrado as pazes, alliando-se outra vez
com os patrícios d'elle prizioneiro. Esta noticia nem por todos foi acreditada,
mas depressa se confirmou : uma partida de botes penetrou na barra para fazer
aguada, e um que se adeántara aos mais subindo um curso de água doce, foi
atacado por sete canoas, perdendo quatro homens antes de poder safar-se.” (Southey,
1822, pg. 416-417)
“[…] Estácio de Sá
chegou, ao Rio, a 6 de fevereiro de 1564. Aqui ataca uma nau fancesa; reconhece
que a ilha Serigipe [Ilha de Villegagnon] continua abandonada; prolonga o reconhecimento até a região do rio
Carioca, onde é atacado a flecha por índios tamoios. O reconhecimento custou
algumas vítimas, […].” (Veríssimo, 1970,
RIHGB, vol. 288, pg. 131-132)
Estácio de Sá
empreendeu algumas escaramuças contra os navios franceses, mas estes, estavam
sempre protegidos por canoas dos tamoios e se recusavam a aceitar uma batalha
naval decisiva e passavam a fustigar os portugueses. A estratégia inicial
portuguesa, de atrair os franceses para uma batalha naval decisiva, falhou.
Estácio, então, teve que formar um novo plano de ação. Ele fez um conselho de
guerra com os seus capitães para decidir a nova estratégia da luta. Como o
padre Nóbrega demorava a chegar, como haviam sido informados falsamente por um
prisioneiro tamoio de que os tamoios da Capitania de São Vicente se encontravam
novamente em guerra com os colonos daquela Capitania, como eles necessitavam de
barcos pequenos que pudessem se aproximar do litoral e como já escasseavam os
víveres, Estácio de Sá decidiu, em Conselho, que a frota se dirigiria a São
Vicente, para, primeiro, socorrer esta Capitania e, depois, reunir reforços e
suprimentos lá.
“58 […] porque
estava tudo ardendo em aprestos de guerra: os portos por onde podia ser
acommetido o inimigo, cobertos de canoas armadas: as praias cheias de Tamoyos
empennados ferindo o chão, e os ares, ameaçando rompimento de guerra: tudo
disposições industriada pela nação Francesa. Inteirado de tudo o Capitão mór
Estacio de Sá (depois de feita alguma experiencia de melhor empenho, sahindo
dos encontros feridos alguns soldados, outros mortos sem effeito) pondo em
conselho o que vião do grande poder do inimigo, e de como usavam de cautela,
não querendo sahir ao mar a batalha; e como não era bastante o poder com que se
achavão perâ sahir em terra, por falta principalmente de embarcações pequenas:
e sobre tudo porque teve noticia por via de hum cattivo dos Tâmoyos fugido, que
estava S. Vicente em guerra (ditto que concordava com a tárdança do Padre Nobrega) resolveo que era
bem ir aquella Capitania; porque de sua ida resultavão muitos bens soccorrer a
terra, avistar-se com o Padre Nobrega, e prover-se de emarcações de remo, e
mantimentos.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 58)
“[…] chamou
Estacio de Sá os Capitães a conselho, e assentarão, que se fosse a S. Vicente
buscar canôas, e Gentio domestico, e amigo, com que melhor se poderia fazer
Guerra áquelle Barbaro inimigo. ” (Salvador, 1627,
pg. 74)
“Não
havia logar por onde podessem ser acommettidos os navios francezes que não
estivesse coberto pelos Tamoyos, cujas canoas coalhavão a bahia. Ensaiou
Estacio com pouca vantagem algumas ligeiras escaramuças; viu que o inimigo não
sahiria ao mar, que não podia desembarcar por falta de embarcações próprias, e
em verdade que as suas forças não bastavão para a empreza; e tendo sabido d'um
prizioneiro, que para elle fugiu, que S. Vicente estava também em guerra com os
selvagens, julgou mais acertado seguir para alli, robustecer aquella capitania,
consultar com Nobrega (cuja demora attribuia ás hostilidades que lá se
passarião), e reforçar-se a si próprio. Fez-se pois de vela no mez de abril.” (Southey, 1822, pg. 416-417)
“[…] O reconhecimento
custou algumas vítimas, mas Estácio pôde perceber, de forma mais clara, a
necessidade de possuir elementos de desembarque. Daí a decisão de ir até São
Vicente, a busca de reforços.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 131-132)
Na madrugada
da quinta-feira 30 de março, precedendo as demais embarcações, saíram primeiro
a nau francesa, sob comando de Antônio da Costa, e o caravelão de Ilhéus,
comandado por Domingos Fernandes, os quais foram atacadas fora da barra da baía
por cerca de 100 canoas cheias de tamoios e franceses. Não fora a grande
agitação do mar, os tamoios e franceses teriam conseguido abordar os dois
navios. Ainda assim conseguiram chegar ao caravelão, que furarão com machados e
feriram Domingos Fernandes com 6 flechadas matando-lhe 4 homens. Fernandes atirou-se
ao mar com alguns companheiros, nadando em direção à nau, enquanto os índios
procuravam penetrar no barco de um só lado, pesando em tal quantidade em um dos
bordos, que acabaram por virar o caravelão, pondo-o a pique com tudo o que
continha. Daí foram-se à nau, abrindo dois rombos, a machado, junto à linha
d’água, e mataram alguns homens e flecharam muitos, mas um indiano, escravo de
Brás Fragoso, que estava a bordo, descendo à coberta, conseguiu matar um francês,
por um dos buracos, o que afugentou os tamoios, que abandonaram o navio,
dirigindo-se para terra, e levando grande número de companheiros feridos e
queimados de pólvora; a nau conseguiu seguir para São Vicente. A frota
conseguiu forçar a barra, desembaraçando-se das canoas indígenas e rumando para
São Vicente.
“[...] estava-se ajuntando a gente das
aldeias, a qual junta, com quasi cem canoas, acometeram uma náu e um barco, que
vinham para cá, e puseram-os em tanto aperto que, se não foram as grandes ondas
que faziam, houveram-os de tomar, porque á náu romperam por duas partes com
machados junto á água, dando-lhes para isto favor e ardis os Franceses que
vinham com eles misturados, e mataram alguns homens e flecharam muitos. Ao
barco, depois da gente dele mal ferida acolher-se á náu, lhe puseram as mãos em
um bordo para entrar a lhe despojar, mas eram tantos que o trabucaram e meteram
ao fundo; mas dos inimigos foram muitos mortos, feridos e queimados com
pólvora, e assim se houveram de ir, e a náu se veiu seu caminho; [...].” (Anchieta, Janeiro 1565)
“Sahirão huma madrugada, e a náu Franceza, que havião tomado, diante de
todas as outras com hum caravellão de Domingos Fernandes, dos Ilheos, acharão
muitas canôas de inimigos Indios, e Francezes misturados, que chegando ao
caravellão o furarão com machados, e o metterão no fundo, matando-lhe quatro
homens, e ferindo a Domingos Fernandes de seis frechadas, com que se foi a nado
para a náu, á qual tambem chegarão, e lhe fizerão hum buraco; mas hum Indio da
India de Braz Fragoso, que ali ia com seu senhor, se foy abaixo da coberta, e
por o mesmo buraco matou um Francez, com o que elles, ou com o temor da armada,
que vinha atraz, se forão embora, e a náu tambem, seguindo seu caminho pera São
Vicente, onde contarão ao Capitão Mór, e aos mais o que lhes havia sucedido.” (Salvador, 1627, pg. 74)
Nóbrega e
Anchieta que tinham partido de São Vicente a 19 de março, no próprio navio que
os viera convocar, fizeram uma aportagem em Iperoig (Ubatuba) e chegaram ao Rio
a 31 de março, sexta-feira-santa, à meia noite, desembarcando na ilha de
Villegagnon. Apesar de terem cruzado com os navios de Estácio que iam para São
Vicente, eles não se viram no caminho. Ao alvorecer de 01 de abril, sábado de
Aleluia, os padres iam ser atacados por canoas dos tamoios, disparando flechas,
mas, devido ao mau tempo, estes tiveram que voltar. Neste mesmo dia 1º, a
esquadra de Estácio de Sá, que saíra dois dias antes da cidade do Rio, voltou,
obrigada pelo mesmo mau tempo. Eles salvaram Anchieta e Nóbrega cercados pelos
tamoios. No domingo de Páscoa, Nóbrega celebrou missa na Ilha de Villegagnon.
Reunidos Estácio, Anchieta e Nóbrega, confirmaram a deliberação de seguir para
São Vicente, a fim de reunir reforços e provisões e reparar os navios.
“O
Capitão maior da armada, logo como chegou ao Rio, mandou para cá [São Vicente] um navio pequeno em que fosse [buscar] o padre Nóbrega, para com seu conselho assentar o que havia de fazer, no
qual [navio] nos embarcamos o padre e
eu [Anchieta] com alguma gente aos 19
de Março e de caminho fomos visitar nossos (sic) antigos hóspedes de Iperuîg [Iperoig],
como lhes havíamos prometido que haveríamos
de visitar quando me retornasse; estes nos vieram ver no navio, e me trouxeram
os livros e todo os mais que Lhes havíamos deixado em guarda, e algum Refresco.
Partimos e chegamos ao Rio na quinta-feira santa, e Entramos pela barra bem pela
meia noite, com grande escuridão e tormenta de vento, e nós todos estivemos meio
perdidos dentro do porto. Lançada a âncora, não vimos os navios dos nossos, e
mandando Logo a terra a uma Ilhota que foi dos Franceses [Ilha de
Villegagnon], acharam todas as casas,
onde os nossos pousavan, queimadas e alguns Corpos de escravos, que ali haviam
morrido de sua doença, desenterrados (sic) e as suas Cabeças quebradas, o que haviam
feito os Inimigos, porque estes não se contentam de matar os vivos, mas também
desenterram os mortos e lhes quebram As Cabeças para maior vingança e tomar novo
nome. Estes sinais nos metiam em grande confusão e nos fazia pensar que algum
grande desastre havia acontecido com a armada. Quando amanheceu, vimos vir
flechas que trazia A agua de maneira que pouco mais o menos atinávamos o que havia
ocorrido e esperávamos o que nos aconteceria, que era ser tomados, e comido;
nisto não poníamos dúvida por que o vento que era mui grande, nos tinha cerrada
a porta, entrando por meio da barra, e, em nenhuna maneira podíamos sair, mas
alí havíamos de aguardar o que N. S. nos enviasse; E assim enviou o que era sua
costumeira e paterna Misericórdia, e foi o caso que A armada, vendo que tardávamos
tanto, e que no porto não havia nada, determinou de vir retornar a estas vilas;
havia dois dias que era saída quando nós entramos, e N. S. acordandose de nós,
que não estávamos mui longe de sermos tragados para os ventres dos Tamûjas [Tamoios]
que são piores que os das baleias, mandou-lhes
aquele vento de través que é o mais furioso que há nesta costa, com o qual nenhuna
outra coisa poderia fazer, ainda que quizessem, senão tornar a entrar no Rio. E
assim entrou logo ao sábado véspera de Páscoa, querendo N. S. fazer-nos participantes
da alegria de sua ressurreição por que já havia passado a quinta-feira da paixão
[...]. No Dia de Páscoa se disse
missa naquela Ilha, e determinando, todavia, a armada, por estar mui
desbaratada, de se refazer, nós viemos a estes Lugares de S. Vicente, onde
agora esta está se refazendo, com determinação de voltar a fazer povoamento no
Rio de Janeiro, tanto para desarraigar dalí A Sinagoga dos contrários Calvinios
como porque alí está a maior força dos Tamûjas, e seria uma grande porta para
sua conversão.” (Anchieta, Janeiro 1565)
“59 Porém
aconteceu aqui hum successo tido por milagroso porque partida a armada no mez
de Abril, em numa quinta feira da semana santa, logo na sexta seguinte á meia
noite chegou o Padre Nobrega em huma lancha, com mais dous companheiros, e como
vinha com vento tormentoso, desejosos de abrigar-se d’elle, suppondo que tinha
entrado a armada, embocarão a barra, e surgirão de dentro: senão que quando
contentes do successo, ao primeiro arraiar da manhãa; começarão á descobrir o
horizonte, em vez das nossas náos de guerra, se veem metidos entre infinidade de canoas armadas inimigas:
e o que mais he, sem remédio de poder tornar pera fora; porque o vento, que na
entrada lhe fora favorável, á sahida lhe ficava contrario. Que faria huma
lanchinha só desarmada, entre tão grandes estrondos de guerra entre gente
feroz, e deshumana, que nem o nome sabe de bom quartel? Davão-se por perdidos
os marinheiros, encommendándo-se a Deos os Padres, e sobre todos mostravaa
grande confiança Nobrega. Ex que
no
meio d’esta afflição começão a apparecer os velames dos galeões, e em pouco
espaço entrão a barra, e lanção ferro junto aos nossos; E foi o caso, que o
mesmo contraste de tormenta que trouxera os Padres, fez arribar os galiões, que
no dia antecedente tinhão partido. Á vista de tão grande successo, se
prostrarão de joelhos todos, reconhecendo a mercê do Ceo: e logo o seguinte
Domingo de Paschoa sairão em terra na ilha chamada Villagailhon, onde disserão
missa, e fez Nobrega hum sermão ao povo, em acção de graças. 60 Avistado aqui o
Capitão mór com o Padre Nobrega, e tomando de novo conselho com elle, convierão
que era bem irem a S. Vicente refazer-se, assi de mantimentos, como de
embarcações de remo, com que podessem assistir o tempo necessário, e acommeter
á ligeira os postos onde não podião chegar navios grandes.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 59-60)
“27 Posto já Estacio de Sá naquella barra, e informado
do poder do inimigo, mayor que o das suas forças, vendo, que para o lançar da
própria casa, em que se, tinha fortificado com mayores defensas, (pelo exemplo
passado que o fizera prevenir novos reparos) lhe eraõ necessarias mayores
preparações, e mais numero de combatentes, encaminhou a Armada a S. Vicente, [...].” (Pita, 1730, Livro III, 27)
“A' meia noute do dia seguinte entrou Nobrega com um
vendaval no porto, e deitou ferro, contente por ter escapado á tormenta.
Cuidava achar alli a armada, mas ao raiar a aurora so viu por todos os lados as
canoas do inimigo; o vento, que o atirara para dentro, soprava ainda, e fugir
era impossível; ja a gente se dava por perdida encommendando a Deus as almas,
quando de improvizo apparecérão velas á barra, e Estacio, repellido também
tufão, veio com suas naus ancorar nas mesmas águas. No dia seguinte, que era
domingo de Paschoa, saltou toda a gente em terra na ilha de Villegagnon, onde
Nobrega pregou um sermão de graças pela sua salvação providencial. Estacio
consultou com ele sobre o que devia fazer-se e o resultado foi confirmar-se a
resolução ja tomada pelo comandante de refazer-se em S. Vicente, embarcar
materiaes, e prover-se de embarcações de remo, sem as quaes muitos postos, que
seria mister ganhar, nem sequer se poderião atacar.” (Southey, 1822,
pg. 417-418)
“Porém vendo que os gentios disparavam frechas contra
os bateis quando se aproximavam das praias, e que devia preparar-se para
grandes hostilidades, resolveu ir primeiro a S. Vicente buscar maior número de
combatentes, incluindo ja algumas cabildas de gentios das bandas de Ubatuba,
novamente attrahidos por Anchieta. Ao fazer-se de vela, encontrou os ventos tão
ponteiros que teve que arribar ao Rio de Janeiro; afortunadamente para um
bergantim que ali ancorara na noite anterior, trazendo a seu bordo o padre Nobrega,
que julgava encontraria fundeado dentro o mesmo Estacio de Sá, e que houvera
acaso sido capturado sem essa arribada. Logo seguiram todos para o porto de
Santos, a buscar reforços.” (Varnhagen,
1854, vol. I, pg. 245).
A 2 de abril a
esquadra de Estácio de Sá chegou a Santos, sendo informados que os tamoios
desta Capitania se mantinham fiéis à Paz de Iperoig. Estácio de Sá e suas
forças permaneceram nove meses na Capitania de São Vicente, procedendo reparos
nas embarcações e ajudando nas defesas da baixada santista e reunindo reforços
de gentes e suprimentos. Para atrair voluntários, começou-se a distribuir
perdões em nome do Governador Mem de Sá; há de se lembrar que parte importante
dos primeiros colonos era de criminosos degredados de Portugal. A Capitânia de
São Vicente inteira, sem excepção da nova colônia de Piratininga (São Paulo),
tão exposta às agressões dos índios do sertão, se esforçou, talvez mais do que
lhe permitiam suas forças, para o bem de todos. Enviou todas as canoas em
estado de se armarem em guerra, quanto mantimento se pôde juntar, para dois ou
três meses de sustento aos trezentos homens da expedição, retendo só o
indispensável para não morrerem de fome os que ficavam guardando a terra,
quanta gente, enfim, podia combater, casados e solteiros, anciãos e
adolescentes, muitos escravos de Guiné, e até os índios em quem depositavam
maior confiança.
“Depois de passar muito tempo em se reformar a
armada de cordas, amarras e outras cousas necessárias, e esperar pelo gentio
dos Tupinanquins, com os quais se fizeram pazes, indo duas vezes em navios ás
suas povoações a os chamar, para darem ajuda contra os Tamoios do Rio, os quais
prometendo de vir, não vieram senão mui tarde e poucos, e tornaram-se logo de
São Vicente, sem quererem com os nossos vir ao Rio, a qual foi a principal
causa de muita detença que a armada fez em São Vicente; e, finalmente, depois
de haver muitas contradições, assim dos povos de São Vicente, como dos capitães
e gente da armada, aos quais parecia impossível povoar-se o Rio de Janeiro com
tão pouca gente e mantimentos, o capitão-mór Estacio de Sá e o ouvidor geral
Braz Fragoso, que sempre resistiram a todos estes encontros e contradições,
determinaram de levar ao cabo esta cmpreza que tinham começado. E confiados na
bondade e poder divino assentaram que se ficasse o ouvidor geral em São
Vicente, fazendo concertar o galeão e a nau francesa, que se achavam comidos de
buzanos, e não estavam para poder navegar, e depois se viria com socorro ao
Rio, e que o capitão-mór se passasse logo em sua nau capitania e alguns navios
pequenos e canoas a começar a povoação.” (Anchieta, Julho 1565)
“60 [...] Derão á vela, e dentro em breves dias
chegarão ao porto de Santos. Achou o Capitão que continuavão aqui as pazes
firmes com os Tamoyos de Iperoyg, entre os quaes estivera Nobrega, e Joseph; e
que moravão muitos d'elles entre os Portugueses, e com sua frecha os defendião
de alguns Tupis inimigos: especialmente o fiel Cunhambéba, que assentara casa
com tuda sua gente fronteiro aos mesmos Tupis, só por nossa amizade. E pelo
contrario achou que os Tamoyos do Rio de Janeiro tinhão feito por toda aquella
costa varias hostilidades, inimigos de toda a paz, e socego. Em S. Vicente
começou o Capitão mór a experimentar graves difficuldades acerca da empreza,
movidas por varias pessoas da mesma armada, ás quaes não parecia bem acommeter
em tal occasião de tempo. Dizião que o inimigo era innumeravel, fortificado em
casa própria, com mantimentos á mão, com embarcações tão ligeiras, com o mesmo
vento, com armas que jamais lhe podião faltar, industriados na guerra pela
gente Francesa, cujos princípios tinhão experimentado: e que tudo o contrario
achávamos em nós; porque éramos poucos, acommetiamos com o peito á frecha, em
terra alhea, onde não sabíamos dos postos que podem fazer a nosso intento, os
mantimentos acabados, a terra impossibilitada a dar-nos outros, pelos assaltos
contínuos dos inimigos, as embarcações grandes, e pesadas, a munição limitada,
e nossa gente Portuguesa pouco destra no pelejar dos índios: que poderia
sueceder huma desgraça, que desse que chorar: que sempre foi prudência, não
arriscar a graves perigos, onde a empreza he voluntária, e pôde esperar ocasião
segura. Isto dizião; e a este fim movião muitas traças, huns com zelo, outros com
receio, outros por enfadados. 61 O Padre Nobrega, [...]: oppôz-se firmemente a todos os pareceres contrários. [...] 62 Era grande o conceito que tinha o Capitão
mór da prudência, e virtude de Nobrega, até então por fama, agora já por
experiência. [...] 63 Ficou com todas
estas cousas tão convencido, e resoluto o Capitão mór, que nenhuma cousa da
terra (dizia elle) jamais o trocaria. Porém pera persuadir aos soldados
descontentes, foi necessária nova lida de Nobrega: andava, e desandava aquellas
duas legoas [13km], que ha de S.
Vicente a Santos, onde estavão com o Capitão: praticava com os de mais razão,
mostrava-lhes, a muita que, havia
pera que não deitassem em flor esperanças de frutos tão, grande a gloria, que
se lhes seguiria, da victoria, e o pesar que contrahirião, da retirada.
Fazia-lhes fácil, o apresto, offerecia-se a grande parte d'elle, ajudava-os,
favorecia-os em suas petições, e convencia-lhes os ânimos. Levou-os, a recrear
a nossa casa de, S. Vicente por alguns dias, e á villa de Piratininga, outros;
onde forão, mui bem agasalhados, e aliviarão os cuidados, com tão, grande
variedade de, vistas, e, com verem, os índios de nossas, aldeas armados a seu
modo, e animados pera a mesma,
empreza. Aqui fez que se assentassem, pazes na presença do Capitão mor, e em
nome do Governador geral, seu tio, entre os nossos, e alguns Principaes do
sertão, que estavão em guerra. Descerão seguros sobre, sua palavra, e, renderão
os arcos, e se offerecerão muitos d'elles á jornada, e ajudarão.com seus
mantimentos com que ficárão os, Portugueses mais, confirmados, que Deos
traçava, o fim desejado: e na verdade d’aqui, houverão grande, parte do que
necessitavam assi de gente, como de mantimentos. E veio a ser de três effeitos
esta sahida a Piratininga: confirmou-os ânimos dos soldados, deixou em paz
aquelle sertão, e proveo do que necessitava a armada. 64 Feito o sobredito,
desceo das serras Nobrega, e no marítimo correo as villas, e lugares todos,
mais com espirito, que com, forças, da carne pregava, e animava em publico, e
em particular sobro o apresto de empresa tão importante, publicando perdões de
delitos em nome do Governador geral aos que se embarcassem; e com sua indústria
e authoridade a juntou hum socorro consideravel de Portugueses mestiços, e
Indios, e de canoas, e bastimentos, que juntos a outros, que logo chegarão da
Bahia, e Espirito santos, fizerão provimento cabal, e bem fora do que suppunhão
os que votarão pela parte contaria; e com ele se aprestava a armada. Porém como
esta não há de sahir ao fim que pretende se não, que principio do anno
seguinte; cheguemos primeiro á Bahia, e depois voltaremos a ser presentes ao
successo della.” (Vasconcellos, 1623, Livro III,
60-64)
“[...] encaminhou
a Armada a S. Vicente, onde naõ experimentou menores difficuldades, por se naõ
acharem as Villas do Sul com os víveres , e soccorros de gente, que carecia.
Porém animados os moradores dellas pelo zelo do serviço Real; e empenho do
Capitaõ môr aprestaraõ hum suficiente soccorro, importante naquella occasiaõ, e
mayor, com o que chegou da Capitanía do Espirito Santo.” (Pita, 1730, Livro
III, 27)
“Grande parte das
necessárias forças e materiaes alli [em São Paulo]
se levantarão. Depois desceu Nobrega até
á costa, e correu todas as povoações, pregando ao povo a necessidade de levar a
cabo a expedição, e promettendo em nome do governador perdão dos delictos
temporaes a quem n'ella se embarcasse. E n'uma colônia continuamente supprida
de degradados, não era este perdão mercê que se desprezasse. Alistárão-se
mestiços e índios, apparelhárão-se canoas, apromptárão-se petrechos; também da
Bahia e do Espirito Sancto vierão contingentes, chegando-se a reunir uma força,
'como os que se oppunhão á jornada nunca havião julgado possível levantar-se.
Levarão estes preparativos até fins do anno.” (Southey, 1822,
pg. 419)
c) Ano de 1565: Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
Quando se aproximava o momento da partida da frota
lusitana, Nóbrega, superior dos jesuítas, incumbiu ao irmão Anchieta de seguir
na expedição, como superior, acompanhado do padre Gonçalo de Oliveira; Anchieta
ponderou não poder fazê-lo por não ter ainda sido ordenado padre, o que motivou
que Nóbrega nomeasse, então, Gonçalo de Oliveira como superior, mas
determinando que este seguisse os conselhos de Anchieta. O Provedor-mor Brás
Fragoso permaneceu em São Vicente cuidando do conserto do galeão e da nau
francesa, para seguir posteriormente. Após 9 meses, Estácio de Sá partiu de São
Vicente em 20 de janeiro de 1565, com a nau capitânia e no mesmo dia chegou na
Ilha de São Sebastião. Em 27 de janeiro, partiram de Bertioga o padre Gonçalo
de Oliveira e Anchieta, com cinco navios pequenos, sendo que 3 de remos e oito
canoas comandadas pelo alemão Heliodoro Eobanos, transportando mamelucos e
indígenas de São Vicente e de Cananéia, temiminós do Espírito Santo e alguns tupiniquins
e índios conversos do colégio de Piratininga. No dia seguinte os navios
pequenos e as canoas chegaram na Ilha de São Sebastião. Estácio e Anchieta
permaneceram alguns dias na Ilha de São Sebastião e em 01 de fevereiro partiram
juntos, com muito cuidado por se encontrarem já em território hostil. Estácio
determinou, então, que os navios pequenos acompanhassem as canoas, para as
proteger, pois estas deviam pousar cada noite em uma ilha, enquanto ele ia com
a nau capitânia.
“Partiu o capitão-mór só em sua nau aos 22 de
Janeiro de 1565, e no mesmo dia veiu ter á ilha de São Sebastião, que está 12
ou 13 léguas [69-75km] de São Vicente, onde
esteve esperando pelos navios pequenos que se ficaram aviando, os quais
partiram de Bertioga a 27 do mês, e ao seguinte dia vieram com a capitania; os
navios pequenos eram cinco somente, e os três deles de remos, e com eles vieram
oito canoas, as quais traziam a seu cargo os Mamalucos de São Vicente, com
alguns índios do Espirito Santo, que o ano passado haviam ido com o
capitão-mór, e alguns outros de São Vicente dos nossos discípulos cristãos de
Piratininga, de maneira que toda a gente, assim dos navios como das canoas,
poderiam chegar até 200 homens, que era bem pouco para se poder povoar o Rio,
ao que se ajuntava o pouco mantimento que traziam, que se dizia poder durar 2
ou 3 meses; com tudo isto, como digo, chegámos a Ilha de São Sebastião onde já
estava o capitão-mór, e aí dissemos missa, e se confessou e comungou alguma
gente; e como comumente vinham com grande alegria e fervor confiados que com
aquela pouca força e poder que traziam haviam de povoar, ajudados do braço
divino, e que não lhes havia de faltar o mantimento nesta ilha, ordenou o
capitão-mór que os navios de remos acompanhassem as canoas que daí por deante
entravam já na terra dos Tamoios e era necessário cada dia pousarem em terra em
algumas ilhas, e para virem mais seguras mandou meter gente em sua canoa, que
vinha por popa de um navio, dando os seus escravos que a remassem com alguns
Mamalucos; [...].” (Anchieta,
Julho 1565)
“[...] partio esta frota da barra da Britioga, no anno seguinte de mil
quinhentos e sessenta e sinquo, há vinte de Jan.ro de São Sebastião,
que logo aly tomarão por Capitam da empreza, e padroeiro da cidade, e Orago da
See, que depoes se edeficou; hião seis nauios grandes e noue canoas de gerra,
com muitos Indios cristãos e gentios amigos, e outros naturaes filhos de
portuguezes, todos esforçados e exercitados naquele modo de peileijar, em
canoas, alem da principal gente portugueza dos nauios, mandou com eles o p.e
Manoel da Nobrega ao p.e Gonçallo do Liueira e o irmão Joze [de
Anchieta], sem cujo conselho ordenou que
não fizesse o p.e nada, ambos sabião a lingoa da terra para confesar
consolar e animar a todas as canoas; tomauão cada dia terra com o que o p.e
tinha lugar de dizer missa, de ordinário, e confessar aos que tinhão deuaçam, [...]”
(Rodrigues, 1607, pg. 212)
“[...] partiu bem adereçada a
armada do porto de São Vicente. Levava seis galeões, e outras naves de menor
grandeza para reconhecer ao inimigo; e para otras necessidades semelhantes
alguns barcos ligeiros, e não mais de nove canoas.” (Paternina, 1618, pg. 108)
“72 Em S. Vicente achava-se já o Capitão mór Estacio
de Sá com sua armada preparada, e prestes; seis navios de guerra, alguns barcos
ligeiros e nove canoas de Mestiços, e índios. Com estes mandava o Padre Nobrega
dous Religiosos, Gonçalo de Oliveira, e Joseph de Anchieta, pera animal-os e
dirigil-os em huma e outra lingoa, em que erão peritos. Partirão do porto,
chamado pela lingoa dos índios Buriqujóca [Bertioga]; a vinte de Janeiro d'este presente anno, dia dedicado a S. Sebastião,
que por bom pronostico tomarão, por patrão da empresa, por ser tão grande
martyr, e por ser, nome, de seu Rei D. Sebastião.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 72)
“Entretanto chegarão os Capitães Jorge Ferreira e
Paulo Dias, com as canôas, o Gentio, que tanto que chegou mandou buscar a
Cananéa, e provida a armada de todo o necessário se partio outra vez pera o Rio
de Janeiro em o anno de mil quinhentos e sessenta e quatro [cinco], dia de São Sebastião, a quem tomou por Patrão
da sua jornada, entrou pelo Rio em o primeiro de Março, e anchorando em a
enseada [...]” (Salvador, 1627, pg. 74)
“Em janeiro ficou de verga d'alto a armada, composta
de seis naus, numero proporcionado de embarcações miúdas, e nove canoas de
índios e mamelucos, com os quaes Nobrega mandou Anchieta e outro Jesuíta, como
os melhores cabos sobre tal gente. A 20 de janeiro, dia de S. Sebastião, sahiu
de Bertioga a expedição, que tomou por patrono este sancto, lisongeando o jovem
rei, e unindo assim a religião á lealdade.” (Southey, 1822, pg. 419)
“Reforçada a expedição colonisadora do Rio de Janeiro,
depois que ja velejavam os barcos menores e vogavam oito conoas, das quaes ia
por commandante o allemão Heliodoro Eoban levou ferro a náo capitania, e era o
vento tão galerno e de feição que no mesmo dia chegou ella a ilha de S.
Sebastião, onde só vinte e quatro horas depois vieram ter os barcos pequenos e
as canoas. D ahi por diante deviam proseguir com mais cuidado, pois ja se
achavam em terras onde o gentio era contrario.” (Varnhagen, 1854, vol. I, pg. 247).
“Afinal, após um ano de estada lá [São Vicente], Estácio de Sá, obtém novos elementos navais
constituídos por seis navios; elementos combatentes de índios tupiniquins e
temiminós (estes sob a chefia de Araribóia), e ainda de mamelucos. São, ao
todo, 200 homens que viajam para cá em navios e canoas. Vem com essa indiada, o
padre Gonçalo de Oliveira e o noviço José de Anchieta.” (Veríssimo, 1970,
RIHGB, vol. 288, pg. 131-132)
Os navios pequenos e as canoas, com Anchieta, chegaram em
4 ou 5 de fevereiro na Ilha Grande (RJ) e aí ficaram alguns dias esperando a
nau capitânia. Como a nau capitânia demorasse a chegar, por ter sido avariada
por mau tempo, os índios, impacientes e com fome, atacaram e saquearam uma
aldeia tamoia. Em seguida eles foram para outro ponto da Ilha Grande, onde
havia abundância de caça e pesca. Estácio com a nau capitânia teve de ir a uma
ilha com a verga do traquete partida e rendido o mastro grande, devido à
tempestade.
“[...] e deu-lhe Nosso Senhor tão bom tempo, que sempre os navios de remos
chegavam a pousar onde elas estavam, até entrar na Ilha Grande, onde estiveram muitos
dias esperando pela capitania, a qual teve muitos ventos contra, até não poder
aferrar pano como os navios pequenos, e foi forçada a arribar a uma ilha com a
verga do traquete quebrado, e rendido o mastro grande. Os Mamalucos e índios enfadados de esperar tanto
tempo pela capitania, e forçados da fome, que quasi já não tinham mantimentos,
determinaram de o ir buscar a uma aldeia de Tamoios, que estava daí a 2 ou 3
léguas [13-20km], e ajudou-os Cristo
Nosso Senhor, que chegaram á aldeia e queimaram-a, matando um contrário, e
tomando um menino vivo, e toda a mais gente se acolheu pelos matos; e com esta
vitória alegres se mudaram todos ao outro porto da mesma Ilha Grande, onde
tinham muita abundância de peixe e carne; a saber, bugios, cotias, caça do mato,
e aí dissemos também muitas vezes missa, e se confessou e comungou muita gente,
aparelhando-se para a guerra a que esperavam no Rio de Janeiro; [...].” (Anchieta, Julho 1565)
“A principio seguiram todos unidos; porém logo
desarvorou a capitania, e abandonando os que comboiava, foi arribar á
Ilha-Grande.” (Varnhagen, 1854, vol. I, pg. 247).
Com a demora de Estácio, os índios impacientes se foram
pela restinga de Marambaia “a caminho do
Rio”. Como eles eram poucos, ordenou-se aos mamelucos que os acompanhassem,
e que todos eles esperassem pelos navios pequenos em umas ilhas situadas 6,5km
fora da barra do Rio (possivelmente o arquipélago das Cagarras); eles chegaram
sem contratempos em 10 de fevereiro e permaneceram nas ilhas.
“[...] porém ainda que muito trabalhámos nós pela nossa parte, e os capitães
dos navios pela sua, não pudemos acabar com os índios que esperassem pelo
capitão-mór, como ele tinha ordenado, antes apartando-se dos navios se vieram
para dentro de uma ilha chamada Marambaia, por entre aldeias dos Tamoios,
caminho do Rio de Janeiro; e porque eram poucos e vinham em grande perigo,
pareceu bem se viessem os Mamalucos após eles, e que todos eles juntos
esperassem pelos navios numas ilhas que estão uma légua [6,5km] fora da boca do rio, ás quais eles chegaram
sem nenhum encontro de Tamoios, ou outro perigo algum. ” (Anchieta, Julho
1565)
Durante 5 ou 6 dias os navios pequenos esperaram na Ilha
Grande a Estácio com a nau capitânia, mas eles temendo pela demora que este já
os tivesse passado sem ser visto e, preocupado com os índios e mamelucos já nas
ilhas próximas à entrada da baía, resoveram partir na madrugada de 15 de
fevereiro. Por sorte, ao saírem pela boca da Ilha Grande viram Estácio com a
nau capitânia, que entrara durante a noite, e, assim, todos juntos partiram
para as ilhas onde os esperavam as canoas com os índios e mamelucos. Quando
eles se aproximavam das ilhas, em 16 de fevereiro, caiu uma tempestade que
desbaratou a frota. A nau capitânia, arrastada por fortes correntes, foi lançada
de volta a Ilha Grande, onde correu perigo de naufragar. Os outros navios,
desgarrados, ficaram 2 a 3 dias vagando a esmo, navegando ora a vela, ora a
remo, sem conseguir chegar às ilhas.
“Os navios ficaram esperando pela capitania cinco
ou seis dias, e por derradeiro parecendo-lhes que seria já passada de mar em
fora, e temendo o perigo das canoas, partiram-se uma madrugada; e saindo pela
boca da ilha viram a capitania que esta noite havia entrado; e assim todos
juntos, com muita alegria, começaram com prospero vento a ter vista das ilhas
onde as canoas estavam esperando; mas não quis Nosso Senhor que chegassem
aquele dia, antes acalmando o vento, e vindo depois outro contrário, junto com
as grandes correntes das águas, tomou a capitania a Ilha Grande, e no caminho
esteve em grande perigo de se perder sobre a amarra em uma baixa.” (Anchieta, Julho
1565)
Como já se passavam 6 a 7 dias que os índios e mamelucos
esperavam nas ilhas, começou-lhes a faltar víveres e água, tendo alguns
inclusive adoecido. Perderan, então, a esperança de que os navios chegassem e
passaram a pensar em desertar, os temiminós para o Espírito Santo e os
mamelucos e tupiniquins para São Vicente. Cerca de 25 de fevereiro chegou um
dos navios, movido a força de remos. Cerca de 26 de fevereiro chegaram mais
navios. No entanto, ainda faltava a nau capitânia e outro navio, e a água do
único poço da ilha escasseava, e faltava comida. Por sorte, choveu neste dia,
enchendo-se o poço de água. Como faltavam alimentos, os índios e alguns capitães
de navio decidiram-se, contra as ordens de Estácio, a entrar na Baía de
Guanabara, sem esperarem os outros navios. Sua impaciência era justificada
devida à precária situação em que estavam. Os navios, faltos de breu, faziam
tanta água, que era preciso esvaziá-la, com as bombas, durante parte de dia.
Anchieta fez tudo para demovê-los de abandonar a ilha e prometeu-lhes que se os
navios não chegassem até uma certa hora, eles poderiam partir para dentro da
baía ou para suas casas. Como prometido por Anchieta, em 27 de fevereiro
chegaram 3 embarcações com socorros da Bahia, da capitania de Ilhéus,
comandados por João de Andrade (ele para lá fora mandado por Estácio, desde São
Vicente para conseguir socorros de lá), com víveres, reanimando os índios e
portugueses nas ilhas. A 28 de fevereiro, chegaram a nau capitânia de Estácio
de Sá junto com a outra nau faltante e, apesar da chuva copiosa, entraram todos
juntos na barra da baía neste mesmo dia, provavelmente pelo canal oeste, entre
o Morro Cara de Cão e a Ilha de Laje, e ancoraram na enseada.
“[...] Os outros navios andaram com muito trabalho, ora a vela, ora a remos,
dois ou três dias, para poderem tomar as ilhas, e acudir ás canoas, que bem
adivinhavam seriam tomadas dos contrários, ou tornadas para São Vicente, ou mui
perto disso, como em verdade o estavam; porque havendo já seis ou sete dias que
estavam esperando, faltando-lhes já o mantimento, comiam somente palmitos e
peixes, e bebiam duma pouca água, de que todos estavam debilitados, e alguns
doentes de câmaras; e perdendo já a esperança dos navios chegarem tão cedo,
determinaram de partir cada um para sua terra, a saber: os índios do Espirito
Santo com três canoas para a sua, e os Mamalucos com os Tupinanquins para São
Vicente. E estando já assentados de efetuar esta sua determinação, viram um dos
navios, que a força de braços e remos vinham já perto das ilhas, com cuja vista
se alegraram, e esperaram alguns dois dias mais, até que chegaram quatro, que
foi aos 27 de Fevereiro; e porque nestas ilhas não havia mais que uma pouca
dágua, e a gente era muita; e as secas grandes, acabou-se e não havia mais que
para beber um dia. Mas o Senhor, que tomou esta obra a seu cargo, mandou tanta
chuva o dia que os navios ali chegaram, que se encheu o poço, e abastou a todos
em quanto ali estiveram; e por nos mostrar que um particular cuidado tinha por
nós, permitiu que a capitania com outro navio que haviam arribado não viessem
tão cedo, como todos queríamos, donde nasceu tornarem-se a amotinar não somente
os índios e Mamalucos, mas também alguns dos capitães dos navios querendo
entrar dentro do rio, contra o regimento que o capitão-mór tinha dado, e
tomavam por achaque, principalmente os índios, não terem que comer, e que
dentro do rio, com os combates que esperavam ter dos Tamoios, sofreriam melhor
a fome; e começariam a roçar e cercar o lugar onde estava assentado que se
havia de fundar a povoação. Houve muito trabalho em os aquietar, porque em
verdade o porto em que estávamos era mui perigoso, os navios não tinham breu, e
faziam tanta água que era necessário grande parte do dia dâr á bomba; os índios
não tinham que comer; os Portugueses não tinham para lho dar; porque havia
quasi um mês que com os partidos todos andavam fracos, e muitos doentes;
finalmente determinaram os índios de não esperar mais que um dia, e se a
capitania não chegasse, ou se meterem dentro do rio, ou se irem para suas
terras, o que fora causa de grande desconsolação. Neste trabalho acudiu a
Divina Providência, que logo aquele mesmo dia vimos três navios, que iam de cá
da Baía com socorro, de mantimento, que era o de que a armada tinha maior
necessidade; e ao seguinte, chegou a capitania e outro navio, e assim todos
juntos, em uma mesma maré, com grande alegria entrámos pela boca do Rio de
Janeiro, começando já os homens de ter maior fé e confiança em Deus, que em tal
tempo socorrera as suas necessidades.” (Anchieta, Julho 1565)
“[...], desta maneira chegarão as Ilhas, que estão
perto da barra do Ryo no prencipio de março, por uirem esperando pella náo
capitania [...] vinhão nesta frota de
socorro, muitos Indios da Capitania do Esperito S.to que dista
outenta legoas do Ryo para Bahia, e por falta de mantimentos detreminauão, de
se ir secretam.te em suas canoas para suas casas o dia seguinte,
porque a náo não chegaua, nem huns barcos, que por ordem do Capitam Mór tinhão
ido buscar prouimento, ha mesma Capitania do Esperito Santo; nisto quis Ds, que
o p.e e irmão sem saberem, o que detreminauão os forão buscar e
vezitar, a quem ellles descobrirão seu desenho, mas o Irmão Jose [de
Anchieta] os consolou dizendo que fiasem
em Ds [Deus], que ao seguinte dia
lhes mandaria remedio. Estando nesta, pratica senão coando aparesem tres barcos
do Esperito Santo, com prouizão do nesesario, e ao dia seguinte, pella menhã
aparese a náo capitania, com o que os Indios ficarão espantados, e derão muitas
graças a Ds, e se detreminarão ajudar naquella empreza aos portuguezes, e desta
maneira toda a frota entrou no Ryo em huma mare [...]” (Rodrigues, 1607,
pg. 213)
“Com esta armada ocupou o
Portugues, no princípio do mês de Março, as Ilhas que estão diante da entrada
do seio do Rio de Janeiro. Lançaram âncoras, e esperavam à nave capitâna;
porém, faltando vitualhas, as canoas dos Índios tratavam já de recolher-se
secretamente, e retornar para as suas terras, que assim são os naturais
Bárbaros, mutáveis com qualquer ocasiãon. Tinham vindo acompanhando à armada,
Gonçalo de Olivera, da Companha de Iesus, já Sacerdote, e Ioseph de Anchieta,
ainda não ordenado. Eles, por acaso visitavam os Índios confederados, e deles
souberam a resolução, que pouco antes haviam tomado. Dizian que sem fruto
gastavan alí tiempo em espera da capitânia, que em todo o mar não aparecia; que
três barcos ligeiros enviados por vitualhas não retornavam; que a ração
ordinária era mui escassa, e mui má; que não queriam esperar até que alí a fome
mesma os consumisse. Ioseph então os alentou, e mandou esperar o remédio de
Deus, e exortou-os a guardar a lealdade devida e prometeu-lhes, que antes que
passasse o dia seguinte experimentariam grande benenfícios da divina mão. Pouco
tempo depois desta promessa, os três barcos retornaram do Espírito Santo
carregados de vitualhas, e no dia seguinte, mui de madrugada, veio a capitâna.
Assim entreteve Ioseph o socorro dos Índios e se acreditou na verdade de suas
profecias.” (Paternina, 1618, pg. 108-109)
“72 [...] Chegarão
a occupar a barra do Rio de Janeiro ao principio do mez de Março: aqui lançarão
ferro junto ás ilhas que estão próximas a, ella, esperando pela náo Capitania,
que á medida de sua grandeza, e contraste de mar, e de ventos, pouco
favoraveis, vinha mais devagar. 73 Aconteceo aqui hum caso digno de memória,
demostrador do sucesso futuro. Porque os índios do Espirito santo impacientes
com a espera da Capitania, e mantimentos, que também tardavão, e sobre tudo de
sua natural inconstância, estavão amotinados pera partir-se com suas canoas
pera, suas terras, e desamparar os Portugueses. Chegavão a ponto de executar-a
tenção: ex que Joseph em lugar distante, sentio em si impulso de ir visital-os;
e chegando á falla com elles, sem ouvir-lhes nada, lhes estranhou sua
resolução. Vendo-se descobertos, derão a causa, que estavão alli morrendo de
fome, e não podião mais esperar. Então, com grande confiança no Ceo, lhes
empenhou Joseph sua palavra: que não seria assi, se não que, antes que, o Sol
chegasse a tal parte do Ceo, mostrando-lh’a, chegarião, sem duvida os
mantimentos, e após elles pouco depois a náo Capitania. Cousa, maravilhosa! Não
erão dittas as palavras quando apparecerão tres barcos, que erão, mandados a
buscal-os ao Espirito santo. Pasmarão, os Indios, e fizerão conceito do
successo mais que humano: obedecerão, a tudo, resolutos a ajudar na empresa: e
logo em a manhãa seguinte chegou também a náo Capitania, tudo em cumprimento da
dita profecia do Padre, Joseph.” (Vasconcellos,
1623, Livro III, 72-73)
“Foi contrario o tempo; as canoas e embarcações
ligeiras não poderão ganhar a barra do Rio de Janeiro, senão em princípios de
março, tendo então ainda de esperar pela capitania e pelos transportes, que
vinhão vindo vagarosos, arfando contra ventos ponteiros. Esta demora esgotou a
paciência aos índios, mormente por principiarem a acabar-se-lhes as provisões,
e assim declararão a Anchieta que não havião de ficar alli para morrerem de
fome. A' vista d'isto recorreu elle outra vez a essas ousadas promessas, que os
historiadores consignão de tão boa mente como milagres; os transportes, disse,
chegarião antes de tal hora, e logo atraz d'elles o capitão. Ha boas razoes
para suppor, que elle se tivesse ido pôr de atalaia, pois achava-se ausente
quando os alliados tomárão esta resolução de retirada, e concluíra apenas a
prophecia quando os navios apparecérão á vista.” (Southey, 1822,
pg. 419)
“Os barcos pequenos e as canoas seguiram seu rumo ao
longo da costa, e foram esperal-a á entrada do Rio de Janeiro.— Cançados de
aguardar, e faltos já de mantimentos e de água, estavam a ponto de verem-se os
nossos abandonados dos índios amigos, que se propunham a entrar na enseada ou a
irem-se para suas terras, quando chegou a capitania, e logo depois o reforço de
mantimentos que trazia das villas do norte um João de Andrade, a tempo mandado
de S. Vicente pelo capitão mór. Assim todos juntos, entraram pela barra da
enseada que iam avassallar. Era em fins de Fevereiro” (Varnhagen, 1854, vol. I, pg. 247).
Em 1 de março eles desembarcaram numa estreita praia
entre o Morro do Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão, iniciando imediatamente a
construção de uma paliçada (onde se situa a atual Fortaleza de São João) e
declarando fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma homenagem
ao nome do soberano, Don Sebastião I de Portugal. No entanto, a cidade não era
mais que uma cerca de pau a pique e casas de palha. Na ocasião, o padre Gonçalo
de Oliveira entronizou, numa ermida de taipa, coberta de sapê, uma imagem de
São Sebastião, que passava a ser o padroeiro da cidade. O sítio escolhido era
defensável, mas acanhado; próprio para o período das incessantes sortidas, bom
sobretudo para vigiar a barra, pois os navios que entrassem passariam pelo
campo de tiro de seus canhões, mas não para a povoação desejada. Abrangia a
paliçada a réstea de várzea entre o morro de Cara de Cão (junto ao morro do Pão
de Açúcar) e o da Urca, dominando o istmo, que, em caso de necessidade,
podia ser ilhado, graças ao fosso que se rasgasse, ou à trincheira aberta entre
os morros da Urca e Babilônia. Fizeram-se
plantações e constituiu-se um baluarte de taipa e pilão, munido de artilharia.
Ergueram-se guaritas de madeira. Para ficarem ao abrigo de incêndios,
cobriram-nas de telha trazida de São Vicente. Também se fortificaram numa
eminência vizinha, miradouro donde dominavam todas as evoluções do inimigo de
terra e mar. Seguro de sua vantagem topográfica, depois de ter fundado
a cidade de São Sebastião rodeada de muros de taipa, despediu Estácio os
navios, como para tirar a seus companheiros a tentação de abandonar a refrega.
“Já á minha partida tinham feito muitas roças em
derredor da cerca, plantados alguns legumes e inhames, e determinavam de ir a
algumas roças dos Tamoios a buscar alguma mandioca para comer, e a rama dela
para plantar; tinham já feito um baluarte mui forte de taipa de pilão com muita
artilharia dentro, com quatro ou cinco guaritas de madeira e taipa de mão, todas
cobertas de telha que trouxe de São Vicente, e faziam-se outras e outros
baluartes, e os índios e Mamalucos faziam já suas casas de madeira e barro,
cobertas com umas palmas feitas e cavadas como calhas e telhas, que é grande
defensão contra o fogo. Os Tamoios andavam se ajuntando para dar grande combate
na cerca; já havia dentro do Rio oitenta canoas, e parece-me que se ajuntariam
perto de duzentas, porque de toda a terra haviam de concorrer á ilha, e
dizia-se que fariam grandes mantas de madeira para se defenderem da artilharia
e balroarem a cerca; mas os nossos tinham já grande desejo de chegar àquela
hora, porque desejavam e esperavam fazer grandes cousas pela honra de Deus e do
seu rei, e lançar daquela terra os Calvinos, [...] O maior inconveniente que ali havia, ultra da fome, é que estão lá
muitos homens de todas as capitanias, os quais passa de ano que lá andam, e
desejam ir-se para suas casas (como é razão): se os não deixam ir perdem-se
suas fazendas, e se os deixam ir fica a povoação desamparada, e com grande
perigo de serem comidos os que lá ficarem, de maneira que por todas as partes
ha grandes perigos e trabalhos, e se não fosse o capitão-mór amigo de Deus e
afavel, que nunca descança de noite e de dia, acudindo a uns e a, outros sendo
o primeiro nos trabalhos, e terem todos grande e certa confiança que Sua Altesa
provera, tanto que souber estar já feito pé no Rio de Janeiro, que tão temeroso
era, ainda lá nessas partes tão remotas; [...]” (Anchieta, Julho 1565)
“74 Juntas já, as embarcações, entrarão todas a barra
do, Rio de Janeiro: salta em terra a infanteria, e começa a fortificar-se com
trincheiras, e fossos, no lugar onde depois chamarão Villa velha, junto a hum
penedo altíssimo, que pela forma se diz Pão de assucar, e outra penedia, que
por outro lado cercava, com que ficavão em parte defendidos. Huma só cousa
descontentava do lugar, que depois de roçadas as mattas, acharão agoa de
alagoa, e ella tão grossa, e nociva, que arreceárão causasse doenças nos
soldados. O que considerando, hum Joseph Adorno, Genovez nobre, morador de S.
Vicente, e hum Pedro Martins Namorado, tomarão á sua conta (entre as mais
occupações) fazer com sua gente hum poço ou Cacimba donde beberão agoa doce.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 74)
“O local escolhido apresenta grandes vantagens no
sentido de segurança: à retaguarda o mar, permitindo comunicações cobertas com
os navios da expedição; à direita e à esquerda, duas elevações (morro Cara de
Cão e Pão de Açúcar), cobrindo os flancos do acampamento; à frente o inimigo,
com pequeno trecho de terreno para agir. Ou seja, com frente de ação reduzida
para o ataque” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 132)
Estácio nomeou
Pero Martins Namorado como Juiz Odinário da nova cidade. Passou então, em
Julho, a distribuir sesmarias a todos os que as solicitassem, sendo concedidas
trinta e três sesmarias em 1565, entre as quais a da Companhia de Jesus, na
pessoa do padre Gonçalo de Oliveira. No ano seguinte, foram concedidas mais 22
sesmarias. Entre estas, encontravam-se as do francês Marim Paris, um dos
ex-colonos de Villegagnon, Duarte Martins, oficial de olheiro e Fernão Valdez. Enquanto
isso, os combates prosseguiam, esporádicos, com os indígenas. Ao mesmo
tempo informava Estácio de Sá da situação do Rio de
Janeiro e da necessidade de vir reforço para a conquista efetiva.
A 6 de março, 4
canoas dos tamoios aproximaram-se dos muros do arraial portugues, e, armando
uma cilada, conseguiram atrair um índio cristão proveniente de Piratininga (São
Paulo) que se descuidara, aprisionando-o. Amarraram-no a um pau e mataram-no a
flechadas, mas os portugueses, em vez de se acovardarem, revoltaram-se com este
ato cruel, cruzaram as muralhas e derrotaram os tamoios. Em seguida, lançaram-se
ao mar em suas canoas e seguiram no encalço dos tamoios, até obrigá-los a
saltar à terra, fugindo pelo mato adentro e abandonando na praia tudo que
levavam. Chegados ao litoral, os portugueses perseguiram-nos por algum tempo,
nos matos, sem conseguir alcançá-los; retornaram ao arraial com os despojos
deixados pelos tamoios. Passaram, então, os tamoios a aparecerem só de longe e
sempre com muitas canoas.
“[...] aos
6 de Março viessem quatro canoas dos Tamoios, e fazendo uma cilada junto da
cerca tomassem um índio, que se desmandou, e indo já muito longe com sua presa
deitaram os nossos as suas canoas ao mar, perseguiram os inimigos, e os fizeram
saltar em terra e fugir pelos matos, deixando as canoas, arcos, flechas,
espadas, e quanto nelas tinham, e o índio, que escassamente tiveram tempo para
os matar; os nossos os perseguiram pelo mato um bom pedaço, e não os podendo
alcançar se tornaram trazendo-lhes as canoas e suas armas, que haviam deixado,
e que foi um grande triunfo para os nossos cobrarem animo, e os tamoios
enfraquecerem e temerem; assim daí por deante não ousavam aparecer senão de
longe, e muitas canoas juntas.” (Anchieta, Julho
1565)
“77 O primeiro assalto que derão os inimigos aos
nossos, foi pouco depois de alojados, aos seis de Março, quasi provando sua
disposição e valor. Acommeterão, segundo seu costume, empennados, com
repentinos alaridos, estrondo de vozes, e arcos, que entre aquella grande
penedía do sitio fazia pavor, e espanto. Acharão porém valor, e resistência,
qual não cuidavão: pelejou-se por huma e outra parte com esforço; e sabemos que
parou o estrondo na morte somente de hum índio nosso já Christão, dos naturaes
dos campos de Piratininga, o qual poderão fazer prisioneiro, e tanto que o
houverão ás mãos, pera terror de seus contrários, o amarrarrão em hum páo,
fazendo d'elle alvo de suas frechas, a cujo rigor acabou a vida. Saio-lhes com
tudo cara a valentia; porque em lugar de se acovardarem, ficarão os nossos com
tanto brio á vista de tal crueldade, que rompendo tranqueiras sairão fora após
elles, matarão a muitos, poserão os vivos em desconcertada fugida, e fizerão
presa nas canoas em que tinhão vindo, e se aproveitarão os índios de seus
costumados despojos.” (Vasconcellos, 1623, Livro
III, 77)
“Mal se havião os Portuguezes fortificado, quando os
Tamoyos os atacarão. Cahiu-lhes nas mãos um índio convertido, e em logar de o
levarem, prezo a uma arvore o fizerão alvo dos frecheiros. Com isto cuidavão
intimidar-lhe os companheiros, mas so os exasperarão; fizerão estes uma
sortida, pozerão o inimigo em fuga, e tomárão-lhe as canoas.” (Southey, 1822,
pg. 419)
“Atacárão os Francezes e Tamoios em 6 de Março os
nossos entrincheiramentos, segundo o seu costume, empenados com algazarras
estrondosas ; e a peleja se travou de ambos os partidos vigorosa; perdemos hum
Indio Christão, e se puserão em desordenada fuga aquelles, deixando a praia
juncada de cadaveres dos seus, e dos proprios alliados.” (Lisboa, 1834, vol
I, pg. 93-94)
“Nesse meio tempo, os Brasileiros que combatiam com os
Franceses surpreenderam um dos neófitos de Anchieta, e, em vez de o levar para
as florestas ou o entregar para os Franceses, fizeram a maldade de o atar a uma
árvore e lhe encher de flechas.” (Gaffarel, 1878, pg. 348)
A 11 de março
apareceu uma nau francesa 10km adentro na baía; não se sabe se ela conseguiu
entrar furtivamente na baía, furando a vigilância portuguesa, ou se já estava
dentro da baía, escondida, talvez, atrás de uma ilha, quando os portugueses lá chegaram.
Em 12 de março Estácio de Sá partiu com quatro 4 navios e atacou a nau
francesa. Era uma cilada: a nau francesa atrairia os navios portuguesas,
desfalcando a cidade, e neste momento os tamoios atacariam e tomariam a cidade
desguarnecida. Então, assim que as naus portugueasas atacaram a francesa, surgiu
de detrás de uma ponta de morro 48 canoas dos tamoios que estavam emboscadas, as
quais rumaram para o arraial e lançaram-se contra a paliçada. Estácio de Sá,
apercebendo-se do ataque retornou com um barco a remo para auxiliar à defesa da
cidade. Os outros 3 barcos portugueses ficariam de guarda da nau francesa até
pela manhã, quando ele retornaria, ou ao anoitecer, se ele lhes pudesse enviar
qualquer recado sobre o que deveriam fazer. O ataque tamoio foi repelido e os
portugueses, mamelucos e índios atravessaram as cercas e atacaram os tamoios,
que reembarcam e fugiram, com importantes baixas. Durante a noite, as naus
portuguesas ficaram lado a lado com a francesa e, através de um francês que
havia abordo, instaram-na a se render sem combate com a promessa de poderem
voltar à França. Os franceses disseram que eram simples mercadores que estavam
voltando à França após terem se carregado de produtos locais e que com eles iam
alguns colonos franceses; disseram, também, que se tivessem que combater
fugiriam nas suas 30 canoas para junto dos tamoios em terra (aumentando o
número de inimigos em terra) e poriam fogo aos morrões de dois barris de
pólvora colocados sob o convés, queimando o navio e toda a sua mercadoria.
Devido à premência de tempo, não podendo esperar ordens de Estácio de Sá, os
capitães dos navios em conselho aceitaram o acordo. No entanto, os colonos
franceses a bordo da nau pularam na água e nadaram com os tamoios até a terra
firme. Quando Estácio retornou confirmou o acordo, retendo, no entanto, a
pólvora e canhões da nau francesa, para usar nas fortificações da cidade. Com
isto alguns colonos franceses retornaram ao navio francês para partirem para a
França. Os tamoios tentaram impedir o acordo e atacaram com 27 canoas, mas
forão repelidos pelos portugueses em 10 canoas e duas lanchas a remo e pela nau
francesa, com muitas baixas. Não está claro o dia deste ataque, parecendo ser
no próprio dia que foi capturada, mas Anchieta parece sugerir, que isto ocorreu
alguns dias depois, até porque se levaria algum tempo para carregar a munição e
os canhões do navio francês até o arraial portugês.
“A 10 de Março vimos uma nau francesa, que estava
légua e meia da povoação dentro do rio; e ao outro dia foi o capitão-mór sobre
ela com quatro navios, deixando na cerca a gente que parecia necessária, que
ainda não era acabada; e sendo já junto dela, e começando a atirar de sua parte
e doutra, os Tamoios, que aquela cilada tinham assim ordenado, sairam detrás de
uma ponta em quarenta e oito canoas cheias de gente, e arremeteram com a cerca
com tão grande ímpeto, e não havendo nela baluarte nem casa alguma feita em que
se pudesse a gente recolher. Ajudou-nos Nosso Senhor, de maneira que andando no
meio do terreiro descobertos, e chovendo flechas sobre eles, não os feriram,
antes mataram alguns dos inimigos, e feriram muitos; e não contentes com isso
arremeteram com eles fora da cerca, e os fizeram fugir e embarcar em suas
canoas bem desbaratados. E esta vitória, a que se houve da nau francesa, a qual
se entregou sem guerra aos nossos, e foi desta maneira que vendo vir o capitão-mór
as quarenta e oito canoas sobre a cerca, meteu-se em um navio de remos por lhes
ir acudir, deixando mandado aos outros capitães dos outros navios que ficassem
em guarda da nau até pela manhã, que tornasse, ou se lhe mandasse recado; esta
noite houveram falas dos Franceses, e falando-lhes um seu parente, que estava
num dos navios, e dizendo-lhes que cedessem sem guerra, que o fariam de
misericórdia com eles, mostraram folgar muito, e disseram que eram uns pobres
mercadores que vinham ganhar sua vida, e que estavam já de caminho, levavam
alguns Franceses dos que estavam em terra para França; que deixando-os ir se
fiariam deles os outros que ficavam em terra. E porque eles tinham dado uma
regueira em terra, e tinham comsigo trinta canoas de Tamoios para despejar a
nau, se se vissem em pressa, e queimá-la com dois barris de pólvora que tinham
desfundados no convés com seus morrões, e eles acolheram-se á terra; porque não
fosse o derradeiro erro peor que o primeiro do ano passado, que se fez em tomar
outra nau, e deixar mais Franceses em terra; pareceu bem aos capitães, porque
havia perigo na tardança de mandar recado ao capitão-mór, dar-lhes segurança, e
prometer-lhes que eles alcançariam do capitão-mór que lho confirmasse e
houvesse por bem, e com isto se entregaram e se vieram, porém ficando os
Tamoios espantados de saber como se fiavam dos Portugueses; mas os Franceses,
que estavam já na nau, e se iam para a França com os seus, temendo que lhes não
cumprissem o que prometiam, vendo chegar os nossos navios a ela, lançaram-se ao
mar, e a nado: fugiram á terra, á vista dos nossos sem se seguir trás deles. O
capitão-mór e todos tiveram isto por grande mercê do Senhor, por ser este
grande caminho para se desarreigarem do Rio de Janeiro os Luteranos que nele
ficam, que serão até trinta homens, repartidos em diversas aldeias, e todos
homens baixos, que vivem com os índios selvagens, e determinou de cumprir o que
seus capitães tinham prometido, ainda que teve algumas contradições de homens,
que mais olham seu próprio interesse que o bem comum; mas sendo a maior parte
de parecer que os devia deixar ir em paz, e que daquela maneira se fazia maior
serviço a Deus e a Sua Altesa, e era caminho para mais facilmente se povoar e
sustentar o Rio de Janeiro, lhes deu licença que se fossem, tomando-lhes a
pólvora e a artilharia que era necessária para a cerca, deixando eles escrito
aos seus que se fiassem de nós, e se saíssem denttre os selvagens, e se
lançassem comnosco, contando-lhes o bom tratamento que dos nossos haviam
recebido; estes desta nau eram católicos, [...] determinava o capitão-mór á minha partida de lá, que foi o derradeiro
de Março, a falar com os Franceses, levando-lhes um seguro real de Sua Altesa,
e a carta de seus parentes para poder apartá-los dentre os Tamoios para que
esses não sujeitem os índios e em pouca força na costa do Brasil, se não vem
socorro de Sua Altesa, pelo qual todos estão esperando. Antes que a nau
francesa se partisse, fizeram os Tamoios outra cilada de vinte e sete canoas,
aos quais ela tirou muitos e bons tiros, o que também será a ajuda para eles
lhes darem pouco credito e amor, e facilmente fazerem pazes com os Portugueses,
se forem deste Reino favorecidos, e assim ficar são o Rio; e estas traziam nove
ou dez e meteram esses nossos mão com tanto pulso que foi flechada a gente de
seis aldeias que se fez em terra para os defender, e alguns dos nossos sairam
após eles, e houve uma brava peleja, em que foram feridos dez ou doze dos
nossos, e alguns de flechadas mui perigosas, as quais pela misericórdia de Deus
facilmente sararam; mas dos contrários foram muitos os feridos, os quais os
nossos viam levar a rasto pela praia, e meter nas canoas, e assim os foram
perseguindo por mar e por terra, quasi até meio caminho de suas aldeias, e tomaram-lhes
uma canoa, e tornaram-se com grande vitória: gloria seja ao Senhor!” (Anchieta, Julho
1565)
“78 Aos doze do mesmo mez tiverão noticia os nossos,
que os Tamoyos estavão em cilada com vinte e sette canoas de guerra, em postos
onde de força havia de ir a dar nossa gente. Aprestarão dez canoas com duas
lanchas de remo, e forão acommetel-os, com tão boa fortuna, que ao primeiro
encontro se fizerão senhores de huma das principaes canoas, e as demais fugirão
á força de remo
[...].” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 77)
“Seis dias mais tarde soube-se que os Tamoyos com
vinte e sete canoas se havião emboscado n'um sitio, por onde os Portuguezes de
necessidade havião de passar: forão estes apercebidos para o combate, e
soffrérão aquelles segunda derrota.” (Southey, 1822, pg. 419)
“Depois se puzerão de cilada com vinte e sete canôas e
duas lanchas Francezas com remos, que sahirão a atacar os nossos no dia 12;
huma das canôas cahio em nosso poder, e as mais fugirão.” (Lisboa, 1834, Vol
I, pg. 93-94)
“Avistando Estacio de Sá uma náo franceza, légua e
meia [10km]
para dentro da Bahia, passou com quatro
barcos rendêl-a. Desta ausência da tranqueira ou do arrayal quizeram
aproveitar-se os inimigos, e com quarenta e oito canoas caíram sobre elle: mas
os defensores acometteram fora da cerca os atacantes e os obrigaram a
retirar-se. Apenas o capitão mór avistou este combate em terra, deixou tres navios
contra a náo inimiga, e recolheu á povoação em uma galé de remos. Logo a náo
capitulou com a cláusula de poder retirar-se para França, com a guarnição de cento
e dez homens, que se diziam catholicos.” (Varnhagen, 1854, vol. I, pg. 250)
Os franceses e
tamoios fizeram novo ataque infrutífero em abril. Em 1º de junho, os franceses
e tamoios esperaram reforços de Cabo Frio e quando de lá vieram 3 navios, eles
fizeram um grande ataque, em 3 naus e muitas (Varnhagem e Lisboa 30, Araújo e
Vasconcellos 130, Caxa 160) canoas de guerra. Os plano era os franceses atacarem
por mar com os navios, atraindo os portugueses para seus navios, desfalcando o
arraial e, assim que isto ocorresse, os índios atacariam por terra.
Inicialmente os portugueses acharam que os navios franceses eram barcos da
costa que lhes vinham trazer mantimentos e soccorro e só quando se aproximaram da
barra da baía que descobriram serem francesas. A nau capitânia francesa, que ia
na frente, trocou tiros com a capitânia portuguesa, tendo ficado bastante
avariada no ataque e tido sua mastreação destruída, de forma que encalhou na
Ilha de Laje; muitos tripulantes morreram e ficaram feridos. Depois, com ajuda
dos Tamoios e a subida da maré, ela conseguiu se livrar e, junto com os outros
dois navios franceses, entraram para dentro da baía. Os tamoios fizeram cercas
para usarem como muralhas defensivas móveis, a fim de se aproximarem da muralha
portuguesa, sem serem abatidos pelo fogo lusitano; protegidos por elas chegaram
até as muralhas portuguesas. Estácio de Sá, que tinha ido atacar os navios
franceses, assim que ouviu o barulho de tiros vindos do arraial, percebendo a
manobra francesa, fez sinal aos navios a remo, que estavam mais perto dos
Franceses, para que retornassem para a cidade e auxiliassem na sua defesa. O ataque
tamoio por terra foi repelido com pesadas perdas destes. Em seguida as naus
francesas retornam do interior da baía e com as canoas dos tamoios voltaram a
atacar a cidade, mas foram novamente repelidos. As naus francesas saíram, então,
para fora da baía no final do dia e se foram embora durante a noite. No ataque
o Capitão-mor francês morreu.
“Juntou-se muito Gentio que seriam uns 3.000, que foi
o que se poude saber, e vieram em 160 canoas com...espadas, espingardas e
bombardas, que os Francezes lhes dão. [...],
ajuntaram-se com elles em sua ajuda tres naus francezas de Lutheros e Calvinos,
as quaes elles foram appellidar ao Cabo Frio, onde ellas estavam, de modo que,
uns por terra outros por mar, determinaram de concluir a que vinham; os Gentios
em terra fizeram suas cercas o melhor que puderam pera offender aos Christãos e
defender-se delles e pouco e pouco se vinham chegando até abalroarem com a
fortaleza; os Francezes por sua parte determinavam fazer o mesmo por mar, e si
Deus Nosso Senhor não os ajudara, cercado estavam elles de maneira que muito
mal escaparam, quando viram as naus e reconheceram serem francezas, porque ao
principio cuidaram que eram barcos da costa que lhes levavam mantimentos e
soccorro. Puzeram apontar uma espera e a primeira que chegou que era a
capitanea, a qual ia mui soberba com estandartes e bandeiras de seda, pifaro e
tambor de guerra, foi varada da popa á proa com a espera, com o qual recebeu
muito damno, e sendo alguns mortos acudiram-lhe com outros e com elles, [...], foi dar a nau sobre uma lage [a Ilha
de Laje] que está á entrada do Rio, onde
correu muito perigo, mas foi ajudada dos índios com suas canoas e com chalupas,
e com a maré que enchia a tiraram fora; estando elles nisto chegou Estacio de
Sá, que era Capitão-mór, com muitos frecheiros e não achando resistência fez
nelles muita destruição. As outras duas, que depois entraram, foram também
salvadas... todavia entraram pelo Rio a dentro, que lh'o não puderam tolher os
nossos, por não haverem tido logar pera apparelhar como convinha a nau
capitanea e os demais navios; porém foram depois a ellas, matando-se quasi toda
a gente da fortaleza a nau capitanea por o haverem de abalroar e pelejar com os
Francezes, que eram muitos, chegando-se deu-lhes uma grande tormenta com que...
defender-se o Senhor, que tomou isto a cargo os não livrara... tiros da cidade
e muito fogo e suspeitando o que podia ser fizeram signal aos navios de remos,
que estavam mais perto dos Francezes e recolheram-se á cidade na qual os índios
por terra haviam dado com muita força, por lhes parecer que nella não achariam
resistência pelos poucos que haviam ficado, e que captivariam e comeriam as
mulheres que nella houvesse; porém succedeu-lhes muito ás vessas, porque elles
foram fugindo ficando muitos mortos e muitos dos que fugiram, quebrados os
braços e pernas, e muitos mal feridos dos tiros. Reparando-se os nossos o
mellior que puderam por mar e por terra, tornaram ás naus pelo Rio abaixo e
surgiram de fronte do porto da cidade, e com elles 160 canoas dos Tamuyas, e
começaram de pôr em som de guerra e começando a atirar algumas bombardas,
saltaram em terra o Gentio e Lutheros e chégando-se á cidade foram mui bem
recebidos, muito ao contrario do que elles tinham para si. Vendo que não faziam
fruito, antes recebiam muito damno, levantaram tendas e foram-se pelas
tranqueiras e cercas que tinham feitas, e pegaram-lhes fogo e ficou o Gentio
tão cheio de medo que não ousa apparecer por mar nem por terra, e ás suas
mesmas aldêas vão já os mancebos a os matar e captivar. As naus sahiram-se
fora, e querendo-as seguir o Capitão-Mór ao outro dia, por aquelle ser tarde,
ellas tomaram melhor conselho, e acolheram-se aquella noite ao mais fugir que
puderam; não ganharam nada desta viagem, mataram-lhes muita gente, entre a qual
foi o seu Capitão-Mór. Teve-lhes o Capitão-Mór duas naus rendidas si não
fugiram, alargando as amarras por mão e outras perdas que elles sentiram, do
qual ficaram muito magoados e determinam de se vingar. Estão recolhendo muito
Gentio e aguardando uma armada grossa de França, que lhes há de vir em soccorro
pera Outubro, segundo o elles dizem; [...] (Caxa, 1565, pg 452-454)
“81 Foi mais
notável o successo, que aconteceo nos primeiros de Junho. Apparecerão á vista
de nosso arraial tres náos poderosas, e bem artilhadas dos Franceses, e huma
somma innumeravel de canoas de guerra, que as acompanhavão ; contavão-se cento
e trinta, quasi o resto de todo o poder inimigo. Presentarão batalha aos
nossos, [...] Não desfallecem porém os corações dos
nossos; e primeiro que tudo recebem os com semelhantes sinaes de festa,
disparando sobre elles quantidade de artilharia, e arcabuzaria, com tão bom
emprego, que a capitania inimiga (feridos, e perturbados os marinheiros) foi
dar á Costa entre huma penedia, d'onde apénas depois de grande força, e alguns
mortos, a tirarão pera o már. Salva a Capitania, acommeterão os inimigos em
ordem de guerra: as tres náos Francesas (qual outro Ethna) desfazendo-se em
fogo de pelouros, bombas, alcanzias: os Tamoyos cobrindo os ares com nuvens de
frechas que vindo caindo sobre o arraial a som do estrondo da artilharia,
representava hum chuveiro entre trovões medonho. Porém [...] passada a tormenta, correndo-se as
estancias, não se achou morto algum; sendo que da parte inimiga o forão muitos;
e os vivos postos em fugida; porque não estava também ociosa no mesmo tempo da
tormenta nossa artilharia.” (Vasconcellos, 1623, Livro
III, 81)
“83 Tornando ao intento, o Capitão Estacio de Sa não
satisfeito de defender-se dentro do arraial, quiz mostrar que tinha poder pera
buscar o inimigo fora d'elle: acommeteo as náos Francesas, e fez n'ellas
destroço de muitos mortos, e feridos com a artilharia de sua Capitania.
Despedio no mesmo tempo esquadras, que acommetessem as aldeas dos contrários,
outras as canoas de pesca, que erão grande numero; e em todas fizerão boas
presas: de duas aldeas especialmente fizerão prisioneiros os moradores todos:
com que ficou assáz atormentado o inimigo.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 83)
“O Corpo dos Portuguezes cheio de valor, e de arrojo
destemido, tendo na sua frente o Capitão Mór, atacou tres poderosas , e bem
artilhadas náos inimigas , e cento e trinta canoas , que apresentando-lhe
batalha , foram derrotadas à vista do arraial; [...]” (Araújo, 1820,
vol I, pg. 19)
“Cessárão as
hostilidades do inimigo até o dia 1º de Junho de 1567, em que apparecerão á
vista do 'nosso Arraial tres navios Francezes, chegados de Cabo Frio, com 30
canôas de guerra ; a Capitania inimiga começou o seu fogo vivo; e destruindo o
nossa a sua mastreação , cahio sobre a Lage , e custou muito a salvar-se ,
baterão-lhe os nossos tão denodadamente, que pôz em fugida os inimigos,
occultando-se por algum tempo para refazerem dos damnos sofridos.” (Lisboa, 1834, Vol
I, pg. 94)
“Persuadidos os índios de que seriam baldadas mais
tentativas contra a cidade, haviam-se callado por algum tempo, esperando
socorro que pediram de Cabo-Frio. Chegado este, constante de três navios
francezes e trinta canoas de guerra, emprehenderam com a maior audácia novo
ataque. Porém a cidade se achava a esse tempo de tal modo cercada e guarnecida
de artilheria, que houveram de desistir da intentona.” (Varnhagen, 1877, vol.
I, pg. 251)
Estácio
de Sá, querendo conseguir informações sobre os planos inimigos, despachou em
início de julho 8 canoas para aprisionarem tamoios, mas estas retornam sem
sucesso. Estácio, então, a 12 de julho, envia Belchior de Azeredo, provedor e
capitão mór do Espirito Santo e capitão da Galé São
Tiago, com as 8 canoas, com
a mesma missão, mas agora para um ponto inexplorado da baía, aparentemente próximo
à Ilha de Paquetá. A 13 de julho ele se postou escondido no referido local, e
enviou espiões em terra. Ele, então, emboscou e capturou uma canoa de guerra
dos tamoios, matando-lhes o chefe e muitos dos guerreiros. Ele soube pelos
prisioneiros que eles estavam indo se reunir com 20 canoas dos tamoios que
estava se preparando alí próximo para um ataque à cidade. Assim que ele voi as
canoas inimigas, executou os prisioneiros, para poder guerrear livremente, só
sobrando 1 ou 2 vivos. O barulho causado com isto fez as canoas inimigas
perceberem a sua presença. Os tamoios atacaram os portugueses divididos em 3
grupos, o 1º com tres canoas, o 2º com oito e o 3º com nove. O 1º grupo logo o
atacou, mas este os repeliu e eles fugiram para terra firme, com a intenção de
retornarem os guerreiro para as outras canoas e atacarem os portugueses por
trás. Azeredo percebendo a manobra, mandou suas canoas seguirem caminho. Vendo
estes tamoios que já atrás ficavam, vieram logo após eles e os atacaram, pelo
que Azeredo mandou remar para o Rio. Nisto, os portugueses viram mais outras
canoas que saíam de traz daquelas poucas canoas anteriores. Azeredo mandou,
então, suas canoas virar sobre as que ficavam atrás, para não o tomarem no meio
de todas. Atacou estas primeiras canoas e, ferindo-as de tal maneira, que as
pôs em fuga para a terra. Neste momento chegaram as outras dez canoas que
estavam mais atrás e ele mandou logo virar contra elas; e ele pessoalmente
atacou a canoa principal dos tamoios e lhes matou o chefe. Acabando de matar e
captivar a gente da dita canoa foi acudir às suas que andavam pelejando com os
outros, o que fez com que o resto dos tamoios fugissem, indo-se ajuntar com os
outros que mais atrás ficavam. Azeredo vendo que só lhe feriram 1 escravo e 3
índios, se lançou contra as canoas que estavam mais atrás, a distância e ainda
não tinham combatido. Começando estes, também, a remar em direção a Azeredo,
chegaram no lugar onde foi o combate anterior e, vendo tantos tamoios mortos,
se puseram a recolher os mortos, deixando de o seguir. E vendo os da dianteira
que os outros não vinham, se puseram em fuga, acolhendo-se logo em terra. Azeredo, vendo que lhe não podiam mais fazer
nenhum mal, retornou à cidade.
“[...] e
desejando em saber d’onde lhe vinha este atrevimento, disse-se era vindo algum
socorro de Cabo Frio, ou Naos de França; mandei [Estácio de Sá] oito canôas de gente para ver se podia fazer
alguma preza, e tomar língua, e posto que la andarão dous dias, e fizeram nisso
todo o seu dever, não trouxerão nada : pelo que vendo eu, como me era língua,
mandei a Belchor de Azeredo , Cavalheiro da Casa do dito Senhor, Provedor de
sua Real Fazenda na Capitania do Espirito Santo , que na dita Armada andava por
Capitão da Galé S. Tiago, [...] por
ser homem que por sua pessoa , qualidade , e animo , se lhe podia encarregar
toda a cousa do serviço de Deos e de sua Alteza que quisesse fazer huma preza ,
o que ele com boa vontade e melhor animo se ofereceu , que iria, fazendo-se
logo prestes com sua gente e escravos, e amigos que acompanharão em uma canôa
que elle tem a seu cargo , mandando eu fazer prestes e equipar oito canôas, com
sua gente que para isso era necessário, dando-lhe logo, donde havia de ir, por
ter delle informação , posto que era muito longe , e parte aonde ainda não
foram canôas da nossa gente , e por ser distancia de 6 ou 7 legoas [40-46km]
da Cidade. Elle foi hontem á noite, que
forão 12 do dito mez de Julho , indo ter em dita noite, ao lugar que lhe tinhão
nomeado, d'onde se pôz em cilada aos 13 dias do dito mez no mar, estando nelle
com espias em terra, lhe derão nova como vinha huma canôa de guerra bem
esquipada e preparada de gente, a qual elle logo fez esperar com muita quietação, que emparelhando com ella no
lugar onde estava, remetteu a ella com as mais canôas, o que vendo os
contrarios , se puzerão em defensão, pelejando valentemente, e derrubando elle
ao principal da dita canôa com
huma setada que lhe deu, ajudando os mais companheiros; pelo que a dita canôa
foi logo rendida, e a gente della tomada, e morta alguma, e a mais captiva, sem
escapar nenhum dos que nella vinhão. E sendo assim feita a dita preza, pôz sua gente em ordem de camihar: e por que soube logo dos ditos
captivos, como se vinhão pela se ajuntar com muitas outras canôas de guerra que
adiante estavão juntas, pela d'ali virem
fazer ciladas á esta Cidade, vendo o dito Belchor de Azeredo a tal nova, e
ajuntamento dos contrarios, e o muito damno que podião fazer, juntou tambem as
que levava a cargo, fazendo-se
prestes; pelo que sendo assim que os que os captivos dizião
pelejar com elles, vindo-os buscar, e vendo assim caminhando, houve vista das
ditas canôas, de que lhe tinhão dito, o qual em a vendo , tornou a fallar com a
gente que nas mesmas vinhão matassem os captivos que trazião , para despejarem
as ditas canôas , pela se poder pelejar com os contrarios mais despejadamente,
e tambem para lhes não ser por elles feito alguma traição : o que assim fez sem
ficar mais do que hum ou dous dos captivos na canôa , os quaes fez logo pôr em
bom recato [...]
E vendo assim com este alvoroço e grandes
gritos os ditos contrários , se repartirão em tres partes, hun magote de tres
canôas, outro de oito e outro de nove, e logo o primeiro magote se veio a elle
, o que vendo elle se foi com as suas canôas a elles; o que vendo, os ditos
contrarios, se tornarão, fugindo pela terra, com tenção de levar a sua gente a
terra, e que depois de os lá terem darem as outras canôas na trazeira, ou nas
costas , e os desbaratassem : o que entendendo o dito Belchor de Azeredo a sua
tenção, mandou se puzessem todos em caminho, e seguissem a sua viagem para onde
ião e vendo os contrarios que já atraz
ficavão, vierão logo apos delles , tirando-lhes muitas frechadas e arcabuzadas ;
pelo que elle mandou remar pelo largo do dito Rio ; e vindo assim, houve vista
de outras canôas que lhe sahirão detraz de humas poucas que vinhão a elles ; o
que elle vendo, mandou virar as suas sobre as que ficavão atraz , por não o
tomarem no meio de todas : o que logo se fez ; animando elle sua gente , remetterão
tão animosamente com as ditas canôas, que atraz vinhão que as poderão pôr em
fugida, ferindo-os de tal, maneira que se vendo tão maltratados, puzerão a sua
salvação na terra : e chegando a este tempo as outras dez contra as quaes
mandou logo virar; e acabando de virar vio que o principal dellas vinha muito
soberbo em huma poderosa canôa , e bem esquipada, diante de todas as outras,
animando a sua gente direito contra as delle; o que vendo o dito Belchor de
Azeredo seu muito atrevimento e ousadia, mandou a sua gente, que arremettessem
com os do dito principal, e que o deixassem com aquella em que elle vinha muito
soberbo, como de effeito assim se fez; e remettendo elle dito Belchor de
Azetedo ao dito principal que assim vinha muito soberbo, ainda que tiverão
muitas frechadas e arcabuzadas, mandou aos de sua canôa que não remassem , e
não atirasem mais que os arcabuzes , e a sua besta, o que elles assim fazendo ,
investio com a dita canoa e abalroou a dos contrarios , e a todos metteu as
espadas, e as frechadas, tomando no tal tempo huma espada e rodela, arremetteu
com elles , pelejando de tal maneira que matou seis dos ditos contrarios,
ficando ali todos mortos e captivos, sem deixar nenhum delles, e o Capitão e Principal
da dita canôa foi ali morto juntamente com os mais nomeados, sendo morto por um
escravo do dito Belchor de Azeredo, a quem elle mandou que matassem por
desprezar os contrarios: e acabando de matar e captivar a gente da dita canôa
foi acudir ás suas que andavão pelejando com os outros: o que vendo os
contrarios se puzerão em fugida , indo-se ajuntar com os mais que atraz
ficavão, que não ousarão a chegar pelo damno que lhes já era feito o que vendo
o dito Belchor de Azeredo tornou a ajuntar a sua gente sem lhe ter feito damno
que ferirão hum escravo e tres Indios ; tornando outra vez a reforçar a sua gente
para a peleja , porque os contrários se tornavão a ajuntar para tornar a elles
, porque tanto que chegassem as outras que estavão diante , pe1o que elle
começou a pôr logo todos em ordem diante de si , e se pôz em caminho direito ,
onde vinhão as que ainda não tinhão havido castigo , começando também os
contrários que atraz ficavão de caminhar para elles, e chegando ao lugar, onde
foi a dita peleja, vendo tantos mortos, e o mar tão tinto em sangue, se puzerão
a apanhar e recolher os mortos, deixando de o seguir. E vendo os da dianteira
que os outros não vinhão, se puzerão em fugida , e acolhendo-se logo a terra
que tem por mui certa colheita , serem senhores dela : que vendo o dito Belchor
de Azeredo , e que lhe não podião fazer nenhum mal nem damno , se pôz em
caminho direito pela Cidade , onde houve muitos captivos , deixando muitos mortos
, e outros muitos feridos.” (Lisboa, 1834, Vol I, pg. 95-100)
“Faremos
entretanto menção de um recontro em que, só com oito canoas o bravo Belchior de
Azevedo, provedor e capitão mór do Espirito Santo, aprisionou depois de renhido
combate naval, no fim da enseada, e naturalmente para as bandas de Paquetá,
duas canoas inimigas, de vinte que então reuniam para darem cilada á nascente
colônia.” (Varnhagen, 1877, vol.
I, pg. 252)
“Além dêsse
combate [batalha das canoas de 1566], outro também de vulto tem lugar nas
proximidades da ilha de Paquetá. Da parte dos portuguêses há, apenas, oito
canoas guarnecidas; da parte inimiga há muitíssimo mais. O combate é indeciso.” (Veríssimo, 1970,
RIHGB, vol. 288, pg. 131-132)
Em 20 de julho, Anchieta retorna para a
Bahia, para se ordenar padre, em um dos navios de João de Andrade, Provedor-mor
da Capitania do Espírito Santo, encarregado de buscar mantimentos e reforços. Anchieta
vai por o governador-geral Mem de Sá a par da situação e pedir-lhe reforço.
“Ao derradeiro dia de Março parti do Rio de Janeiro
para esta cidade, por mando da santa obediência, com um homem tomado da
Capitania de Ilhéus, chamado João D’Andrade, o qual havia sido chamado de São
Vicente pelo capitão-mór a buscar mantimentos a estas capitanias, e por sua boa
indústria e diligência chegou ele, como acima digo, no mesmo dia e maré que a
armada chegou de São Vicente, e de caminho levou cinco homens brancos, que
resgatou dentre os Tamoios áquem do Cabo-Frio, os quais se haviam perdido em um
navio que antes de João D’Andrade fora mandado a buscar mantimentos; e depois
de estar no Rio todo este tempo, e achando-se nos combates que tenho referido,
o tornou o capitão-mór, por se fiar de sua diligência, a mandar a negociar mais
mantimento, porque a falta dele é que lhes faz uma maior guerra.” (Anchieta, Julho
1565)
“86 Neste tempo foi chamado d'entre o estrondo das
armas pera á cidade da Bahia o Irmão Joseph de Anchieta a ordenár-se de ordens
sacras: e de caminho lhe ordenou o padre Manoel de Nobrega (a cujo cuidado
estava o governo de Sam Vicente, e o da capitania do Espirito santo) que
visitasse a casa, e aldeas, que alli tinha a Companhia, e disposesse n'ellas o
que melhor julgasse, afim de maior perfeição. [...] Em lugar de Joseph [de Anchieta] acudiu o padre Manoel de Nobrega ao arraial
com outros companheiros, pera o Padre Gonçalo de Oliveira, os quaes revezava
por vezes, com occasião de soccorros, que mandava freqüentemente ao Capitão
mór, e soldados de refresco, canoas e índios, animando-os, e consolando-os com
suas cartas, a levar por diante a empresa, que entendia era de Deos.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 86)
“Como huns sobre outros revezes não affrouxão as
hostilidades , em 20 de julho fez partir o Governador a Belchor de Azeredo no
navio S. Clara para a capitania do Espírito Santo, a fim de como Provedor da
Fazenda Real della, se provêsse alli do necessário em auxilio da nova cidadella
, e sua defensão , voltando com os reforços necessarios Capitão da mesma
Armada.” (Lisboa,
1834, Vol I, pg. 101)
“Há falta de
elementos combativos para a ação terrestre. Elementos que só Men de Sá, na
Bahia, pode fornecer. Daí a decisão de aproveitar a ida de Anchieta a Salvador
(onde vai receber ordens sacras) para explicar a situação e pedir reforços.” (Veríssimo, 1970,
RIHGB, vol. 288, pg. 133)
Em 15 de outubro, saíram 7 canoas
portuguesas em busca de presa, mas lhes saíram em cilada 64 canoas dos tamoios
que as cercaram e as atacaram, mas acudiram em socorro outras 7 canoas
lusitanas; com isto, estes atacaram as canoas inimigas, as venceram e
capturaram 4 canoas, destroçando e pondo em fuga as demais.
“84 Aos quinze
de Outubro seguinte foi outro successo digno de historia. Sahirão sette canoas
nossas em busca de presa, mas virão-se a ponto serem ellas prisioneiras do
inimigo: porque lhes sahirão de cilada sessenta e quatro, que dando ao remo
velocíssimo, em breve tempo as poserão em cerco perigoso; porque de todas as partes
juntamente despedião frechas contra ellas começou-se alli huma peleja bem ferida
de numa e outra parte erão os nossos de resolução, e valor; porém no meio de tão
grande poder era força arreceassem o successo. Ex que neste conflito accodem de soccorro aos nossos outras sete
canôas; á vista das quaes, como se forão cem, tomaram animo os soldados contra
sessenta e quatro: acommetem já aquelles, dos quaes erão acommetidos; e depois
de larga peleja, sahirão com Víctoria, senhoreando quatro canoas, destroçando,
e pondo em fugida as demais.” (Vasconcellos, 1623, Livro
III, 84)
“[...] destruiu a
silada urdida no dia 15 de Outubro , sendo assás diminuto o numero de canoas à
par das dos contrários : e foi victorioso n' outras acçoens repetidas , que por
todo aquelle anno se seguiram.” (Araújo, 1820, vol I, pg. 19)
“Em 15 de outubro fez sahir sete canôas nossas armadas
em busca dos inimigos, as quaes toparão sessenta e quatro em cilada, e estas
forão atacadas com hum valor prodigioso que sendo tão desiguaes em forças e quantidade,
tomarão quatro dos tamoios, e o grande numero que restavão tomarão a fugida por
salvação.” (Lisboa,
1834, Vol I, pg. 102)
Estácio passou, então, o ano em
constantes escaramuças contra os índios tamoios e franceses, que ora o atacavam
na cidade do Rio de Janeiro, ora o combatiam em canoas nas águas da baía de
Guanabara. Mas Estácio não ficou só na defensiva apenas, mas, também, atacou
algumas aldeias dos Tamoios dentro da baía. Certa vez Estácio de Sá saiu com um
grupo de soldados, com intento de dar sobre uma aldeã, mas, teve noticia no
caminho de que em outra aldeia mais importante se tinham ajuntado muitos
tamoios por causa de certa devação chamada A
Santidade. Atacou, então, esta outra
aldeia, a cercou e a tomou, de forma que excetos poucos que puderam fugir,
todos os outros, em número maior de 300, ou morreram ou foram capturados; do
lado português houve um morto e alguns feridos.
“85 Seja a ultima não menos illustre façanha d'este
anno. Sahira o capitão mór Estacio de Sá com hum troço de seus: soldados, com
intento de dar sobre huma aldea: teve noticia no caminho, como em outra mais
afamada se tinha ajuntado, numerosa quantidade de Indios, por causa de certa
devação chamada a Santidade: converteo o açoute sobre esta, e pondo-a em cerco
assi a opprimio a ferro e a fogo, que exceptos poucos que poderão; fugir, todos
os outros, ou morrerão ou se entregarão cattivos: passarão de trezentos. Forão
feridos alguns dos nossos, entre os quaes hum soldado por nome Antônio da
Lagea, querendo livrar huma mestiça de Sam Vicente, que entre os inimigos
estava cattiva, ficou cercado do incêndio, e sahio d'elle tão maltratado, que
sendo levado ao arraial, em breves dias acabou a vida.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 84)
“29 Expedio o Capitaõ môr muitos troços de Soldados, e
aventureiros por varias Aldeas daquelles Gentios , nas quaes achando nao vulgar
resistencia, foy necessario applicar todo o valor; porém a seu pezar ganhadas,
foraõ mortos, e prezos os que se naõ aprestaraõ a fugir dos nossos golpes. Mas
posto que experimentavamos em repetidas facções prosperos successos , se hia
alargando a guerra, que sendo offensiva, de nenhum accidente podia receber
mayor damno, que da dilaçaõ.” (Pita, 1730, Livro III, 29)
“Applicadas as forças contra as Aldeias , e expedidos
os piquetes de soldados aventureiros para os lugares fortemente defendidos pela
Indiada ; tudo ficou arruinado ; e os índios , que mais resistiam ao ferro , e
ao fogo , pagaram o valor com a vida.” (Araújo, 1820, vol I, pg. 19)
“[...] despedio
Esquadras para atacar as Aldêas inimigas, e canôas de pescarias, fazendo muitas
prezas, arrazando e assolando duas Aldêas No fim daquelle anno de 1566 [...]
sahio elle mesmo com hum troço de
Soldados a investigar e destruir huma Aldêa, sabendo que ali estava congregado
hum grande numero de gentes, para celebrarem a sua devoção que se intitulava - A
Santidade – Marchando contra a mesma, a bloqueou, e de improviso cahio sobre
ella a ferro e a fogo, e poucos escapaárão com a fugida, matando e prisionando
a mais de trezentas pessoas, morrendo dos nossos unicamente o Soldado Antonio
de Lagêa.” (Lisboa, 1834, Vol I, pg. 102)
Realça-se
frequentemente que Deus favorecia tanto os portugueses, que eles não se feriam
gravemente com os tiros dos arcabuzes franceses, mesmo em tiros contra áreas
nobres do corpo. Provavelmente, a pólvora francesa já estava velha e úmida,
pelo clima tropical, perdendo muito de sua potência.
“79 [...] Foi
cousa notada, que quasi todas as semanas d'alli em diante, alcançavam os nossos
successos felices, ou em emboscadas, uso commum de pelejar dos bárbaros, ou a
peito descoberto, mais conforme ao nosso; matando, e cattivando muitos dos
inimigos, sem perda considerável dos nossos. 80 Vio-se aqui hum favor conhecido
do Ceo, admirado nao só entre nós, mas entre os mesmos inimigos: porque muitos
pelouros dos Franceses davão em os peitos dos nossos, como se derão em duro
ferro, caindo aos pés, ou tornando frustrados pera trás: e as feridas que
alguns recebião ainda que mortaes, com tal facilidade saravão, que era força
attribuir-se a cura ao favor divino. O que, porque mais claramente se visse, e
não pudesse ser attribuido a arte humana de hum Cirurgião Ambrosio Fernandes,
que alli curava, e pretendia attribuir estes successos a sua gram perícia:
suecedeo, que no primeiro encontro que depois houve, saindo elle ao conflito
ficou morto; e comtudo, com a mesma facilidade viviam d'alli em diante os
soldados mortalmente feridos. He caso que refere o Padre Joseph de Anchieta: e
diz, que huns o attribuião a favor da Virgem nossa, Senhora, em cuja devoção
andavão destros os soldados: outros ao Martyr insigne S. Sebastião, cujo favor
por Padroeiro invocavão; e foi Joseph companheiro, e testemunha de vista
fidedigna.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 79-80)
“Observou-se em todos os tiroteios, que as balas dos
Francezes muitas vezes acertavão, sem fazer ferida. Este milagre facilmente se
explica... a pólvora era da que tinhão trazido para trafico. E boa que fosse,
ter-se-ia deteriorado apoz tão longa estada n'um clima humido, effeito
experimentado pelas tropas inglezas nas Índias Occidentaes. Para fazer maior o
milagre observa Anchieta, e apoz elle Vasconcellos, quão facilmente se curavão
as feridas feitas a tiro. Um cirurgião, Ambrosio Fernandes, arrogou-se todo o
mérito d'estas curas, e no primeiro recontro foi morto, como para mostrar que
so á Virgem e a S. Sebastião erão ellas
devidas.” (Southey,
1822, pg. 421)
d) Ano de 1566: Batalha das Canoas e chegada da Esquadra
de Christóvão de Barros à Bahia
Anchieta chegou
à Bahia e narrou a Men de Sá o estado da guerra no Rio de Janeiro, solicitando
reforços.
“88 O anno de mil e quinhentos e sessenta e seis
continuava na Bahia [...] Chegou a este Collegio o Irmão Joseph de
Anchieta, que no fim do anno passado dissemos partira pera esta cidade com
escalla pela capitania do Espirito santo. Foi recebido commummente de todos
como merecião
suas
grandes virtudes, notórias já em todo o Brasil. Este hospede contou mais por
extenso ao Governador Mem de Sá (como quem fora tanta parte em tudo) o estado
da guerra do Rio, as maravilhas que Deos tinha obrado por meio do Capitão mór
Estacio de Sá, e seus soldados; porém dizia, que como erão os inimigos
innumeraveis, de força se havião de ir extinguindo de vagar com tão limitado
poder, como era o nosso: que se queria Sua Senhoria, que a guerra se acabasse
por huma vez, seria necessário meter mais cabedal; e que com este lhe parecia
que estava certa a ultima victoria: e poderíamos então fundar a cidade, que Sua
Alteza pretendia, afugentados por huma vez os Tamoyos pera seus sertões, o
presidiadas por algum tempo as estâncias marítimas. Toda esta pratica de Joseph
agradou muito a Mem de Sá, por-ser conforme ás mais verdadeiras noticias, e
experiência. O Bispo D. Pedro Leitão ordenou logo de ordens sacras ao Irmão
Joseph, com grande alegria dos corações de ambos: [...]” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 88)
Determinados a
acabar de uma vez por todas com os portugueses, os tamoios e Franceses organizaram
um grande assalto em 13 de julho, reunindo todas as suas forças, juntamente com
reforço vindo de Cabo Frio, totalizando 160 ou 180 canoas. Entre seus
principais líderes estava Guaixará, cacique dos tamoios de Cabo Frio. Eles
planejavão atrair os principais chefes portuguesas para uma emboscada no mar, matá-los
e depois atacar e tomar a cidade desfalcada deles. Emboscados atrás de um morro
(provavelmente o Morro da Viúva ou a Ponta do Calabouço), os tamoios
surpreenderam Francisco Velho, que cruzava a barra em busca de madeira para a
capela de São Sebastião, saindo aqueles apenas com algumas canoas, as quais
cercaram a canoa portuguesa. Tendo a manobra sido percebida pelos vigias de
Estácio de Sá, no arraial reuniram-se forças apressadamente, partindo quatro
canoas em socorro de Francisco Velho. Então, as outras canoas tamoias saíram do
seu esconderijo e cercaram as canoas portuguesas, na chamada Batalha das Canoas. Travou-se luta
heróica, mas desigual, de pouco adiantando os tiros da roqueira instalada na
canoa do próprio Estácio. No auge da luta, a pólvora para a roqueira explodiu
na canoa portuguesa, erguendo no ar uma espessa nuvem de fumaça e jogando
alguns portugueses meio queimados à agua. Neste momento, a mulher do cacique Guaixará,
tomada de pânico, começou a gritar, alastrando o pânico entre os tamoios, que
debandaram. Os portugueses, atribuindo o fato a um milagre, acorreram à Capela
de São Sebastião, rendendo-lhe graças pela salvação de suas vidas. Nascia, desse
modo, a lenda atribuída aos tamoios da aparição de um jovem guerreiro vestido
com armadura, durante o combate, passando de uma para outra canoa portuguesa,
causando pânico ao inimigo, assim como a tradição, conservada por séculos, de
se simular combates de canoas nas águas da baía, como comemoração pelo Dia do
Padroeiro.
“Emfadados os Tamoyos de leuarem sempre o pior,
ajuntarão por espaço de tempo huma grande frota de canoas de gerra, que
chegarão a cento e outenta, para concloirem com a gerra de huma vez, e para
fazerem a obra mais a seu saluo, não quizeram cometer a cidade, mas tomar os nossos
no meyo de huma cilada, escondendo as canoas em huma enseada, huma legoa da
nossa pouoaçam, mas para mais se uer que Ds [Deus] tinha tomado esta empreza a sua conta premitio, que alguns naturaes da
terra moradores na Capitania de São Visente reseando o combate se fossem com
suas canoas, deixando ao Capitam Mór somente com sinquo canoas, mas nem por iso
os mais perderão o animo e confiança em Ds; nisto saem da cilada humas pouquas
de canoas o noso Capitam dálhe cassa com as sinquo, dão volta os inimigos, como
que fogião e metem os nossos dentro da cilada, sem nhum remedio humano, e o
pior foy que pondo os nossos fogo a hum tiro que a canoa capitania leuaua, toma
fogo a poluora da canoa, e da com alguns soldados no mar, meyos queimados, mas
logo se recolhem a ella, acode aquy por seus soldados a Deuina Meziricordia,
mete espanto a melhor canoa, do Capitam Tamoyo, e comesa a bradar grande fogo
uem sobre nos, e para nos queimar a todos, a esta voz, mete Ds grande terror e
medo nos contrários, e dam em fogida ha boga arancada, a quem mais podia remar,
e aparese a multidão das que estauão na enseada, fogindo também com as mais, os
nossos os seguem hum pedaso, mas logo se recolhem a cidade [...] Acodio a esta vitória também o fauor do
Martir São Sebastião, que foi uisto dos Tamoyos, que dipoes preguntauão, quem
era hum soldado que andaua armado, muito gentil homem, saltando de canoa em
canoa que os espantara e fizera fogir: com este bom susesso hamainou a fúria
dos Tamoyos [...]” (Rodrigues, 1607, pg. 214)
“96 [...]
Aconteceo meiado de Julho d'este corrente anno de 1566, e foi assi. Depois que
experimentarão os Tamoyos o como ferião nossas armas, e que pelejando em tantas
occasiões, não lhes hia bem do partido, determinarão, aconselhados dos
Franceses, empenhar por huma vez o poder. Meterão o resto de sua potência em
cento e oitenta canoas bem armadas, guiadas pelos mais destros Capitães seus, e
da nação Francesa (cem d'estas capitaneava hum affamado bárbaro por nome
Guaixará, senhor de Cabo Frio.) Partio esta grande chusma mui em segredo até
certa paragem, cousa de huma legoa [6,5km] distante do arraial dos Portugueses, e alli ficou em escondida cilada
no resaco detrás de huma ponta [talvez a Praia do Flamengo, atrás do Morro
da Viúva ou a Ponta do Calabouço no centro],
que fazia o mar. D'aqui despedirão hum pequeno numero d'ellas, industriadas
n'esta forma; que fossem offerecer batalha aos Portugueses defronte de seus
alojamentos, e que sahindo-lhes (como aquelles que não desprezão desafio algum)
fingissem que vinhão retirando-se, e os trouxessem pouco e pouco, até metél-os
na cilada, donde sahiria o resto das canoas, e matarião aquella parte de seus
inimigos, que sempre serião os mais lustrosos, e esforçados; os quaes
diminuídos, acommeterião o arraial com menos resistência. 97 Tinha partido de
nosso arraial huma canoa, em que hia hum Francisco Velho, mordomo do Martyr S.
Sebastião seu padroeiro, em busca de madeira pera huma Capella do Santo. Esta
foi a primeira que encontrou as poucas canoas, que a modo de negaça vinhão ao
intento já ditto: poserão-na em cerco, brigavão com ella com detença manhosa.
Era á vista do arraial, entrou em zelo o Capitão mor, pretendeo soccorrel-a, e
buscando canoas, achou somente quatro (porque as demais, ou erão á pesca, ou se
tinhão acolhido enfadadas da guerra, especialmente as de dous Mamalucos
valentes, Domingos Luis, e Domingos de Braga, que pouco antes tinhão partido
pera S. Vicente.) N'estas quatro se embarcou o melhor dos Capitães da guerra, e
foi acommeter o inimigo: porém elle [isto é, os Tamoios], que estava bem industriado, aos primeiros
lanços do combate virou as costas, e deo a fugir: seguirão os nossos o alcance
com seu costumado valor; porém quando cuidavão que levavão de vencida estas
poucas, descobrirão a ponta, e d'ella virão que sahia, rompendo os mares, o
restante da maquina de canoas que faltavão pera cento e oitenta, ligeiras
comovente, a vinte e trinta por banda, igualmente remeiros, e frecheiros,
açoutando as agoas, atroando os ares, enchendo as nuvens de frechas, e como
celebrando já a victoria, que davão por ganhada. E na verdade assi fora sem
duvida, se o Ceo com maravilha clara, e o invicto padroeiro S. Sebastião, não
acudirão com favor seu prodigioso; porque hindo resistindo-lhes os nossos
valerosamente, appellidando o Santo padroeiro, de improviso ao disparar de huma
roqueira na fúria maior da peleja, tomou fogo a pólvora da canoa, e levantou
hum incêndio grande, a cuja vista, como de portento insólito, levantou
juntamente hum grande alarido a mulher do Principal [Guaixará] da canoa contraria, que seguia os nossos (e
estes costumão embarcar comsigo em semelhantes actos) dizendo a vozes, que
havia hum incêndio mortal, que havia de consumir aos seus, que fugissem,
fugissem á pressa. E foi bastante o espanto d'esta só índia pera meter tal
terror em toda a chusma, que não só aquellas, mas todas as outras canoas
fizerão volta, e se pozerão em fugida desordenada, quaes se viera sobre elles o
fogo de hum monte Ethna. Ficarão desassombrados os nossos, e então começarão a
contar de espaço, e com mais advertência o numero extraordinário de
embarcações, com quem o havião, e não acabavão de crer o perigo de que Deos os
livrara por meio de seu Santo padroeiro. 98 Em desembarcando em terra forão á
Igreja, e fizerão acção de graças por tão evidente favor, que attribuião
commummente ao invicto Martyr Padroeiro: [...] porque os Tamoyos todos na mesma conformidade perguntavão depois aos
nossos com grande espanto, quem era aquelle soldado gentilhomem, que andava
armado no tempo do conflicto, e saltava intrépido em nossas canoas? «Porque a
vista d'este (dizião) nos meteo terror. E foi a causa de fugirmos, igualmente á
do incêndio. Foi tido o caso por milagroso. [...]” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 96-98)
“Cançados já os Tamoyos de tão prolixa guerra, e
enfados de ruins sucessos, porque ordinariamente em os encontros sahião
escalavrados, determinarão lançar o resto de seu poder, e de sua ventura em
huma batalha industriados pelos Francezes, e sem duvida a cousa ia traçada para
conseguirem seu intento. Porem a Divina Providencia se acostou á parte mais
justificada. Havião os tamoyos ajuntado ao numero ordinário de sua canôas
outras, que chegarão a cento e oitenta, fabricadas secretamente longe do posto
onde estavão os navios dos Portuguezes. Toda esta armada de canôas puzerão em
cillada, escondida em huma volta que fazia o mar, daqui sahio hum pequeno
numero delas, contra as quaes mandou o General cinco das nove que trouxe de S.
Vicente, porque os Indios amigos, enfadados da guerra, se havião já ido com as
quatro. Os Tamoyos, não ainda bem começada a batalha, virarão as costas, que
assim o havião traçado, e metterão os nossos, que atrevidamente os ião seguindo
em a cillada, donde sahirão as mais canôas inimigas, e subitamente as cercarão
por todas as partes; mas nem por isso perderão o animo os Portuguezes, antes
resistirão valerosamente ajudados do Divino favor, o qual ainda das cousas que
parecem adversas sabe tirar prósperos sucessos, como aqui se vio que acaso
ascendendo-se a polvora em huma das nossas canoas chamuscou a alguns dos nossos
inimigos, que a tinhão abordada, com o que, e com a chamma que levantou a polvora
se alterou tanto a molher do General, Tamoya, que dando gritos e vozes
espantosas atemorizou a todos, e sendo seu marido o primeiro que fugio com
ella, os seguirão os mais, deixando livres os nossos, os quaes tomando ás suas
fronteiras derão graças a Deus por tão grande beneficio, e por os haver livres
de perigos tam grande pela voz e assombro de huma fraca molher, ainda que
depois declararão os mesmos inimigos que não fora por isto, senão por haverem visto hum combatente estranho, de
notavel postura, e beleza, que saltando atrevidamente nas suas canoas os
enchera de medo; donde crerão os Portuguezes que era o bem-aventurado S.
Sebastião, a quem havião tomado por padroeiro desta guerra.” (Salvador, 1627, pg. 74)
“Ja antes, em 15 de outubro de 1564, havia tido logar
outro combate naval; e seguiu-se ainda depois um terceiro, que podéra haver
dado mais que fazer, se Francisco Velho, saindo do arrayal a buscar madeiras
para a capella de S. Sebastião, não tivesse descoberto as 160 canoas, que,
escondidas detraz de uma ponta de terra se preparavam para dar a costumada
assaltada de surpresa.” (Varnhagen, 1877, vol. I, pg. 304)
“[…] sempre alerta
contra ações de inquietação dos tamoios, e dos franceses. Entre elas, uma
grave: Grande número de tamoios dispondo do auxílio dos franceses, se
ocultavam, em 120 canoas, na região do morro Leripe (hoje Viúva). Feito isto
enviam elementos exploradores até a região da Urca. O fim é provocar os homens
de Estácio de Sá e atraí-los ao local onde se abriga o grosso. Alertado,
Estácio de Sá inicia a reação e o combate se generaliza. Mas, no meio dele, uma
canoa inimiga, ao disparar uma roqueira (peça naval atirando pelouros de pedra)
começa a pegar fogo. A canoa aderna, os tripulantes caem nágua e o pânico se
estende ao grupo inimigo.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 132)
Para retirar Estacio de Sá do aperto em que se achava no Rio de Janeiro,
saiu de Lisboa em 6 de junho uma armada de três galeões comandada por Cristovão
Cardoso de Barros. A armada chegou à Bahia em 23 ou 24 de agosto de 1566. Em
novembro Mem de Sá partiu com a armada de três galeões do capitão-mor Cristóvão
de Barros, além de dois navios do rei de Portugal que andavam na costa, e
outros seis caravelões. Em novembro, nela embarcou, além do governador da
Bahia, muitos moradores dela que levavam muitos escravos consigo, e quanta
gente d'armas quis acompanhá-lo, o bispo D. Pedro Leitão e seis jesuítas, entre
estes o visitador Padre Inácio de Azevedo, Luiz da Grã, Provincial, e Anchieta,
recém-ordenado, suficiente numero de naus, e de outras embarcações pequenas,
bem providas de munições, de soldados, e de voluntários. A esquadra de Men de
Sá dirigiu-se a Ilhéus onde pacificou a Capitania e depois dirigiu-se para
Porto Seguro e Espírito Santo. No Espírito Santo, Men de Sá adoeceu gravemente,
mas, mesmo assim, seguiu destino para o Rio de Janeiro.
“Depois do anno de sasenta e sejs [1566] mandou
sua allteza outra armada pera o Rjo e me mandou que fose em pesoa por ser
emformado que os francezes pelo sertão e junto ao maar fazião mujtas
fortallezas e se tinhão apoderado dos Jndios e estauão jaa muito fortes com
muita artelharia.” (Silva, 1570)
“22.
Fui o milhor que pude com muito gasto de minhaa fazenda dando mesa a todos que
leuaua e do muito trabalho que leuej adoecj no espirito santo e asi doente fuj
ao Rjo e estiue a morte / [...].” (Silva, 1570)
“[A rainha de Portugal dona Catarina
determinou a Men de Sá] que logo se
fizesse prestes e fosse povoar este Rio, e o fortificasse edificando nele uma
cidade que se chamasse de São Sebastião; e para que isto pudesse fazer com mais
facilidade, lhe mandou uma armada de três galeões, de que ia por capitão-mor
Christovam de Barros, com a qual, e com dois navios de El-Rei que andavam na
costa, e outros seis caravelões, se partiu o governador da Bahia com muitos
moradores dela que levavam muitos escravos consigo, e partiu-se para o Rio de
Janeiro [...]” (Souza, 1587)
“Partindo Mem de Sá para o Rio de Janeiro foi
visitando a capitania dos Ilhéus, Porto Seguro e a do Espírito Santo, das quais
levou muitos moradores, que como aventureiros os foram acompanhando com seus
escravos nesta jornada [...]” (Souza, 1587)
“93 [...] Estava n'este tempo de partida pera o Rio de Janeiro o Governador Mem
de Sá com soccorro a concluir as cousas da guerra, e fundar alli huma cidade
por ordem d'El-Rei D. Sebastião, na conformidade do parecer de Joseph
[Anchieta]. Hia com elle o Bispo D. Pedro
Leitão a visitar a sua Diecesi.” (Vasconcellos,
1623, Livro III, 84)
“Fez portanto aprestar a Esquadra, embarcando nella
os soldados veteranos como as recrutas, e partio da Bahia em novembro de 1566
para S. Jorge dos Ilheos, para castigar, como fez, os Aymorês, valerosamente
batendo-os, por haverem assaltado e destruído aquella florescente villa,
queimando quatro dos seus principaes Engenhos; d’ali mesmo communicou á Rainha
D. Catharina tão gloriosa acções, e que demandava o Rio de Janeiro, tendo
deixado em paz os Indigenas.” (Lisboa, 1834, Vol I, pg. 107-108)
“Inteirado porém Men de Sá, pelas informações
levadas por Anchieta (que fora ordenar-se á cidade do Salvador), de que a nova
colônia de S. Sebastião se achava outra vez apertada, por muito gentio inimigo,
do qual cumpria desafogal-a, para que, dedicando-se melhor seus habitantes á
cultura, não estivessem dependentes das outras capitanias e expostos á mingua,
o representou á Corte, e obteve d'ali trez galeões, dos quaes veiu por capitão
mór Christovam de Barros. Juntando a esses galeões dois navios que andavam na
costa, e mais seis caravellões, se passou em pessoa ao Rio de Janeiro, com
todos os soccorros de gente, e mantimentos que poude juntar. Pernambuco ja
desassombrado das guerras que o segundo donatário, ajudado por seu irmão e
successor, tivera que dar ao gentio para o aquietar, enviou por esta occasião,
de contingente, cem homens e alguns mantimentos. Acompanhava o governador o
segundo bispo D. Pedro Leitão, que aproveitava agora a occasião de tomar
conhecimento desta parte da sua vastissima diocese.” (Varnhagen, 1877, vol.
I, pg. 306)
“Há falta de
elementos combativos para a ação terrestre. Elementos que só Men de Sá, na
Bahia, pode fornecer. […] Men de Sá não os tem. Por isso transmite o
apelo à Lisboa. Êsse apelo é atendido e, em agôsto de 1566 (ou seja mais de
dois anos da chegada de Estácio de Sá ao Rio de Janeiro) ancora na Bahía a
esquadrilha comandada por Cristóvão de Barros e composta de três galeões. O
valor do reforço não é apenas de elementos navais. É de armamento e munição,
que vai permitir, a Men de Sá, juntar a êle, duas naus, seis caravelas, um
têrço de infantaria. Tal têrço é formado por gente de Salvador, de Porto Seguro
e até de Pernambuco.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 133)
e) Ano de 1567: Expulsão dos Franceses da Baía de Guanabara
Ao entardecer
de 18 de janeiro chegou ao Rio de janeiro Men de Sá, acompanhado do bispo don
Pedro Leitão e o Visitador jesuíta padre Inácio Azevedo. Logo depois chegou o
poderoso reforço em gente e canoas de guerra, vindo de São Vicente, Bertioga e
Itanhaém, sob o comando de Eleodoro Ebano Pereira. Resolveram, então, em
conselho de guerra atacar a Uruçu-mirim em 20 de janeiro, dia do padroeiro da
cidade.
“99 Estando n'estes termos as cousas da guerra, entrou o anno de 1567, e
com elle a armada do Governador Mem de Sá, que da Bahia tinha partido em
Novembro passado, no Rio de Janeiro. Foi a alegria geral dos soldados, que
tinhão passado espaço de dous annos tão grandes perigos, e trabalhos, como se
deixa ver de guerra tão continua, e sitio tão incommodo, e falto de sustento
humano. [...] 100 Constava a armada de bom numero de navios, supposto que se não diz
o certo, Trazia soldados de valor, e entrou a barra aos dezoito de Janeiro na
antevespora do Martyr S. Sebastião [...]
entrando da barra pera dentro,
considerando Mem de Sá, e seus adjuntos, a boa estreia da conjuncção do tempo,
resolverão que no próprio dia do Santo acommetessem sem mais demora as
principaes fortificações do inimigo (que vinhão a ser duas aldeas de môr conta,
abastecidas de gente, fossos, cavas, e artilharia, que parecião inexpugnáveis;)
por que era de crer, que quem lhes dava a boa fortuna do tempo, lhes daria
também a do successo prospero. Saltarão em terra, proposerão-se outra vez as
razões, presente o Capitão mór Estacio de Sá, e os que tinhão voto nas armas: e
ajustando-as com as circunstancias presentes, parecerão boas, e que o repente
do assalto causaria maior terror no inimigo incerto do poder, que não depois de
certificado; e nos soldados vindos de novo seria mais firme o esforço, antes de
chegar a considerar o poder contrario. Lançou o Bispo sua benção, encommendárão
os Religiosos o negocio a Deos, concordarão todos em hum voto feito ao Padroeiro
sagrado, e ficou firme a resolução, porém em secreto.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 99-100)
“[...]; e como chegou ao Rio de Janeiro viu que lhe havia custar mais do que
cuidava, como lhe custou; porque o achou fortificado dos franceses na terra
firme, onde tinham feito cercas mui grandes e fortes de madeira, com seus
baluartes e artilharia, que lhes umas naus que ali foram carregar de pau
deixaram, com muitas espingardas. Nestas cercas estavam recolhidos com os
franceses os índios tamoios, que estavam já tão adestrados deles, que pelejavam
muito bem com suas espingardas, para o que não lhes faltava pólvora nem o
necessário, por de tudo estarem bem providos das naus acima ditas.” (Souza,
1587)
Restabelecida a segurança publica [na Capitania de
Ilhéus], providenciada as cousas do bem
comum, [men de Sá] mandou surgir a
Esquadra, soltando as vélas no 1º de janeiro de 1567 para esta recém fundada
cidade, onde fundeou aos 18 de janeiro, vésperas do martyr S. Sebastião,
acompanhado do Veneravel Anchieta, e de varias pessoas nobres, além das tropas
que pôde ajuntar. Chamou a Conselho, apenas fundeado, a Estacio de Sé e aos
principaes Officiaes e pessoas nobres e condecoradas, concertando com elles o
plano de atacar aos inimigos no dia seguinte que era do Santo Padroeiro
solemnisado: [...] Sabia-se que os
inimigos se tinhão fortificado em duas aldêas abastecidas de gente, fossos, e
cavas com estrepes, e com artilheria dos Francezes assestada, as quaes se
chamavão Uruçumeri e Paranapucui. Unanimente foi resolvido se partissem a
ataca-las [...]” (Lisboa, 1834, Vol
I, pg. 108)
“Chegados ao Rio de Janeiro, reuniram-se em conselho
os que eram para isso, e foi assentado que no dia immediato, isto é no da
invocação do Santo Padroeiro da cidade, se buscasse o inimigo em seus próprios
alojamentos. Haviam-se estes fortificado em duas grandes estâncias Ficava a
primeira, chamada de Uruçú-merim, junto
á foz do ribeiro da Carioca, hoje denominado do Catete; isto é, no fim da praia
ora dita do Flamengo. Era um forte intrincheiramento que dispozera Bois le
Comte. A outra ficava na ilha maior da enseada, chamada pelos índios Paranápecú e pelos nossos do Maracaiá
ou do Gato; porque o chefe dos índios alcunhados Maracayás ou Gatos bravos ahi
residia. Era esta ilha a que pouco depois se denominou, como ainda hoje, do
Governador, por haver sido metade della dada de sesmaria por Men de Sá a
Salvador Corrêa, ao depois governador do Rio de Janeiro; cabendo a outra metade
ao almoxarife regio Ruy Gonçalves.” (Varnhagen, 1877, vol.
I, pg. 306)
As operações
militares são nesta fase ainda pior conhecidas do que as de 1560. A frota portuguesa
era formada dos navios que estavam com Estácio (3 galeões, incluindo a Santa
Maria e o São João, 1 galeota de 10 remos, de Paulo Dias Adorno, 6 caravelas e
outros navios pequenos), junto com os que vieram com Men de Sá e o capitão-mor Cristóvão de Barros (3 galeões, dois navios do rei de Portugal que já
estavam no Brasil, e 6 caravelões). Há, também, o reforço em homens, o que permite
criar um têrço de infantariacom a gente de Salvador, de Porto Seguro e de
Pernambuco.
Em
19 de janeiro, Men de Sá realizou um conselho de guerra e se decidiu atacar no
dia seguinte, dia do Padroeiro da cidade; além disto um ataque imediato teria a
vantagem da surpresa pois os inimigos ainda não sabiam da chegada do reforço da
Bahia. Em 20 de janeiro de 1567, dia de São Sebastião, Estácio
de Sá (1510-1567) atacou Uruçumirim. As forças portuguesas consistiam de 2
batalhões de Infantaria da Armada e, junto com os temiminós, chefiados por
Araribóia, perfaziam um total de cerca de 420 combatentes. As forças inimigas eram
formadas por centenas de índios tamoios, chefiados por Aimberê, e entre 7
(Vasconcellos e Southey) e 11 (Silva, Varnhagen e Veríssimo) franceses apenas.
Os detalhes da batalha são desconhecidos. Também não se sabe se os portugueses
marcharam por terra desde a cidade do Rio de Janeiro, perto do Morro Cara de
Cão, através das praias de Botafogo e Flamengo, ou se foram por mar e desembarcaram
na Praia do Flamengo, próximo ao Morro da Glória. Os navios bombardearam as
posições inimigas na aldeia e depois as tropas portuguesas e temiminós
escalaram e tomaram de assalto a aldeia. Alguns autores dizem que, em um
episódio com contornos de lenda, Arariboia teria atravessado as águas da baía a
nado para liderar o assalto e, galgando os penhascos, foi o primeiro a entrar no baluarte inimigo;
empunhava uma tocha, com a qual explodiu o paiol de pólvora, abrindo caminho
para o ataque. Entre 2 (Vasconcellos e Southey) e 6 (Varnhagen) franceses
morreram no ataque e os outros restantes (Silva 9 ou 10, Vasconcellos, Lisboa,
Southey e Varnhagen 5) foram aprisionados e enforcados no dia seguinte à
batalha. Aimberê, líder à época da confederação dos tamoios, morreu no combate
e sua cabeça (e as de outros líderes indígenas) foi cortada e exibida numa
estaca. Segundo algumas fontes, seiscentos tamoios morreram na batalha de
Uruçumirim e 11 ou 12 portugueses. Ao ataque, seguiu-se uma matança noturna, da
qual as forças portuguesas e temiminós saíram vitoriosas. No ataque a
Uruçumirim Estácio foi ferido por uma flecha no olho, vindo a falecer um mês
após. Em seu lugar foi nomeado Capitão-mor a Savador Correa de Sá. O outro
chefe lusitano, o Capitão de mar e guerra Gaspar Barbosa, também pereceu no ataque.
O padre jesuíta José de
Anchieta (1534-1597), cronista da campanha, reportou o seu saldo à época:
"160 aldeias incendiadas, passado
tudo a fio de espada".
“22. [...] dei
hordem com que loguo se combateo a fortalleza de biraoaçu merin [Uruçu-mirim] / grande primcipall e muito guerreiro o
qual estaua em um paço muito allto e majs fragoso com muitos francezes e
artilheria a quall foy combatida com tanto animo que posto que foram mortos e
feridos muitos dos cristãos não se sentyo menos feruor no cabo que no começo
tee que Renderão e catiuaram nove ou dez francezes matarão outros onde estaçio
de saa foi ferido de uma frechada do que morreo.” (Silva, 1570)
“Desembarcando o governador em terra,
tiveram os portugueses grandes escaramuças com os franceses e tamoios; mas uns
e outros se recolheram contra sua vontade para as suas cercas, que logo foram
cercadas e postas em grande aperto; mas primeiro que fossem entradas custou a
vida a Estácio de Sá, sobrinho do governador, e a Gaspar Barbosa, pessoa de
muito principal estima, e a outros muitos homens e escravos, e contudo foram as
cercas entradas e muitos dos contrários mortos e os mais cativos. E como os
tamios não tiveram entre si franceses, se recolheram pela terra dentro, donde
vinham muitas vezes fazer seus saltos, do que nunca saíram bem.” (Souza, 1587)
“101 Descansarão o dia da
vespora do Santo (se descansar permitem grandes cuidados) e ao romper da manhãa
do seguinte dia estavão dispostos a rompimento dous batalhões, tirados da flor
da Infantaria da armada, e arraial, a cargo do Capitão mór Estacio de Sá: e
feita primeiro breve falla com o nome do Santo Padroeiro na boca, acommetêrão
igualmente a ferro e fogo a fortificação principal: era esta a de Uraçúmiri,
mais difficultosa por sitio, e presidio maior de Tamoyos, e soldados Franceses:
e depois de vários successos, encontros, e recontros (porque estava pertinaz, e
mui forte) foi entrada, e vencida, com estrago lastimoso, por que dos Tamoyos
não ficou hum com vida. Dos Franceses morrerão dous no conflicto, e cinco que
houverão ás mãos os Portugueses, forão pendurados em hum páo, pera escarmenta
de outros: á vista de tão triste espectaculo, ficarão tremendo as demais aldeas.
102 Morrerão dos nossos onze, ou doze; entre os quaes o de mais conta foi hum
Gaspar Barbosa, Capitão de mar e guerra, e juntamente da jurisdição de Porto
seguro, homem de grandes partes, de muito esforço, e virtude, grande devoto da
Companhia, [...] que
sahio da briga mal ferido o Capitão mór Estacio de Sá [...]”. (Vasconcellos,
1623, Livro III, 101-102)
“[Men de
Sá] se embarcou e chegou brevemente ao
Rio, onde em dia de São Sebastião, vinte de janeiro do anno de mil quinhentos e
sessenta e sete, acabou de lançar os inimigos de toda a enseada, e os seguio
dentro de suas terras sujeitando-os ao seu poder, e arrasando dous lugares em
que se havião fortificado os Francezes, posto que em hum delles, que foi na
aldêa de hum Indio principal chamado Iburaguassù mirim, que quer dizer “ pau
grande pequeno, ” lhe ferirão seu sobrinho Estacio de Sá de huma mortífera
frechada, de que depois morreo.” (Salvador,
1627, pg. 79)
“O dia 20 seguinte , dedicado pela Santa Igreja a
memoria solemne do seu grande Mártir, e Santo Sebastião , à cujo patrocínio
estava o vencimento, foi o da execução a ferro, e fogo, sobre Uruçúmiri , uma
das Aldeias mais difficeis pelo sitio , sua fortificaçao , e também auxiliada
por soldados seus alliados, os quaes , juntos com os da Aldeã , sem lhes
aproveitar a resistência , pagaram a intrepidez, ficando mortos no Campo. Uma
frecha disparada entaõ do arco dos contrários , atravessou infelizmente o rosto
de Estácio de Sá , que depois de um mez de conflicto terminou os dias cheio de
gloria [...]”. (Araújo, 1820, pg. 21)
“Descançada a soldadesca,
e os demais valerosos combatentes no dia da chegada, ao romper do seguinte,
depois de ouvirem todos mui devotamente Missa, invocarão o auxilio Divino [...] o Capitão Mór Estacio de Sá á frente dos
batalhões formados em flor da Infanteria da Armada, e dos habitantes povoadores
da Cidade, falou aos soldados [...] A
voz do assalto na principal Praça de Uruçumiri foi respondida com os gritos de
Victoria , pois que os soldados com briosa ostentação de valor a tomarão
immediatamente por assalto, não escapando hum só dos Francezes que defendião os
entrincheiramentos, com os Tamoios, os quaes ficárão mortos, aprisionando-se
cinco que padecerão o ultimo supplicio.” (Lisboa,
1834, Vol I, pg. 109-110)
“Estando tão próximo o dia de S. Sebastião
differiu-se o ataque até a bem aventurada manhã, para investir então Uraçumiri,
o forte dos Francezes. Foi o logar levado de assalto, e dos Tamoyos não escapou
um so : morrerão dous Francezes, e cinco, que cahirao prizióneiros, forao
enforcados, segundo o feroz systema de guerra que os Europeos seguião na
America. [...] Mas Estacio de Sá recebeu na primeira acção
uma frechada no rosto, morrendo da ferida um mez depois. Em seu logar foi
nomeado capitão mór Salvador Correa de Sá parente d’elle.” (Southey, 1822, pg. 422)
“A primeira tranqueira, na
terra firme, foi tomada logo de assalto; e de onze Francezes que
ajudavam a defendel-a, caiíam mortos seis, e foram os outros cinco passados á
espada.” (Varnhagen,
1877, vol. I, pg. 254)
“Dois dias
depois, a 20 de janeiro, dia de São Sebastião, Men de Sá, inicia as operações,
que vão comportar duas ações: uma sôbre Biruaçú mirim (Glória) feita por tropa
de terra; e outra, três dias depois, sobre a ilha do Governador: […] O combate de
Biruaçú mirim dura pouco. Os franceses, reduzidos a onze combatentes, abandonam
a posição e se acolhem a quatro navios de que ainda dispunham e vão, uns para a
ilha do Governador, outros para Cabo Frio. Infelizmente no ataque, Estácio de
Sá, ferido por uma flecha no rosto, tem pouco mais de um mês de vida. […] Mas como se dá o ataque a Biruaçú mirim? A
tropa marchara por terra, ao longo da atual praia de Botafogo ou se aproximara,
em canoas, até certo lugar e aí desembarcara? Nada se sabe disso. Apenas se
sabe que as tropas portuguêsas estavam armadas com arcabuzes; que dispunham de
muitos índios flecheiros; que podiam usar o apoio da artilharia de seus
elementos navais. Sendo assim, pode-se admitir que elas tenham feito a sua
aproximação por terra, ladeando o mar, e que os navios menores tenham se
acercado da Glória e bombardeado a posição francesa, antes do ataque da
infantaria.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 133-134)
“E, por que
não houve a perseguição aos inimigos em fuga? Creio que por três razões: a primeira
é que o índio vencido pôde se infiltrar em todos os recantos da floresta e da
região lacustre que lhe ficava atrás; a segunda é que o francês deve haver
preparado a retirada para bordo, reunindo canoas em local seguro e próximo da
Glória; por fim porque o terreno, depois da Glória, era completamente
desconhecido do português e de penetração difícil, a partir da região que é
hoje o Passeio Público.” (Veríssimo, 1970,
RIHGB, vol. 288, pg. 166)
O Entrincheiramento
de Paranapucui, também conhecido como Paliçada da ilha de Paranapuã, era uma
paliçada tamoia provista de artilharia e localizada na ponta do Galeão, na ilha
do Governador. Foi atacada pelos portugueses liderados por Mem de Sá em 23 de
janeiro de 1567, mas como tinha cerca dupla com vala, foi preciso conduzir para
o sitio suficiente artilliaria (provavelmente a aldeia ficava longe demais da
água para que os navios pudessem bombardear a aldeia fortificada), cujos tiros
derrubando as trincheiras e casas, deixaram mortos também os seus habitantes.
Os sobreviventes se abrigaram em uma casa forte entrincheirada e valada, onde
foram obriagados a se render. Diz-se que havia cerca de 1.000 tamoios na
aldeia, com muita artilharia. A lutou durou 3 dias. A sua conquista resultou na
escravização de quase mil tamoios e na consolidação do domínio português na
região. Na batalha teria morrido um português e alguns dos índios. Os tamoios,
vendo o poder dos portugueses fugiram para o interior ou pediram as pazes e se
entregaram.
“23.
Dahi a poucos dias mandei dar em outra fortaleza do parnapocu onde avia majs de
mil homeens de guerra e muita artilheria e três dias a combaterão comtinoamente
/ tee que Emtrarão com muito trabalho e major risquo e mortes de alguns
branquos e depois de se defenderem esforçadamente se Remderão e foram todos
catiuos / [...]” (Silva, 1570)
“103
Concluído com Uruçúmiri, acommeteo a nossa soldadesca o Principal da segunda
aldea, por nome Paranápucuy: porém como estava esta em ilha rasa, chamada do
Gato, foi necessário conduzir artilharia, e bater-lhe as cercas, que erão
dobradas, e fortíssimas: mas em breve tempo forão postas por terra com todas
suas casas, e mortos quantidade dos bárbaros. Fizerão muitos d'elles corpo em
huma casa forte entrincheirada, e valada: porém forão postos em cerco, e apertados
de maneira, que se entregarão a partido da vida, mas não da liberdade. Morreo
dos nossos hum só Portuguez, e alguns dos índios. Á vista d'estas duas
victorias, ficarão os Tamoyos desenganados do nosso poder, e desconfiados do
dos Franceses, que os ajudavão: fugirão huns até parar no mais escondido de
suas brenhas; outros pedirão pazes, que forão concedidas, e constrangidos elles
a guardal-as por medo.” (Vasconcellos, 1623, Livro III, 103)
“Exhalavam
ainda os fumegantes cadáveres dos vencidos na batalha , e os palhaços d'
aquella Aldea de todo se arrasavam , quando a segunda de Paranapucuy , situada
n' uma Ilha rasa, chamada do Gato, sentiu o golpe , que sobre ella se
descarregou : e como as cercas dobradas fortemente a defendiam , foi preciso
conduzir para o sitio sufficiente artilliaria, cujos tiros derrubando as
trincheiras , e casas , deixaram mortos também os seus habitantes , à pesar de
incorporajdos em uma casa forte intrincheirada , e valada. Desenganados os
Tamoyos do valor , e poder dos Portuguezes , principiaram á desconfiar dos
amigos alliados , que mais por negocio , e com o projecto de dominio , que é
titulo simples de protecção ( cujo titulo illusorio, e apparente , apenas
servia de veo a seus dolosos estratagemas ) occupavam o território onze annos
antes. Entaõ , menos fieis , e mais medrosos , seguindo os exemplos de outros
semelhantes , pediram pazes.” (Araújo, 1820, vol I, pg. 21-22)
“Avançarão
os vencedores immediatamente sobre Paranápucuy, outra fortaleza inimiga, que
ficava na ilha dos Gatos, onde tiverão de bater em brecha as fortificações, que erão extraordinariamente
sólidas.” (Southey,
1822, pg. 422)
“Dirigiu-se
immediatamente os vencedores para a Praça fortificada, denominada, como se
disse Paranapucui na Ilha raza dos gatos e para ella conduzirão o seu parque de
artilharia, com o qual começarão a bater as cercas, que erão duplicadas e
fortissimas, e que em pouco tempo cahirão, sendo immediatamente tomada
igualmente por assalto, com grande numero de prisioneiros, escapando-se outros
na ação com os Francezes pela fugida.” (Lisboa, 1834, Vol I,
pg. 110)
“Retiraram-se os fugitivos para a dita ilha maior, ou de
Paranápecú, e então a luta se apresentou mais porfiada. Echoava pelas quebradas
das serras o estrondo da artilheria, zuniam nos ares as frechas despedidas e os
pelouros disparados; fuzilavam os mosquetes, e toda a scena se fazia mais
horrível com os urros bárbaros dos índios. Por fim a victoria se decidiu pelos
nossos, e a forte tranqueira foi assaltada. Infelizmente recebeu na refrega uma
frechada o bravo Estacio de Sá, e da ferida veiu a morrer um mez depois.” (Varnhagen,
1877, vol. I, pg. 307)
“[…]; e outra [ação], três dias depois [23 de fevereiro de 1567], sobre a ilha do Governador: bombardeio naval e, logo após, desembarque
de índios comandados por Araribóia.” (Veríssimo,
1970, RIHGB, vol. 288, pg. 133)
A 3ª
fortificação, guarnecida de muitos franceses, com três cercas fortíssimas,
muitos baluartes e casas fortes, não chegou a ser combatida, pois os tamoios,
desmoralizados com as duas derrotas precedentes, antes de serem atacados,
pediram pazes.
“[...] e
estando prestes pera yr a outra fortaleza mais forte que todas em que estauão
muitos francezes não housarão a esperar e deixarão a fortaleza a qual tinha
três serquas fortíssimas muitos balluartes e casas fortes /e loguo me vierão a
pedir pazes e lhas outorguei com ficarem vassallos de sua alteza [...]”
(Silva, 1570)
Tamoios e
Franceses que escaparam retiraram-se para o interior. Dos franceses pode-se
presumir que muitos tenham buscado as paragens de Cabo Frio onde teriam sido
recolhidos pelos seus compatriotas que ali continuaram ainda por muitos anos a
vir contrabandear pau-brasil. Men de Sá, então, opta por mudar o sítio da
cidade do Rio de Janeiro, da entrada da barra da baía para o Morro do Castelo.
“Pela
derrota de Paranapucui até pedirão os Indigenas a paz, promettendo jamais
quebranta—a; ela lhes foi dada por Men de Sá. Fugirão os Francezes que
escapárão da morte, e represalia para Cabo Frio, e aterrados, perdidos e castigados
da temeridade.” (Lisboa, 1834, Vol I, pg. 112)
“E como Mem de Sá viu que tinha
lançado os inimigos da porta, ordenou de fortificar este Rio, fazendo-lhe uma
estancia ao longo d'água para defender a barra, a qual depois reedificou
Christovam de Barros, sendo capitão deste Rio; e assentou a cidade, que murou
com muros de taipas com suas torres, em que pôs artilharia necessária; [...]. E acabada de fortificar e povoar essa
cidade, ordenou o governador de se tornar para a Bahia, deixando nela por capitão
a seu sobrinho Salvador Corrêa de Sá com muitos moradores e oficiais de justiça
e de fazenda convenientes ao serviço d'El-Rei e ao bem da terra; [...]” (Souza, 1587)
“[...] e
por o sitjo onde estacio de saa hedefiquou não ser que pera majs que pera se defender
em tenpo de guerra / com parecer dos capitais e doutras pesoas que no dito Rjo
de Janeiro estauão escolhi hum sitio que pareçia mais conviniente para
hedefiquar nelle a çidade de são sebastião o qual sityo era de hum grande mato
espeço cheo de muitas arvores e grosa em que se leuou assaz de trabalho em as
cortas e alinpar o dito sitio e hedefiquar huma çidade grande serquada de
trasto de vinte pallmos de larguo e outros tamtos de alltura toda serquada de
muros por sima com muitos baluartes e fortes cheo dartilheria / E fiz a Jgreja
dos padres de Jhezu onde agora Residem telhada e bem comsertada / e a see de
tres naves tambem telhada e bem comsertada fiz a casa da camara sobradada
telhada e grande / a cadea / as casas dos almazeins e pera a fazenda de sua
alteza sobradadas e telhadas e com varamdas / dey orden e fauor ajuda com que
fizesem outras muitas casas telhadas e sobradadas [...] / mamdej vjr muitos moradores muito gado
pera pouoar a dita çidade o qual se daa mujto bem de que a jaa grande criação.”
(Silva, 1570)
“Dos
Francezes poucos cahirão n'estes conflictos; tinhão no porto quarto navios, e
n'estes, vendo assim totalmente derrotados os alliados, velejarão para
Pernambuco, tomando posse do Recife, onde resolverão estabelecer-se. […] Mas Olinda, então uma das mais florescentes
cidades do Brazil, ficava demasiado perto : o commandante d'aquella praça os
atacou, compellindo-os mais uma vez á fuga.” (Southey, 1822, pg. 422)
Enquanto ele
ainda estava erguendo a nova cidade, se rebelaram alguns chefes tamoios que
estavam em umas fortalezas que tinham muitas cercas; Men de Sá imediatamente se
lançou sobre eles, os desbaratou e matou a muitos, fazendo-os novamente pedir
pazes.
“[...]
tendo ysto feito [transferido a cidade para o Morro do Castelo] por se reuellarem huns primçipais que
estauam em humas fortalezas de muitas serquas dei sobre eles e os desbaratei e
se matarão muitos o que foi causa de tornarem novamente a pedjr pazes [...]”
(Silva, 1570)
Após a derrota
dos Tamoios, como recompensa pelos seus feitos, Arariboia recebeu, da Coroa
Portuguesa, primeiramente um terreno no atual bairro de São Cristóvão, que fica
próximo à Ilha do Governador. Posteriormente, em 1573, recebeu um terreno em
São Lourenço (Niterói), onde teria a missão de proteger o outro lado da entrada
da baía de Guanabara. Tal sesmaria recebeu o nome de São Lourenço dos Índios.
Jean de Cointa, que fazia pregações suspeitas de heresias, foi preso como
herege e conduzido à Bahia, onde foi julgado e depois foi executado no Rio de
Janeiro.
“COINTHA
vivia em São Vicente, pregando suas idéias religiosas contra as opiniõess dos
católicos portugueses. Homem de talento, [...]
ele conseguiu impressionar os habitantes
do lugar, a tal ponto que estes o aplaudiam com risos, quando ele ridicularizava
os padres portugueses. Foi, então, que os Jesuitas acorreram àqueles lugares e
aplicaram a lei que ordenava perseguir como heréticos qualquer um que não
professasse a religião oficial e a tivesse em desdém. O Francês foi, portanto, preso
e conduzido com dois de seus companheiros à Bahia, onde ele fica encarcerado durante
muitos anos, na espera da confirmação da sentença que o condenava à pena suprema.
Esta confirmação, enfim, tendo chegada de Portugal, foi ordenado que Jean COINTHA
fosse transferido da Bahia ao Rio de Janeiro para lá ser enforcado, isto em vista
de intimidar os Franceses que permaneciam nas florestas daquelas paragens, misturados
aos selvagens. E foi assim que, no corrente mês de agosto de 1567, Jean COINTHA
termina seus dias no Rio de Janeiro, pendurado pelo pescoço no patíbulo...” (Lima-Barbosa,
1923, pg. 96).
“6 [...] Foy substituido
no lugar deste Capitam Saluador Correa de Sà consobrinho seu, & sobrinho do
mesmo Gouernado Mem de Sa, que proseguio a empreza , como logo veremos , &
propagou a mui nobre família dos Sas nesta Capitania, a qual por successam continua,
[...] (Vasconcellos, 1672, Livro II, Capítulo XIII, 6)
f) Ano de 1568:
Ataque Tamoio à aldeia de Arariboia em Niterói
Em 08 de junho de 1568, 4 navios, 8
lanchas de guerra francesas e várias canoas dos tamoios entraram na baía da
Guanabara e foram para Niterói para atacar a aldéia de São Lourenço, chefiada
por Araribóia, com o objetivo de prendê-lo. A sua entrada na baía não pode ser
impedida, pois ainda não haviam sido construídos os fortes na entrada da barra
da baía. Salvador Correa de Sá, governador do Rio de Janeiro, imediatamente
mandou fortificar o Rio de Janeiro e os homens se armar, além de avisar Araribóia.
Mandou, também, avisar Mem de Sá na Bahia e pediu reforços a São Vicente. Arariboia
entrincherou sua aldeia com uma cerca de pau-a-pique e mandou retirar para um
esconderijo os índios que não pudessem lutar, nela só ficando os guerreiros e
os padres jesuítas. Os franceses e tamoios, confiantes na vitória,
desembarcaram e passaram o dia todo descançando, sem atacar. Os portugueses mandaram
durante a noite, sem serem percebidos, um pequeno contingente comandado pelo
capitão Duarte Martins Mourão, para ajudar Araribóia, levando junto, numa
grande canoa, um falcão pedreiro. Tendo bem posicionado o falcão, ainda de
noite, e, apesar de estar em inferioridade numérica, Araribóia mandou cruzar a
cerca e atacar os inimigo de surpresa. O plano de Arariboia era de atacar os
inimigos de surpresa, na confusão da noite, antes que estes se formassem em
ordem de batalha. Além disto, em um combate corpo-a-corpo, os canhões franceses
seriam inúteis. Após uma luta noturna encarniçada e confusa, os franceses e
tamoios fugiram para os navios, que estavam encalhadas devido à maré baixa. O
falconete fez estragos sobre os soldados franceses, matando muitos deles na
praia e nos navios, enquanto os navios franceses não podiam atirar com seus
canhões devido à inclinação dos navios encalhados. De manhã, quando a maré
subiu e eles puderam se fazer ao mar; os tamoios fugiram em suas canoas para
cabo Frio. Alguns dias depois, com a chegada dos reforços de São Vicente em
canoas, Salvador Correa de Sá foi se informar da situação em cabo Frio e ficou
sabendo que as 4 naus franceses já tinham fugido, mas havia chegado uma nova
nau francesa. O governador realizou um conselho e decidiram atacá-la, indo nas
canoas. Os vigias tamoios alertaram a nau francesa que subestimou as canoas
lusitanas. Então, na madrugada os portugueses cercaram a nau francesa e
puseram-se junto a ela, de forma que ela não pudesse atirar com os canhões
contra as canoas porque os tiros saíam pelo alto e ficavam as canoas debaixo;
as demais armas de fogo ficaram inefetivas, porque os índios atiravam as flechas
pelos bordos de maneira que não era possível chegar a eles sob pena de morte.
Os portugueses, então, atacaram a nau, escalando-a, com intensa luta
corpo-a-corpo. Os portugueses e temiminós escalaram o convés tres vezes, mas
como ao entrar ficavam a peito descoberto, foram repelidos com os piques, e com
alcancias de fogo. Nestes ataques o Governador Salvador Correa de Sá caiu 3
vezes ao mar armado, sem saber nadar, e três vezes foi resgatado pelos índios
das canoas. O capitão francês comandava a resistência, armado com 2 espadas e
defendido por uma armadura, que impedia ser ferido pelas flechas, até ser morto
por uma flechada nos olhos. Com isto os demais franceses abandonaram o convés e
se recolheram para baixo da coberta e em breve se renderam.
“[...] o qual Salvador Corrêa defendeu esta cidade alguns anos mui
valorosamente, fazendo guerra ao gentio, de que alcançou grandes vitórias, e
dos franceses, que do Cabo Frio os vinham ajudar e favorecer; aos quais foi
tomar dentro do Cabo Frio uma nau que passava de duzentos tonéis, com canoas que
levou do Rio de Janeiro, com as quais a abalroou e tomou à força de armas.” (Souza,
1587)
“Aconteseu que estando aly [em Cabo Frio] humas coatro náos [francesas], os Tamoyos magoados de Martim Afonso
rogarão as francezes que antes de partirem, os ajudasem a ir tomar aquelle
comum imigo. Vierão nisso os francezes, derão vella com as coatro náos e outo
lanchas, carregadas de gente de gerra dos Tamoyos, alem das canoas sem conto
para lansarem gente em terra. Ao passar por defronte da cidade, não ouue rezistençia
porque ainda não auia, fortaleza na barra, nem ao longo da praya. Preguntarão
os nossos, para onde era, a ida, responderão das náos, que hyão tomar a
Martinho, e entregalo aos Tamoyos, os nossos acodirão que não soo com Martinho
hoauião de auer mas também com elles. O G.dor forteficou a cidade,
recolhendo a gente que auia para qualquer couza que o imigo intentase, e logo
mandou a Capitania de São Visente pedir socorro de gente canoas e armas, e o
Indio tambem se fes o mesmo na sua aldea, atrincherandoa toda em roda de páo a
pique, não tendo dentro mais que a sua gente e os padres da Companhia para se
esforçarem na pelleija; desembarcarão os inimigos, assy francezes muy bem
armados, como ho gentio Tamoyo que cobrião a praya e campos, nesta conuinçam acodem
alguns, moradores a aldea, dos quoaes foy hum Duarte Martins Mourão, e leuando
de noite hum falcão pedreiro, em huma grande canoa, o meterão na aldea, sem
serem sentidos, do imigo, vendo Martim A.o este socorro se alegrou,
grandemente, e com os olhos cheos de lagrimas, de contemtam.to dise:
isto estaua eu esperando de tão bons amigos, e chamando pellos seus lhes falou
desta maneira. [...] saltão logo na
trincheira abrem toda a aldea armados de confiança em Ds [Deus], e esforçados com o exemplo dos portuguezes
dão nos imigos. Entretanto o nro comesa ha fazer seu offiçio, nas náos que
ficarão em sequo na baixamar, matando a m.tos dentro nellas e pella
praya, e posto que os imigos fizeram muita resistençia, finalmente puzerão em
fugida aos contrários, e seguindo o alcanse fizeram nelles muy grande estrago,
com pouqua perda dos nossos, e as náos uindo a mare se forão ao alto e se
consertarão e tornarão na volta do cabo Frio, bem detrosadas e faltas de gente
com que a terra ficou desassombrada, e os contrários abatidos, com as forças e
ânimos quebrados. [...] O G.dor
da cidade Sauador Correa de Sá, ajudando a Martim A.o com os
soldados que pode goardou a cidade de maneira, que os imigos a não ouzarão acometer; dahy a alguns dias
chegou o socorro de São V.te e o G.dor ao Cabo Frio a
tomar lingoa e saber o que pasaua,e achou serem ja as coatro náos partidas sua
viagem, e ser chegada outra de nouo com muita mercadoria, tratou então com os
soldados, e Indios principáes, o que farião, e vendo, que todos estauão desejozos
de peleijar, os seus alentados com a vitória pasada e os de São Visente por não
tornarem as suas casas sem fazerem nada, determinou a ir em pesoa com a gente
de gerra ha comter a náo, com canoas; partirão do Ryo e tanto que chegarão há
serta paragem donde as espias dos Tamoyos os uirão, auisarão aos franceses, que
zombarão bem de poder ser tomada sua náo com os corchos do Rio de Janeiro, que
assy chamão as canoas de gerra; comtudo consertarão a náo com sua xareta e
artelharia, elles armados para defender, nisto chegarão as canoas na madrugada,
e serquão a náo pondose ao socairo della, de modo que os tiros lhe não pudessem
fazer dano, donde defendem que nhum françes chegue a bordo sob pena de pena
(sic) da frecha; cometerão os nossos a entrada mas forão rebatidos com piques,
e outras armas, e com alcanzias de fogo, e entre outros o mesmo G.dor
foy tres uezes ao mar, armado e sem saber nadar, mas em caindo logo os soldados
e Indios o tirauão e punhão em saluo, foy a briga muy trauada de parte a parte
em q.to o Capitam franses andou em pee peleijando muy esforçadamente
com duas espadas, e como estaua todo armado, o não podião as frechas ferir,
ainda que lhe davão m.tas; espantado disto, hum Indio da terra,
preguntou se tinhão aquellas armas algum lugar por onde lhe pudesse meter
alguma frecha, e dizendolhe que soo pella vizeira, lhe apontou huma tão serta,
que o deribou e matou com ella; vendo os mais o seu Capitão morto e a m.tos
dos seus mal feridos, se recolherão abaixo, aonde não escaparão porque o G.dor
com os seus o entrarão e renderão; os Tamoyos que estalão escaldados de fresco,
virão a briga de terra, mas nhum se atreueo a ajudar a seus amigos.”(Rodrigues,
1607, pg. 216-218)
“Posto que o Governador Geral Men de
Sá, antes que se viesse pera Bahia, deixou limpa a do Rio de Janeiro dos
inimigos Tamoyos, elles se acolherão ao Cabo Frio, que dista do Rio 18 legoas,
e ali se fizeram fortes, e sahião a dar alguns assaltos aos de S. Vicente
ajudados dos Francezes, á conta de elles mesmos também os ajudarem a cortar páu
brasil, pera carregarem suas náus, que há muito naquelle cabo ; e a tanto
chegou o seu atrevimento, que juntando a oito náus Francezas as canoas que
puderão, se embarcarão huns e outros, e entrarão pelo Rio de Janeiro, e
passando á vista da Cidade de S. Sebastião, forão surgir em um porto de huma
aldêa, que distava da Cidade huma legoa, a qual era dos Indios confederados, e
amigo dos Portuguezes, onde estava por principal hum de grande animo, e
esforço, que nas guerras passadas havia feito grandes façanhas em defensa do
nome Christão, e dos Portuguezes: seu nome brasil foi Arariboia, e no baptismo
chamou-se Martim Affonso de Souza, como seu o padrinho senhor de S. Vicente,
que o padrinhou quando vio á sua Capitania no anno de mil quinhentos e trinta.
A este vinhão os Tamoyos ajudados dos Francezes saltear e prender, pera fazerem
em sua terra hum solemne banquete de suas carnes, segundo elles os mandarão por
hum mensageiro dizer ao capitão mór Salvador Correa de Sá, o qual temeroso que
tomada a aldêa tornassem sobre a Cidade, a fortificou muito á pressa, e mandou
aos moradores, e soldados que estivessem em armas, e não menos solícitos da
saúde do Indio amigo lhe mandou logo socorro de gente Portugueza / ainda que
pouca, / animosa, e governada por Duarte Martins Mourão, seu capitão. Avisado o
valorosos Indio Martim Affonso de Souza, cercou logo a sua aldêa de
trincheiras, e detendo só nella os que podião pelejar, mandou sahir toda a
gente inútil, e escondel-a em parte segura, e elle com grande animo esperou os
inimigos, os quaes desembarcados em terra, e a seu prometer seguro da vitória,
nenhuma cousa fizeram aquelle dia, dilatando a batalha para o dia seguinte.
Donde os nossos, que vierão de socorro, ajudados da obscuridade da noite
puderão pôr em um bom local hum falconete, que em uma grande canôa havião
trazido pera aradarem (arredarem?) com elle os inimigos. Esforçado mais o
valoroso Indio com este socorro, e animando os seus, mandou romper as
trincheiras, e appelidando o nome de Jesus e de São Sebastião, acommetter o
inimigo, antes que se concertassem em esquadrões ; os Indios alentados com a
voz do seu capitão e animados com o exemplo dos Portuguezes, cerrarão com os
inimigos desconcertados, os quaes, ainda por serem mais em numero, lhe
resistirão fortemente, em fim virarão as costas, não podendo soffrer a força
dos Portuguezes, e Indios confederados. Os nossos os seguirão, e com pouco
damno seu, fizeram grande matança, porque as náus Francezas, acostando-se
demasiadamente á terra, com a vasante da maré, havião ficado em secco, e o
falconete, chovendo sobre ellas huma tempestade de pedras, matava, e feria
muitos marinheiros, que nellas estavão, e soldados que se embarcavão, athé que
tornando a crescer a maré se fizeram ao mar, perdidos muitos Francezes, e ellas
maltratadas ; os Barbaros destroçados com difficuldade saltarão em as canôas, e
perdidos os brios, e desfeitas as forças, em companhia das náus Francezas
tornaão pera o Cabo Frio, e os que carregados de armas sahirão de sua terra
ameaçando que havião despedaçar com seus dentes a Martim Affonso, deixarão em o
campo espalhados muitos dos seus, pera que com seus bicos os despedassem as
aves. Os Francezes reparadas suas náus, e carregadas de páu brasil, se tornarão
nellas á sua pátria.” (Salvador, 1627, pg. 82-83)
“131 [...] Aqui [Aldeia de São Lourenço em Niterói], depois de assentada sua aldea, intentarão
as relíquias dos Tamoyos vencidas, que possuião o Cabo Frio, inimigos seus
capitães, havel-o ás mãos, e fazer d'elle hum alegre banquete. Acharão occasião
a propósito; porque havendo de carregar em séu distrito de páo brasil quatro
náos de Franceses, pedirão-lhes que antes de partirem fossem seus Capitães
n'este acommetimento: e como dependião os Franceses em suas drogas d'estes
bárbaros, houverão de condescender com seus intentes. Derão á vela as quatro
náos, oito lanchas guerreiras, e hum numero de Canoas sem conto. Entrarão a som
de guerra a barra do Rio de Janeiro, ainda então sem forças, nem artilharia que
lhe impedisse o passo; e como nem a mesma cidade estava cercada, tevesse por
perigoso o caso, porque o inimigo chegou inopinadamente: seu poder era grande,
o nosso mui fraco; e se acommetêrão corria risco n'aquelle dia a cidade.
Fizerão os nossos coração, mandarão Embaixadores aos Franceses sobre o intento
de sua vinda: responderão que elles hião a entregar nas mãos dos Tamoyos a
Martim Affonso de Sousa. Ficou mais desassombrada a cidade, posto que receosa
que levando victoria do índio voltassem sobre ella. Mandou o Governador a toda
a pressa a S. Vicente em busca de soccorro de canoas, e gente, preparou
trincheiras, ordenou que todos estivessem em armas, e despachou aviso a toda a
pressa, com algum soccorro que pôde, a Martim Affonso de Sousa, de cujo
successo dependia o nosso, e a quem devíamos favorecer por benemérito da
republica toda. 132 Ao som do aviso não desmaiou o valeroso índio: pôz logo em
cerca de vallos e estacada sua aldea, e recolhendo somente os que erão de
guerra, e os Padres da Companhia Gonçalo de Oliveira, e Balthasar Alvares, que
com elles estavão, mandou sahir toda a gente inútil a lugares seguros, e
esperou com grande coração, e esforço o inimigo. Desembarcou este em terra, e
virão então que era seu poder formidável em comparação do com que se achavão;
porque as quatro náos jogavão multa artilharia, as oito lanchas lançarão de si
summa de Franceses de armas de fogo: as canoas tão grande multidão de Tamoyos,
que cobrião as praias, apercebidos todos, como aquelles que vinhão á effeito,
133 Porém no mêio d'esta perplexidade, traçava o Ceo hum sucesso de fama; e foi
assi, que os inimigos dando por certa a victoria, aquelle dia que sahirão em
terra quizerão descansar, e não fizerão fiada. Succedeo que aquella mesma noite
entrou n'ella o soccorro que tinha despedido o Governador da Cidadie de poucos
Portugueses, mas de effeito, com alguns índios: tudo capitaneava Duarte Martins
Mourão, homem de valor. Visto este soccorro, chorou de alegria o Capitão Martim
Affonso, e depois de exagerar aos seus grandes louvores da lealdade dos Portugueses,
que em tão apertada occasião se não esquecerão d'elles, e depois de trazer-lhes
á memória as façanhas de seus antepassados, e as que elles tinhão obrado na
continuação d'aquellas guerras tão prolongadas, tomou huma resolução digna de
coração esforçado; e confiado no valor dos seus, e no silencio e escuro da
noite, mandou romper as cercas, e appellidando o nome de Jesu, e do Martyr S. Sebastião,
acommeteo o inimigo de improviso. Travou-se aqui huma bem ferida batalha;
porque os nossos, á voz e exemplo de seu Capitão, parecião leões; e como derão
em corpo desconcertado, fazião no inimigo grande estrago: por outra parte a
mesma multidão fazia resistência, e pelejavão fortemente os mais esforçados;
mas como sem ordem, e entre a confusão da noite, houverão por fim de voltar as
costas, e pôr-se em fugida. Seguirão os nossos o alcance, e com pouco damno
recebido, fizerão huma grande matança, castigando o atrevimento dos bárbaros, e
desafrontando sua gente. 134 Em quanto huns e outros soldados andavão occupados
na briga, as náos francesas que estavão junto á praia, com a vazante da maré
ficarão em seco, e fizerão pendor de maneira, que não podião jogar artilharia;
o que advertindo alguns dos nossos, assestárão contra ellas hum falcão
pedreiro, que tinha vindo no soccorro, e vomitando nos convezes virados a terra
á mão tente nuvens de pedras, matarão muitos dos Franceses, e destroçarão
alguma enxarcea miúda. Acabada esta memorável victoria, clareou a manhãa, e
virão então suas magoas; e mal puderão as relíquias dos Franceses reduzir-se a
suas náos, e as dos Tamoyos a algumas de suas canoas. Assi confusos, e
envergonhados desembocarão a barra, com menos brios dos com que entrarão.
Fizerão resenha, e achárão-se mui raros, e que levavão que chorar largos
tempos; e aquelles que sahindo soberbos, vinhão ameaçando banquetes das carnes
dos contrários, deixavão agora semeadas as praias de seus defuntos corpos.
Chegarão ao Cabo Frio, planteárão os Tamoyos seus mortos, e os Franceses
repararão seus navios, e se partirão menos alegres a suas terras, deixando com
esta ultima victoria o Rio de Janeiro desãssombrado. Soube do caso El-Rei D.
Sebastião, louvou o esforço do índio, mandou-lhe peças de estima, e entre ellas
hum habito de Christo com tença, e hum vestido de seu próprio corpo. 135 N'este
tempo chegou o soccorro que o Governador mandara pedir a S. Vicente; e achando
concluído o a que vinhão, tomarão em ponto de honra voltar-se sem fazer effeito
de guerra. Mandou o Governador que fossem ao Cabo Frio, fazer alguns assaltos n'aquelles
inimigos, menos pujantes já, e tomassem lingoa do que se passava entre elles.
Achárão que erão partidas as quatro náos Francesas, e que em seu lugar tinha
chegado huma bem artilhada, carregada de mercadorias: voltarão com a noticia; e
como estavão os do Rio victoriosos, e os de S. Vicente desejosos de pelejar,
vierão todos facilmente em que fossem com suas canoas acommeter e render aquella
náo Francesa. Partio o mesmo Governador em pessoa com gente de effeito, e
chegando a ser avistados dos montes do Cabo Frio, fizerão os Tamoyos aviso aos
Franceses, entre os quaes servio de riso o poder de pequenas canoas contra huma
náo artilhada, de porte de mais de duzentas toneladas. Porém chorarão logo o
que rirão; porque as canoas acommeterão huma madrugada por huma e outra parte,
e ganharão de repente os costados; d'onde por mais que a náo estava preparada
de artilharia, enxaretada, e guarnecida de soldados armados, e artifícios de
fogo, a artilharia não fazia effeito, porque jogava pelo alto, e ficavão-lhe as
canoas debaixo: e da mesma maneira todas as mais armas de fogo ficarão
frustradas; porque as frechas varejavão os bordos de maneira, que não era
possível chegar a elles sob pena de morte. Já n'este tempo sentião os Franceses
a força das pequenas canoas, e julgavão que não era cousa de riso. Acommeterão
os nossos a subida tres vezes; mas como ao entrar ficavão a peito descoberto, forão
rebatidos com os piques, e com alcanzias de fogo: e n'estes encontros três
vezes cahio o Governador ao mar armado, sem saber nadar, e três vezes foi livre
pelos índios, que no mar são o mesmo que peixes nadadores. 136 Durava a briga
mui travada de parte a parte: o principal que defendia o convés esforçadamente,
era o Capitão da náo, vestido de armas brancas, jogando de duas espadas, e
acudindo com valor a todos os sucessos : entenderão os nossos, que n'este
consistia a gadelha do inimigo; mas como andava armado todo, não podião as
frechas penetral-o. Entrou em zelo hum destro frecheiro, perguntou se tinhão
aquellas armas algum lugar, por onde entrasse huma frecha? Disserão-lhe que
pela viseira: bastou o ditto, disparou a frecha, deo no mesmo lugar,
penetrou-lhe o olho, e o-interior da cabeça, e deo com o armado Capitão no
convés, e com os corações dos soldados por terra; porque vendo defunto seu
Capitão, e muitos soldados mal feridos, desmaiados se recolherão a baixo da
coberta. Entrarão os nossos, e a breves lanços rendidos os Franceses, se
fizerão senhores da náo, á vista dos mesmos Tamoyos contrários, que como
escaldados, não se atreverão a ajudar seus amigos. Mandou o Governador dar á
vela, e entrou com a náo em o Rio. Deo saco aos soldados, que em breve tempo
apparecérão todos vestidos dos melhores panos. A artilharia applicou pera
defensa da cidade, e veem-se hoje algumas das peças na fortaleza de Santa Cruz
na barra. A náo mandou ao Governador Mem de Sá seu tio, com relação do caso; e
ficou elle com gloria de tão grande empresa, não tomando cousa alguma de despojo
para si; Estes últimos feitos acrescentarão grande terror ás nações estranhas,
e vierão d'alli em diante com mais
cautela a estas
partes.” (Vasconcellos, 1623, Livro
III, pg. 131-136)
“40 Salvador Correa de Sá, Governador
da nova Cidade do Rio de Janeiro, teve brevemente occasiaõ de mostrar de novo o
seu valor, e disposiçaõ; porque havendo chegado ao Cabo Frio quatro nãos
Francezas a buscar o pao Brasil, foraõ persuadidas daquelles Gentios (de cuja amizade pendiaõ as conveniencias da sua navegaçaõ) a que os
ajudassem contra Martim Affonso de Sousa, Indio notavel por esforço, e amizade
com os Portuguezes, chamado antes do Bautismo Ararigboya, ao qual levara Mendo
de Sá do Espirito Santo com a sua Aldea, de que era Principal, para a guerra do
Rio de Janeiro, em que nos ajudou com a sua gente, e com muito zelo, e valor:
causa, pela qual se lhe tinha dado hum sitio para a sua habitaçaõ, huma legoa
distante da Cidade. 41 Pela barra ( sem ter ainda as defensas necessárias para
lhes fazer opposiçaõ) entraraõ as quatro naos Francezas, com oito lanchas, e
inumerável copia de canoas, publicando, que hiaõ contra Martim Affonso,
aprendello, e a entregallo áquelles Gentios de CaboFrio, a quem assistiaõ com o
seu poder, como a seus confederados , e mostrando naõ ser contra as nossas
armas aquella açaõ, como se nos naõ tocara por muitos princípios a defensa de
hum Capitaõ, que naõ havia incorrido no odio daquelles Gentios por outras
causas mais, que por haver recebido a nossa Fe, e permanecer constante em nossa
uniaõ, e vassallagem, obrando valerosas acções
em prova da sua fidelidade. 42 Logo mandou o
Governador Salvador Correa soccorro de gente a Martim Affonso, e receando, que
se elle fosse vencido, iriaõ os inimigos triunfantes sobre a Cidade mal
fortificada, e nos principios da sua fundaçaõ sem meyos, para resistir a huma
invasão de tanto apparato, taõ inopinada, como grande, mandou logo pedir as
Villas de Santos , e S. Vicente socorros de gente e canoas, que ajudassem a
defender á Praça, à qual applicou as defensas, que permittiraõ o tempo e a
necessidade. Desembarcaraõ das oito lanchas grande quantidade de Francezes, e
das canoas huma multidaõ de Indios, á vista da Aldea de Martim Affonso, e tendo
por taõ segura a preza, que suppunhaõ lhes naõ escaparia das maõs, determinaraõ
acometello no outro dia, e passar em soccego aquella noite , anticipando o
descanço ao triunfo. 43 Porém no mayor silencio, e escuridade della, sendo
acometidos pelo famoso Indio com a sua gente, e com os nossos Soldados, que
poucas horas antes lhe tinhaõ chegado, foraõ desbaratados os inimigos, deixando
muitos mortos, e varios despojos. Recolhendo-se as suas naos os Francezes, e os
Gentios as suas canoas, naõ deixaraõ de sentir continuados os golpes pelos
tiros de hum pedreiro, que fora no nosso soccorro, e lhes lancou repetido
numero de pedras, causando grande estrago nas vidas, e nas naos, as quaes tendo
dado em seco, por vasar a maré, naõ puderaõ disparar a sua artilheria; e no
outro dia sahiraõ pela barra vencidos, e destroçados, e vagando pelos nossos
mares, foraõ ter ao Recife de Pernambuco, [...] 44 Chegado depois deste conflito o soccorro, que o Governador tinha
mandado ir de Santos, e S. Vicente, e achando já retirados os inimigos (com
generoso sentimento de nao haverem tido parte na gloria do triunfo) se
resolveraõ aquelles auxiliares, que vinhaõ com ansia de pelejar, a irem
hostilizar aos Gentios de Cabo Frio nos seus proprios domicilios; e
louvandolhes o Governador aquelle impulso , os enviou ainda mais animados com a
sua approvaçaõ. Chegaraõ ao Cabo Frio, e naõ achando já naquelle porto as
quatro naos, viraõ outra, que havia chegado de França, poucos dias antes;
acometeraõ-na os nossos com as canoas de tal forma, que se nao pode valer da
sua artilheria, e alguma que disparou, nos naõ fez damno. Morto o seu Capitaõ,
a rendemos, com todas as drogas, de que ainda estava carregada , deixando
assombrados, e fugitivos todos aquelles Gentios, nossos acérrimos inimigos.
Salvador Correa enviou a nao a Bahia ao General seu tio, em ostentaçaõ, e
mostra daquella vitoria.” (Pita, 1730, Livro III, 40-44)
“O capitão Martim Affonso foi postado
com o seu povo a uma legoa da cidade, n'um logar agora dicto S. Lourenço.
Contra este caudilho nutrião os Tamoyos ódio de morte, ardendo por tomal-o
vivo, para o devorarem. Succedeu chegarem ao Cabo Frio quatro navios francezes,
talvez os mesmos que ja havião sido suecessivamente expulsos do Rio de Janeiro
e do Recife: pedirão-lhes os selvagens ajuda contra o inimigo commum. Mem de Sá
voltara a S. Salvador; em S. Sebastião não havia força que podesse
assoberbal-os, nem para os Francezes era couza inaudita entregar prizióneiros
aos seus alliados anthropophagos. Entrarão a barra sem opposição, achando-se os
fortes ainda incompletos e desguarnecidos de artilharia. O governador Salvador
Corrêa mandou pedir auxilio a S. Vicente, e sabendo qual era o fim principal do
inimigo, despachou a Martim Affonso os socorros que pôde, preparando-se também
para defender a cidade, que não era ainda murada. Não era Martim Affonso dos
que facilmente esmorecem. Teve tempo de fazer sahir as mulheres e crianças
antes que desembarcassem os Francezes e os Tamoyos; e felizmente para elle
ainda estes differião o assalto para a manhã seguinte. De noute chegou o
pequeno reforço que Salvador Corrêa podia dispensar, e resolveu-se fazer uma
sorlida e sorprehender o inimigo : veio o mais brilhante successo coroar este
arrojo. Entretanto tinha a maré deixado em secco os navios, que havião
descambado tanto, que era impossível fazer jogar a artilharia ; forão pois os
Portuguezes fazendo fogo muito a gosto com um falcão pedreiro, sua única peça,
e apenas cresceu a maré, safarão-se os Francezes, tendo soffrido considerável
perda. Foi este o ultimo rebate que derão no Rio de Janeiro. Tanto que chegarão
de S. Vicente os reforços, perseguiu Salvador Corrêa os Francezes até Cabo
Frio: erão idos, mas la estava outro navio de duzentos toneladas, bem
tripolado, e montando tantas peças, que a gente nada se temeu d'uma esquadrilha
de canoas. Valente e brava foi a defeza. O próprio Salvador Corrêa, tentando
subir a bordo, tres vezes foi atirado ao mar, e tres vezes os seus índios o
salvarão, posto que armado de todas as peças. O capitão francez mantinha se na
tolda, revestido de completa armadura, e uma espada em cada mão. Um dos
alliados dos Portuguezes, irritado de ver resvalerem-lhe d'elle as settas,
perguntou se não havia logar a que mirar; á viseira, lhe responderão, e a
primeira frecha foi atravessar um olho ao Francez, deixando-o morto. Não tardou
o navio a render-se, servindo suas peças para fortificar a barra. Quando el-rei
D. Sebastião soube do galhardo proceder de Martim Affonso, mandou-lhe
presentes, entre os quaes um vestido do seu próprio uso, em signal de
particular estima.” (Southey, 1822, pg. 426-428)
“Entrando
uma vez no porto quatro náos francezas, que se dirigiram da banda d'além da
cidade, no recôncavo de S. Lourenço, onde estava assente, com sua tribu, o
principal Martim Affonso Ararigboya, com intentos de se apoderarem delle, para
o entregarem á vingança dos seus contrários, mandou Salvador Corrêa ás ordens
de Duarte Martins, socorros ao chefe alliado durante a noite. Com a vasante da
maré, as náos francezas appareceram de madrugada em seco, e poderam ser
canhoneadas á vontade por um falcão único que havia em terra; mas vindo a
enchente se fizeram á vela e ao mar. Depois foi Salvador Corrêa em pessoa, com
reforços que recebeu de S. Vicente, atacar os inimigos ao Cabo Frio, e ahi se
apoderou de uma dessas náos. „Acometteram (diz uma chronica antiga) os nossos a
subida trez vezes: mas como ao entrar ficavam a peito descoberto, foram
rebatidos com os piques e com alcanzias de fogo, e nestes tres acommetimentos
caiu sempre o governador ao mar, sem saber nadar, e sempre foi livre pelos
nossos índios. Prolongava-se a briga travada de parte a parte: o capitão na
náo, vestido de armas brancas, brigando com duas espadas, defendia e animava
aos seus com valor, discorrendo por todo o convés: entenderam os nossos, que
neste consistia a dilataçaõ do successo; mas como andava tão bem armado, não
entravam com elle as settas. Entrou em brio um frecheiro, perguntou se tinham
aquellas armas algum lugar por
onde entrasse huma frecha? Disseram- lhe que pela viseira: bastou o dito para o
effeito, disparando huma frecha, que pelo mesmo lugar penetrou o olho, e interior da cabeça
ao capitão contrário, e deu com elle no convés, á vista do que desmayaram os
soldados; fugiram para debaixo depois de mui bem feridos: entraram, os nossos:
e renderam a náo á vista dos mesmos Tamoyos contrários, que como escaldados,
naõ se atreveram a ajudar a seus amigos." „Mandou o Capitão Governador dar
á vela, e entrou com a náo no Rio. Deu o saco aos soldados, que em breve tempo
appareceram todos vestidos dos melhores panos do mundo. A artilharia applicou-a
á defensa da cidade. A náo mandou o dito Capitão mór a Men de Sá, seu tio, com
a relação deste bom successo, e ficou elle somente com a glória delle, não
tomando cousa alguma do despojo para si.” (Varnhagen,
1877, vol. I, pg. 311-312)
“[...] no fim de 1568 se lhes [os Franceses] assinala ao largo de Cabo Frio. Logo depois eles penetram na baía, cuja
entrada ainda não estava suficientemente defendida por novas fortalezas. O
governador de São Sebastião [do Rio de Janeiro], Correa Salvador de Sá, muito assustado por este retorno inesperado dos
Franceses, manda prevenir imediatamente seu tio, então em São Salvador, e lhe
suplica de vir em sua ajuda. O infortúnio enfraqueceu o ardor dos nossos
compatriotas. Eles não souberam se aproveitar da desorganização, na qual seu
ataque lançou os Portugueses. Em vez de começar resolutamente o sítio a São
Sebastião, eles se limitaram em bloqueá-la, e chamaram em armas seus antigos
aliados. Estes não haviam se esquecido do seu antigo engajamento, e muitos
deles já latismavam a dominação portuguesa, mas eles não compreenderam de forma
alguma as hesitações dos Franceses. Seria necessário aproveitar de seu ardor
para os incitar ao combate. Correa de Sá, mais hábil e mais confiante, não
perdeu a ocasião que lhe apresentou a fortuna. Sem esperar os reforços que lhe
prometeu seu tio, vendo os Tamoios dispersos e nossos compatriotas ainda
hesitantes, ele aproveitou, para atacá-los, o momento em que a maré deixou a
seco os nossos navios e impediu nossos marinheiros de usar os seus canhões. Os
Franceses tiveram que esperar a maré para fazer vela, e, quando eles
conseguiram ir ao largo, eles já tinham perdido um bom número de entre eles.
Entusiasmado por sua vitória, o governador de São Sebastião, que tinha acabado
de receber os reforços impacientemente esperados, resolveu, a fim de prevenir
todo ataque posterior, de perseguir a frota Francesa. Ele tomou ciência que
nossos homens pararam em Cabo Frio, com a esperança de lá se estabelecerem. Ele
se dirige imediatamente contra a nova fortaleza francesa, mas não achou ninguém
lá. Nossos compatriotas, desencorajados por seus insucessos repetidos,
renunciaram a se estabelecer no Brasil, e partiram para a França. No momento em
que este vencedor sem combate se apressava a reentrar em sua capital
improvisada, um grande navio francês, de pelo menos doze toneladas, foi, de
repente, assinalado. Os recém-chegados não conheciam, sem dúvida, as recentes
catástrofes. E ainda nutriam um feroz desdém pelas canoas de guerra dos
auxiliares Brasileiros. Em vez de fugir prudentemente, como haviam feito seus
compatriotas, eles imaginavam que a superioridade de sua tática compensava a
inferioridade de seu número, e se engajaram valentemente em combate, no meio
das longas canoas Brasileiras. Eles conseguiram, em efeito, afundar um bom
número destas canoas e repeliram, durante longo tempo, todos os ataques. Correa
de Sá foi três vezes lançado no mar, e três vezes foi salvo pelos Brasileiros.
Na primeira fila entre estes últimos, se destacava Alfonso Tebyriza [o
índio Tibiriçá], o velho aliado de
Portugal. [...] Os Franceses,
atacados de todos os lados ao mesmo tempo e crivados de flechas, quando eles
tentavam repelir a abordagem, e obrigados portanto de se mostrar, para repelir
os assaltantes, perderam muita gente. O capitão, que redimia sua imprudência
pela sua coragem heróica, e dava o exemplo da resistência, tombou logo depois
mortalmente ferido, e os últimos sobreviventes da tripulação se rendem à mercê
(junho de 1568). Duplamente vitorioso pela retirada Francesa de Cabo Frio e a
tomada deste grande navio, Correa de Sá reentra com grande pompa em São
Sebastião. Os canhões que ele capturou foram desembarcados e fortificaram a
barra” (Gaffarel, 1878, pg. 352-353)
“Foi o que se deu em 1571, quando quarto naus
francesas, uma das quais se chamava La Salamandre, entraram barra adentro e
foram ancorar próximo à aguada (futura Bica dos Marinheiros) e aldeia de
Araribóia, com intenção de, pelo interior, atacar a cidade nascente. Durante a
noite, Salvador Correa de Sá mandou reforços a Araribóia, que atacou os
franceses, quando seus navios estavam em sêco, devido à forte maré vazante, com
o único falcão (peça pequena de artilharia) existente em terra. Ao subir a maré,
os inimigos, sentindo a resistência que não esperavam, fizeram-se a vela.” (Ferrez, 1970, RIHGB, vol. 288, pg. 110-111)
“Em
1568 a 8 de junho, ou seja, um ano após a mudança da cidade para o morro do
Castelo, o Rio vive, outra vez, em estado de Guerra: franceses, instalados em
Cabo Frio e auxiliados por índios tamoios, ocupando algumas embarcações,
penetram na Guanabara e procuram atacar a região de São Lourenço, onde havia
uma aldeia de índios temiminós, chefiados por Araribóia. Salvador Correa de Sá,
o Segundo governador da cidade, organiza, imediatamente, um contra-ataque e
consegue expulsar os invasores. Mais tarde, com o auxílio recebido de São Vicente,
e também com a colaboração de Araribóia, Salvador de Sá, monta uma expedição
com o fim de expulsar os franceses de Cabo Frio. Mas malogra seu intento.
Apenas aprisiona uma nau […].” (Veríssimo,
1970, RIHGB, vol. 288, pg. 135)
“08 de
junho, 1568. Quatro navios franceses chegaram fora do Rio de Janeiro, apenas
para descobrir que sua colônia Huguenote fora erradicada pelos portugueses e
que a Ilha de Villegagnon foi ocupada […]. Quando os franceses tentaram
desembarcar, eles são atacados por contingentes locais sob o Gov. Salvador
Correia de Sá e seu subordinado Martim Afonso Araribóia, que perseguem os
invasores de volta para o mar, tão longe a oeste quanto Cabo Frio, onde um dos
navios intruso é abordado e dominado por seus perseguidores portugueses.” (Marley, 2008, pg.
99)
3) 3ª Fase: Ano de 1575: Guerra de
Cabo Frio
Mesmo expulsos da Baía de Guanabara, os
franceses iam frequentemente comerciar com seus aliados tamoios em Cabo Frio. Em
1575, o governador da capitania do Rio de Janeiro, Antônio de Salema, reuniu,
na região da Baía da Guanabara um exército de 400 portugueses apoiado por uma
tropa de 700 índios catequizados, além de reforços das capitanias de São
Vicente e do Espírito Santo, alcançando seu contingente total a 1100 homens,
com o objetivo de exterminar o controle franco-tamoio no litoral leste da
capitania. Junto ía o antigo veterano da guerra com os franceses, Cristóvão de
Barros. Os militares e os indígenas seguiram por tanto por terra quanto pelo
mar com o objetivo liquidar o último bastião da Confederação dos Tamoios e
acabar com o domínio francês que já durava vinte anos em Cabo Frio. Eles
partiram do Rio em 27 de agosto de 1575. Devido às poderosas fortificações
inimigas, os portugueses optaram por evitar um ataque direto e cercaram o forte
inimigo, cortando-lhe seu suprimento de água e víveres. Salema fez um acordo
com os franceses, que aceitaram se render, quebrando a aliança com os tamoios.
Posteriormente os tamoios cercados, foram forçados a se render, por falta de
suprimentos. Dois franceses, um inglês e o pajé tupinambá Japuguaçu foram
enforcados, cerca de quinhentos guerreiros mortos e, aproximadamente, 1.500
índios escravizados. As tropas vencedoras, ainda, entraram pelo sertão,
queimando aldeias, matando mais de 10.000 índios e aprisionando outros tantos.
Os sobreviventes refugiaram-se na Serra do Mar. Alguns dos tamoios aprisionados
foram levados para as aldeias de São Lourenço (Niterói) e São Barnabe
(Itaboraí). A baixada litorânea, de Macaé até Saquarema, devido ao massacre,
transformou-se em um verdadeiro deserto humano, esporadicamente servindo de
passagem para os índios goitacases que atravessavam aquelas terras à procura de
caça e pesca. A Guerra de Cabo
Frio resultou na completa expulsão dos franceses da região. Após o abandono das terras pelos
portugueses, estes estabeleceram um bloqueio naval de certa forma eficiente com
base na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Entretanto, entre 1576 e
1615, com a instauração da União Ibérica, com Portugal se subordinando à
Espanha, o porto de Araruama voltou a ser frequentado por navios franceses,
ingleses e Holandeses em busca de pau-brasil, tornando-se também a base da
pirataria contra embarcações lusas que procuravam dobrar o cabo. Outros piratas europeus, principalmente
ingleses e holandeses, continuaram a piratear o pau-brasil, causando mortes que se provaram inúteis, uma vez que a ausência de
colonização no litoral fluminense continuou a proporcionar lucro aos corsários
europeus.
“No tempo que Antonio Salema governou o Rio
de Janeiro, iam cada ano naus francesas resgatar com o gentio ao Cabo Frio,
onde ancoravam com suas naus na baía que atrás fica declarado, e carregavam de
pau de tinta à sua vontade; e vendo Antonio Salema tamanho desaforo determinou
de tirar essa ladroeira desse lugar, e fez-se prestes para ir fazer guerra ao
gentio de Cabo Frio, para o que ajuntou 400 homens brancos e 700 índios, com os
quais, por conselho de Christovam de Barros, foram ambos em pessoa ao Cabo
Frio, que está 18 léguas [120km] do Rio, onde
acharam os tamoios, com cercas muito fortes recolhidos nelas com alguns
franceses dentro, onde uns e outros se defenderam valorosamente às
espingardadas e flechadas; e não podendo os franceses sofrer o aperto em que
estavam, se lançaram com o governador, que lhes desse a vida, com que os
tamoios foram entrados, mortos infinitos, e cativos oito ou dez mil almas. E
com essa vitória, que os portugueses alcançaram, ficaram os tamoios tão
atemorizados, que despejaram a ribeira do mar, e se foram para o sertão; pelo
que não tornaram mais naus francesas a Cabo Frio a resgatar.” (Souza, 1587,
pg. 98-99)
“[...]
no ano de mil quinhentos e setenta e sinco, gouernando a Capitania do Ryo o
doctor Antonio Selema, foy com grosso exersito a fazer-lhes gerra em suas
propias terras, aonde matando e catiuando a mil delles, destrohio de todo
aquelle soberbo gentio, dando soomente vida e liberdade, a alguns que oje estão
nas aldeas de São Lourenço e São Barnabe, do Ryo de Jan.ro de que os
p.es da Companhia tem cuidado, e com isto damos fim as couzas do Ryo
de Janeiro, e sua conquista.” (Rodrigues, 1607, pg. 218)
“[...]
o Governador [...] foi informado que no Cabo Frio estavão
muitas náus Francezas resgatando com o Gentio, e que todos os annos alli vinhão
carregar de páu brasil ; pelo que determinou logo lançal-os fóra, e pera isto
se ajuntou com Christovão de Barros, e com quatrocentos Portuguezes, e
setecentos Gentios amigos, cometterão animosamente os Francezes, e posto que os
acharão já fotificados com os Tamoyos, e se defenderão com muito animo, todavia
apertarão tanto com elles, que tiveram por seu bem entregar-se, e os Tamoyos,
que escaparão, com espanto do que tinhão visto se afastarão de toda aquella
costa, mas os captivos, que quiserão receber a Fé, poz o Governador Antonio
Salema em duas aldêas no recôncavo do Rio de Janeiro, a que chamarão huma de S.
Barnabé, e outra de S. Lourenço, e se encommendarão aos padres da Companhia,
pera que como aos outros catecúmenos lhes ensinassem o ministério de nossa Fé.”
(Salvador, 1627, pg. 98-99)
“Continuavão ainda os Francezes a
traficar no Cabo Frio, conservando-se os Tamoyos sempre fieis á alliança com
elles. Salema resolveu expurgar d'estes inimigos o seu districto. Reuniu uma
força de quatrocentos Portuguezes e setecentos índios, e com Christovão de
Barros, que se assignalara na expulsão dos Francezes do Rio de Janeiro,
acommeteu os Tamoyos, e seus alliados europeos. Fortes palissadas lhes defendião
as aldeias; os selvagens resistirão valentemente com arcos e arcabuzes, e
duvidosa teria sido provavelmente a victoria, se Salema, seguindo a costumada
crueldade d'estas guerras, tivesse recusado quartel aos Francezes.
Prometteu-lhes porem as vidas salvas, e elles submetterão-se. Entre os Tamoyos
fez-se tremenda matança; a sua perda em mortos e captivos orça-se em oito ou
dez mil, e foi tão pezada, que as relíquias desta formidável tribu, abandonando
a costa, retirárão-se para as serranias” (Southey,
1822, pg. 438)
“[Antônio de Salema] ajuntando hum Corpo
de quatrocentos Portuguezes e sete centos Inadianos auxiliares, favorecido por
Christovão de Barros, que assignalou no tempo da expulsão dos Francezes,
atacára os Tupinambas, Tamoios, e seus aliados Europeus que guarnecião fortes
estacadas, e que por detraz daquelles entricheiramentos fazião huma resistência
contumaz, repellindo aos Portuguezes não sómente a tiros de frechas mas ainda
arcabuzes vindos da França, e que estando por muito tempo duvidosos a victoria,
segundo o systema de crueldade adoptada naquellas guerras, recusára tratar com
os Francezes que comandavão os Salvagens, promettendo a vida áquelles que se
rendessem; e guardando a sua promessa, exigira entrega das armas de fogo com
que se armavão os Salvagens, os quaes abandonados e sem guia, vencidos dos
Portuguezes, se entranharão pelos bosques, e se dirigirão para o Norte da Linha
Equinocional, [...]” (Lisboa, Vol I, pg. 298)
“[...] este commettendo no Rio as suas vezes a Salvador Corrêa de Sá, fôra
fazer a guerra aos Indigenas de Cabo Frio, que erão unidos aos Francezes,
acompanhado de Antonio de Mariz, o qual desbaratou os Indios, e lhes tomou
muitas aldêas [...]” (Lisboa, 1834, Vol I, pg. 300)
“Ameaçado de contínuo pela visinhança
incommoda dos Judios de Cabo-Frio, instigados por muitos Francezes, que ahi se
haviam estabelecido em uma feitoria, onde faziam grande contrabando,
principalmente de páu-brazil, resolveu-se o governador a reduzir essa paragem.
Reuniu pois na Cidade uma torça de mil homens, comprehendidos setecentos índios
aluados. E para esta força o Espirito Santo contribuiu com seu tanto, e da
capitania de S. Vicente acudiu também com algum auxílio o delegado do
donatário. (Varnhagen, 1877, vol. I, pg. 331-332)
“Os Franceses lá [Cabo Frio] fundaram um vasto depósito de armas e munições e lhes forneciam aos
Tupinambás e Tamoios, que ameaçavam a nova capital, São Sebastião, e que, de um
dia para outro, podiam se apoderar dela de surpresa e restituí-la à França. Por
infortúnio, não era o patriotismo, mas unicamente a cupidez que animava nossos
compatriotas. Mal o governador Antônio de Salema se apercebeu que eles não eram
insensíveis ao apetite por um ganho enorme, que ele comprou sua neutralidade.
Abandonados a eles mesmos, os Brasileiros tentaram resistir, mas foram
exterminados. Os restos da antiga tribo dos Tamoios se refugiaram, então, na
foz do rio Maragnon, e, por este fato, a velha aliança Franco-Brasileira se
encontra rompida. (1571-1572).” (Gaffarel, 1878, pg. 357-358)
“[...] em 1575, já no governo de Antônio de Salema
(era governador-geral da parte sul do Brasil) é que se pôde vencer,
definitivamente, o tamoio de Cabo Frio e terminar, de vez, com a ameaça dele
sobre o Rio. Salema organiza uma forte expedição: 400 homens brancos e 700
índios que foram recrutados no Rio, em Vitória Velha e São Vicente. A operação
dura pouco: troca de tiros, cerco ao forte, onde os franceses e índios se
achavam, e, por fim, por falta de água e alimentos, a rendição do forte. Como
condição, Salema fixou: a entrega de dois franceses e um inglês que haviam sido
os instrutores dos tamoios que enfrentaram os portugueses. Entregues estes,
Salema os manda enforcar: a demolição do forte de Cabo Frio, o que foi feito
imediatamente; a entrega dos 500 índios que haviam participado da defesa.
Índios que Salema transformou, parte em escravos e parte em cadáveres. Por fim
terminada essa “limpeza”, Salema inicia outra operação: ataca os índios tamoios
moradores na região e os persegue, na sua fuga, para o interior. O número de
vítimas atinge a cerca de dois mil por morte e quatro mil capturados como
escravos.” (Veríssimo, 1970, RIHGB, vol.
288, pg. 135-136)
4 -
Bibliografia
NÓBREGA, Manoel da. Carta do Padre Luiz da Grã. Espírito Santo, 24 de
abril de 1555.
NÓBREGA, Manoel da. Carta Ao Infante Cardeal. São Vicente, 1º de
julho de 1560.
(in Cartas Jesuiticas I. Cartas do
Brasil. 1549-1560. Rio de Janeiro:
Officina Industrial Graphica, 1931.)
BARRÉ, Nicolas. Première Lettre. 01 de fevereiro de 1555.
(in
Gaffarel, 1878, pg. 373-382)
BARRÉ, Nicolas. Deuxième Lettre. 25 de de maio de 1556. (in
Gaffarel, 1878, pg. 382-385)
VILLEGAGNON, Nicolas Durand
de. Lettre IV. Envoyée de l’Amerique à
Calvin. Rio de Janeiro, 31 de março de 1557. (in RIHGB, 1840, vol.2, pg. 203-207)
VILLEGAGNON, Nicolas Durand
de. Lettre VII. Envoyée de l’Amerique à
Calvin. Rio de Janeiro, 13 de junho de 1560. (in Gaffarel, 1878, pg. 401-406)
THEVET, André. Les singularités de la France
Antarctique. Paris: Chez les héritiers de Maurice de La Porte, 1558.
THEVET, André. La Cosmographie
Univeselle d’André Thevet, Cosmographe du Roi. 2 vol. Paris: Chez Pierre
L’Huillier, 1575.
INQUISIÇÃO DE LISBOA. Processo n. 5451. (Processo de João de Bolés), 1564 (in Anais da Biblioteca Nacional,1903,
vol. XXV, pg. 272)
ANCHIETA, José de. Carta ao Padre Geral, São Vicente, 01 de junho de 1560. (in Cartas Jesuíticas III. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira S.A., 1933)
ANCHIETA, José de. De gestis Mendi de
Saa. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
1958. (Original de 1563)
ANCHIETA,
José de. Carta ao Padre Diego Laines,
Prepósito geral da Companhia de Jesus, São Vicente, 08 de janeiro de 1565.
(in Anais da Biblioteca Nacional,
1876-1877, Vol II, pg. 79-124)
ANCHIETA,
José de. Carta ao Padre Diogo Mirão, Bahía,
09 de julho de 1565.
CRESPIN, Jean. Martyrologio. 1564.
CAXA, Quiricio. Carta ao padre Doutor Diogo
Mirão, Provincial da Companhia de Jesus. Salvador, 13 de julh de 1565. (in Cartas Jesuíticas II. Cartas Avulsas
(1550-1568). Rio de Janeiro: Officina Industrial Graphica, 1931, pg. 452-454)
SILVA, Fernão da. Instrumento dos Serviços de Men de Sá. 1570 (in Anais da Biblioteca Nacional, 1905, vol. XXVII, pg. 129-218)
LÉRY, Jean de. Histoire d'un
voyage faict en la terre du Brésil. La Rochelle: Antoine Chuppin, 1578.
LA POPELINIÈRE, Henri Lancelot-Voisin. Histoire des Trois Mondes. Paris: Olivier de Pierre l’Huillier.
1582.
SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descriptivo do Brazil em 1587. 3ª ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora
Nacional, 1938. (Original de 1587)
RODRIGUES, Pedro. Vida do Padre José de Anchieta, 1607. (in Anais da Biblioteca Nacional,1907,
vol. XXIX, pg. 259-261)
PATERNINA, Estevan. Vida del Padre Ioseph de Ancheta de la
Compañia de Iesus, y Provincial del Brasil. Salamanca: Emprenta de Antonia
Ramirez viuda, 1618.
VASCONCELLOS, Simão. Chronica da
Companhia de Jesus do Estado do Brazil e do que obraram seus filhos nesta parte
do novo mundo. Lisboa: A.J. Fernandes Lopes, 1865
(Original de 1623)
VASCONCELLOS, Simão. Vida do Veneravel Padre Ioseph de Anchieta da Companhia de Iesv,
Taumaturgo do Nouo Mundo, na Prouincia do Brasil. Lisboa: Officina de Ioam
da Costa, 1672.
SALVADOR, Vicente. História do Brazil. Rio de Janeiro: Fundação da Bibliotheca
Nacional, 1889. (Original de 1627)
PITA,
Sebastião Rocha. História da América
Portugueza, desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento, até o de mil
setecentos e vinte e quatro. Lisboa: Officina de Joseph Antonio da Sylva,
1730.
ARAÚJO,
José de Souza Azevedo Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das
Províncias anexas à Jurisdição do Vice-Rei do Estado do Brasil, vol. 1. Rio
de Janeiro: Impressão Régia, 1820.
SOUTHEY,
Robert. Historia do Brazil. Rio de
Jneiro: Garnier, 1862. (Original de 1822)
LISBOA,
Balthasar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro. Vol. 1. Rio de Janeiro:
Seignot-Plancher e cia, 1834.
VARNHAGEN, Frederico Adolfo. Historia geral do Brazil. Vol. 1. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Casa E. e H. Laemmert, 1877.
RODRIGUES, Pedro. Vida do Padre José de Anchieta. (in Anais da Biblioteca Nacional, 1907,Vol. XXIX, pg. 201-219)
LIMA-BARBOSA, Mário. Les Français dans l’histoire du Brésil. Rio de Janeiro: F. Briguiete et cia ed. 1923.
COARACY, Vivaldo. Memória da Cidade do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1955.
COARACY, Vivaldo. O Rio de Janeiro do Século
XVII. Rio de Janeiro: José Olympio Editora,
1965.
CRULS, Gastão. Aparência
do Rio de Janeiro. 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora,
1965.
FERREZ, Gilberto. Organização da Defesa:
Fortificações. (in RIHGB, 1970, vol.
288, pg. 108-110)
VERÍSSIMO, Inácio José. História
militar do Rio de Janeiro nos séculos XVI e XVII. (in RIHGB, 1970, vol. 288, pg. 121-181)
FRAGOSO,
Augusto Tasso. Os Franceses no Rio de Janeiro. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército Editora, 2004.
GUIMARÃES,
Ricardo dos Santos. Construções históricas da Ilha de Villegagnon.
NAVIGATOR nº 2/2005 (Art. 1)
LESTRIGNANT,
Franck. La mémoire de la France Antarctique. História. São Paulo, 27 (1): 2008
MARLEY, David F. Wars of the Americas. A Chronology of Armed
Conflict in the Western Hemisphere, 1492 to the Present. Santa Barbara:
ABC-CLIO Inc., 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário