1 – Localização:
1º. Distrito Centro. Itaoca. Avenida Praia da Luz
(22°47'8.44"S, 43° 4'43.01"O)
2 – Histórico:
A Capela de
Nossa Senhora da Luz é considerada uma das mais antigas capelas do país, e
pertencia à antiga Fazenda da Luz. Segundo conta a história, o Capitão
Francisco Dias da Luz, um português da região do Faro, que residia na Capitania
da Bahia e, que teria chegado ao Rio de Janeiro em
1565 com Mem de Sá, teria feito uma promessa à Nossa Senhora da Luz,
santa da qual era devoto, que se sobrevivesse a um naufrágio que padecera na
Baía de Guanabara, mandaria erguer uma capela em sua homenagem no local onde
pisasse em terra firme. Tendo ele sobrevivido ao naufrágio, mandou erigir a
igreja de Nossa Senhora da Luz, como forma de agradecimento por ter
sobrevivido. Isto explica uma das suas características mais marcantes, que é o
fato dela estar localizada a beira mar, apesar de ser costume da época
construir as igrejas no interior do território. O
Capitão Francisco Dias da Luz, teria, igualmente, construído a Fazenda da Luz e
mandado fazer a imagem da santa. Com a morte da maioria de seus descendentes, o
Padroado de Nossa Senhora da Luz terminou.
Frei Santa
Maria (1772) postula, portanto, que a capela foi construída cerca de 1600 pelo
Capitão Francisco Dias da Luz, que teria vindo com Mem de Sá ao Rio de Janeiro
(Araújo, 1820), cerca de 1565. No entanto, outros autores mantém o dito capitão
como fundador, mas atribuem-lhe uma data bem posterior, colocando a fundação da
capela em 1647 e a morte do capitão cerca de 1673. Coincidentemente, a data
provável da primeira missa na capela, 1647, seria a mesma da criação da
freguesia de São Gonçalo de Amarante, à qual estava subordinada.
“Mais adiante, legoa & mea do Santuario
de nossa Senhora das Neves se vè o Santuario da Virgem nossa Senhora da Luz.
Vè-se esta Casa da Senhora em hum alegre campo, adornado de frescos arvoredos
sylvestres. A este campo, & sitio, aonde a Casa da Senhora está fundada, se
chama Itaòca, que na lingua Brasilica quer dizer casa de pedra. He esta igreja
da Senhora pequena, mas muyto linda. Fundou esta Casa à Raynha dos Anjos o
capitão Francisco Dias da Luz, natural da Cidade de Faro, pela grande devoção,
que tinha a nossa Senhora, herdada ab útero matris sua. Porque andando sua mãy
pejada delle, foy em romaria visitar o Santuario da Senhora da Luz da Cidade de
Tavira [...] & lá pariu ao mesmo
Frãcisco Dias, que por nascer na Casa da Senhora tomou o apelido da Luz. Passou
Francisco Dias da Luz ao Brasil, & da Bahia foy em companhia dos que foraõ
com o general Mendo de Sà [Men de Sá] ao
Rio lançar fòra aos Francezes, e jà parece era Capitaõ; casou no Rio com
Domingas da Sylveyra filha dos primeyros povoadores, & conquistadores.
Depois de casado, & de ter filhos, como tinha fazenda em Itaòca, lá edificou
a Casa à Senhora da Luz, e elle enquanto viveu a sérvio, & festejou com
seus filhos, & eles continuàraõ com a mesma devoção depois da sua morte.
Porèm, acabando-se a mayor parte de sua descendência, se acabou tambem nos seus
herdeyros o Padroado da Senhora da Luz [...] Não consta já do anno, em que aquella Igreja se fundou, mas presume-se
que haverá alguns cem annos, ou mais, seria pelos de 1600. O mesmo Capitaõ
mandou fazer a Imagem da Senhora. Della faz menção o Padre Frey Miguel de Saõ
Francisco na sua relação.” (Santa Maria, 1772, Vol. 10, Livro I, Título
XVII, pg. 40-42)
“[capela] 1.a de N. Senhora da Luz, fundada no Campo de Itaóca pelo
Capitão Francisco Dias da Luz , um dos povoadores primeiros , que acompanharam
a Mem de Sá no estabelecimento da Cidade.” (Araújo, 1820, vol. 3, pg. 21)
A Fazenda e Capela foram vendidas ao Capitão Pedro Gago de
Câmera, que reedificou a capela e paramentou-a de ricos ornamentos.
“Depois já em nossos tempos vendeu aquella
fazenda, em que a Casa da Senhora estava fundada, ao Capitão Pedro Gago da
Câmera, o qual tornou a reedificar a Casa à Senhora, adornando-a, &
aparamentando-a com muytos ricos ornamentos, & enriquecendo-a mais de todos
os ornatos, & elle enquanto viveu sérvio tambem à Senhora da Luz.” (Santa
Maria, 1772, Vol. 10, Livro I, Título XVII, pg. 40-41)
O
capitão Pedro Gago da Câmera morreu sem descendentes, ficado a capela novamente
sem padroado, mas um pescador da Ilha de Paquetá, fiel da santa, faz-lhe a
festa e leva o frei Cristóvão da madre de Deus, franciscano do convento de
Santo Antônio, do centro do Rio de Janeiro, e descendente do Capitão Francisco
Dias da Luz.
“Morreu Pedro Gago
sem descendencia, & ficou a Casa da Senhora sem Padroeiro algum. Hoje lhe
faz a sua festa hum pescador devoto da Senhora, & morador nas Ilhas de
Paquetà, visinhas à Casa da Senhora, & por sua grande devoção serve a
Senhora com grande zelo. Este na ocasião da sua festa costuma levar a ella com
outros a hum Religioso velho (Ex-diffinidor daquella Provincia da Conceyçaõ,
& que ainda hoje vive naquelle Convento de santo Antonio, cabeça da mesma
Provincia) chamado Frey Christovaõ da Madre de Deos da Luz, filho do primeyro
Fundador daquella Casa, que he devotissimo venerador da misericordiosa Senhora
da Luz; para que elles celebrem a sua festa, & lhe cantem a Missa ao seu
modo da Capucha, & lhe façaõ o Sermão. O que fazem com a licença do
Illustrissimo Bispo daquella Cidade, & acabada a solemnidade da festa,
fazem procissão, em que tiraõ a Senhora, & a levaõ pelas ruas daquella povoação.
E tudo se faz com muyta devoção, & grande concurso.” (Santa
Maria, 1772, Vol. 10, Livro I, Título XVII, pg. 40-41)
A imagem de
Nossa Senhora da Luz era de madeira e tinha na mão um cetro e o menino Jesus.
“He esta soberana Imagem da Senhora da Luz muyto
fermosa, & de escultura de madeyra. Tem em seus braços aquelle soberano
Deos Menino, [...] Tem a Senhora em
sua mão direyta hum scetro em sinal de que he Rainha do Ceo, & da terra,
& o ornato do manto de seda, ou de tela, & coroa na cabeça, &
tambem o Senhor Menino.” (Santa Maria, 1772, Vol. 10, Livro I, Título XVII,
pg. 42)
Os últimos proprietários da fazenda foram José Luiz
Saião e depois sua esposa D. Leonor Portugal
(falecida no século XVIII) e de Jair da Silva Pessoa. Estava, na época das
visitas de Monsenhor Pizarro, asseada, e com bons
paramentos, e nela havia uma Pia batismal de pedra mármore muito boa. Há de se
observar que o engenho era de aguardente e não de açúcar.
“[Engenho
de águardente] 1ª - A que foi de D.
Leonor Luiza de Portugal, e hoje de seus herdeiros, na Luz, distante 1. ½ legoa.” (Araújo, 1794)
“[capela] 4ª - da Senhora da Luz, no lugar assim chamado, que foi de José Luiz
Saião, e depois de sua mulher D. Leonor Luiza de Portugal, hoje falecida. Está
asseada, e com bons paramentos, e nela há uma
Pia batismal de pedra mármore muito boa, por faculdade que me consta havia de
muitos anos. Seus documentos não me foram apresentados, por pouco caso que fazem ordinariamente dos Visitadores,
sabendo o Dr. Camisão / que á seu cargo tem a Capela e Fazenda / a
necessidade e obrigação de se apresentarem
as faculdades para o uso das mesmas Capelas, e tendo sido avisado: e por esta causa determinei com pena de Interdito, que
no termo de 15dd, me fôsse apresentado os seus títulos. Mais deste
provimento nenhum foi o efeito: e se a Capela continuou
a ter uso, ignoro. Dista 1. ½ légua [...] segue-se agora os [engenhos]
de Água-Ardente. 1ª - A que foi de D.
Leonor Luiza de Portugal, e
hoje de seus herdeiros, na Luz, distante 1.
½ legoa [10km, da igreja matriz
de São Gonçalo].” (Araújo, 1794)
“Tem faculdade para usar de Pia Baptismal, por concessão do Bispo D.
Fr. Antonio de Guadalupe : e a que ahi se collocou de mármore, he das melhores
das Igrejas Matrizes, e Capellas do Recôncavo.” (Araújo, 1820, vol. 3, pg.
21)
A escritora
inglesa Maria Graham em 1822, ficou encantada
com sua beleza e desenhou uma tela da capela e da fazenda que se
encontra, atualmente, no Museu Britânico em Londres e deixou registros no seu livro; é o único registro de época.
“O lugar que íamos é Nossa Senhora da Luz, cerca de doze milhas do Rio,
porto acima, perto da foz do rio Guaxindiba, o qual rio nasce nas colinas de
Taypu [Itaipú] [...] Ao dobrarmos a extremidade da margem, nos
deparamos com uma pequena igreja branca, com algumas árvores veneráveis perto
dela. [...]” (Graham, 1824, pg. 193)
Em 1872 as terras ao seu redor eram de propriedade do
então padre Antônio Ferreira Goulart, depois Cônego Goularte. A capela
foi incorporada ao município de São Gonçalo em 1985, e, no ano de 2001, foram
realizadas obras de restauração e melhorias no entorno. O altar-mor foi
restaurado há alguns anos. No início de 2015, a Imagem histórica de Nossa
Senhora da Luz foi roubada, mas foi recuperada. Nossa
Senhora da Luz é festejada em 02 de fevereiro.
3 – Descrição:
A capela
possui uma orientação geral quase norte-sul, com frente virada para o norte e
maior eixo ântero-posterior. O seu adro é cercado por um muro baixo de pedras,
com uma grande cruz a nordeste da capela. O seu projeto é simples, sem torre
sineira e com fachada em estilo barroco. Na sua fachada anterior há uma varanda
com alpendre, com caimento inclinado de telha canal, suportado sobre duas
grossas colunas da ordem toscana, com um muro baixo cercando-a, e tendo no
centro um pequeno portão; seu piso é de lajota de barro cozido. No centro da
fachada, abaixo do alpendre, há uma bela porta de madeira entalhada em cedro
vindo da Bahia, no século XVIII. Nos cantos da fachada anterior existe um
cunhal de cada lado, encimado por um pináculo. A fachada anterior é encimada
por um frontão triangular com um óculo central e uma pequena luz no topo. O
lado esquerdo tem uma porta de madeira entalhada e na parte posterior da fachada
uma projeção, um pouco mais baixa que a nave e tendo uma porta na sua parede
anterior e uma janela na lateral. O lado direito tem na parte posterior da
fachada uma projeção, um pouco mais baixa que a nave e tendo uma porta na sua
parede anterior e uma janela na lateral. A parede posterior é toda lisa, sem
portas ou janelas. As portas externas da nave são madeira maciça, ricamente
entalhadas em cedro original da Bahia, datadas do século XVII; a principal
porta de entrada é a da varanda, havendo outra na da fachada lateral esquerda.
No interior, a
nave é retangular e tem uma pia de pedra na parede posterior à direita da porta
e outra na parede lateral esquerda, antes da porta externa. No canto entre a
parede anterior e a lateral esquerda, fica uma bela pia batismal de pedra,
ainda original. O telhado é constituído de telhas sobre armação de madeira, sem
forro; consta que as telhas são as originais, do tempo de fundação da capela,
moldadas nas coxas dos escravos. A capela ainda tem seu piso original em pedra.
No final da nave, um arco-cruzeiro dá acesso a uma capela-mor um pouco mais
baixa e estreita e com teto de forro de madeira algo mais baixo e abobadado. No
fundo fica o altar-mor de madeira pintado de branco com detalhes dourados. Este
consiste de um nicho central sob uma base um pouco proeminente, ladeado por
expansões laterais onde ficam as imagens de São Sebastião (direita) e Nossa
Senhora (esquerda). No nicho central fica a imagem de Nossa senhora da Luz. O
nicho central é coroado por uma parte artisticamente trabalhada do altar-mor,
que vai até o teto da capela-mor. Contornando a capela-mor, fica a sacristia e
o confessionário, que se projetam em relação à nave, tendo uma porta de acesso
externa de cada lado da nave e uma janela quadrada para o exterior, também de
cada lado. Alguns moveis e janelas são originais. O sino foi roubado. A capela
possui quatro imagens originais talhadas em madeira, em estilo barroco: Nossa
Senhora da Luz, do altar-mor; São Gonçalo de Amarante, de 60cm de altura; Santana
(outros dizem ser Santa Catarina) de 52cm; Cristo crucificado de 1m.
4 – Visitação:
A capela está
aberta a visitações somente com agendamento pelo tel.: 99434-9535 (Estela);
ainda pode ser visitada nas atividades religiosas que nela ocorrem.
5 - Bibliografia
- SANTA MARIA, Agostinho de. Santuário Mariano. Tomo X, Lisboa:
Oficina de Antonio Pedrozo Galram, 1722.
-
ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Visitas Pastorais de Monsenhor
Pizarro ao recôncavo do Rio de Janeiro. Arquivo da Cúria e da
Mitra do Rio de Janeiro (ACMRJ), Rio de Janeiro, 1794.
-
ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de
Janeiro e das Províncias anexas à Jurisdição do Vice-Rei do Estado do Brasil,
vol. 3. Rio
de Janeiro: Impressão Régia, 1820.
- GRAHAM, Maria. Journal of a
voyage to Brazil and residence there during part of the years 1821, 1822, 1823.
Londres: A. & R. Spottiswoode, 1824.
- PALMIER,
Luiz. São Gonçalo Cinquentenário. São
Gonçalo, 1940.
https://www.facebook.com/Capela-de-Nossa-Senhora-da-Luz-1618983368318431/timeline/
http://madeingonca.blogspot.com.br/2014/12/sao-goncalo-e-sua-historia-capela-n-sra.html
Estáa imagem não é a original... Infelizmente a original foi subtraída no inicio do sec XX e substituída por essa cópia!
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