segunda-feira, 27 de julho de 2015

DESCOBRIMENTO DO BRASIL – Parte II

Pedro Álvares Cabral (1500)
1) Introdução:
            Apesar de uma série de navegadores, com maior ou menor probabilidade, reivindicarem a honra de terem descoberto o Brasil antes de Cabral, considera-se oficialmente que o Brasil foi descoberto a 22 de abril de 1500. No entanto, deve-se observar que há ainda alguns fatos controversos ou pouco claros nesta viagem.

2) O Descobrimento do Brasil
a) Partida de Lisboa (9 de março de 1500)
O rei D. Manoel I (1495-1521) resolveu mandar outra frota à Índia, após o regresso da esquadra de Vasco da Gama em 1498. Pedro Álvares Cabral (1467-1520) foi nomeado comandante de uma armada de 13 navios (10 navios maiores e 3 navios pequenos). Era a maior frota saída até então, com entre 1.200 e 1.500 soldados, negociantes e aventureiros com mercadorias variadas e dinheiro amoedado, revelando o duplo caráter da expedição: pacífica, se na Índia preferissem o comércio pacífico, belicosa, se quisessem recorrer às armas.
No anno de mil e quinhentos mandou o Sereníssimo Rei de Portugal D. Manoel huma armada de doze náos [aqui o autor não computa o navio de mantimentos, que completa os 13 navios] ou navios para as partes da índia, e por seu Capitão mór Pedro Alvares Cabral, Fidalgo da sua Casa, as quaes partirão bem appárelhadas, e providas do necessário para anno e meio de viagem. Dez destas náos levavão regimento de hir a Calicut [cidade da costa oeste da Índia], e as duas restantes a hum lugar chamado Çofala [região da costa central de Moçambique] para contratar em mercadorias, ficando este porto na mesma derrota de Calicut, para onde as outras dez hião carregadas.” (Navegação, 1501)
[...] este sereníssimo rei mandou ao dito local de Coloqut [Calicut, na Índia] 12 naus e navios, dos quais 10 grandes, um do senhor don Álvaro, em companhia de Bortolo [Bartolomeo Marchionni], florentino e Hironimo [Girolamo ou Geronimo Sernige] e um genovês, o outro do conde de Porta Alegra e de muitos outros mercadores. Ao todo são 12 entre navios e barcos menores [...]” (La Faitada, 1501)
[…] no anno .M.CCCCC. o rei supra nominado Hemanuel mandou .XII. entre navios e Caravellas; capitão daqueles Pedro aliares; aquele teve o estandarte da sua Capitania no dia .VIII.  do mês de Março de mil e quinhentos; partiu-se de Portugal […]” (Ioseph Indiano, 1502)
“As primeiras naos que mandamos aquellas terras foram em numero de XII, além de uma caravella que levava mantimentos. E sahíram do nosso porto de Lisboa no anno de 1500, no dia 8 de março, para ir a negociar em especiarias e drogas nas regiões da India, além do mar Roxo e Pérsico, em uma cidade chamada Calicut, [...]. Da dita armada foi Capitão General Pedro Alvez Cabral.” (D. Manuel, 1505)
 “De 1500, a 9 de Março, mandou Sua Alteza navios, entre grandes e pequenos, em número de 13; Capitão Pedralboro [Pedro Álvares] e um seu feitor, Ali Scorer [Ayres Correa], com o dito Gaspar [um judeu que ia de intérprete da língua indiana], [...]” (Masser, 1506)
[...] e forão feitos por esta armada mil y quinhentos homens [...](Castanheda, 1551)
 “[...] o capitão môr della, que por as qualidades de sua pessoa, foi escolhido Pedraluarez Cabral filho de Fernão Cabral [...]. A qual armada era de treze velas, entre naos, nauios, & caravelas: [...] Seria o numero da gente que hia nesta frota entre mercantes & homens d’armas ate mil & duzentas pessoas: toda gente escolhida, limpa, bem armada e prouida pera tão comprida viagem [...](Barros, 1552)
“Ano de mil e quinhentos enviou o Rei don Manuel doze caravelas com Pero Aluares a Calicut, e trouxe o trato das especiarias a Lisboa, e ganhou depois a Malaca estendendo sua navegação à China.” (Gómara, 1554, Cap. CVI, pg. 138b)
[...] nestes dias mesmos, depois dos ditos descobridores castelhanos [Pinzón e Lepe] daquela terra firme, aconteceu de fazer o rei de Portugal uma armada para ir à Índia, e acaso descobrir a mesma terra, que já os nossos [os espanhóis] haviam descoberto e contornado, como dizem os marinheiros, [...]. Enviou, pois, o rei de Portugal, D. Manuel, o primeiro daquele nome, uma bem provida armada de treze velas grandes e menores, nas quais iriam até 1.200 homens, entre marinheiros e gente de armas, toda gente muito luzidia, [...] o Capitão da Armada, que se chamava Pedro Álvarez Cabral [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
 “[...] foy assentado que a armada partisse em Março, que era o bom tempo pera partir, pera o que forão ordenadas dez naos grossas de dozentos, trezentos tonés e tres nauios pequenos, e todos fortes, muy aparelhados, e apercebidos em muyta auondança de todo o necessario p era o tempo de dous anos, de muytos mantimentos, e artilheria e monições, e armas : o que  todo era ordenado por dom Vasco. Da qual armada ElRey fez capitão mór Pedraluarez Cabral, homem fidalgo [...] que passauam de mil homens d’armas [...](Correia, 1561)
“No anno de 1500 & entrada de Março, partio Pedralvares Cabral com treze velas, com regimento que se afastasse da costa Dafrica, pera encurtar a via.” (Galvão, 1563, fl. 28a)
[...] mandar lá hūa armada de treze velas, de que deu ha capitania a Pedralurez cabral, [...] na qual iham mil & quinhentos soldados.” (Gois, 1566)
Compunha-se de 13 naus a armada que mandou e levava 1500 soldados. Ia artilhada e armada com o maior poder com muitas peças e munições e deu-lhe por capitão Pedro Álvares Cabral, em cujo esforço tinha muita confiança.” (Osório, 1571)
Reinando aquelle muy Catholico e Serenissimo Príncipe ElRey Dom Manuel, fezse huma frota para a India de que hia per Capitam mor Pedralvares Cabral, que foi a segunda navegaçam que fezeram os Portugueses para aquellas partes do oriente.” (Gandavo, 1576)
Pedraluarez Cabral partiu de Lisboa a nove de Março de mil e quinhentos [...] (La Popelinière, 1582, Livro III, pg. 17)
“[...] Pedro Alvares Cabral, que n'este tempo ia por capitão-mur para a India por mandado de El-Rei D. Manoel, em cujo nome tomou posse desta província [...](Souza, 1587)
Em o anno do Senhor mil, & quinhentos, mandou elRey Dom Emanoel hūa armada, a continuar o descubrimento da India , que o grande Dom Vasco da Gama tinha começado: & por Capitão della Pedro Alvrez Cabral, que neste caminho descubrio a provincia do Brasil, ou S. Cruz, como já vos disse.” (Mariz, 1597)
[...] fez armar treze galhardas naus de todo o necessário, e nomeando por General delas a Pedro Aluares Cabral, pessoa de muito valor e confiança [...]. E vão na armada (fora da chusma e grumetes) mil e quinhentos soldados de guerra, o melhor da juventude Lusitana. (San Roman, 1604, Libro I, Cap. XI, pg. 56)
“Aconteceu naqueles Dias, que o Rei de Portugal D. Manuel, fez Armada para a Índia, que foi de treze Velas, grandes, e menores, nas quais foram até mil e duzentos Homens, entre Gente de Guerra, e Mar; ia por General Peralvarez Cabral, [...]” (Herrera, 1611)
7 [...] Depois de tres annos de principiada a famosa empresa da India Oriental, querendo El-Rei D. Manoel de santa memoria, dar successor aos illustres feitos do Capitão Vasco da Gama, escolheo pera este effeito a Pedro Alvarez Cabral, Portuguez, varão nobre, de valor, e resolução. O qual partindo de Lisboa pera aquellas partes da India com huma frota de treze náos [...] (Vasconcellos, 1623)
[...] no ano de mil e quinhentos enviou uma armada de treze naus, com mil e duzentos homens de gente de terra (sem os marinheiros) e por General dela Pedro Álvares Cabral [...]” (Barbuda, 1624)
O rei Emmanuel I mandou uma frota de 13 navios, bem providas, com mil e quinhentos soldados e munições, sob Peter Aluarez Capralis [...]” (Purchas, 1625)
A terra do Brasil, que está na America, uma das quatro partes do Mundo, não se descobriu de propósito e de principal intento, mas acaso, indo Pedro Alvares Cabral, por mandado de el-rei Dom Manuel no anno de 1500 para a índia por capitão-mór de doze naus.” (Salvador, 1627)
Aprestaram-se treze navios desiguais em grandeza. Nomeou-se por Capitão maior a Pedro Alvarez Cabral, [...] Continha a frota 1.600 homens de mar, e guerra [...].” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
Na frota iam, para catequizar os indianos, o guardião frei Henrique de Coimbra, futuro bispo de Ceuta, e 5 ou 8 franciscanos: os frades Gaspar, Francisco da Cruz, Simão de Guimarães, Luiz do Salvador, Maffeu, Pedro Netto e João da Victoria.
E hia também cõ Pedraluarez cabral hū frey Anrique frade da ordem de sam Francisco [...] y yão coele cinco frades outros pera ho ajudarem.” (Castanheda, 1551)
 “[...] oito frades da ordem de São Francisco, de que era guardião frey Henrique, que depois foi bispo de C,epta & cõfessor delRey, barão de vida mui religiosa, & de grão prudência: com maes oito capelães, & hum vigairo [...](Barros, 1552)
 “[...] mandou prover das [coisas] espirituais, e estas foram oito religiosos da ordem de San Francisco, cujo Guardião foi frai Enrique, o qual, depois, foi bispo de Ceuta e confessor do Rei, varão de vida muito religiosa e grande prudência. Enviou este mesmo [o rei de Portugal] oito Capelães e um Vigário para que administrassem os Santos Sacramentos em uma fortaleza que o rei de Portugal mandava fazer, todos varões escolhidos, o que convinha para aquela obra evangélica.(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
 “E na nao Capitania frey Anrique Soares, frade de Sam Francisco, com outros cinco frades [...](Correia, 1561)
[...] mandou nesta armada oito frades da ordem de sam Frãçisco, homens letrados, de que era vigário frei Henrrique, que depois foi confessor del Rey, & bispo de Çepta [Ceuta] [...]” (Gois, 1566)
Por ordem do rei foram nesta armada cinco religiosos franciscanos, de grande opinião e virtude, para residirem em Calecut, no caso em que os pactos se fizessem, e ali administrassem os sacramentos aos portugueses que, por causa de comércio, naquela cidade fossem, e instruíssem no catecismo os gentios, que quisessem entrar na nossa santa fé. Deu-lhes por guardião a Frei Henrique, homem de singular religião e piedade, que depois, pela santidade da sua vida, foi bispo de Ceuta.” (Osório, 1571)
Proveio como tão Católico Príncipe que fossem na armada, assim para a predicação Evangélica, como para administrar os Sacramentos, oito Religiosos de são Francisco, e por superior deles um grande Letrado e famoso varão da mesma Ordem, chamado frei Enrique [...](San Roman, 1604)
[...] oito frades da ordem do nosso padre S. Francisco, que iam com Pedro Alvares Cabral, e por guardião o padre frei Henrique, que depois foi bispo de Cepta.” (Salvador, 1627)
“Contia a frota [...] oito Religiosos de San Francisco, oito capelães, e um Vicario; sujeitos capazes todos para o intento.”  (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
Iam como capitães Sancho de Tovar (segundo no comando), Simão de Miranda Azevedo, Aires Gomez da Silva, Bartolomeu Dias, seu irmão Diogo Dias, Nicolau Coelho, Vasco de Ataíde, Pero de Ataíde, Nuno Leitão da Cunha, Simão de Pina, Luís Pires e Gaspar de Lemos. (Vide 1ª Observação). Embora não se saiba o nome da nau capitânia de Cabral, a nau sota-capitânia, capitaneada pelo vice-comandante da armada, Sancho de Tovar, se chamava El-Rei. A outra cujo nome permaneceu é a Anunciada, comandada por Nuno Leitão da Cunha. Esta última pertencia a Dom Álvaro de Bragança, filho do duque de Bragança, e fora equipada com os recursos de Bartolomeu Marchionni e Girolamo (ou Geronimo) Sernige, banqueiros florentinos que residiam em Lisboa e investiam no comércio de especiarias. Conservou-se ainda o nome da caravela capitaneada por Pero de Ataíde, a São Pedro. A armada era completada por um pequeno navio (talvez uma caravela) de mantimentos, comandada por Gaspar de Lemos (segundo outros, André Gonçalves). Coube a este navio retornar à Portugal com as notícias sobre a descoberta do Brasil. Baseado em documento incompleto, que teria localizado na Torre do Tombo, em Lisboa, Varnhagen identificou cinco das dez naus que compunham esta frota: Santa Cruz, Vitória, Flor de la Mar, Espírito SantoEspera. A fonte citada por Varnhagen nunca foi reencontrada, portanto, a maioria dos historiadores prefere não adotar os nomes por ele listados. Outros historiadores do século XIX declararam que a nau capitânia de Cabral era a lendária São Gabriel, a mesma comandada por Vasco da Gama na viagem em que ele descobriu o caminho marítimo para as Índias em 1498. Entretanto, não existem documentos para comprovar esta tese. Dos 13 navios, 10 eram destinados à Índia, 2 a Sofala (Moçambique) e 1 para transporte de víveres. Iam na frota Pêro Vaz de Caminha, autor da célebre carta a D. Manuel; mestre João (físico, misto de cirurgião, farmacêutico, astrônomo e barbeiro), que enviou ao rei uma outra carta; Duarte Pacheco Pereira, autor do Esmeraldo e futuro herói nas lutas de formação do Império Português no oriente; os pilotos Pêro Escolar, Affonso Lopes e os que Vasco da Gama trouxe de Melinde. Iam também Balthazar e outros Índios vindos na primeira viagem; os intérpretes Gaspar da Gama, Gonçalo Madeira de Tanger e um grumete negro da Guiné; os degredados Affonso Ribeiro, João Machado, Luiz de Moura, Antônio Fernandes, que era carpinteiro de naus, e mais 16; Ayres Correia, feitor de Calecut e seus filhos Ayres e Antônio, Vasco da Silveira, Fernão Peres Pantoja, João de Sá, Francisco Henriques, Lourenço Moreno, Fernão Diniz, Affonso Furtado, Sebastião Alexandre e Gonçalo Peixoto. Iam os navios de Cabral aparelhados e fornecidos do necessário para ano e meio de viagem, bem providos de artilharia, munições, pipas d'armas brancas, espadas e lanças, e uma botica em cada nau. Para comerciarem ia coral em ramo e em fio; cobre, vermelhão, mercúrio e âmbar; panos de lã grossos e finos; veludos, cetins e damascos de todas as cores.
[...] determinou logo a mandar la hū fidalfo com hūa grossa armada pera que assentasse amizade cõ elRey de Calicut [...] escolheu a hū fidalgo chamado pedraluarez cabral, que fez capitão mór da armada que avia de mãdar a Calicut que foy de dez nãos e tres redondos, cujos capitães a fora ele forão Sãcho de toar que ya na sua subcessam / Niculao coelho, Aires gomez da silva, Simão de Miranda dazeuedo / Vasco dataide / Pero dataide, Simão de Pina, Nuno leytão, Bertolameu diaz, y Diogo diaz seu irmão [...] y a mais por capitães hū gaspar de lemos y hū Luys pirez.” (Castanheda, 1551)
 “[...] cujos capitães eram estes: Pedraluarez Cabral capitão mór, Sancho de Toar filho de Martim Fernãdez de Toar, Simão de Miranda filho de Diogo de Azeuedo, Aires Gomez da Silua filho de Pero da Silua, Vasco de Taide & Pero de Taide d’alcunha Inferno, Nicolao Coelho que fora com Vasco da Gamma, Bartholomeu Diaz o que descobrio o cabo de Boa Esperança, & seu irmão Pero Diaz, Nuno Leitão, Gaspar de Lemos, Luis Pirez & Simão de Pina.” (Barros, 1552)
 “E das naos fez ElRey capitães Sancho de Toar, fidalgo castelhano, Simão de Miranda d’ Azeuedo, Braz Matoso, Vasco d’Ataide, Nuno Leitão da Cunha, Symão de Pina, Nicolao Coelho, Pedro de Figueiró, Bertholameu Diaz, Diogo Diaz seo irmão, Luis Pires, Gaspar de Lemos, André Gonçalves, Mestre que viera com Dom  Vasco que lhe quis elle dar esta honra: estes tres capitães dos navios pequenos, Simão de Miranda d’ Azeuedo era Capitão da nao Capitania, e “hia” pera Capitão mór na socessão de Pedraluarez cabral se elle falecesse.” (Correia, 1561)
[...] & por sota capitão Sãcho de toar, hos outros capitães erão Simão de Miranda, Aires gomez da Sylua, ho mesmo Nicolao Coelho, Nuno leitam, Vasco dataide, Bartholomeu diaz que descobrio ho cabo da boa Sperãça, Pero diaz seo irmão, Gaspar de lemos, Luis pires, Simão de pinna, Pero dataide dalcunha inferno, & por feitor da armada Aires correa [...](Gois, 1566)
[...] e tendo também claridade bastante como se havia de navegar aquela viagem, tomou por bom acordo enviar a Pedro Aluarez Cabral homem fidalgo e de quen se tinha bom conceito, assim por seu valor, como por ser mui prudente: levou 12 navios, e neles mil e quinhentos homens, em que iam muitos fidalgos, e alguns religiosos da Ordem do bem-aventurado Sant Francisco, partiiu em quatorze dias do mês de Marzo deste Ano, [...](Ochoa de la Salde, 1585, fl. 10a)
“Os outros Sancho de Toar, Simon de Miranda, Ayres Gomez de Silva, Vasco, e Pedro de Ataíde, Nicolao Coello, Bartolome Diaz (este que havia descoberto o Cabo da Boa esperança, e esse outro acompanhado a Don Vasco) Pedro Diaz seu irmão, Nuño Leytam, Gaspar de Lemos, Luis Perez, e Simon de Pina.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
[...] e lhe dá por tenente um outro gentil-homem nomeado Sanche de Tovar. Todos os outros capitães eram gente de mérito e experiência.” (Lafitau, 1733, Vol. 1, Livro II)
“Foi-nos conservado o nome de todos os capitães. Os dos navios eram Sancho de Toar, que comandava o navio de Cabral; Nicolas Coelho, Don Luis Coutinno; Simon de Misaran [Miranda]; Simon Layton [Simão de Pina?]; Barthelemy Diaz, o mesmo que descobriu o cabo da Boa Esperança; Diego Diaz, seu irmão, que foi tesoureiro de Gama na sua viagem. Os capitães das caravelas eram Pedro de Athaïde e Vasco da Silveyra. Por feitor a frota tinha Ayres Correa, que devia permanecer em Calicut nesta qualidade.” (Rouselot de Surgy, 1746)
O domingo 8 de março de 1500 passara-se em festas populares.
“Em hum Domingo outo de Março daquelle anno, estando tudo prestes, sahimos a duas milhas de distancia de Lisboa, a hum lugar chamado Rastello, onde está o Convento de Belém, e ahi foi ElRei entregar pessoalmente ao Capitão mór o Estandarte Real para a, dita Armada.” (Navegação, 1501)
[...] e chegado o tempo de sua partida estando em restelo foy elRey dom Manuel fazer honrra a pedraluarez cabral foy em procissam a nossa senhora de Belem [...] e elRey se tornou a Lisboa por não poder a armada partir aquele dia polo estorvo do tempo [...](Castanheda, 1551)
 “[...] foi el-Rey que então estava em Lisboa hum domingo oito dias de Março do anno de mil & quinhentos, cõ toda corte ouvir missa a nossa Senhora de Bethlem que é em rastello: onde já as nãos estalão com seu alardo da gente d’armas feito.” (Barros, 1552)
 “Prestes esta armada, estando já em Restello el Rei que foi aho mosteiro de Bethlem, õde mãdou dizer missa em pontifical [...](Gois, 1566)
[...] embarcar-lhe a oito de Março de 1500 [...](San Roman, 1604)
“Eram oito de Março quando elRey entregou de sua mão a bandeira da Cruz, e Orden de Christo, a Pedralvarez, [...]” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
A frota partiu de Belém (Lisboa) segunda-feira, 9 de março de 1500.
Que a partida de Belém, como Vosa Alteza sabe, foy segunda feira ix [9] de Março [...]” (Caminha, 1500)
“O dito meu capitão [Cabral] com treze naus partiu de Lisboa a nove de Março do ano passado [1500].” (D. Manuel, 1501)
[...] Cabo Verde [...] onde por acaso encontramos ancorada dois navios do Rei de Portugal, que estavam de retorno da parte da Índia Oriental, que são aquelas mesmas que foram a Calichut, já faz quatorze meses, que foram treze navios, com os quais tive grandíssima conversa, não tanto da sua viagem, como da costa da terra que percorreram, e das riquezas que encontraram, [...]. Esta frota do Rei de Portugal, partiu de Lisboa no ano 1499, no mês de Abril, [...]” (Vespucci, 1501, Lettera Baldelli, Bd)
[...] forão ao noue de Março de mil e quinhentos fez a capitania sinal as outras que se levassem, o que logo fizeram: e posta toda frota á vela saio aquele dia de foz em fora, e prosseguio sua viagem [...](Castanheda, 1551)
Ao seguinte dia que erão noue do mes de Março defferindo suas velas que estalão a pique: saio Pedraluarez com toda a frota [...]” (Barros, 1552)
Partiu, pois, a frota portuguesa, cujo capitão foi Pedro Álvarez Cabral, de Lisboa, segunda, a 9 dias do mês de Março, ano de 1500, [...](Las Casas, 1561, Vol. II, Cap CLXXIV)
[...] sendo ordenado que partissem em dia de Nossa Senhora vinte e cinquo dias de Março.” (Correia, 1562)
“Ho ovtro dia pela manhãe, que foram noue de Março de mil, & quinhentos, partio ha frota do porto de Bethlem com bom vento de foz em fora [...](Gois, 1566)
Partiu Cabral com toda a sua armada a 9 de Março do ano de 1500.” (Osório, 1571)
A qual [frota] partiu da Cidade de Lixboa a nove de Março no anno de 1500.” (Gandavo, 1576)
Na segunda viagem que os portugueses fizeram sob o rei Dom Emanuel para a descoberta das Índias Orientais, Pedralvares Cabral partiu de Lisboa a nove de março de mil e quinhentos [...](La Popelinière, 1582, Livro III, pg 17)
[...] arrancou aos nove de Março de Lisboa [...](San Roman, 1604)
[...] partiu de Lisboa segunda a 9 de Março deste Ano; [...]” (Herrera, 1611)
Partiu a armada em nove de março [...](Barbuda, 1624)
Ele [Cabral] partiu de Lisboa em 8 de Março do ano secular.” (Purchas, 1625)
b) Chegada às Ilhas Canárias (14 de março de 1500)
No sábado 14 de março de 1500 foram avistadas as Ilhas Canárias.
“[...] e sabado xiiij [14] do dito mes, amtre as biij [8] e ix [9] oras, nos achamos amtre as Canareas, mais perto da Gram Canarea ; e aly amdamos todo aquele dia em calma, a vista delas, obra de tres ou quatro legoas [18,5-25km] [...](Caminha, 1500)
“[...] aos quatorze do mesmo mez chegámos ás Canárias: [...]” (Navegação, 1501)
“[...] ahos quatorze houue vista das ilhas da Canarea [...](Gois, 1566)
c) Chegada às Ilhas de Cabo Verde (22 de março de 1500)
No domingo 22 de março de 1500 avistaram as ilhas de Cabo Verde. Caminha relata que no dia seguinte, 23 de março, um navio com 150 homens, comandada por Vasco de Ataíde, desapareceu sem deixar vestígios. A maioria dos outros autores relata, no entanto, que foi o navio de Luís Pirez que sumiu. Cabral teria esperado, em vão, por 2 dias para ver se o navio aparecia; como este não aparecesse, seguiu viagem. (Vide 2ª Observação)
[...] e domingo xxij [22] do dito mes, aas x [10] oras, pouco mais ou menos, ouvemos vista das jlhas de Cabo Verde, saber : da jlha de Sam Njcolaao, segundo dito de Pero Escolar, piloto ; e, a noute segujmte aa segunda feira, lhe amanheçeo (sic) se perdeo da frota Vaasco d Atayde com a sua naao, sem hy aver tempo forte, nem contrairo pêra poder seer ; fez o capitam suas deligençias pera o achar a huūas e a outras partes, e nom pareceo majs ; e asy segujmos nosso caminho per este mar de lomgo [...](Caminha, 1500)
[...] aos vinte e dous passámos Cabo verde; e no dia seguinte esgarrou-se huma náo da Armada, por fôrma tal, que não se soube mais della.” (Navegação, 1501)
[...] durante a viagem, daqui [Lisboa] distante 80 léguas [500km], uma destas naves do rei se perdeu; dela não se soube mais notícia [...](La Faitada, 1501)
[...] e navegaram para o meio-dia das Ilhas de Cabo Verde, [...](Vespucci, 1501, Lettera Baldelli, Bd)
[...] aos vinte dous passou pola ilha d’Santiago e aos vinte quatro se apartou dela com tormenta Luis pirez que arribou a Lisboa. Desaparecida a carvela de Luis pirez esperou Pedraluarez cabral por ela dous dias [...](Castanheda, 1551)
 “[...] fazendo sua viagem ás ilhas do cabo Verde, pera ahi fazer aguada, onde chegou em treze dias. Però antes de tomar este cabo, sendo entre estas ilhas, lhe deu hum tempo que lhe fez perder de sua companha o nauio de que era capitão Luys Pirez, o qual se tornou a Lisboa.” (Barros, 1552)
[...] e tomou seu rumo para as ilhas de Cabo Verde, [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“Sendo fora de Lisboa a frota navegando com bom tempo forão demandar as Ilhas Terceiras por se mais metterem no mar, pera que os ventos lhe fossem mais largos pera nauegar pera o Cabo [...] no qual caminho acharão a nao de Pero de Figueiró muito zorreira, que com ella se perdia a metade do que as outras andauão, e com os ventos que as outras animauão ella sem amainar inda não podia chegar, e sendo na linha de Guiné, tiuerão chuveiros com pés de ventos fortes, com que todos amainauão. A nao de Pero de Figueiró, que a andar teue a vela, hum pé de vento a soçobrou, que não foy vista com a grande çarração da chuiua que, sendo passada, nunqua mais a virão ; e querendo o capitão mór voltar em sua busca, lhe disse o piloto que não perdesse caminho [...](Correia, 1561)
“E tendo huma nao perdida em sua busca perdeo a derrota, [...](Galvão, 1563, fl. 28a)
[...] ahos vinta dous com vento prospero passou pela ilha de Sanctiago, auante da qual se apartou da frota com tormenta ha nao de que era capitam Luis piz, que arribou a Lisboa desbaratada, per cujo respeito andou Pedraluarez cabral aho pairo com toda a armada dous dias, mas vendo que não aparecia, seguiu sua viagem [...](Gois, 1566)
Mas Pedro Alvares Cabral, que hia em derrota da India, seguindo a mesma esteira do Gama, veio à ilha de Sant-Iago, d’onde querendo passar avante, tal tormenta se levantou, que a Armada se lhe desgarrou, e huma das naus desalvorada recuou para Lisboa. Applacada a tempestade, cuidou Cabral em recolher a si a Armada, em que achou aquela nao de menos, pelo que mandou arrear as vergas e esperar por ella dous dias: vendo porém que não apparecia, pôz a proa no Occidente.” (Osório, 1571)
“E sendo já entre as Ilhas do Cabo verde, as quaes hiam demandar para fazer ahi aguada, deu lhes hum temporal, que foi cauza de as nam poderem tomar, e de se apartarem alguns navios da companhia.” (Gandavo, 1576)
[...] e como ele descobriu o Cabo Verde, seguindo a costa da Barbaria, para o Cabo da Boa Esperança, foi impelido para a costa da América..” (La Popelinière, 1582, Livro III, pg. 17)
[...] passou adiante às Ilhas de Santiago aos vinte e dois dias do dito mes de Março. Passada a Ilha de Santiago teve tormenta, que apartou alguns navios da conserva, entre os quais uma caravela de Luis Perez, depois de andar forcejando com a fúria do mar, e haver passado muitos perigos, não foi possível juntar-se com os demais, tendo que voltar a Lisboa, muito triste.” (San Roman, 1604)
“7 [...] foi arrebatado de força de ventos tempestuosos, e derrotados seus navios. Hum d'elles, o do Capitão Luis Pires, destroçado, tornou a arribar a Lisboa [...]” (Vasconcellos, 1623)
[...] e passando pelas ilhas de Cabo Verde, lhes deu um grande temporal, com o que uma das treze naus retornou a Lisboa [...](Barbuda, 1624)
[...] e mantendo seu curso para S. Iago, lá encontrou-se com uma tempestade que espalhou a Frota, e forçou um navio a retornar.” (Purchas, 1625)
“Defiridas as velas, e navegando prosperamente doze dias, correram fortuna a vista de Cabo Verde, com que Luis Perez chegou a Lisboa.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
d) Travessia do Atlântico (26 de março a 21 de abril de 1500)
A frota cruzou a Linha do Equador em 9 de abril de 1500 e navegou rumo a sudoeste afastando-se o mais possível do continente africano, utilizando uma técnica de navegação conhecida como a volta do mar, para evitar as calmarias e tempestades, conforme orientação de Vasco da Gama. (Vide 3ª Observação)
E se ouuerē [os navios] de gynar seja sobre ha bamda do sudueste e tanto que neles deer o vento escasso deuē hyr na volta do mar até meterē o cabo de boõa esperamca em leste franco. E dy emdiamte navegarē lhe seruir o tpõ e mais ganharem porque como forē na dyta parajem nõ lhe mygoara tpõ cõ ajuda de noso Sñr. com que cobrem o dito cabo.” (Fragmentos de Instrucções, 1500)
“[...] por fugir da terra de Guiné onde as calmarias lhe podião impedir seu caminho: empêgouse muito no mar por lhe ficar seguro poder dobrar o cabo de Boa Esperança.(Barros, 1552)
[...] e dali [das ilhas de Cabo Verde], para fugir da costa Guinea, onde há muitas e frequentes calmarias, meteu-se muito ao mar, que quer dizer à mão direita, para o Austro [sul], e também porque como sai muitíssimo no mar o cabo de Boa Esperança, para podê-lo melhor dobrar; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
E sendo a armada de todo apercebida, e pagamento feito ás gentes, Dom Vasco fez conselho com os mestres e pilotos da navegação que farião pera encurtar caminho, que era cortar polo mar largo, tomando largos os ventos do mar, que corrião pera terra, com muyto resguardo por dobrar o Cabo da Boa Esperança...” (Correia, 1561)
E depois de haver bonança junta outra ves a frota, em pégaramse ao mar, assi por fugirem das calmarias de Guiné que lhes podiam estrovar sua viagem, como por lhes ficar largo e poderem dobrar o Cabo de boa esperança.” (Gandavo, 1576)
“[...] e para fugir da Costa de Guinea, aonde há muitas calmarias, se meteu muito ao Mar, dirigindo-se à mão direita, para o Austro, ou Sul, para poder melhor dobrar o Cabo da Boa Esperança, pelo muito que sai ao Mar; [...]” (Herrera, 1611)
Um mês mais tarde, na terça-feira 21 de abril de 1500, oitava de Páscoa (semana seguinte à Páscoa, que foi domingo 19 de abril), eles avistaram, boiando no mar, ervas marinhas muito compridas, sinais de proximidade de terra.
“[...] segujmos nosso caminho per este mar de lomgo ataa terça feira d’oitavas de páscoa que foram xxj [21] dias d’Abril, que topamos alguuns sygnaaes de tera, seemdo da dita jlha, segundo os pilotos deziam obra de bjc lx [60] ou lxx [70] legoas [370-430km], os quaaes heram mujta camtidade d’ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e asy outras, a que também chamam rabo d’asno ; [...]” (Caminha, 1500)
“E tendo huma nao perdida em sua busca perdeo a derrota, & indo fora della, toparã sinaes da terra, por onde o capitão mòr foy em sua busca tantos dias, que os darmada lhe requererão que deixasse aquella profia: mas ao outro dia virão a costa do Brasil.” (Galvão, 1563, fl. 28a)
e) Quarta 22 de abril de 1500
 Na quarta-feira 22 de abril de 1500, pela manhã, eles avistaram aves e, à tarde, viram o monte Pascoal, no Estado da Bahia, que é visível a mais de 110km do mar. Nesta noite, ancoraram a seis léguas [35km] da terra. Observe que quase todos os autores dão como data do descobrimento dia 24 de abril, e não 22 de abril; praticamente só Caminha dá a data de 22 de abril. Além disto, os autores antigos nunca citam a ocorrência de tempestades ou fenômenos meteorológicos dignos de nota. (Vide 4ª Observação)
“[...] aa quarta feira segujmte pola manhaã topamos aves a que chamam fura buchos ; e neeste dia, a oras de bespera, ouvemos vista de tera, saber : primeiramente d’huum gramde monte muy alto e redomdo, e d’outras terras mais baixas, ao sul d’ele, e de terra chaã, com gramdes arvoredos, ao qual monte alto o capitam pos nome o monte Pascoal, e aa tera [terra] a tera da Vera Cruz. Mandou lançar o prumo ; acharam xxb [25] braças [55m]; e ao sol posto, obra de bj [6] legoas [37km] de tera surgimos amcoras em xix [19] braças [42m], amcorajem limpa. Aly jouvenmos toda aquela noute ; [...] (Caminha, 1501)
“[...] Aos vinte e quatro de Abril, que era huma quarta feira do Outavario da Páscoa houvemos visto de terra [...]” (Navegação, 1501)
De sobre o Cabo da Boa Esperança, para Oeste, descobriram uma terra nova, chamam a terra dos papagaios, por serem os papagaios compridos de um braço ou mais, de várias cores, dos quais vi dois.” (Pisani, 1501)
“Nas oitavas da páscoa seguinte chegou a uma terra que novamente descobriu, à qual pôs nome de Santa Cruz, na qual achou as gentes desnudas como na primeira inocência, mansas e pacíficas ; a qual parece que nosso Senhor milagrosamente quis que se achasse, porque é mui conveniente e necessária para a navegação da Índia, porque ali reparou seus navios e tomou água; e por o caminho grande que tinha por andar não se deteve para se informar das coisas da dita terra, somente me enviou dali um navio a me notificar como a achou, e fez seu caminho via Cabo da Boa-Esperança; [...](Don Manuel, 1501)
“[...] como disse, estes treze navios sopracitados navegaram para o meio-dia da Ilha de Cabo Verde, com o vento que se diz entre meio-dia e Libeccio. E, depois de haver navegado vinte dias, cerca de setecentas léguas [...] chegaram a uma terra onde encontraram gente branca e ignorante, da mesma terra, que eu descobri para o Rei de Castella, salvo que mais a levante, [...](Vespucci, 1501, Lettera Baldelli, Bd)
[...] e aos vinte quatro Dabril que foy derradeyra oytaua da Pascoa foy vista terra [...](Castanheda, 1551)
 “[...] quando veo á segunda octaua da Pascoa que erão vinte e quatro de Abril, foi dar em outra costa de terra firme [...](Barros, 1552)
 “[...] e havendo já um mês que navegava, sempre metendo-se ao mar, nas oitavas de Pascoa, que então foram a 24 de Abril, foi a dar na costa de terra firme, a qual, segundo estimavam os pilotos, podia distar da costa de Guinea 450 léguas [2.780km], e em altura do Polo antártico, da parte do Sul, 10°.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“A capitania, que hia diante, amanhecendo hum domingo houve vista de terra a barlavento, ao qual fez sinal com tiro de berço [pequeno canhão naval], e foy correndo pera ella, e a descobrindo, que era grande costa, terra noua, que nunquaa fora vista, e sendo perta [...] e sendo já tarde virão huma grande baya, onde o capitão mór entrou com o prumo sondado. Achando bom fundo, sorgio o que assim fez toda a frota” (Correia, 1561)
[...] ahos xxiiij [24] dias do mes D’abril virão terra, do que forão mui alegres, porque polo rumo em que jazia, não ser nenhūa das que atte então eram descubertas, Pedralurez cabral fez fazer rosto pa aquella bãda [...](Gois, 1566)
A 24 de Abril descobrirão os gajeiros terra, de que todos conceberão incrivel contentamento, não havendo nenhum dos nossos que tivesse a menor suspeita, de que lhes demorasse terra habitada de homens por semelhantes paragens.” (Osório, 1571)
E avendo ja hum mes que hiam naquell volta navegando com vento prospero, foram dar na Costa desta Província: ao longo daqual cortaram todo aquelle dia, parecendo a todos que hera alguma grande Ilha que ali estava sem aver piloto, nem outra pessoa alguma que tevesse notiticia della nem que presumisse que podia estar terra firme para aquella parte Occidental.” (Gandavo, 1576)
Esta terra se descobriu aos 25 dias do mez de Abril de 1500 annos por Pedro Alvares Cabral, [...](Souza, 1587)
Partido este Capitão de Lisboa, fez sua viagem pelo caminho já conhecido té onde lhe pareceo conveniente mudar a derota, pera tomar o Cabo de Boa Esperança de mais largo: & empégouse, tanto no mar, que havendo hum mez que hia naquella grande volta, foy dar em hūa grande costa, de terra firme, fora de toda esperança : por estar averiguado entre os homens, não haver algūa terra firme Occidental a toda a costa de Affrica,como era aquella.” (Mariz, 1597)
“Detiveram-se até este ponto coisa de um mês, ao cabo do qual, chegaram com muita gritaria e prazer a descobrir nova terra [...](San Roman, 1604)
“[...] e havendo já um Mês que navegava, metendo-lhe sempre ao Mar, a 24 de Abril foi dar na Costa de Terra-firme: a qual, segundo a estimação dos Pilotos, podia estar, da Costa de Guinea, quatrocentas e cinquenta Léguas [2.800km], e em altura do Polo Antártico, da Parte do Sul, dez Gráus.” (Herrera, 1611)
“7 [...] depois de quasi hum mez de derrota, aos 21 de Abril segunda oitava de Paschoa (segundo o computo de João de Barros, Luis Coelho, e outros) vierão a ter vista de huma terra nunca d'antes sabida de outro mareante : esta reputárão por ilha ao principio, mas depois de navegarem alguns dias junto a suas praias, averiguárão ser terra firme.” (Vasconcellos, 1623)
[...] aos vinte e quatro de abril viram terra não descoberta [...](Barbuda, 1624)
[...] em vinte e tres de Abril viu terra [...]” (Purchas, 1625)
[...] navegando ao principio com prospera viagem, experimentou aos doze dias taõ contraria fortuna, que arribando hum dos baixeis a Lisboa, os outros correndo tormenta, perdidos os rumos da navegacaõ, e conduzidos da altissima Providencia, mais que dos porfiados ventos, na altura do Polo Antartico , dezaseis graos , e meyo da parte do Sul, aos vinte e quatro de Abril, avistou ignorada terra, e já mais surcada costa.” (Rocha Pita, 1730)
[...] a 24 de Abril, ele se encontra à vista de uma terra ignorada, situada à oeste.” (Lafitau, 1733, Vol. 1, Livro II)
 “A navegação continua bastante feliz até a 24 de abril. Descobriu-se a terra neste dia.” (Rouselot de Surgy, 1746)
f) Quinta 23 de abril de 1500
Na quinta-feira 23 de abril continuou a viagem lenta e cuidadosamente, indo os navios menores adiante, sondando a profundidade. À distância de 3,5km da costa, fundearam, diante da foz de um rio, cerca das 10:00 horas. Os portugueses detectaram a presença de cerca de 8 habitantes na costa.
“[...] aa quinta feira pola manhaã fezemos vella e segujmos direitos aa terra, e os navjos pequenos diante, himdo per xbij [17 braças, 37,5m], xbj [16 braças 35m], xb [15 braças 33m], xiiij [14 braças, 31m], xiij [13 baças, 28,5m], xij [12 braças, 26,5m], X [10 braças, 22m] e ix [9 braças, 20m] braças ataa mea legoa [3km] de terra, omde todos lançamos amcoras em direito da boca de huum rio ; e chegariamos a esta amcorajem aas X [10h] oras pouco mais ou menos ; e d aly ouvemos vista de homeens que amdavam pela praya, obra de bij [7], ou biij [8], segundo os navjos pequenos diseram, por chegarem primeiro.” (Caminha, 1500)
“[...] tendo todos grandíssimo prazer, nos chegámos a ella para a recomhecer e achando-a muito povoada de arvores, e de gente que andava pela praia lançámos ancora na embocadura de hum pequeno rio.” (Navegação, 1501)
Os capitães de todos os navios reuniram-se a bordo do navio de Cabral para deliberarem. Cabral mandou Nicolau Coelho, capitão que havia viajado com Vasco da Gama à Índia, para fazer contato com os nativos. Ele chegou na foz do rio em um batel, mas não está bem claro se ele chegou a desembarcar em terra ou fez contato com os nativos apenas do barco. Os intérpretes não conseguiram entender a língua nativa. Ele trocou presentes com os indígenas e retornou ao navio por já ser tarde. Os portugueses surpreenderam-se com o aspecto físico dos nativos, bem diferentes dos negros da África com quem estavam acostumados.
“Aly lançamos os batees e esquifes fora ; e vieram logo todolos capitaães das naaos a esta naao do capitam moor ; e aly falaram ; e o capitam mandou no batel em tera Nicolaao Coelho pera veer aquelle rio ; e tamto que ele começou pera la d’hir acodiram pela praya homeens, quando dous, quando tres, de maneira que, quamdo o batel chegou aa boca do rio, heram aly xbiij [18] ou xx [20] homeens pardos, todos nuus, sem nenhuúa cousa que lhes cobrise suas vergonhas e traziam arcos nas maãos e suas seetas ; vjnham todos rijos pera o batel ; e Nicolaao Coelho lhes fez sinal que posesem os arcos ; e elles os poseram. Aly nom pode d’eles aver fala nem entendimento que aproveitasse, polo mar quebrar na costa; soomente deu lhes huum barete vermelho e huúa carapuça de linho que levava na cabeça e huum sombreiro preto ; e huum d’elles lhe deu huum sombreiro de penas d’aves compridas com huūa copezinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagayo ; e outro lhe deu huum ramal grande de comtinhas bramcas meudas, que querem parecer d’aljaveira; as quaaes peças creo que o capitam manda a Vossa Alteza ; e com jsto se volveo aas naaos, por seer tarde e nom poder d’eles aver mais fala, por aazo do mar.” (Caminha, 1500)
O nosso Capitão mór mandou deitar fora hum batel, para ver que povos erão aquelles, e os que nelle forão acharão huma gente parda, bem disposta, com cabellos compridos; andavão todos nus sem vergonha alguma, e cada hum delles trazia aquelle seu arco com frexas, como quem estava alli para defender aquelle rio: não havia ninguém na armada que entendesse a sua lingoagem, de sorte que vendo isto os dos bateis, tornarão para Pedro Alvares [...] (Navegação, 1501)
“[...] reconhecida a terra pelo mestre da capitania que la foy [...](Castanheda, 1551)
 “E por se afirmar no certo se era ilha ou terra firme, foi cortando ao longo della todo hū dia: & onde lhe pareceo mães azada pera poder anchorar mandou lançar hū batel fora. O qual tanto que foi com terra, virão ao longo da praia muita gente nùa [...] se tornarão logo os do batel a dar razão do que virão, & que o porto lhe parecia bom surgidouro. [...] Pedraluarez por aver noticia de terra encaminhou ao porto cõ toda a frota, mandou ao batel que se chegasse bem a terra: & trabalhasse por auer à mão alguma pessoa das que virão, sem os amedrontar cõ algum tiro que os fizesse acolher. Mas elles não esperarão por isso, porque como virão que a frota se vinha contra elles, & que o batel tornaua outra vez â praia, fugirão della: & puzerãse em hū teso soberbo, todos apinhoados a ver o que os nossos fazião. Os do batel enquãto Pedraluarez surgia hū pouco largo do porto, por não amedrentar aquella noua gente maes do que o mostraua em se acolher ao teso: pozerãse debaixo no mesmo batel & começou hum negro grumete falar a lingua de Guinê, & outros que sabião algumas palavras do Arauigo, mas elles nem a lingua nem os acenos em que a natureza foi cõmū a todalas gentes nunca acodirão. Vendo os do batel que nem os acenos nem as cousas que lhe lançarão na praia acodião, cansados de esperar algum final de intedimento delles, tornarão se a Pedraluarez, contando o que virão.” (Barros, 1552)
Não podiam crer os pilotos que aquela era terra firme, e sim, alguma grande ilha, como esta ilha Española [Hispaniola], que chamavam os portugueses Antella, e para experimentá-lo, foram ao longo da costa um dia; lançaram um batel fora, chegaram à terra e viram infinita gente desnuda, não preta nem de cabelos torcidos como os de Guinea, mas sim longo e escorrido e como o nosso, coisa que lhes pareceu muito nova. Retornou logo o batel a dar novas disto, e que parecia bom porto aonde podiam fundear; chegou-se a frota à terra, e o Capitão mandou que retorna-se lá, e, se pudesse, tomasse alguma pessoa, porém eles foram-se fugindo a uma colina, e juntos, esperavam para ver o que queriam os portugueses fazer; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“O Capitão mór deitou o esquife fora, o que assim fizeram os capitães, e forão ver o Capitão mór, o qual mandou Nicolao Coelho no seu esquife com o piloto mouro que fosse a terra, e visse se podia hauer fala da gente da terra. O qual foy com dez homens de lanças e bestas, porque ainda então não hauia espingardas, e sayo na terra, e achou povoações de casas de palhoças [...](Correia, 1561)
[...] mãdou aho seu mestre que no esquife fosse a terra, ho qual tornou logo, com nouas de ser muito freca, & visçosa, dizendo que vira andar gente baça [...] pelo que mãdou a algūs dos capitães que fossem com hos bateis armados ver se era isto assim, hos quaes sem saírem em terra, tornaram à capitania afirmado ser verdade ho que ho mestre dixera [...](Gois, 1566)
Nada menos mandou Pedro virar sobre a terra, e deo ordem ao Mestre da Capitanea fosse na lancha orçando pela praia, e registando apuradamente o sitio, a natureza daquelle paiz. Voltou o mestre e trouxe averiguado, que era amena a terra e fertil, acuberta de viçosas hervas e altissimas arvores, vertente em copiosas aguas: que víra gente baça, de brando cabello corredio, nús de corpo, passeando pela praia com arcos e fléchas. Não satisfeito Cabral com o testemunho do Mestre, fez embarcar alguns Capitães nas lanchas armados, para que melhor indagassem o terreno. Elles perfizerão a ponto quanto Cabral lhes incumbíra e, de volta confirmarão por certo  quanto o Mestre denunciado tinha.” (Osório, 1571)
E no logar que lhes pareceo della mais accomodado, surgiram aquella tarde, onde logo teveram vista de gente da terra: de cuja semelhança nam ficaram pouco admirados, e porque era diferente da de Guinè, e fóra do comum parecer de toda outra que tinham visto [...](Gandavo, 1576)
E porque a vista della, já entre elles sem duvida, & esta opinião, que diziamos, causou vários pareceres, mandou o Capitão mór hum batel que rodeando a terra, os desenganasse. O qual encontrando cõ gente bem differente, em a cor, & cabello da de Guiné, de que elles tinhaõ noticia se tornou logo ao Capitão Mòr [...] (Mariz, 1597)
“Não podiam crer os Pilotos, que aquela era Terra-firme, mas sim alguma grande Ilha, como a Hispaniola e para experimentá-lo, foram um Dia ao longo da Costa, lançaram fora uma Barca, saíram à Terra, e viram infinita Gente desnuda, não preta, nem de cabelos torcidos, como a de Guinea, mas sim escorrido, e liso, como o nosso, coisa que lhes pareceu muito nova: voltaram ao Batel a dar nova disto, e que era bom o Porto, aonde podiam surgir [...] chegou-lhe a Frota à Terra, e o Capitão mandou, que voltassem a sair, e viessem de tomar algun Homem: a Gente se retirou a uma Colina, esperando o que fariam os Portugueses; [...]” (Herrera, 1611)
8 [...] Puzerão-lhe a prôa, e maudou Cabral ao mestre da Capitania que entrasse no batel, e fosse investigar o sitio, e a natureza da terra: tornou alegre, e referindo que era fertil, amena, vestida de erva e arvoredo, e cortada de rios; e que vira andar junto às praias huns homens nús, [...](Vasconcellos, 1623)
“Entre várias tormentas, e bonanças, registrando diferentes pontas de terra, na altura do Polo Antártico, da parte do Sul dez graus, veio gente nua de cor baça, pelo liso, e rosto chato. Quiseram comunicar com eles, mas vendo-os fugir, e logo firmarse unida em posto eminente, falavam-lhes em várias línguas, e por sinais. Porém sendo tudo em vão, correron adiante, [...](Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
Nesta noite, um temporal cai sobre a esquadra mostrando a conveniência de procurar um lugar mais abrigado para fundear os navios.
“A noute segujmte ventou tamto sueste com chuvaceiros, que fez caçar as naaos, e especialmente a capitana ;” (Caminha, 1500)
[...] e no em tanto se fez noute, e se levantou com ella hum muito rijo temporal.” (Navegação, 1501)
[...] saltou aquella noute tanto tempo com elles que lhe conueo leuar as anchoras [...](Barros, 1552)
[...] querendo lançar mais batéis fora e gente, veio um grande vento e alçaram as âncoras, e foram-se ao longo da costa em direção do Sul, donde lhes servia o vento, e fundearam em um bom porto.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
[...] se aleuantou denoite hum temporal [...] (Gois, 1566)
Detendo-se alli sobre as ancoras aquella noite, sobreveio tamanho temporal, que carregando na Armada, a forçou a rodear ao longo daquella costa muito embatida das ondas, e destroncada por aquelles mares [...]” (Osório, 1571)
Estando assi surtos nesta parte que digo saltou aquella noite com elles tanto tempo, que lhes foi forçado levarem as âncoras [...]” (Gandavo, 1576)
g) Sexta 24 de abril de 1500
Na Sexta-feira 24 de abril, Cabral ordenou que a frota rumasse ao norte, os navios maiores mais afastados, os navios menores mais chegados à terra. Ao pôr do sol, após viajarem 60 km para o norte, encontraram um recife (Porto-Seguro), abrigando um porto de larga entrada, onde fundearam a 6km do litoral. À vasta enseada, que era um porto natural, se deu o nome de Porto Seguro, que não é o Porto Seguro atual, mas a enseada de Santa Cruz, que tem o nome atual de Baía Esbrália. (Vide 5ª Observação)
[...] aa sesta pola manhaã, aas biij [8] oras pouco mais ou menos, per conselho dos pilotos, mandou o capitam levamtar amcoras, e fazer vela ; e fomos de lomgo da costa, com os batees e esquifes amarados per popa comtra o norte, pera veer se achavamos alguūa abrigada e boo pouso, omde jouvesemos, pera  tomar agoa e lenha, nom por nos ja mjnguar, mas por nos acertarmos aquy ; e quamdo fezemos vela seriam ja na praya, asentados jumto com o rio, obrra de lx [60] ou lxx [70] homeens que se jumtaram aly poucos e poucos ; fomos de lomgo, e mandou o capitam aos navios pequenos que fosem mais chegados aa terra, e que, se achasem pouso seguro pera as naaos que amaynasem. E, seendo nós pela costa obra de x [10] legoas [60km] d’omde nos levamtamos, acharam os ditos navios pequenos huum arrecife com huum porto dentro muito boo, e muito seguro, com huūa muy larga entrada, e meteram se dentro e amaynaram ; e as naaos arribaram sobr’eles e huum pouco amtes sol posto amaynaram, obra de huūa legoa [6km] do arrecife, e ancoraram se em xj [11] braças [24m].” (Caminha, 1500)
Na manhã seguinte escorremos com elle'a costa para o Norte, estando o vento Sueste, até ver se achávamos algum porto aonde nos podessemos abrigar e surgir; finalmente achámos hum aonde ancorámos, [...]” (Navegação, 1501)
[...] e por ho porto em que surgio ser bom, lhe pos nome porto seguro [...](Castanheda, 1551)
 “[...] & correrão cõtra o sul sempre ao longo da costa, por lhe ser por aquelle rumo o vento largo: te que chegarão a hum porto de mui bom surgidouro, que os segurou do tempo que leuauão, ao qual por esta razão Pedraluarez pos o nome que ora tem, que he Porto Seguro.” (Barros, 1552)
“E mandou o capitão mòr hum nauio apalpar se achaua porto, tornou, dizendo, que achaua bom & seguro, & assi lhe poserão o nome, & dizem que está da parte do sul em dezasete graos daltura.” (Galvão, 1563, fl. 28a)
[...] hum temporal com que correram de longo da costa atte tomarem hū porto muito bõ, onde Pedralurez surgio co has suas naos & por ser tal lhe pos nome Porto Seguro.” (Gois, 1566)
 “[...] até que acertou com hum excellente porto, que Pedro Alvares mandou se chamasse dalli em diante Porto Seguro.” (Osório, 1571)
“[...] e com aquelle vento que lhes era largo por aquelle rumo, foram correndo a costa atè chegarem a hum porto limpo, e de bom surgidouro, onde entraram: ao qual pozeram este nome que hoje em dia tem de Porto Seguro, por lhes dar a colheita, e os asegurar do perigo da tempestade que levavam.” (Gandavo, 1576)
Isto ele encontra no porto, que depois ele fez chamar de Porto Seguro, tanto pelo fácil desembarque, como por se ver aí protegido da tempestade e borrasca, que començava a se elevar.” (La Popelinière, 1582, Livro III, pg 17)
[...] lhe sobreveyo taõ grande vento, que com as âncoras na maõ, correrão grande parte ao longo daquella costa: té que abrandando o tempo, foraõ ter a hum Porto que o Capitaõ chamou Seguro [...] (Mariz, 1597)
[...] acharam ser acomodada e segura para recolher-se nela as naus que por ali chegassem, e por isto a chamaram Porto Seguro.” (San Roman, 1604)
“[...] e querendo lançar mais Batéis, o tempo lhes fez ir ao longo da Costa adiante, e surgiram em outro bom Porto, que chamaram Porto Seguro [...]” (Herrera, 1611)
9 Lançou a armada ferro pera descançar da viagem, e experimentar terra tão nova, em lugar a que chamárão Porto seguro, ou porque n'elle reconhecião seguro abrigo, ou porque n'elle consideravão já seguro o fim de seus maiores trabalhos.” (Vasconcellos, 1623)
“[...] e chegaram às vésperas de Páscoa em um porto, que chamaram, Seguro, por tê-lo sido para eles.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
Nesta noite, Afonso Lopes, piloto da nau capitânia, trouxe dois índios, que estavam pescando em uma canoa, a bordo para conversarem com Cabral, que se encontrava acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha. Assim como no primeiro contato, o encontro foi amistoso e Cabral ofereceu presentes e alimentos aos nativos, que dormiram no navio. 
“E seendo Affonso Lopez nosso piloto, em huum d’aqueles navios pequenos per mandado do capitam, por ser homem vyvo e deestro pera jsso, meteo se loguo no esquife a somdar o porto demtro, e tomou em huūa almaadia [canoa] dous d’aqueles homeens da terra, mancebos e de boos corpos ; e huum d’eles trazia huum arco e bj [6] ou bij [7] seetas, e na praya amdavam mujtos com seus arcos e seetas, e nom lhe aproveitaram ; trouve os logo ja de noute ao capitam, omde foram recebidos com muito prazer e festa. [...] O capitam, quando eles vieram, estava asentado em huūa cadeira, e huūa alcatifa [tapete] aos pees por estrado, e bem vestido com huum colar d’ouro muy grande ao pescoço, e Sancho de Toar, e Simam de Miranda, e Nicolaao Coelho, e Aires Corea, e nos outros que aquy na naao com ele himos asentados no chaão per esa alcatifa. Acemderam tochas e emtraram, e nom fezeram nenhuūa mençam de cortesia, nem de falar ao capitam, nem a njmguem ; pero huum d’eles pos olho no colar de capitam, e começou d’acenar com a maão pera a terra, e despois pera o colar, com o que nos dezia que avia em tera ouro; e também viu huum castiçal de prata, e asy meesmo acenava pera a tera e entam pera o castiçal como que avia também prata. [...], e entam estiraran se asy de costas na alcatifa a dormjr sem teer nenhua maneira de cobrirem suas vergonhas [...]. O capitam lhes mandou poer aas cabeças senhos coxijs, e o da cabeleira procurava asaz polla nom quebrar, e lançaram lhes huum manto em cjma, e eles consentiram e jouveram e dormiram.” (Caminha, 1500)
[...] e vimos daquelles mesmos homens, que andavão pescando nas suas barcas; hum dos nossos bateis foi ter aonde elles estavão, e apanhou dous que trouxe ao Capitão mór, para saber que gente erão; porém, como dissemos, não se entendião por fallas, nem mesmo por acenos, e assim tendo-os retido huma noute comsigo [...]” (Navegação, 1501)
“E em terra forão tomados dous homens dos naturaes dela / que por não se entenderem com nhū dos lingoas [intérpretes] que Pedraluarez leuaua os mandou soltar [...](Castanheda, 1551)
Enviou um batel e tomou dois índios em uma canoa; [...](Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
 “Surta a frota mãdou Pedralurez algūs dos capitães nos esquifes ver ha terra, que logo tornáram cõ dous homens que estavã pescado em hūa almádia, dos quaes se quisera informar da calidade dela, mas achou hos tam bárbaros, que allem de nam hauer lingoa que hos entendesse, nem per açenos sabiã dar sinal de cousa que lhes perguntasse, pelo que lhes mandou dar de vestir [...] & assi ajaezados hos fez poer em terra.” (Gois, 1566)
Abrigadas alli as náos, encommendou Cabral a alguns Capitães, que fossem nos bateis examinar aquelles sitios. Logo voltárão com dous pescadores, que tomárão d’hum barco; e como nenhuns dos nossos lhes podia comprehender a linguagem, por acenos e sinaes começárão a tratar com elles. Mas tão boto engenho tinhão estes Indios, e tão embaçados estavão de animo, que se lhes não pôde por sinaes dar nada a perceber.” (Osório, 1571)
[...] saiu um Batel, que tomou dois Índios, e o Capitão os mandou vestir, e enviá-los à Terra : [...]” (Herrera, 1611)
“8 [...] tornou a mandar Capitães, e fizerão estes certo tudo o referido; porque trouxerão comsigo dous pescadores, que apanhárão em huma jangada junto à praia: entrados na náo, vinhão a vel-os com espanto, como a monstros da natureza : e como nem elles comnosco, nem nós com elles podiamos fallar, por acenos e sinaes procuramos tirar noticias; porém debaldo; porque sua rudeza, e o medo com que estavão era tal, que a nada acudião.” (Vasconcellos, 1623)
h) Sábado 25 de abril de 1500
No sábado dia 25 de abril de 1500 eles entraram na enseada de Porto Seguro (Baía Cabrália), ancorando entre a ponta da Coroa vermelha e a baía rasa de Santa Cruz, com o Rio João de Tiba no meio. Os recifes defendiam a frota do vento sul.
Ao sabado pola manhaã mandou o capitam fazer vella, e fomos demandar a emtrada, a qual era muy largua e alta, de bj [6], bij [7] braças [13-15,5m], e entraram todalas naaos demtro e amcoraram se em b [5], bj [6] braças [11-13m], a qual amcorajem dentro he tam grande e tam fremossa e tam segura, que podem jazer dentro nela mais de ijc [200] navjos e naaos.” (Caminha, 1500)
Neste mesmo dia os capitães se reuniram na capitânia, onde Cabral determinou que Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias devolvessem os 2 índios à terra; acompanhava-os Caminha e Afonso Ribeiro, um degradado, que deveria ficar com os índios para lhes conhecer os costumes, mas os índios o devolveram com presentes.
“E tanto que as naaos foram pousadas e amcoradas vieram os capitaães todos a esta naao do capitam moor, e d’aquy mandou o capitam Nicolaao Coelho e Bertolameo Dias que fosem em terra e levasem aqueles dous homens [os 2 índios que tinham dormido na nau de Cabral], e os leixasem hir com seu arco e seetas ; aos quaaes mandou dar senhas camisas nuvas e senhas carapuças vermelhas e dous rrosairos de contas brancas d’oso, que eles levavam nos braços, e senhos cascavees e senhas campainhas. E mandou com eles pera ficar la huum mancebo degradado, creado de Dom Joham Teello, a que chamam Affonso Ribeiro, pera amdar la com eles, e saber de seu vjver e maneira, e a mym mandou que fose com Nicolaao Coelho. Fomos asy de frecha direitos aa praya ; aly acodiram logo obra de ijc [200] homeens todos nuus e com arcos e seetas nas maãos ; aqueles que nos levavamos acenaram lhes que se afastasem e posesem os arcos ; e eles os poseram e nom se afastaram muito ; abasta que poseram seus arcos, e emtam sairam os que nos levavamos e o mancebo degradado com eles ; os quaaes, asy como sairam, nom pararam mais, nem esperava huum por outro, senom a quem mais coreria ; e pasaram huum rio [...], e outros mujtos com eles ; e foram asy corendo aalem do rrio antre huūas moutas de palmas, onde estavam outros ; e aly pararom ; e naquilo foy o degradado com huum homem, que logo ao sair do batel ho agasalhou ; e levou o ataa la ; e logo ho tomaram a nos ; e com ele vieram os outros que nos levamos, os quaaes vijnham Ja nuus e sem carapuças. E entam se começaram de chegar mujtos, e entravam pela beira do mar pera os batees ataa que mais nom podiam ; e traziam cabaaços d’agoa e tomavam alguuns barris que nos levavamos, e emchia nos d’agoa e trazia nos aos batees; nom que eles de todo chegasem a bordo do batel, mas, junto com ele, lançavam no da maão, e nos tomavamo los, e pediam que lhes desem alguūa coussa. Levava Nicolaao Coelho cascavees e manjlhas, e huuns dava huum cascavel, e a outros huūa manjlha, de maneira que com aquela emcarna casy nos queriam dar a maão. [...] D’aly se partiram os outros dous mancebos, que nom os vimos mais. Amdavam aly mujtos d’eles ou casy a maior parte, [...] Aly amdavam antr’eles tres ou quatro moças bem moças e bem jentijs, com cabelos mujto pretos comprjdos pelas espadoas, e suas vergonhas tão altas e tam çaradinhas, e tam limpas das cabeleiras, que de as nos mujto bem olharmos nom tijnhamos nenhuūa vergonha. [...] Acenamos lhe que se fosem ; e asy o fezeram e pasaran se aalem do rrio, e sairam tres ou quatro homeens nossos dos batees, e encheram nom sey quantos barrijs d’agoa que nos levavamos e tornamo nos aas naaos ; e em nos asy vyndo acenavam nos que tornasemos ; tornamos e eles mandarem o degradado, e nom quiseram que ficase la com eles ; [...] Nom curaram de lhe tomar nada, e asy o mandaram com tudo ; e entam Bertolameu Dias o fez outra vez tornar que lhes dese aquilo ; e ele tornou, e deu aquilo, em vista de nós, aaquelle que o da primeira (sic) agasalhou ; e entam veo ssee trouvemolo.” (Caminha, 1500)
[...] tendo-os retido huma noute comsigo, os poz em terra no dia seguinte, com huma camiza, hum vestido, e hum barrete vermelho, com o que ficarão muito contentes, e maravilhados das cousas que lhes havião sido mostradas.” (Navegação, 1501)
[...] mandou-os vestir de pés à cabeça e enviou-os à terra: vieram grande número de gente cantando, bailando e tangindo certos cornos e buzinas, fazendo saltos e bailes de grande alegria e regozijo, que o ver era maravilha.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
O que visto por Cabral, lhes deo alguns pannos, cascaveis, anneis de latão e espelhos , e assim dadivados, os mandou pôr em terra. Elles mui vaidosos com taes presentes, alardeão com grande contentamento as riquezas suas, de maneira que, abalada toda a povoação de tantos encarecimentos, acudirão em chusmas com grão miudo, grande copia de farinha, e muita variedade de fructas, que tudo mui lhanamente permutavão com os nossos. Embellezavão-se nos espelhos, divertião-se com os cascaveis, altanavão-se com os braceletes, estavam fitos em nós, sem se poderem fartar de remirar cada cousa de per si.” (Osório, 1571)
“8 [...] Cabral, mandou que os vestissem, e lançassem em terra com bom tratamento; com que forão contentes aos seus, e lhes contárão o que virão, e facilitárão o tratto.” (Vasconcellos, 1623)
À tarde Cabral e os capitães dos outros navios e Caminha foram em seus batéis até a ilha da Coroa Vermelha, na enseada de Porto Seguro, e ali pescou.
Aa tarde sayo o capitam moor em seu batel com todos nos outros e com os outros capitaães das naaos em seus batees a folgar pela baya, a caram da praya ; mas njnguem sayo em tera, polo capitam nom querer, sem embargo de njmguem neela estar ; soomente sayo ele com todos em huum ilheeo grande que na baya esta que e baixamar fica muy vazio, pero he de todas partes cercado d’agoa, que nom pode njmguem hir a ele sem barco ou a nado. Aly folgou ele e todos nos outros bem hūa ora e meya e pescaram hy amdando marinheiros com huum chimchorro ; e matarom pescado meudo nom mujto ; e entam volvemo nos aas naaos ja bem noute.” (Caminha, 1500)
i) Domingo 26 de abril de 1500
No dia 26 de abril, domingo de Pascoela, construiu-se um altar e celebrou-se na ilha da Coroa Vermelha, um ilhéu da baía, a primeira missa em terras do Brasil, celebrada por frei Henrique de Coimbra com os frades de São Francisco, os primeiros religiosos que vieram ao Brasil. Frei Henrique pregou sobre o evangelho do dia. Os índios ficaram em terra atentos e curiosos ao que acontecia e, depois, começaram a tocar instrumentos musicais e a dançar. (Vide 6ª Observação)
“Ao domingo de pascoela pola manhaã detremjnou o capitam d’hir ouvir misa e preegaçam naquele ilheo, e mandou a todolos capitaães que se correjesem nos batees e fosem com ele ; e asy foy feito. Mandou naquele ilheeo armar huum esperavel, e dentro neele alevantar altar muy bem coregido ; e aly com todos nos outros fez dizer misa, a qual dise o padre frei Amrique em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que aly todos heram ; a qual misa, segundo meu parecer, foy ouvjda por todos com muito prazer e devaçom. Aly era com o capitam a bandeira de Christos com que sayo de Belém, a qual esteve sempre alta aa parte do avamjelho [lado do evangelho ou esquerda]. Acabada a misa, desvestio se o padre, e pose se em huūa cadeira alta, e nos todos lamçados per esa area, e pregou huūa solene e preveitossa preegaçom da estoria do avanjelho, e em fim d’ela trautou de nossa vjnda e do achamento d’esta terra conformando se com o sinal da cruz sô cuja obediencia vijmos, a qual veo mujto a preposito e fez mujta devaçom. Acabada a misa, desvestio se o padre, e pose se em huūa cadeira alta, e nos todos lamçados per esa area, e pregou huūa solene e preveitossa preegaçom da estoria do avanjelho, e em fim d’ela trautou de nossa vjnda e do achamento d’esta terra conformando se com o sinal da cruz sô cuja obediencia vijmos, a qual veo mujto a preposito e fez mujta devaçom. Emquanto estevemos aa misa e aa preegaçom seriam na praya outra tanta jente pouco mais ou menos como os d’omtem com seus arcos e seetas, os quaaes amdavam folgando e olhando nos ; e asentaram se ; e, despois d’acabada a misa, aseentados nos aa pregaçom, alevantaran se mujtos d’elles, e tanjeram corno ou vozina, e começaram a saltar e dançar huum peduço, e alguuns d’eles se meteram em almaadias duas ou tres que hy tijnham, [...] e aly se metiam iiij [4] ou b [5] ou eses que queriam, nom se afastando casy nada da terra, senom quanta podiam tomar pee.(Caminha, 1500)
“Naquelle mesmo dia, que era no Outovario da Páscoa a vinte e seis de Abril, determinou o Capitão mór de ouvir Missa; e assim mandou armar hum tenda naquella praia, e debaixo della hum altar; e toda a gente da Armada assistio tanto á Missa como á Pregação, juntamente com muitos dos naturaes, que bailavão, e tangião nos seus instrumentos; logo que se acabou, voltámos aos navios, e aquelles homens entravão no mar até aos peitos, cantando e fazendo muitas festas e folias.” (Navegação, 1501)
[...] e dia da Pascoela ouuio missa em terra / que foy dita em hū tenda cõ grande solenidade, e pregou frey Anrique, e em quanto ho officio diuino foy celebrado se ajuntou muyta gente da terra e fazião grandes festas [...](Castanheda, 1551)
[...] ao segundo dia da chegada que era domingo de Pascoa, ele Pedraluarez saio em terra com a maior parte da gente: & ao pé de hūa grande aruore se armou hū altar em o qual disse missa cantada F. Henrique gardião dos religiosos, & ouue pregação.” (Barros, 1552)
 “Saiu em terra o Capitão com gente numerosa, dia de Páscoa, e ao pé de uma grande árvore fizeram um altar, e disse missa cantada o supradito Guardião [frei Henrique]; chegaram-se os índios muito pacíficos e confiados, como se fossem os cristãos, de antes, seus muito grandes amigos, e como viram que os cristãos ficavam de joelhos e davam nos peitos, e todos os outros atos que os viam fazer, todos eles os faziam. Ao sermão que predicou o Guardião estavam atentíssimos, como se o entendessem, e com tanta quietude e sossego e silêncio, que disse o historiador, que movia aos portugueses à contemplação e devoção, considerando quão disposta e aparelhada estava aquela gente para receber doutrina e religião cristã.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap CLXXIV)
[...] ordenou que aho outro dia dixesse frei Henrrique missa em terra onde em amanhecendo mandou armar hum altar debaixo de hūa muito grande aruore. Há missa foi de Diácono, & Subdiácono, offiçiada com todolos frades, capellães das naos, & sacerdotes que hiam na armada, & outras pessoa que entendiam de canto, em que houue pregassam, sendo presentes muitos dos da terra a todo ho offiçio diuino, com grande espãto & acatamento. Acabada a missa Pedralurez se recolheo ahos bateis, com toda ha gente acompanhodoho hos da terra com grandes festas, cantares, saltos, & trejeitos que faziam em sinal dalegria, tangendo cornos, & buzinas, lançando frechas pero ho ar, com outras mostras de contentamento, aleuantando has mãos ao çeo [...](Gois, 1566)
 “A simpleza desta gente empenhou Pedro Alvares Cabral a descer á terra, e alli á sombra de huma arvore grossíssima mandar erguer hum Altar, onde com grande cerimonia se celebrasse Missa cantada, e houvesse prégação. Nem forão excluidos daquelle espectaculo os colonos daquella terra, que mudos e estupefactos entranhavão sem pestanejar no íntimo dos sentidos a santidade das cerimonias e a harmonia do canto; e na inclinação de seus corpos mostravão-se muito entrados do nosso culto.” (Osório, 1571)
Ao outro dia seguinte sahio Pedralvares em terra com a maior parte da gente : na qual se disse logo missa cantada, e houve pregaçam: e os índios da terra que alí se ajuntaram ouviram tudo com muita qüietaçam, usando de todos os actos e cerimonias que viam fazer aos nossos: e assim se punham de joelhos e batiam, nos peitos como se teveram lume de Fé, ou que por alguma via lhes fora revelado aquelle grande, e inefabil mistério, de Santíssimo Sacramento, [...]” (Gandavo, 1576)
Tomaram terra, e em um altar portátil, celebrou frei Henrique, instruindo os bárbaros que se chegassem em nossa Fé [...](San Roman, 1604)
“[...] um grande número de Gente, cantando, e bailando, e tangendo Cornos, e Buzinas, fazendo saltos, e regozijos: saiu o Capitão à Terra, com a maior parte da Gente, e porque em Dia de Páscoa, ao pé de uma grande Árvore fizeram um Altar, e disseram Missa cantada; chegavam-se os Índios muito pacíficos, e confiados, e ficavam de joelhos, e davam nos peitos, fazendo todo o que os Cristãos faziam: o Sermão, que houve, estuveram atentíssimos, como se o entendessem: [...]” (Herrera, 1611)
[...] ordenou o General que dissessem Missa de Pontifical [...](Barbuda, 1624)
“Mostrou-se sua gente pouco esquiva facilitando a nostra o sair, e construir ao pé de uma formosa árvore um altar, onde ouve missa e sermão escutando também com admirável sossego daquele Pagão, que por ventura estava ainda na lei da Natureza.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
Em seguida Cabral e os outros portugueses retornaram aos seus navios.
Acabada a pregaçom, moveo o capitam, e todos pera os batees com nosa bandeira alta, e embarcamos, e fomos asy todos contra terra pera pasarmos ao longo per ond’eles estavam, hjndo Bertolameo Dias em su esquife, per mandado do capitam, diamte [...] e nos todos obra de tiro de pedra tras ele. Como eles viram ho esquife de Bertolameo Dias, chegaram se logo todos a agoa, metendo se neela ataa onde mais podiam. Acenaran lhes que posesem os arcos, e mujtos d’eles os hiam logo poer em terra, e outros os nom punham. Amdava hy huum que falava mujto aos outros que se afastasem, mas nom ja que m’a mym parecese que lhe tijnham acatamento, nem medo. [...] Sayo hunm homem do esquife de Bertolameu Dias, e andava antr’eles sem eles emtenderem nada neele quanta pera lhe fazerem mal, senom quanto lhe davam cabaaços d’agoa, e acenavam aos do esquife que saisem em terra. Com isto se volveo Bertolameu Dias ao capitam, e veemo nos aas naaos a comer, tanjendo tronbetas e gaitas, sem lhes dar mais apresam ; e eles tornaram se a asentar na praya, e asy por entam ficaram. E quando Cabral se vinha retirando para os navios, vieram-no acompanhando até aos batéis com muito gosto. Tão declaradas eram estas significações de regozijo, que com amiudados cantos, com tangeres de cornos e buzinas, com gestos de seu corpo, com setas atiradas ao ar e as mãos apontadas para o céu, pareciam render imensas graças a Deus de ter ali trazido aqueles homens.” (Caminha, 1500)
Tão soçobrados estavão de assombro, que disseras tinhão perdido o juizo, pois muitos, enquanto Cabral vogava para a Armada, se mettião pelo mar em seu seguimento, até lhe dar a água pelos peitos, outros hião nadando, e delles em bateis, até que agarrados com as náos, não havia modo de arrancallos dellas.” (Osório, 1571)
Os capitães, após comerem, reuniram-se, a bordo da nau capitânia, com Cabral e decidiram que conviria mandar ao rei de Portugal a nova do descobrimento desta terra pelo navio de mantimentos. Decidiram, também, deixar 2 degredados para aprender a língua e costumes dos índios.
“[...] e, tamto que comemos, vieram logo todolos capitaães a esta naao per mandado do capitam moor, com os quaaes se ele apartou, e eu na conpanhia, e preguntou asy a todos se nos parecia seer bem mandar a nova do achamento d’esta terra a Vosa Alteza pelo navjo dos mantijmentos, pera a mjlhor mandar descobrjr, e saber d’ela mais do que agora nos podiamos saber, por hirmos de nossa viajem; e antre mujtas falas que no caso se fezeram, foj per todos ou a mayor parte dito que seria mujto bem, e nisto comcrudiram; e, tamto que a concrusam foy tomada, pregumtou mais se seria boo tomar aquy per força huum par d’estes homeens pera os mandar a Vossa Alteza, e leixar aquy por eles outros dous d’estes degradados. A esto acordaram que nom era necesareo tomar per força homeens, porque jeeral costume era dos que asy levavom per força pera algūa parte dizerem que ha hy todo o que lhe preguntam ; e que mjlhor e mujto mjlhor emformaçom da terra dariam dous homeens, d’estes degradados, que aquy leixassem, do que eles dariam, se os levasem, por seer jente que njmguem emtende, nem eles tam cedo aprenderiam a falar pera o saberem tambem dizer, que mujto mjlhor ho estoutros nom digam, quando ca Vosa Alteza mandar ; e que portamto nom curasem aquy de per força tomar njmguem, nem fazer escandolo, pera os de todo mais amansar e apaceficar, senom soomente leixar aquy os dous degradados, quando d’aquy partisemos ; e asy por mjlhor parecer a todos ficou detreminado ; acabado jsto, dise o capitam que fosemos nos batees em terra e veersia bem o rrio quejando era, e tambem pera folgarmos.” (Caminha, 1571)
Nos dias que aqui estivemos, determinou Pedro Alvares fazer saber ao nosso Serenissimo Rei o descobrimento destas terras e deixar nella dous homens condenados á morte, que trazíamos na Armada para este efeito [...].” (Navegação, 1571)
Em seguida, Cabral foi com seus homens em terra e se misturaram com os nativos e com eles comerciaram.
“Fomos todos nos batees em tera armados, e a bandeira comnosco. Eles amdavam aly na praya aa boca do rrio, omde nos hiamos, e ante que chegasemos, do emsino qued’antes tynham, pozeram todos os arcos, e acenavam, que saisemos ; e, tanto que os batees pozeram as proas em terra, pasaram se logo todos aalem do rrio, o qual nom he mais ancho que huum jogo de manqual, e, tanto que desenbarcamos, alguuns dos nosos pasarom logo o rrio e foram antr’elles, e alguuns aguardavam, e outros se afastavam ; pero era a cousa de maneira que todos andavam mesturados. Eles davam d’eses arcos com suas seetas por sonbreiros e carapuças de linho e por quallquer cousa que lhes davam. Pasaram aalem tamtos dos nosos e amdavam asy mesturados com eles, que eles se esqujvavam, e afastavan se, e hian se d’eles pera cima onde outros estavam ; e entam o capitam, feze se tomar ao colo de dous homeens, e pasou o rrio e fez tornar todos. A jente que aly era nom seria mais ca aquela que soya ; e, tanto que o capitam fez tornar todos, vieram alguuns d’eles a ele, nom polo conhecerem por senhor, ca me parece que nom entendem, nem tomavam d’isso conhecimento, mas porque a jente nossa pasava já pera aquém do rrio. [...]; e entam tornou se o capitam aaquem do rrio, e logo acodiram mujtos aa beira d’ele. [...] E despois moveu o capitam pera cima ao longo do rrio, que anda sempre a caram da praya, e aly esperou huum velho que trazia na maão hua paa d’almadia ; falou, estando o capitam com ele, perante nos todos, sem o nunca njmguem emtender, nem ele a nos quant a cousas que lh’omem pregumtava d’ouro, que nos desejavamos saber se o avia na terra. [...] Amdamos per hy veendo a rribeira, aqual he de mujta agoa, e mujto boa; ao longo d’ela ha mujtas palmas, nom mujto altas, em que ha muito boos palmitos. Colhemos e comemos d’eles muitos. Entam tornou-se o capitam pera baixo pera a boca do rrio, onde desenbarcamos, e aalem do rrio amdavam muitos d’eles damçando e folgando huuns ante outros, sem se tomarem pelas maãos, e faziam no bem.” (Caminha, 1500)
“Depois de jantar tornou a terra o Capitão mór, e a gente da armada para espairecer com elles: e achámos neste lugar hum rio de agoa doce.” (Navegação, 1501)
Deu licença o Capitão à gente dos navios, aquele dia, depois de comer, para que saíssem em terra e se divertissem, e resgatassem com os índios cada um o que quisessem; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
Diogo Dias, então, foi com um gaiteiro e ambos dançaram junto com os índios.
“Pasou se emtam aalem do rrio Diogo Dias, almoxarife que foy de Sacavém, que he homem gracioso e de prazer, e levou comsigo huum gayteiro noso com sua gaita, e meteo se com eles a dançar tomando os pelas maãos, e eles folgavam e riam, e amdavam com ele muy bem ao soom da gaita. Despois de dançarem fez lhe aly amdando no chaão muitas voltas ligeiras e salto real, de que se eles espantavam, e riam e folgavam mujto ; e com quanto os com aquilo muito segurou e afaagou, tomavam logo huūa esqujveza como montezes ; e foran se pera cjma; [...](Caminha, 1500)
            Cabral e os portugueses, então retornam aos navios.
[...] e entam o capitam pasou o rrio com todos nos outros ; e fomos pela praya de longo, himdo os batees asy a caram de terra, e fomos ataa huūa lagoa grande de agoa doce, que esta jumto com a praya, [...]; e, depois de pasarmos o rrio, foram huuns bij [7] ou biij [8] d’eles amdar antre os marinheiros que se recolhiam aos batees, e levaram d’aly huum tubaram, que Bertolomeu Dias matou ; e levava lh’o, e lançou o na praya.” (Caminha, 1500)
“Pela volta da tarde tornámos ás náos, [...](Navegação, 1501)
Cabral tentou, novamente, deixar o degredado Afonso Ribeiro com os índios, mas estes, novamente, o devolveram. À noite, os portugueses voltaram para os navios.
“Mandou o capitam aaquele degradado Affonso Ribeiro que se fosse outra vez com eles ; o qual se foy ; e andou la huum boom pedaço ; e aa tarde tornou se, que o fezeram eles vimjr ; e nom o quizeram la consemtir; e deram lhe arcos e seetas, e nom lhe tomaram nenhuūa cousa do seu; ante, dise ele que lhe tomara huum d’eles hūas continhas amarelas que ele levava, e fogia com, elas; e ele se queixou, e os outros foram logo após ele e lh’as tornaram e tornaran lhas a dar; e emtam mandaram no vimjr; [...] e asy nos tornamos aas naaos ja casy noute adormjr.” (Caminha, 1500)
j) Segunda 27 de abril de 1500
Na segunda 27 de abril, os portugueses foram novamente em terra. Mestre João foi com Sancho de Tovar e o piloto da nau capitânia (Afonso Lopes?) em terra fazer medições astronômicas.
“Aa segunda feira depois de comer saimos todos em terra a tomar agoa; aly vieram emtam mujtos, mas nom tamtos como as outras vezes; e traziam ja muito poucos arcos; e esteveram asy huum pouco afastados de nos ; e despois poucos e poucos mesturaran se comnosco; e abraçavam nos e folgavam ; e alguuns d’eles se esquivavam logo ; aly davam alguuns arcos por folhas de papel, e por algūa carapucinha velha, e por qualquer cousa ; e em tal maneira se pasou a cousa, que bem xx [20] ou xxx [30] pesoas das nosas se foram com elles onde outros mujtos d’eles estavam, com moças e molheres, e trouveram de la muitos arcos e baretes de penas d’aves d’eles verdes, e deles amarelos, de que creo que o capitam há de mandar amostra a Vossa Alteza ; e, segundo deziam eses que la foram folgavam com eles. Neeste dia os vimos de mais perto, e mais aa nosa vontade por andarmos todos casy mesturados ; e aly d’eles andavam, [...](Caminha, 1500)
[...] ontem segunda-feira que foram 27 de abril descemos em terra eu, e o piloto do capitão-mór e o piloto de Sancho de Tovar e tomamos a altura do sol ao meio-dia e achamos 56 graus na sombra era septentrional pelo que segundo as regras do astrolábio julgamos ser afastados da equinocial por 17 graus, e, por conseguinte, ter a altura do polo antárctico en 17 graus [...] (Mestre João, 1500)
[...] e no dia seguinte determinou-se fazer aguada, e tomar lenhas; pelo que fomos todos a terra, e os naturaes vierão comnosco para ajudar-nos.” (Navegação, 1501)
Cabral mandou o degredado Afonso Ribeiro com outros 2 degredados e Diogo Dias para junto dos índios, tendo eles ido até uma aldeia deles, mas estes os fizeram retornar à noite, voltando todos para as naus.
“E o capitam mandou aaquele degradado Affonso Ribeiro e a outros dous degradados que fosem amdar la antr’eles; e asy a Diogo Dias, por seer homem ledo, com que eles folgavam ; e aos degradados mandou que ficasem lá esta noute. Foram se la todos e andaram antr’eles ; e, segundo elles deziam, foram bem huūa legoa e mea a hūa povoraçom de casas, em que averja ix ou x casas, [...]; e que lhes davam de comer d’aquela vianda que eles tijnham, saber, mujto jnhame, e outras sementes que na terra ha, que eles comem. E, como foi tarde, fezeram nos logo todos tornar, e nom quiseram que la ficasse nenhuum, e ajnda, segundo eles deziam, queriam se vimjr com eles. [...] E com isto vieram, e nos tornamo nos as naaos.” (Caminha, 1500)
“Alguns dos nossos caminharão até huma povoação onde elles habitavão, cousa de três milhas [5,5km] distante do mar, e trouxerão de lá papagaios, e huma raiz chamada inhame, que he o pão de que alli uzão, e algum arroz; dando-lhe os da Armada cascavéis e folhas de papel, em troca do que recebião.” (Navegação, 1501)
“Foram alguns portugueses às povoacões, viram infinito arvoredo, águas e frescuras, e terra viciosíssima e deleitável, mui abastada de milho e outras coisas de comer, e onde se fazia muito algodão.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
[...] e algūs portugueses forã ver as suas povoações [...](Castanheda, 1552)
“Foram às Povoações, e parecendo-lhes a Terra viciosa, e deleitável, muito abastecida de Milho, e Algodão.” (Herrera, 1611)
k) Terça 28 de abril de 1500
Na terça 28 de abril, os portugueses foram novamente em terra e Cabral mandou recolher lenha e fazer uma cruz de madeira. Os portugueses, também, aproveitaram para lavar a roupa em terra.
 “Aa terça feira, depois de comer, fomos em terra dar guarda de lenha, e lavar roupa ; estavam na praya, quando chegamos, obra de lx [60] ou lxx [70] sem arcos e sem nada ; tamto que chegamos, vieram se logo pera nos sem se esquivarem , e depois acodiram mujtos que seriam bem ijc [200] todos sem arcos ; e mesturaram se todos tanto comnosco, que nos ajudavam d’eles a acaretar lenha e meter nos batees e lujtavam com os nosos, e tomavam mujto prazer ; e, emquanto nos faziamos a lenha, faziam dous carpenteiros huua grande cruz de huum paao que se omtem pera yso cortou. Mujtos d’eles viinhãm aly estar com os carpenteiros ; e creo que o faziam mais por veerem a faramenta de ferro com que a faziam, que por veerem a cruz, porque eles nom teem cousa que de fero seja ; [...] (Caminha, 1500)
Cabral mandou Diogo Dias e 2 degredados (um deles o já nomeado Afonso Ribeiro) para irem à aldeia dos nativos e dormirem lá e retornou com os outros portugueses para os navios.
[...] e o capitam mandou a dous degradados, e a Diogo Dias que fosem la a aldeã, e a outras, se ouvesem d’elas novas, e que em toda maneira nom se viesem a dormjr aas naaos, ainda que os eles mandasem ; e asy se foram. [...] e acerqua da noute nos volvemos pera as naaos com nossa lenha.” (Caminha, 1500)
l) Quarta 29 de abril de 1500
Na quarta 29 de abril os portugueses não vão à terra, à exceção de Sancho de Tovar, pois Cabral passa o dia esvaziando o navio de mantimentos e distribuindo a sua carga entre os outros navios, para poder mandá-lo de volta à Portugal com a notícia do descobrimento.
“Aa quarta feira nom fomos em terra, porque o capitam andou todo o dia no navio dos mantijmentos a despejalo, e fazer levar aas naaos isso que cada huūa podia levar; eles acodiram aa praya mujtos, segundo das naaos vimos, que seriam obra de iijc [300], segundo Sancho de Toar, que la foy” (Caminha, 1500)
Diogo Dias, Afonso Ribeiro e o outro degredado retornaram e 2 índios foram passar a noite a bordo.
“Diogo Dias e Affonso Ribeiro, o degradado, a que o capitam omtem mandou que em toda maneira la dormisem, volveram se ja de noute, por eles nom quererem que la dormisem, [...] ; e quando se Sancho de Toar recolheo aa naao querian se vimjr com ele alguuns, mas ele nom quis, senom dous mancebos despostos, e homeens de prol. Mandou os esa noute muy bem pensar e curar, e comeram toda vianda que lhes deram ; e mandou lhes fazer cama de lençooes, segundo ele dise, e dormjram, e folgaram aquela noute [...](Caminha, 1500)
m) Quinta 30 de abril de 1500
Na quinta feira 30 de abril novamente foram à terra com os 2 índios que dormiram nas naus. Em terra, foram beijar a cruz de madeira que já estava pronta. Retornaram com 4 ou 5 índios que dormiram nas naus. Esses dias foram gastos armazenando água, alimentos, madeira e outros suprimentos.
“Aa quinta feira, deradeiro d’abril, comemos logo casy pola manhaã, e fomos em terra por mais lenha e agoa ; e, em querendo o capitam sair d’esta naao, chegou Sancho de Toar com seus dous ospedes, e por ele nom teer ajnda comjdo poseran lhe toalhas, e veo lhe vianda, e comeo ; os ospedes asentaram nos em senhas cadeiras, e de todo o que lhes deram comeram muy bem, [...] acabado o comer, metemo nos todos no batel, e eles comnosco ; [...] Andariam na praya, quando saymos biij [8] ou x d’eles, e d’hy a pouco começaram de vimjr, e parece me que vimjriam este dia aa praya iiijc [400] ou iiijc [45]. [...] acaretavam d’esa lenha quamta podiam com muy boas vomtades, e levavam na aos batees, e andavam ja mais mansos e seguros antre nos, do que nos andavamos antr’eles. Foi o capitam com alguuns de nos huum pedaço per este arvoredo ataa huūa ribeira grande e de muita agoa, que a noso parecer era esta mesma que vem teer aa praya, em que nos tomamos agoa ; ali jouvemos huum pedaço bebendo e folgando ao longa d’ela antr’ese arvoredo, que he tamto e tamanho e tam basto e de tamtas prumajeens, que lhe nom pode homem dar conto ; ha antr’ele muitas palmas, de que colhemos mujtos e boos palmjtos. Quando saymos do batel dise o capitam que seria boo hirmos dereitos aa cruz, que estava encostada a huūa arvore junto com o rrio, pera se poer de manhaã, que he sesta feira, e que nos posesemos todos em giolhos e a beijasemos, pera eles vee Tem ho acatamento que lhe tijnhamos ; e asy o fezemos. Eestes x ou xij [12] que hy estavam acenaram lhes que fezesem asy, e foram logo todos beijala. Parece me jemte de tal inocência que, se os homem emtendese, e eles a nos, que seriam logo christaãos, porque eles nom teem nem emtendem em nenhuūa creemça, segundo parece. [...] Em quanto aly este dia amdaram, sempre, ao soom de huum tanbory nosso, dançaram e bailharam com os nosos, em maneira que são muito mais nosos amigos que nos seus; se lhes homem acenava se queriam vimjr aas naaos, faziam se logo prestes pera iso, em tal maneira, que se os homem todos quizera comvidar, todos vieram; porem nom trouvemos esta noute aas naaos senom iiij [4] ou b [5], saber: o capitam moor dous, e Simão de Miranda huum que trazia já por page, e Ayres Gomes outro, asy page; os que o capitam trouve era huum d’eles huum dos seus ospedes que aa primeira quando aquy chegamos lhe trouveram, o qual veo hoje aquy vestido na sua camiza e com ele huum seu irmaão, os quaes foram esta noute muy bem agasalhados, asy de vianda, como de cama de colchoões e lençoões, polos mais amansar.” (Caminha, 1500)
n) Sexta 01 de maio de 1500
Na sexta 01 de maio, os portugueses foram a terra e Cabral escolheu o local para erguer a cruz. O local escolhido ficava acima do Rio Mutari, antes conhecido como Itacumirim. Então, Cabral, Caminha e outros portugueses, auxiliados por alguns voluntários índios, levaram a cruz de madeira ao local definido por Cabral e a ergueram. Alguns autores, por engano, dizem que a cruz era de pedra, mas na verdade ela era mesmo de madeira.
“E oje que he sexta feira, primeiro dia de Mayo, pola manhãa saimos em terra com nossa bandeira, e fomos desenbarcar acima do rio contra o sul, onde nos pareceo que seria milhor chantar [fixar] a cruz, pera seer milhor vista; e aly asijnou o capitam onde fezesem a cova pera a chantar; e emquanto a ficaram fazendo ele com todos nos outros fomos pola cruz, abaixo do rio, onde ela estava; trouvemola d’ahy com eses relegiosos e sacerdotes diante cantando, maneira de precisam. Heram já hy alguuns d’eles, obra de lxx [70] ou lxxx [80]; e quando nos asy viram vimjr, alguns d’eles se foram meter de baixo d’ela ajudamos; pasamolo rio ao longo da praya e fomola poer onde avia de seer, que será do rio obra de dous tiros de beesta: aly andando nysto vimjriam bem cl [150], ou mais.” (Caminha, 1500)
“Despachado o navio sahio o Capitão em terra, mandou fazer huma Cruz de madeira muito grande, e a plantou na praia [...](Navegação, 1501)
“Nesta terra mandou Pedraluares meter hū padrão de pedra cõ hūa Cruz [...](Castanheda, 1551)
[...] por dar nome áquella terra por elle nouamente achada: mandou aruorar hūa cruz mui grande no maes alto lugar de hūa aruore & ao pé della se disse missa.” (Barros, 1552)
 [...] nesta terra mandou o Capitão por uma cruz mui alta e mui bem feita, [...]” ((Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
 “Antes que Pedralurez partisse deste lugar, mandou poer em terra hūa Cruz de pedra quomo por padrão, com que tomaua posse toda aquella provinçia, pera coroa dos Regnos de Portugal [...](Gois, 1566)
[...] mandou pôr huma columna de mármore, [nenhum outro autor cita esta coluna, devendo ser um erro pela cruz de madeira] semelhante ás que o [Vasco da] Gama mandava collocar em varias partes, [...]” (Osório, 1571)
“E tornando Pedralvares, seu descobridor, passado alguns dias que ali esteve fazendo sua aguada e esperando por tempo que lhe servisse, antes de se partir por deixar nome aquella Província, por elle novamente descoberta, mandou Alçar numa cruz no mais alto lugar, de uma arvore, onde foi arvorada com grande solemnidade e benções de Sacerdotes que levava em sua companhia, [...]” (Gandavo, 1576)
[...] por se aqui arvorar uma muito grande [Cruz], por mandado de Pedro Alvares Cabral [...] e para solemnidade desta posse plantou este capitão no mesmo logar um padrão com as armas de Portugal, dos que trazia para o descobrimento da índia, para onde levava sua derrota.” (Souza, 1587)
“Mandou Pedro Álvares Cabral levantar em um arvoredo uma grande Cruz, que campeasse toda aquela costa [...](San Roman, 1604)
“Mandou Peralvarez, que se pusesse ali uma Cruz de Pedra, em sinal de Posessão [...]” (Herrera, 1611)
“9 [...] Aqui arvorárão aos 3 de Maio (como querem alguns) o primeiro tropheo de Portugueses que o Brasil vio, o estandarte da Santa Cruz, ao som de demonstrações de grandes alegrias, e solemnidade de missa, prégação, e salvas de artilharia da armada toda [...](Vasconcellos, 1623)
[...] e depois armou uma Cruz, de cujo nome chamou toda a terra [...](Barbuda, 1624)
[...] deixando alli uma cruz levantada [...]” (Salvador, 1627)
[...] e os carpinteiros prepararão uma grande cruz de pau. Até então tinhão os navios portuguezes, quando sahião a descobertas, levado pillares de pedra, com as armas de Portugal esculpidas, para que, plantando-os nos paizes que descobrissem, por este acto tomassem posse da terra para a coroa de Portugal. Cabral não vinha provido d'estes marcos, por que o seu destino era seguir a derrota do Gama; de todas as terras que ficavão no rumo em que elle devia navegar, se havia ja tomado posse, nem se contava com novas descobertas.” (Southey, 1822)
Ao pé da cruz foi montado um altar, onde nova missa foi oficiada pelo Frei Henrique, sendo esta a grande missa oficial, realizada em terra firme e não em uma ilhota. Nicolau Coelho distribuiu entre os índios uns crucifixos de estanho presos a um fio, para que pusessem ao pescoço.
“Chentada a cruz com as armas e devisa de Vosa Alteza que lhe primeiro pregarom armaram altar ao peé d’ela. Aly dise misa o padre frei Amrique, a qual foy camtada e ofeçiada per eses ja ditos; aly esteveram comnosco a ela obra de 1 [50] ou lx [60] d’eles asentados todos em giolhos, asy coma nos, e quando veo ao avanjelho, que nos erguemos todos em pee com as mãaos levantadas, eles se levantaram comnosco e alçarom as mãaos, estando asy ataa seer acabado ; e entam tornaram se a asentar coma nos. E quando levantantarom a Deos, que nos posemos em giolhos, eles se poseram todos asy coma nos estavamos com as maãos levantadas, e em tal maneira asesegados, que certefico a Vosa Alteza que nos fez mujta devaçom. Esteveram asy comnosco ataa acabada a comunham, e depois da comunham comungaram eses religiosos e sacerdotes e o capitam com alguuns de nos outros; alguuns d’eles por o sol seer grande, em nos estando comungando alevantaram-se, e outros esteveram e ficarom; huum d’eles, homem de 1 [50] ou Ib [55] annos, ficou aly com aqueles que ficaram ; aquele em nos asy estamdo ajumtava aqueles que aly ficaram, e ainda chamava outros ; este andando asy antr’eles falando lhes acenou com o dedo pera o altar, e depois mostrou o dedo pera o ceeo coma que lhes dizia alguūa cousa de bem; e nos asy o tomamos. Acabada a misa, tirou o padre a vestimenta de cjma e ficou na alva, e asy se sobio junto com ho altar em huūa cadeira; e aly nos pregou do avanjelho e dos apostolos, cujo dia hoje he, trautando em fim da preegaçoan d’este voso pressegujmento tam santo e vertuoso, que nos causou mais devaçam; eses, que aa preegaçam sempre esteveram, estavam, asy coma nos, olhando pera ele ; e aquele que digo chamava alguuns que viesem pera aly; alguuns vijnham e outros hiam se; e, acabada a preegaçom, trazia Njcolaao Coelho mujtas cruzes d’estanho com cruçufiços que lhe ficarom ainda da outra vijnda; e ouveram por bem que lançasem a cada huum sua ao pescoço; pela qual cousa se asentou o padre frey Anrique ao pee da cruz, e aly a huum e huum lançava sua atada em huum fio ao pescoço, fazendo lhe primeiro beijar e alevantar as maãos ; vinham a isso mujtos e lançaram nas todas, que seriam obra de R [40] ou L [50] ; e, isto acabado, era ja bem huūa ora depois do raeo dja, viemos aas naaos a comer, onde o capitam trouve comsigo aquelle meesmo que fez aos outros aquela mostramça pera o altar e pera o ceeo, e huum seu irmaão com ele, ao qual fez mujta homrra; [...] Antre todos estes que oje vieram, nom veo mais que hhūa molher moça, a qual esteve sempre aa misa, aa qual deram huum pano com que se cobrise, e poseram lh’o d’arredor de sy ; pero ao asentar nom fazia memorea de o mujto estender pera se cobrir; [...] Acabado isto, fomos asy perante eles beijar a cruz, e espedimo nos, e vjemos comer.” (Caminha, 1500)
“Se disse Missa, & pregação, a que muitos dos naturaes da terra estiveraõ presentes, & espantados de taõ grande novidade, andavaõ juntos em grande numero. E mostrouse Deos nesta obra taõ maravilhoso que deu noticiade si áquelles barbaros no Santissimo Sacramento: porque todos se punhaõ em giolhos, & uzavaõ dos mesmos, actos que viaõ fazer os nossos [...] (Mariz, 1597)
[...] ao pé da qual [Cruz] mandou dizer, em seu dia , a 3 de Maio, uma solemne missa com muita festa, [...](Souza, 1587)
Dois grumetes parecem ter desertado da frota esta noite e ter ido viver com os índios, junto com os 2 degredados que foram deixados no Brasil para aprender a língua dos Índios. Parece que posteriormente um deles foi levado de volta a Portugal.
“Creo, senhor, que com estes dous degradados, que aquy ticam, ficam mais dous grometes, que esta noute se sairam d’esta naao no esquife em terra fogidos, os quaes nom vieram majs, e creemos que ficaram aquy, porque de manhaã, prazendo a Deos, fazemos d’aquy nosa partida.” (Caminha, 1500)
[...] deixando como ja disse, os dous degradados neste mesmo lugar; os quaes começaõ a chorar, e forão animados pelos naturaes do paiz, que mostravão ter piedade delles.” (Navegação, 1501)
“Sahindo a dita armada d'este logar, o capitão deixou ahi dous christãos á mercé de Deus: pois elle trazia vinte homens já condemnados á morte pela justiça para deixal-os aonde melhor lhe parecesse. D'estes dous homens, em uma outra armada que directamente mandamos aquella térra, voltou um que sabia a lingua dos indígenas, e nos informou de tudo.” (D. Manuel, 1505)
[...] d’algūs degredados que hião n’armada leixou Pedraluarez ali dous: hum dos quaes veo depois a este reyno & seruia de lingoa naquellas partes [...](Barros, 1552)
Trazia o Capitão 20 homens desterrados por serem malfeitores, e resolveu deixar ali dois deles para que soubessem os segredos da terra e aprendessem a língua, os quais os índios trataram mui bem, e, depois, um deles serviu de língua ou intérprete muito tempo em Portugal.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
[...] deixando alli dous degradados, de vinte que leuaua [...](Gois, 1566)
[...] deixou ali o Capitão dois Homens, de vinte que havia sacado de Portugal desterrados, para deixá-los onde lhe parecesse, aos quais trataram bem os Índios, e um aprendeu a Língua, e serviu muito tempo de Intérprete.” (Herrera, 1611)
[...] deixando alli uma cruz levantada como também dous portuguezes degradados pera que aprendessem a lingua, [...](Salvador, 1627)
“Alli dexó dos Portugueses para investigar la capacidade y los frutos, la lengua, y las costumbres q usava, y posseia aquella nueva gente.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
“Também os indigenas, quando virão que os seus hospedes estavão para partir, não persistirão em repellir os dous criminosos que se queria deixar entre elles. A estes porem faleceu-lhes o animo, quando chegou o momento decizivo, e lamentavão a sua sorte com vozes tão sentidas, que moverão a compaixão d'estes pobres índios, os mais mansos e dóceis de todas as tribos brazileiras. Um d'elles com tudo viveu, para voltar a Portugal, e serviu mais tarde como interprete n'aquellas partes. Da armada desertarão dous moços, escondende-se na praia, tentados pela perspectiva de liberdade e ociosidade da vida selvagem, de que apenas havião visto a superfície.” (Southey, 1822)
Caminha considerou a terra descoberta bem grande e fértil e sugeriu a conversão dos índios, o que ele considerava fácil por eles não serem idólatras. A enorme cruz de madeira serviu para assinalar a posse tomada em nome da coroa de Portugal. Cabral deu-lhe o nome de Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Santa Cruz. (Vide 7ª Observação)
“Esta terra, senhor, me parece que da pomta, que mais contra o sul vimos, ataa outra ponta, que contra o norte vem, de que nos d’este porto ouvemos vista, sera tamanha, que avera neela bem xx ou xxb [25] legoas per costa. [...] em tal maneira he graciosa que querendo a aproveitar, darseá nela tudo per bem das agoas que tem; pero o mjlhor fruito que neela se pode fazer me parece que será salvar esta jemte; e esta deve seer a principal semente que Vosa Alteza em ela deve lamçar; e que hy nom ouvese mais ca teer aquy esta pousada pera esta navegaçom de Calecut abastaria, quanto majs desposiçam pera se neela conprir e fazer o que Vosa Alteza tamto deseja, saber, acrecentamento da nosa santa fé. [...] D’este Porto Seguro da vosa jlha da Vera Cruz oje sesta feira primeiro dia de Mayo de 1500.” (Caminha, 1500)
“Estivemos neste lugar sinco ou seis dias: [...] o terreno he grande, porém não podemos saber se era Ilha ou terra firme; ainda que nos inclinamos a esto ultima opinião pelo seu tamanho; [...](Navegação, 1501)
Julgam esta terra ser terra firme, porque corre pela costa 2000 milhas e (sic) mais, jamais encontram seu fim. Habitam homens nus e formosos.” (Pisani, 1501)
A Vera Cruz chamada pelo nome a quall achou pedralvares cabrall fidalgo da ca [casa] Manoel Rey de portugall e elle a descobrio índo por capita moor de quatorze naos que o dito topou com esta terra a qual terra se cree fez terra firme em aqual a muyta gente [...] foy descoberta esta dita terra em a era de quinhentos.” (Cantino, 1502)
“Navegando elle além do Cabo Verde descobriram uma terra que novamente veiu á noticia d'esta nossa Europa, á qual terra puz o nome de Santa Cruz: e isto foi porque na praia arvorou urna cruz muito alta. Outros chamam-lhe terra nova ou novo mundo.” (D. Manuel, 1505)
 “[...] hūa Cruz, e por isso lhe pos nome terra de santa Cruz [...](Castanheda, 1551)
“A qual foi posta cõ solenidade de benções dos sacerdotes, dando este nome â terra, Sancta Cruz.” (Barros, 1552)
“[...] mandou o Capitão por uma cruz mui alta e mui bem feita, e por esto se chamou aquela terra de Sancta Cruz, pelos portugueses, alguns anos; depois, o tempo andando, como acharam nela pau-brasil, chamaram e hoje se chama a terra de Brasil.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“o Capitão mór pos nome de Santa Cruz a esta noua terra, porque a ella chegarão a tres de Maio, dia de Sancta Cruz [...](Correia, 1561)
[...] à qual pos nome de Sancta Cruz [...](Gois, 1566)
Nesta terra, que Cabral quiz appellidar Santa Cruz, e hoje se chama Brazil, [...]” (Osório, 1571)
“[...] dando á terra este nome de Santa Cruz: cuja festa celebrava naquelle mesmo dia a Santa Madre Igreja, que era aos três de maio. O que nam parece carecer de Mistério, porque assi como nestes Reynos de Portugal trazem a cruz no peito por insígnia da Ordem e Cavallaria de Christus, assi prouve a elle que esta terra se descobrisse a tempo que o tal nome lhe podesse ser dado neste Santo dia, pois avia de ter possuída de Portuguezes, e ficar por herança de patrimônio ao Mestrado da mesma Ordem de Christus. Por onde nam parece razaõ que lhe neguemos este nome, nem que nos esqueçamos delle tam individamente por outro que lhe deo o vulgo mal considerado, depois que o pao da tinta começou de vir a estos Reinos; ao qual chamaram brasil por vermelho, éter semelhança de braza, e da qui ficou a terra com este nome de Brasil.” (Gandavo, 1576)
[...] onde agora é a capitania do Porto Seguro, no logar onde já esteve a ilha de Santa Cruz, que assim se chamou por se aqui arvorar uma muito grande, por mandado de Pedro Alvares Cabral... pelo qual respeito se chama a villa do mesmo nome, e a provincia muitos annos foi nomeada por de Santa Cruz e de muitos Nova Lusitânia [...](Souza, 1587)
[...] lhe deixar nome, como se costuma fazer a todas as cousas, que de novo saem á noticia dos homens. E pera isto em o dia em que a Igreja celebra a Invenção da Santa Cruz,que he a tres de Mayo, mandou levantar hūa grande Cruz no mais alto de hūa arvore das muitas, que a terra tinha; & ao pé della se disse Missa,& a Cruz se benzeo com solennidade, querendo que aquelle lugar, & a toda a província, ficasse o nome de Sãta Cruz: & por este nome foy conhecida muitos annos, & a Cruz arvorada, durou ali alguns. Porém diz João de Barros, como o demônio com o sinal da Cruz perdeo todo o dominio, que tinha sobre os homens, receando perder também o muito, que possuia sobre aquella provincia, de que ainda hoje entre os barbaros della esta tão apoderado, que se lhe communica cõ muita facilidade muy particularmente: trabalhou que entre o povo se esquecesse o primeiro nome, & lhe ficasse o de Brasil, que he num pao vermelho assi chamado, de que vem a este Reyno grandissima quantidade [...] (Mariz, 1597)
[...] e porque se levantou o dia da Cruz de Maio, se chamou aquela terra de Santacruz muito tempo [...](San Roman, 1604)
[...] e por isto chamaram os Portugueses aquela Terra de Santa Cruz e hoje se chama a Terra do Brasil, por o Pau que dela trazem: [...]” (Herrera, 1611)
“9 [...] pondo por nome a terra tão fermosa, Terra de Santa Cruz: titulo, que depois converteo a cobiça dos homens em Brasil, contentes do nome de outro páo bem differente do da Cruz, e de effeitos bem diversos.” (Vasconcellos, 1623)
 “O dia que o capitão-mór Pedro Alvares Cabral levantou a cruz, que no capitulo atraz dissemos, era a 3 de Maio, quando se celebra a invenção da santa cruz em que Christo Nosso Redemptor morreu por nós, e por esta causa poz nome á terra que havia descoberta de Santa-Cruz e por este nonme foi conhecida muitos annos.” (Salvador, 1627)
o) Sábado 02 de maio
Em 2 de maio, enquanto o navio de mantimentos, sob o comando de Gaspar de Lemos ou André Gonçalves, zarpava para Portugal, com uma carta escrita por Pero Vaz de Caminha, para anunciar ao rei o descobrimento de novas terras, o resto da frota zarpou em direção a Índia. Na viagem a Portugal, o navio de mantimentos subiu a costa do Brasil explorando-a. (Vide 8ª Observação). Provavelmente Gaspar de Lemos chegou a Lisboa em junho ou julho. Depois de muitas peripécias na Índia, Cabral retornou com apenas 6 naus, mas carregado de tesouros.
“[...] assim despachou hum navio que vinha em nossa conserva carregado de mantimentos, alem dos doze sobreditos [outros navios que foram para as Índias], o qual trouxe a ElRei as cartas em que se continha tudo quanto tínhamos visto e descoberto. [...] No outro dia, que erão dous de Maio, fizemonos á vela, para hir demandar o Cabo da boa Esperança, achando-nos então engolfados no mar mais de mil e duzentos leguas de quatro milhas cada huma [...](Navegação, 1501)
[...] e pela extensão de caminho que ainda tinha de andar, não se deteve para se informar das cousas da dita terra, sómente me enviou d’ali um navio a me participar como a encontrára e seguiu sua rota para o cabo da Boa Esperança.” (D. Manuel, 1501)
“Desta terra o capitão fez regressar a nós aquella caravella que levava mantimentos. No segundo dia do mez de maio partiram em direcção ao Cabo da Boa Esperança [...](D. Manuel, 1505)
 “[...] desta terra mandou Pedraluarez Gaspar d’ Lemos na sua caravela cõ cartas a elRey dõ Manuel, em que dizia ho que lhe ate li tinha acontecido / e mandoulhe hū homem daquela terra / e ao outro dia que forão tres de Maio partiose Pedraluares cabral cõ toda a frota [...](Castanheda, 1551)
“Pedraluarez vendo que por razão de sua viagem outra cousa não podia fazer, dali espedio hum nauio, capitão Gaspar de Lemos com noua pera elRey dom Manuel do que tinha descuberto [...](Barros, 1552)
 “Despachou logo dali o Capitão um navio ao rei de Portugal, o qual disse que recebeu grande alegria com as novas da terra novamente descoberta, e todo o reino.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap CLXXIV)
[...] o Capitão mór, por conselho de todos, d’aqui tornou a mandar ao Reyno o nauio de André Gonçalues, com a noua a ElRey desta noua terra que descobrira [...] E mandou André Gonçalues que fosse correndo a costa sempre em quanto podesse e trabalhasse por lhe ver o cabo, o que ele assi fez, e descobryo muyto dela, que tinha muytos bons portos, escrevendo tudo, e as sondas e sinaes; [...]” (Correia, 1561)
[...] & assi despachou pera o Regno Gaspar de lemos no seu nauio, com nouas deste descobrimento, no qual mandou hum homem dos da terra a elRei...se partio ahos dous dias do mes de Maio [...](Gois, 1566)
E dalli enviou Gaspar de Lemos, hum de seus Capitães, a Portugal para dar parte a ElRei D. Manoel do sitio daquellas novas terras. [...] Passados algūs dias em quanto o tempo não servia, & fizeram sua agoada [...] Partio cabral das regiões Brazilicas aos 5 de Maio [...]” (Osório, 1571)
Entaõ despedio logo Pedralvares hum navio com a nova a EIRey Dom Manuel, a qual foi delle recebida com muito prazer e contentamento [...]” (Gandavo, 1576)
Com, esta nova, que à Pedro Cabral pareceo de grande importância e maravilha, mandou hum Navio a elRei D. Manoel, que o reçebeo, com, o contentamento, que tam grande cousa merecia.” (Mariz, 1597)
“Com um destes bárbaros (como por mostra) se partiu logo a Portugal Gaspar de Lemos...” (San Roman, 1604)
“[...] despachou desde ali Peralvarez Cabral um Navio ao Rei de Portugal, e nele a Gaspar de Lemos, com o aviso da Terra novamente descoberta, com que recebeu grande alegria: [...](Herrera, 1611)
12 Gastado em todas estas mostras cousa de hum mez, determinou o General Pedro Alvares Cabral mandar noticias a Sua Alteza das novas terras que descobrira, dos rumos, e das paragens, e do que n'ellas vira. E como era força proseguir elle sua derrota, que era pera a India, despedio a este intento hum Capitão de effeito por nome Gaspar de Lemos: o qual junto com as noticias, levou primicias dos frutos da terra, e hum dos Indios d'ella, sinaes indubitaveis. Foi recebido em Portugal com alegria do Rei, e do Reino. Não se fartavão os grandes, e pequenos de ver, e ouvir a falla, gesto, e meneios d'aquelle novo individuo da geração humana. Huns o vinhão a ter por hum Semicapro, outros por hum Fauno, ou por algum d'aquelles monstros antiguos, entre poetas celebrados : porém alegravão-se todos pela esperanca que concebião da fertilidade d'aquellas regiões.” (Vasconcellos, 1623)
[...] e despediu um navio a Portugal de que era, capitão Gaspar de Lemos com a nova a el-rei D.Manuel que a recebeu com o contentamento que tão grande cousa e tão pouco esperada merecia” (Salvador, 1627)
“O Cabral enviou aviso ao Rei deste achado com Gaspar de Lemos, e antes de sair dali com os onze navios que lhe restavam, deu àquella terra o nome de Santa Cruz fixando uma na estremidade de uma árvore grande.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
Foi Gaspar de Lemos despachado para Lisboa com novas da descoberta, e sabe-se que levou comsigo um dos selvagens. Tendo-se resolvido não arrebatar á força nenhum dos índios, deve-se presumir que aquelle o acompanharia voluntário.” (Southey, 1822)
“Como a costa corre ao mesmo rumo , a que o nosso correio (Gaspar de Lemos) necessariamente devia navegar, e elle tinha interesse (e provavelmente recommandações de Pedralvez Cabral) em saber até que altura a terra se estendia para o norte , nada he tão verosímil e natural , como avistal-a elle muitas vezes até cabo de S. Roque , se he que não a levou sempre á vista até esta paragem ; porque as aguas n’esta monção empurrão para terra. Os dois indigenas , com que chegou a Portugal , segundo Barros , provão que elle aportou em alguma parte depois que sahio de Porto-Seguro , visto não serem deste lugar.” (Cazal, 1833)
3) Observações sobre a Viagem
1ª) Os capitães dos navios eram Sancho de Tovar (segundo no comando), Simão de Miranda Azevedo (morto cerca de Moçambique em 1515), Aires Gomez da Silva (morto após sair do Brasil em uma tempestade no Cabo da Boa Esperança, em 29 de maio de 1500), Bartolomeu Dias (idem), seu irmão Diogo Dias, Nicolau Coelho (morto em uma tempestade em 1502, quando voltava de outra viagem às Índias), Vasco de Ataíde (Sumiu com seu navio em Cabo Verde a 23 de março de 1501, vide 2ª observação), Pero de Ataíde (morto em Moçambique em 1502), Nuno Leitão da Cunha, Simão de Pina (morto na tempestade do Cabo da Boa Esperança), Luís Pires (morto na tempestade do Cabo da Boa Esperança) e Gaspar de Lemos, comandante do navio de suprimentos (vide observação 8ª Observação).
 2ª) Caminha relata que no dia 23 de março de 1500, ao largo das ilhas de Cabo Verde, um navio com 150 homens, comandada por Vasco de Ataíde, desapareceu sem deixar vestígios. A maioria dos outros autores relata, no entanto, que o navio desaparecido foi o de Luís Pirez. Autores posteriores dizem que o navio de Luís Pires acabou retornando a Lisboa. Caminha relata que o tempo estava bom e não havia motivo para o desaparecimento deste navio, mas autores posteriores relataram um temporal; talvez este tenha sido inventado para explicar o desaparecimento inexplicável daquele navio. A informação de Caminha parece mais confiável por ele ter acesso às reuniões dos comandantes e por ter escrito mais perto do fato.
3ª) Aqui vai um breve estudo das correntes marítimas e da navegação de Cabral. As correntes dominantes no Atlântico Sul são a Corrente Fria de Benguela e a Corrente Equatorial Sul, ambas de sentido anti-horário. A Corrente Fria de Benguela, uma corrente de águas muito frias, provenientes do Oceano Antártico e da subida de águas frias profundas, acompanhada de ventos frios que corre de Sul para Norte, margeando a costa oeste da África, desde o Cabo de Boa Esperança até atingir o Equador, onde vira bruscamentee para Oeste, transformando-se na Corrente Equatorial Sul. A Corrente Fria de Benguela alarga-se à medida que se dirige para Norte, chegando a atingir 300 Km de largura ao largo de Benguela, em Angola. O impacto da Corrente Fria de Benguela é manifestado pelos nevoeiros persistentes ao largo da costa meridional angolana. Devido à ação da Corrente Fria de Benguela e dos Ventos Alísios, é extremamente difícil aos navios veleiros viajar no sentido Norte-Sul ao longo da costa de Angola e da Namíbia, obrigando os navios a tomaram uma rota muito larga quase tocando a costa brasileira. 
Corrente Equatorial Sul tem origem na região equatorial e nas proximidades da costa africana corre de Leste para Oeste, próximo do Equador, entre 3º Norte e 10º Sul, com velocidade no início, de 15 milhas por dia, aumentando em direção a oeste, chegando a atingir 60 milhas. Ela bifurca-se, cerca de Fernando Noronha, para formar a Corrente das Guianas, com o grosso do volume de águas, que corre paralelamente à costa Norte do Brasil e Guianas, e à Corrente Brasileira, que se dirige para o sul, margeando a costa leste da América do Sul, com velocidade de 20 milhas por dia, até além do estuário do Rio da Prata. Empurrada pela corrente fria das Falklands ou Malvinas, que vem do Sul, costeando a Argentina, encurva-se em direção à África, sob a ação dos ventos de oeste. O ponto de encontro do Oceano Atlântico Sul com o Oceano Índico é também onde a Corrente Fria de Benguela encontra a Corrente Quente das Agulhas ao largo do Cabo de Boa Esperança. Este encontro resulta numa mistura atribulada de águas e ventos quentes e frios, cuja diversidade dá lugar uma instabilidade acentuada de clima.
Por causa deste regime de ventos e correntes os navios, após saírem de Cabo Verde, rumavam para sudoeste, para aproveitar o vento e a corrente, que vem de nordeste (Corrente Equatorial Sul), enquanto que, costeando a África, os ventos e correntes vem do Sul (Corrente Fria de Benguela), contra a direção da navegação. O próprio Vasco da Gama assim aconselhara a Cabral, e ele mesmo, em sua primeira viagem para a Índia, passara próximo ao litoral do Brasil, não o descobrindo por pouco, pois, a dia 22 de agosto de 1497 achava-se a 5.000km da costa africana, isto é, a 45° ao Ocidente do Sul da África. No Roteiro de Vasco da Gama, está relatado que se viu aves que à noite tiravam contra sudoeste, tão rijas como aves que iam para terra.
“[...] faram seu caminho direito a ylha de samtiago e se ao tempo que hy chegarem teuerem agoa em abastança pera quatro meses nam devem pousar na dita ylha nem fazer nenhuuma demora soomente em quamto lhe o tempo seruyr a popa fazerem seu caminho pelo sul e se ouuerem de guynar seja sobre ha banda do sudueste. (À margem)—se tomarem ante a ilha de sam nicolao no caso desta necesidade pela barra da ylha de sam tiago. —E tanto que nelles deer o uento escasso deuem yr na volta do mar ate meterem o cabo de bõoa esperança em leste franco e dy em diante nauegarem segundo lhe seruyr o tempo e mais ganharem porque como forem na dyta parajeem nom lhe myngoara tenpo com ajuda de noso senhor com que cobrem dito cabo. E per esta maneira lhe parece que a nauegaçam sera mais breue e os nauyos mais seguros do bussano e jsso mesmo os mantymentos se teem mjlhor e a jente yraa mais sãa.” (Intruções de Vasco da Gama para Cabral, 1500, apud Dias)
E huuma quynta feira que eram tres dias d'agosto partimos em leste [das Ilhas de Cabo Verde], e hindo huum dia com sull quebrou a verga ao Capitam moor, e foy em XVIII dias d' agosto, e seria isto CC legoas [1.200km] da Ilha de Santiaguo, e pairamos com o traquete e o papafigo dous dias e huuma noute, e em XXII do dito mes hindo na volta do mar ao sull e a quarta do sudueste, achamos muitas aves feitas como garçoeens, e quando veo a noute tiravam contra o susoeste muito rrigas como aves que hiam pera terra, e neste mesmo dia vimos huuma balea, e isto bem oytocentas legoas [5.000km] em mar.” (Roteiro da viagem de Vasco da Gama, 1498)
“[...] tanto que se passar a linha bem amarado do Cabo das Palmas não se engeite o ló tanto o que o vento der logar até cento e vinte legoas do Cabo de S. Agostinho, e da altura dos Abrolhos, na costa do Brazil, se vá bem a barlavento das ilhas da Trindade, e Martim Vaz, e d'ali ir-se-ha seguindo derrota até altura de trinta graos sul, buscando o meridiano das ilhas de Tristão da Cunha, e estando norte sul com ellas, se dará caminho á nau conforme o vento, e se ha d'ir demandar por altura de trinta e cinco graos e dois terços o Cabo das Agulhas.” (Manuel Pimentel, Arte de Navegar, sec. XVII-XVIII)
Os navios de Cabral saíram no final do inverno do Hemisfério Norte navegando em direção Sul com ventos favoráveis em direção ao Equador. Ao aproximar-se deste, o vento diminui de velocidade, surgindo as calmarias equatoriais. É um percurso de cerca de 280 léguas que levava normalmente cerca de 7 dias com uma velocidade média de 40 1éguas/dia. Como a viagem de Cabral começou no inverno, não soprava a monção de Sul, de forma que a armada podia rumar nesta direção, com o vento favorável entre Norte e Nordeste e só perto do Equador é que teria havido alguns dias com ventos variáveis e calmos. Ao passar as calmarias equatoriais, Cabral não podia navegar mais para o Sul ao longo da costa da África, pois os ventos e correntes (Corrente Fria de Benguela) iam em direção contrária, de Sudeste para Nordeste. O melhor era, então, rumar um pouco a Sudoeste, por escassear o vento, seguindo os ventos e a Corrente Equatorial Sul. Do Equador à costa do Brasil vão cerca de 420 léguas, que Cabral percorreu em 13-14 dias (9 a 22 de abril) com velocidade média de 30-32 léguas/dia. A cerca de 50 léguas a Leste do Cabo Santo Agostinho, quando os navios atingem os 10º de latitude Sul, o vento e as correntes (Corrente Brasileira), rodando de Sudeste para oeste, permitem aos navios rumarem para sul. No entanto, Cabral foi, por algum motivo, muito mais para o sudoeste do que devia, mesmo não sendo necessário, pois, ao aproximarem-se dos 17º de latitude Sul, já normalmente o vento e as correntes permitem aos navios o irem muito afastados da costa do Brasil, acabando topando com a costa brasileira. Em seguida os navios aproveitam que a corrente muda em direção a oeste para ir para o Cabo da Boa Esperança.
4ª) Quase todos os autores, inclusive testemunhas oculares da viagem, como o autor da Relação do Piloto Anônimo, dão como data do descobrimento o dia 24 de abril de 1500. Praticamente só Caminha dá o dia 22 de abril. Apesar disto, considera-se mais confiável esta data dada por Caminha, pois sua carta é a fonte mais extensa e detalhada da deste período, inclusive com um relato diário do mesmo. Além disto, ele foi o único autor (com exceção de Mestre João, que não relata a data do descobrimento) que escreveu logo no momento do descobrimento, enquanto os outros escreveram bem depois do fato. Observe que, em 1582, Portugal adotou o Calendário Gregoriano, em substituição do Calendário Juliano, que retirou 10 dias do ano, o que fará o descobrimento do Brasil cair em 03 de maio de 1500, se se fizer a contagem do tempo decorrido do descobrimento, de hoje para trás.
5ª) Sabe-se com bastante precisão o ponto de desembarque no Brasil, contrariamente às outras grandes descobertas da época, graças às observações astronômicas feitas pelos físico e astrônomo Mestre João, e relatadas na sua famosa carta ao rei de Portugal.
6ª) A 1ª missa realizada no Brasil foi em 26 de abril de 1500, domingo de Pascoela, que é o domingo seguinte à Páscoa, que teria sido domingo 19 de abril. Esta missa foi realizada em um ilhote e não em terra-firme mesmo. A missa principal realizada no Brasil, foi a missa da sexta-feira 1º de maio de 1500, esta já em terra-firme. É importante lembrar que a missa nesta época, não era falada, mas cantada em canto gregoriano em latim, coisa que certamente os frades franciscanos teriam feito em coro e antífona, formando um espetáculo deslumbrante para os índios.
7ª) O nome inicial do Brasil era Ilha de Vera (verdadeira) Cruz, nome que foi dado por Cabral, provavelmente, quando de sua descoberta a 22 de abril. Este nome foi usado por muito pouco tempo, pois já em 1501, nas instruções a João da Nova, é transformado no de Ilha da Cruz. D. Manuel, na carta que escreveu aos reis da Espanha, a 29 de julho de 1501, já dá o nome de Santa Cruz. Muitos autores erradamente atribuem este nome a Cabral por este ter erguido a cruz no Brasil em 3 de maio, dia, no calendário religioso, da Santa Cruz. Mas Cabral, como se vê em Caminha, que escreveu a 1º de maio, nomeou o Brasil, antes disto de Ilha de Vera Cruz. Além disto, Cabral partiu do Brasil a 2 de maio, portanto antes do dia de Santa Cruz (3 de maio). O nome Terra de Santa Cruz ainda foi usado pelos escritores portugueses na maior parte do século XVI, seja sozinho, seja associado ao de Brasil, mas no roteiro de Gonneville (1503-1505) o nome de Brasil, já é usado pelos franceses e em 1511 (Roteiro da Nau Bretoa) pelos portugueses.
8ª) Quase todos os autores dão Gaspar de Lemos como comandante da nave de suprimentos que retornou a Portugal dando notícia do descobrimento. Ele teria retornado em 1501 com Américo Vespúcio na 1ª Expedição Exploradora do Brasil. No entanto, Gaspar Correia (1561) nomeia André Gonçalves como capitão da nave de suprimentos e alguns historiadores como Capistrano de Abreu o seguem.
4) Descoberta Intencional ou Acidental?
            Para finalizar, cabe aqui discutir a velha questão se o descobrimento do Cabral foi acidental ou intencional. A questão é um pouco mais difícil, pois existem nuances intermediárias. Há, na verdade, 3 grandes possibilidades. A 1ª Possibilidade é que os navios saíram da rota programada, contra a vontade de Cabral, e acabaram topando, completamente por acaso, com a costa do Brasil. A 2ª Possibilidade é que os portugueses suspeitavam que houvesse terras, ainda desconhecidas, naquela região e Cabral teria se desviado um pouco do curso previsto para averiguar se estas realmente existiam ou não. A 3ª Possibilidade é que Portugal já sabia da existência de terras na altura do Brasil e, por motivos políticos e/ou econômicos estivesse mantendo segredo delas, mas que, por uma mudança da conjuntura, resolveu expor e reivindicar estas terras para si, fazendo um “teatrinho” do descobrimento, para não ter que admitir que escondia a existência da mesma.
a) 1ª Possibilidade: Os navios saíram da rota programada, contra a vontade de Cabral
Na 1ª hipótese, os navios da expedição teriam sido arrastados, contra a vontade de Cabral, para oeste pela ação insuperável de fatores náuticos ou climáticos, como uma tempestade muito prolongada. Caminha nem nenhum escritor relata que os navios foram arrastados contra a vontade para o sudoeste e também não relatam nenhuma tempestade neste período (houve uma relatada no Cabo da Boa Esperança, depois de saírem do Brasil). Pero de Magalhães de Gandavo refere na sua Historia da Provincia de Santa Cruz, que passadas as Ilhas de Cabo Verde, foi o vento prospero até avistarem a costa do Brasil. Além disto, as tempestades da costa do Brasil, nesta época do ano, sopram do Noroeste e do Sudoeste, o que afastaria os navios de Cabral da costa do Brasil. E por último, se uma tempestade ocorresse, a frota seria desbaratada e não chegaria unida e completa ao Brasil. Portanto, esta hipótese pode ser descartada.
Outra hipótese é que os navios da expedição teriam saído da rota, contra a vontade de Cabral, por erros de navegação. Isto poderia acontecer por (1ª) Erro cometido no rumo ou orientação; ou (2ª) Erro na latitude ou na estimativa da distância percorrida. Um (1ª) Erro cometido no rumo ou orientação deve ser descartado, pois os portugueses conheciam bem o rumo para o Cabo da Boa Esperança e, inclusive, nesta expedição ia Bartolomeu Dias que já tinha feito esta viagem antes. Além disto, eles já usavam a bússola, que, mesmo experimentando esta uma variação para o leste, de 5º a 10º, na região e na época em questão (que já era conhecida e corrigida pelos portugueses), não podia esta pequena diferença do rumo da agulha, mesmo não corrigida, causar um tão grande desvio na rota da frota para oeste, que a levasse às costas brasileiras. Este fato é corroborado pelo fato de a frota ter passado pelas Ilhas Canárias e Ilhas de Cabo Verde, sem apresentar nenhum erro na rota, apesar de sofrerem o mesmo desvio na bússola. Um (2ª) Erro na latitude ou na estimativa da distância percorrida também deve ser descartado, porque, apesar do cálculo da latitude na época ser mais sujeito a erros, se tivesse havido um erro na latitude calculada pela observação do sol, ou na distância estimada pelos pilotos, este teria se refletido nas observações feitas em terra por Mestre João e relatadas em sua carta, fato que não se deu, pois ele calculou corretamente a localização do ponto de chegada no Brasil e não achou diferenças nos cálculos que fez a bordo durante a viagem com os cálculos em terra. Por fim, os portugueses eram os melhores navegadores do mundo nesta época e não seria crível que fizessem um erro tão crasso. Portanto, os portugueses não foram jogados contra a vontade no Brasil, por motivos náuticos ou climáticos e nem por erros de cálculo da rota; disto, pode-se concluir que o descobrimento do Brasil não foi puramente acidental.
b) 2ª Possibilidade: os portugueses suspeitavam que houvesse terras, ainda desconhecidas, naquela região e Cabral teria se desviado um pouco do curso previsto para averiguar se elas realmente existiam.
            Os portugueses podiam suspeitar da existência de terras na localização do Brasil por (1) Indícios físicos da existência de terras para o oeste; ou (2) Motivos teóricos. Existiam vários (1) Indícios físicos da existência de terras para o oeste: ocasionalmente apareciam nas Ilhas dos Açores, Madeira e na Guiné vestígios, que apontavam para a existência de ilhas ou terras a Ocidente e que eram trazidos pelo mar, desde a direção oeste, além oceano. Estes vestígios eram madeiras, às vezes lavradas e grossas canas; também há relatos de corpos de pessoas com fisionomia oriental, em Galway (Irlanda), e nas Ilhas dos Açores. Nas Ilhas da Graciosa e do Faial (Açores), quando sopravam ventos de oeste e de noroeste, o mar trazia pinhas. Os vestígios vindos do Ocidente surgiam porque as correntes marítimas se dirigiam, nestas latitudes, de oeste para Leste. Portanto, se vinham vestígios de material terrestre e humano desde a direção oeste, é de se esperar que houvesse terras nesta direção. Havia, também, vários (2) Motivos teóricos para se acreditar que houvesse terras a oeste. Sabia-se que a terra é redonda e, desta forma, se se navegasse para o este, conforme Colombo fez, obrigatoriamente achar-se-ia terra, seja as Índias ou alguma terra desconhecida entre esta e Portugal; há de se acrescentar, que, naquela época, achava-se que a Terra era bem menor do que é na realidade, e que, por isso, tinha um diâmetro bem menor, como supunha Colombo, não sendo necessário desviar muito mais para o oeste para se achar terras. O célebre cartógrafo Paolo dal Pozzo Toscanelli, em 1474, colocava a distância de Portugal para a China em cerca de 6.500km apenas, o que influenciou Colombo a tentar a chegar às índias indo pelo ocidente. Além disto, desde que Colombo descobriu a América sabia-se que havia terras mais ao norte que o rumo da viagem, e desde a 3ª viagem do mesmo sabia-se que havia um continente (América do Sul) ao sul das explorações espanholas no Caribe, o qual poderia (ou não) se estender bem para o sul, e que caso, realmente se estendesse nesta direção, poderia ser descoberto pouco a oeste da rota programada por Cabral. Por último, é importante acrescentar, que mesmo que não houvesse terras naquela direção, se se descobrisse uma rota para as Índias pelo Oeste (lembre-se que a terra era redonda e supostamente bem menor do que realmente era), seria um ótimo feito, como acabou sendo para a Espanha, após a viagem de Fernão de Magalhães. Pode-se concluir, que havia indícios físicos de terras a oeste e motivos teóricos para se esperar que estas existissem, portanto existe uma boa probabilidade que Cabral tivesse se desviado um pouco da rota, de propósito, para averiguar se estas terras realmente existiam, ou se não existissem, se seria possível chegar às Índias pelo ocidente.
Disse, pois, Cristóbal Colon entre outras coisas que pôs em seus livros por escrito, que falando com homens do mar, pessoas diversas que navegavam os mares de Ocidente, principalmente as ilhas dos Azores e da Madera, entre outras, disse-lhe um piloto do rei de Portugal, que se chamava Martin Vicente, que achando-se uma vez 450 léguas [2.500km] ao Poente do Cabo de San Vicente, viu e colheu no navio, no mar, um pedaço de madeira lavrada por artífice, e, ao que julgava, não com ferro; do qual e por haver muitos dias ventado ventos Poentes, imaginava que aquele pau vinha de alguma ilha ou ilhas que para o Poente houvesse. Também outro que se nomeou Pero Correa , concunhado do mesmo Cristóbal Colon , casado com a irmã de sua mulher, certificou-lhe que na ilha do Puerto Sancto havia visto outro madeiro vindo com os mesmos ventos e lavrado da mesma forma, e que também havia visto canas muito grossas, que em uma cana delas pudiam caber três azumbres [6 litros] de água ou de vinho ; e isto mesmo disse Cristóbal Colon que ouviu afirmar ao Rei de Portugal, falando com ele nestas matérias , e que o Rei se as mandou mostrar. O qual teve por certo (digo o Cristóbal Colon) serem as ditas canas de algumas ilhas ou ilha que não estava muito longe, ou trazidas da Índia com o ímpeto do vento e do mar, pois em todas nossas partes da Europa não as havia, ou não se sabia que as houvesse semelhantes. [...] Então, por alguns dos moradores das ilhas dos Azores, era certificado Cristóbal Colon , que ventando ventos fortes Poentes e Noroestes, trazia o mar alguns pinheiros e lançava-os naquelas ilhas, na costa, em especial na ilha Graciosa e na do Fayal, não havendo por parte alguma daquelas ilhas onde se achasse pinheiros. Outros disseram-lhe que na ilha das Flores, que é uma dos Azores, havia lançado o mar dois corpos de homens mortos , que pareciam ter as faces muito largas e de outro gesto que têm os cristãos; outra vez, diz, que no Cabo de la Verga, que é em    , e por aquela comarca, viram-se almadias ou canoas com casa movediça, as quais, por ventura, passando de uma ilha a outra, ou de um lugar a outro, a força dos ventos e mar lançou-as onde, não podendo retornar os que as traziam, pereceram, e elas, como nunca jamais se afundam, vieram a parar por tempo aos Azores. Assim mesmo um Antonio Leme, casado na Ilha da Madera , certificou-lhe, que havendo uma vez corrido com uma sua caravela bom trecho ao Poente, havia visto três ilhas próximo de onde andava, que fosse verdade ou não, ao menos diz que muito se soava pelo vulgo comum, principalmente nas ilhas da Gomera e do Hierro, e dos Azores muitos afirmavam-no e juravam-no, ver cada ano algumas ilhas para a parte do Poente. [...] Mas diss Cristóbal Colon, que no nño de 1484 viu em Portugal que um morador da ilha da Madera foi pedir ao Rei uma caravela para ir descobrir certa terra, que jurava que via cada ano e sempre de una maneira, concordando com os das ilhas dos Azores. Daqui sucedeu, que, nas cartas de marear que nos tempos passados faziam-se, pintavam-se algunas ilhas por aqueles mares e comarcas, especialmente a ilha que diziam de Antilla, e punham-na pouco mais de 200 léguas [1.115km] ao Poente das ilhas de Canarias e dos Azores. [...] e diz-se que no tempo do Infante D. Enrique de Portugal, com tormenta, correu um navio que havia saído do porto de Portugal e não parou até dar nela, e, saltando em terra, os da ilha levaram-nos à igreja para ver se eram cristãos [Groelandeses] e faziam as cerimônias romanas, e visto que o eram, rogaram-lhes que estivessem ali até que viesse seu senhor que estava dali afastado; porém os marinheiros, temendo não lhes queimassem o navio e os detivessem ali, suspeitando que não queriam ser conhecidos por ninguém, retornaram a Portugal muito alegres esperando receber mercedes do Infante ; aos quais diz que maltratou e mandou que retornassem, porém o mestre e elos não o ousaram fazer, por cuja causa, do reino saídos, nunca mais a ele retornaram: dizem mais, que os grumetes colheram certa terra ou areia para seu fogão, e que acharam que muita parte dela era ouro. Alguns saíram de Portugal a buscar esta mesma, que, por comum vocábulo, chamavam-na Antilla, entre os quais saiu um que se dizia Diego Detiene [Diego de Teive], cujo piloto, que se chamou Pedro de Velasco, morador de Palos, afirmou ao mesmo Cristóbal Colon, no monastério de Sáncta María de la Rábida, que haviam partido da ilha do Fayal, e andaram 150 léguas [850km] pelo vento lebechio, que é o vento Noroeste , e na volta descobriram a ilha das Flores [Ilha do Arquipélago de Açores, em 1452], guiando-se por muitas aves que viam voar para lá , porque conheceram que eram aves de terra e não do mar, e assim julgaram que deviam de ir dormir em alguma terra. Depois diz que foram pelo Nordeste tanto caminho, que se lhes ficava o Cabo de Clara [Cape Clear], que está em Ibernia [Irlanda], para o Leste , onde acharam ventar muito forte os ventos Poentes e o mar era muito plano, pelo qual criam que devia de ser por causa de terra que por ali devia de haver, que os abrigava da parte do Ocidente ; o qual não prosseguiram indo para descobri-la, porque era já por Agosto e temeram o inverno. Isto diz que foi quarenta anos antes que Cristóbal Colon descobrisse nossas Índias. Concorda com isto o que um marinheiro caolho disse ao dito Cristóbal Colon, estando no porto de Sancta María, que, em uma viagem que havia feito a Irlanda, viu aquela terra que os outros haver por ali criam, e imaginavam que era Tartaria, que dava volta pelo Ocidente ; a qual creio eu certo que era a que agora chamamos a dos Bacallaos, à qual não puderam chegar pelos terríveis ventos. Então , um marinheiro que se chamou Pedro de Velasco, gallego, disse ao Cristóbal Colon em Murcia, que, indo aquele em viagem de Irlanda, foram navegando e metendo-se tanto ao Noroeste, que viram terra para o Poente de Ibernia [Irlanda], e esta acreditaram os que ali iam que devia de ser a que quis descobrir um Hernán Dolinos, como logo se dirá. Um piloto português, chamado Vicente Díaz, morador de Tavira, vindo de Guinea para a ilha Tercera, dos Azores, havendo passado o lugar da ilha da Madera e deixando o Levante, viu ou lhe pareceu ver uma ilha que teve por muito certo que era verdadeira terra; o qual, chegando à dita ilha Tercera, descobriu o segredo a um mercador muito rico, genovês, amigo seu, que tinha por nome Lúcas de Cazana, ao qual persuadiu muito que armasse para o descobrimento dela, tanto que o houve de fazer; o qual, depois de tida licença do Rei de Portugal para fazê-lo, enviou recado para que um seu irmão, Francisco de Cazana, que residia em Sevilha, provisse de armas uma nau cmn presteza e a entregasse ao dito piloto Vicente Diaz, porém o dito Francisco de Cazana burlou da empresa e não quis fazê-lo; retornou o piloto à Tercera e armou logo o dito Lucas de Cazana, e saiu o piloto três e quatro vezes buscar a dita terra até cento e tantas léguas, e nunca pôde achar nada, por maneira que o piloto e seu armador perderam esperança de jamais achá-la.” (Las Casas, 1561, Livro I, Cap. XIII)
“[...] o infante D. Fernando, meu muito prezado e amado irmão nos disse que Gonçalo Fernandes, morador em Tavira, ao vir das pescarias, do rio do Ouro, estando no pego [mar alto] a oesnoroeste das ilhas Canárias e da ilha da Madeira, houve vista de uma ilha e que por o tempo lhe ser contrario não se poude chegar a ella, a qual o dito meu irmão já mandou buscar por certos signaes que lhe deram d'ella, mas não lh'a acharam e que porquanto elle queria outra vez mandar buscal-a, nos pedia por mercê que lh'a déssemos, e outorgamos-lhe a dita ilha que achada é, ou em algum tempo se achar por seus navios ou por outros quaesquer na dita paragem.” (Carta Régia de 29 de outubro de 1462, apud Fonseca, 1908, pg. 68)
c) 3ª Possibilidade: Portugal já sabia, em segredo, da existência do Brasil e resolveu revelá-la.
            Segundo esta teoria, Portugal já sabia da existência de terras na altura do Brasil e, por motivos políticos e/ou econômicos estava mantendo segredo, mas que, por uma mudança da conjuntura, resolveu expor e reivindicar estas terras para si, fazendo um “teatrinho” do descobrimento, para não ter que admitir que escondia a existência desta terra. Há quem postule, que Portugal já tinha descoberto o Brasil, mas que, até então não tinha revelado sua existência ao mundo, para poder se dedicar ao comércio com as Índias e a criação do seu Ímpério no Oriente, por falta de maiores recursos, sem ter que se preocupar com defender o Brasil das outras potências marítimas européias que desconheciam sua existência. No entanto, por algum motivo, Portugal resolveu revelar a existência do Brasil, talvez medo que outra nação o “descobrisse” antes e reivindicasse sua posse; deve-se lembrar que a Espanha estava, nesta época, explorando o litoral norte da América do Sul, com Colombo, Hojeda e Vespucci, Pinzón e Lepe, etc. Para não ter que revelar que já sabia do Brasil, teria feito um falso descobrimento para revelar ao mundo sua existência. A favor desta teoria, existe o contido na Carta de Mestre João sobre a localização do Brasil em um mapa antes de sua descoberta:
“[...] quanto Senhor ao sítio desta terra, mande vossa alteza trazer um mapa-mundo que tem Pero Vaz Bisagudo, e por aí poderá ver vossa alteza o sítio desta terra, porém, aquele mapa-mundo não certifica esta terra ser habitada, o não: é um mapa-mundo antiguo [...]” (Mestre João, 1500)
Pero Vaz da Cunha alcunhado Bisagudo era um navegador português que em 1488 fortificou a foz do Rio Senegal. Seu mapa-mundom, provavelmente, continha as terras míticas já presentes em mapas medievais anteriores. Outro argumento a favor é que em alguns outros mapas da época, via-se a localização do Brasil. Contra esta teoria está que muitos destes mapas eram fantasiosas, com a localização de terras míticas, como a Ilha das 7 Cidades, Ilha das Antílias e Ilha do Brasil (inclusive das 3 no mesmo mapa), que muitas vezes se localizavam no meio do Atlântico, longe de qualquer terra real existente. Outro argumento contrário é que Mestre João não sabia se esta terra descrita no mapa de Bisagudo era habitada ou não, não devendo haver dúvida deste fato, se o Brasil já tivesse sido descoberto antes, pois todo o litoral era povoado. Outro argumento a favor é a existência de várias supostas descobertas prévias do Brasil por navegadores portugueses, como Duarte Pacheco Pereira (ver Descobrimento do Brasil – Parte I, neste blog), mas contra vai que nenhuma destas foi provado. Também, a favor, há a insistência de Portugal, no Tratado de Tordesilhas, em 1494, de extender a linha divisória em 370 léguas das Ilhas de Cabo Verde, em vez das 100 léguas da Bula Intercoetera. Outro argumento contra é que nunca se descobriu algum documento que realmente provasse a descoberta prévia do Brasil, além de que os testemunhos dos participantes da expedição mostraram todos surpresa ao se descobrir o Brasil. Por último, há de se acrescentar que, se Portugal já conhecia a existência do Brasil, porque Cabral teve pressa de mandar logo de volta do Brasil um navio (o navio de mantimentos de Gaspar de Lemos) ao rei de Portugal informando da descoberta de terras que este rei já saberia existirem, em vez de só relatar oficialmente quando retornasse da Índia. E se Portugal já sabia do Brasil, porque Cabral não levava os famosos marcos de pedra que se usavam para tomar posse de terras, tendo, em vez disso, erguido uma cruz de madeira. E porque, também, o rei de Portugal mandou imediatamente, no ano seguinte, uma expedição (Gaspar de Lemos e Amérigo Vespucci) para explorar uma coisa que já era conhecida e que já teria sido, certamente, explorada. Portanto, é possível que Cabral tivesse se desviado da rota, de propósito, para tomar posse oficialmente do Brasil, que já seria conhecido antes, mas cujo conhecimento era guardado em segredo, no entanto não há nenhuma prova disto e, se existem alguns indícios a favor, existem mais contra.
5) Bibliografia
O Descobrimento do Brasil é relatado em vários autores durante estes mais de 500 anos desde o dia que Cabral chegou ao Brasil. Sobre o Descobrimento do Brasil há basicamente 4 tipos de fontes: (1ª) Documentos Oficiais sobre a organização da armada; (2ª) Testemunhas oculares que participaram da viagem; (3ª) Autores contemporâneos que colheram informações diretamente dos participantes da viagem; (4ª) Historiadores posteriores que consultaram autores anteriores, inclusive textos escritos por participantes da viagem, alguns dos quais já não mais existentes.
(1ª) Os principais Documentos Oficiais sobre a organização da armada são: (a) Carta da capitania-mór a Pedro Alvares de Gouveia (Cabral), datada de 15 de fevereiro de 1500 (b) os dois Apontamentos fragmentários de Instruções para a Viagem. Estes documentos falam sobre a preparação, rota e/ou missão da expedição. No entanto, nenhum deles cita os nomes dos navios e nem os dos seus comandantes.
(2ª) As principais Testemunhas oculares que participaram da viagem são: (a) Carta de mestre João (João Emeneslau), datada de 28 de abril (ou 1 de maio) de 1500, que é bastante curta e dá poucas informações. Sua importância reside nas observações astronômicas por ele feitas, permitindo localizar precisamente o lugar em que Cabral chegou; há também a inesperada menção (ver acima) ao mapa de Pedro Vaz Bisagudo. (b) Carta de Pero Vaz de Caminha escrita em 01 de maio de 1500, na véspera da partida de Cabral do Brasil, dá um relato completo da viagem, da saída de Lisboa até o dia em que foi escrita. É nossa melhor fonte ocular da descoberta. Ela faz um relato diário e detalhado da estância no Brasil e é ela que fixou o dia 22 de abril para o descobrimento. No entanto, não relata a partida do Brasil a 2 de maio, nem os fatos posteriores da viagem. Além disto, não dá detalhes náuticos, nem cita o nome dos navios ou seus comandantes. Estas 2 cartas foram escritas do Brasil e foram remetidas de volta com o navio que trouxe a notícia do descobrimento para o rei de Portugal. (c) Relação do Piloto Anônimo. É bem mais sumária que a Carta de Caminha, mas relata toda a viagem de Cabral desde sua partida até seu retorno a Portugal. Neste grupo incluir-se-iam, também, uma série de documentos já perdidos, como as cartas que Cabral e Aires Correa escreveram ao Rei de Portugal e a o Diário de bordo da nau capitânia.
(3ª) Autores contemporâneos que colheram informações diretamente dos participantes da viagem: (a) Carta de Bartolomeu Marchioni (Códice Voglienti V. Uzielli), armador duma das naus da expedição; (b) Carta de La Faitada, datada de 26 de junho de 1501, escrita por um italiano residente em Lisboa e contém referências à viagem; (c) Carta de Pisani, datada de 27 de julho de 1501, escrita por outro italiano residente em Lisboa e, também, contém referências à viagem; (d) Carta de D. Manuel aos reis de Castela, data de 28 de agosto de 1501, poucos dias depois da chegada de Cabral a Portugal; (e) Carta de D. Manuel aos reis de Castela, data de março de 1505. Existe, também, uma carta de Américo Vespúcio: a Lettera a Lorenzo Pietro Francesco di Medici (Lettera Baldelli) (Carta II – Bd) datada de 4 de junho de 1501, em Cabo Verde, isto é, no começo da sua dita 3ª viagem (1ª a serviço de Portugal, 501-15012); foi descoberta na Biblioteca Riccardiana de Florença, no meio de papeis de Pier Voglienti, e editada pela 1ª vez em italiano por Baldelli em 1827. Não traz nada de novo, apesar de não contradizer nem o pensamento de Vespucci nem os dados de sua biografia, e é em geral tido como apócrifa.
(4ª) Historiadores posteriores e Mapas do Século XVI: destacam-se os cronistas portugueses do século XVI: (a) Castanheda, História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portuguezes (1551), é o primeiro, o mais exato e possui pormenores que nunca mais se tornam a encontrar nas outras crônicas e sua narrativa aproxima-se em especial da Relação do Piloto anônimo, e é de uma fidelidade escrupulosa; (b) João de Barros, Década primeira da Ásia (1552), nas suas linhas gerais, acompanha o que se averigua pelas fontes, mas omite ou desvirtua alguns dos pormenores, ainda que forneça muitos dados novos, além de ser o que melhor nos dá a visão íntima dos fatos; (c) Corrêa, Lendas da Índia (1561) é bastante inexato com muitos erros de nomes e datas; (d) Damião de Gois, Chronica do Felicissimo Rei Dom Emanuel (1566); (e) Osório, Da vida e feitos d’El Rei D. Manoel (1571), é o mais sucinto e mais sóbrio e também segue a Relação do Piloto anónimo; (f) Livro das Armadas, traz uma relação das armadas que saíram do reino até 1566, com desenhos e notas manuscritas, mas, em relação à armada de Cabral, não passa duma cópia mal feita do que dizem as crônicas; (g) Gandavo, Historia da Provincia de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576) dá poucas informações sobre este tema; (h) Souza, Tratado descriptivo do Brasil em 1587, também não acrescenta nada de importante; (i) Las Casas, Historia de las Indias (1552) é um autor espanhol e dá poucas informações sobre este tema; (n) Mapa de Cantino contém uma inscrição acerca da viagem de Cabral e uma carta de El-Rei de Cochim a D. Manuel, na qual se fazem igualmente referências a esta expedição.

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- MESTRE JOÃO (JOHANES EMENESLAO). Carta do mestre João a D. Manuel (28 de abril de 1500). Apud VARNHAGEN, Frederico Adolfo. Historia geral do Brazil. Vol. 1. 1ª ed. Rio de Janeiro: Casa E. e H. Laemmert, 1854. pg. 423. CORTESÃO, Jaime. A expedição de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil. Lisboa: Livrarias Aillaud e Bertrand, 1922, pg. 257-259. ACADEMIA REAL DE SCIÊNCIAS. Centenário do descobrimento da América. Memórias da Comissão Porugueza da Exposição Colombina de Madrid, 1892. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1892, pg. 61-63.
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Mapa das Correntes Marítimas. Observe que no Golfo da Guiné (África) os ventos são contrários a navegação, de Sul para Norte (Corrente Fria de Benguela), devendo-se pegar no Equador a Corrente para oeste e sudoeste (Corrente Sul do Equador) e depois Corrente do Brasil para sul e sudoeste e por fim virar a leste (Corrente Sul Atlântica) até o Cabo da Boa Esperança
Detalhe das correntes do Atlântico

Vista geral do local de aportagem de Cabral
Vista geral do local de aportagem de Cabral, detalhe
Vista do Monte Pascoal e Baía Cabrália
Vista da Baía Cabrália
Vista da Baía Cabrália
Monte Pascoal visto de mar
Monte Pascoal
Monte Pascoal
Página do livro das Armadas sobre a expedição de Cabral







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