DESCOBRIMENTO
DO BRASIL – Parte II
Pedro Álvares Cabral (1500)
1) Introdução:
Apesar de uma série de navegadores, com maior ou menor
probabilidade, reivindicarem a honra de terem descoberto o Brasil antes de
Cabral, considera-se oficialmente que o Brasil foi descoberto a 22 de abril de
1500. No entanto, deve-se observar que há ainda alguns fatos controversos ou
pouco claros nesta viagem.
2) O Descobrimento do Brasil
a) Partida de Lisboa (9 de março de 1500)
O rei D. Manoel I
(1495-1521) resolveu mandar outra frota à Índia, após o regresso da esquadra de
Vasco da Gama em 1498. Pedro Álvares Cabral (1467-1520) foi nomeado comandante
de uma armada de 13 navios (10 navios maiores e 3 navios pequenos). Era a maior
frota saída até então, com entre 1.200 e 1.500 soldados, negociantes e
aventureiros com mercadorias variadas e dinheiro amoedado, revelando o duplo
caráter da expedição: pacífica, se na Índia preferissem o comércio pacífico,
belicosa, se quisessem recorrer às armas.
“No anno de mil e quinhentos mandou o
Sereníssimo Rei de Portugal D. Manoel huma armada de doze náos [aqui o
autor não computa o navio de mantimentos, que completa os 13 navios] ou navios para as partes da índia, e por seu
Capitão mór Pedro Alvares Cabral, Fidalgo da sua Casa, as quaes partirão bem
appárelhadas, e providas do necessário para anno e meio de viagem. Dez destas
náos levavão regimento de hir a Calicut [cidade da costa oeste da Índia], e as duas restantes a hum lugar chamado
Çofala [região da costa central de Moçambique] para contratar em mercadorias, ficando este porto na mesma derrota de
Calicut, para onde as outras dez hião carregadas.” (Navegação, 1501)
“[...] este sereníssimo rei mandou ao dito local de Coloqut [Calicut, na Índia] 12 naus e navios, dos quais 10 grandes, um do senhor don Álvaro, em
companhia de Bortolo [Bartolomeo Marchionni], florentino e Hironimo [Girolamo ou Geronimo Sernige] e um genovês, o outro do conde de Porta
Alegra e de muitos outros mercadores. Ao todo são 12 entre navios e barcos
menores [...]” (La Faitada, 1501)
“[…]
no anno .M.CCCCC. o rei supra nominado
Hemanuel mandou .XII. entre navios e Caravellas; capitão daqueles Pedro
aliares; aquele teve o estandarte da sua Capitania no dia .VIII. do mês de
Março de mil e quinhentos; partiu-se de Portugal […]” (Ioseph Indiano, 1502)
“As
primeiras naos que mandamos aquellas terras foram em numero de XII, além de uma
caravella que levava mantimentos. E sahíram do nosso porto de Lisboa no anno de
1500, no dia 8 de março, para ir a negociar em especiarias e drogas nas regiões
da India, além do mar Roxo e Pérsico, em uma cidade chamada Calicut, [...]. Da dita armada foi Capitão General Pedro
Alvez Cabral.” (D. Manuel,
1505)
“De 1500, a 9 de Março, mandou Sua Alteza
navios, entre grandes e pequenos, em número de 13; Capitão Pedralboro [Pedro Álvares] e um seu feitor, Ali Scorer [Ayres Correa], com o dito Gaspar [um judeu que ia de intérprete da língua
indiana], [...]” (Masser,
1506)
“[...] e forão feitos por esta armada mil y quinhentos homens [...]” (Castanheda,
1551)
“[...] o capitão môr della, que por as
qualidades de sua pessoa, foi escolhido Pedraluarez Cabral filho de Fernão
Cabral [...].
A qual armada era de treze velas, entre naos, nauios, &
caravelas: [...]
Seria o numero da gente que hia nesta frota entre mercantes
& homens d’armas ate mil & duzentas pessoas: toda gente escolhida,
limpa, bem armada e prouida pera tão comprida viagem [...]” (Barros,
1552)
“Ano de mil e quinhentos enviou o Rei don Manuel doze caravelas com Pero
Aluares a Calicut, e trouxe o trato das especiarias a Lisboa, e ganhou depois a
Malaca estendendo sua navegação à China.” (Gómara,
1554, Cap. CVI, pg. 138b)
“[...] nestes dias mesmos, depois dos ditos
descobridores castelhanos [Pinzón e Lepe] daquela terra firme, aconteceu de
fazer o rei de Portugal uma armada para ir à Índia, e acaso descobrir a mesma
terra, que já os nossos [os espanhóis] haviam descoberto e
contornado, como dizem os marinheiros, [...].
Enviou, pois, o rei de Portugal, D. Manuel, o primeiro daquele nome, uma bem
provida armada de treze velas grandes e menores, nas quais iriam até 1.200
homens, entre marinheiros e gente de armas, toda gente muito luzidia, [...] o Capitão da Armada, que se chamava
Pedro Álvarez Cabral [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“[...] foy assentado que a armada partisse em
Março, que era o bom tempo pera partir, pera o que
forão ordenadas dez naos grossas de dozentos, trezentos tonés e tres nauios
pequenos, e todos fortes, muy aparelhados, e apercebidos em muyta auondança de
todo o necessario p era o tempo de dous anos, de muytos mantimentos, e
artilheria e monições, e armas : o que
todo era ordenado por dom Vasco. Da qual armada ElRey fez capitão mór
Pedraluarez Cabral, homem fidalgo [...] que passauam de mil homens
d’armas [...]” (Correia,
1561)
“No anno de 1500 &
entrada de Março, partio Pedralvares Cabral com treze velas, com regimento que
se afastasse da costa Dafrica, pera encurtar a via.” (Galvão, 1563, fl. 28a)
“[...] mandar lá hūa armada de
treze velas, de que deu ha capitania a Pedralurez cabral, [...] na qual iham mil
& quinhentos soldados.” (Gois, 1566)
“Compunha-se de 13 naus
a armada que mandou e levava 1500 soldados. Ia artilhada e armada com o maior
poder com muitas peças e munições e deu-lhe por capitão Pedro Álvares Cabral,
em cujo esforço tinha muita confiança.” (Osório, 1571)
“Reinando
aquelle muy Catholico e Serenissimo Príncipe ElRey Dom Manuel, fezse huma frota
para a India de que hia per Capitam mor Pedralvares Cabral, que foi a segunda
navegaçam que fezeram os Portugueses para aquellas partes do oriente.”
(Gandavo, 1576)
“Pedraluarez Cabral partiu de Lisboa a nove de
Março de mil e quinhentos [...]” (La Popelinière, 1582, Livro
III, pg. 17)
“[...] Pedro Alvares
Cabral, que n'este tempo ia por capitão-mur para a India por mandado de El-Rei
D. Manoel, em cujo nome tomou posse
desta província [...]” (Souza, 1587)
“Em o anno do Senhor
mil, & quinhentos, mandou elRey Dom Emanoel hūa armada, a continuar o descubrimento
da India , que o grande Dom Vasco da Gama tinha começado: & por Capitão della
Pedro Alvrez Cabral, que neste caminho descubrio a provincia do Brasil, ou S. Cruz,
como já vos disse.” (Mariz, 1597)
“[...] fez armar treze galhardas
naus de todo o necessário, e nomeando por General delas a Pedro Aluares Cabral,
pessoa de muito valor e confiança [...]. E vão na armada (fora da chusma e grumetes) mil e
quinhentos soldados de guerra, o melhor da juventude Lusitana.” (San Roman, 1604, Libro I, Cap. XI, pg. 56)
“Aconteceu
naqueles Dias, que o Rei de Portugal D. Manuel, fez Armada para a Índia, que
foi de treze Velas, grandes, e menores, nas quais foram até mil e duzentos
Homens, entre Gente de Guerra, e Mar; ia por General Peralvarez Cabral, [...]” (Herrera, 1611)
“7 [...] Depois de tres annos de principiada a famosa empresa da India Oriental,
querendo El-Rei D. Manoel de santa memoria, dar successor aos illustres feitos
do Capitão Vasco da Gama, escolheo pera este effeito a Pedro Alvarez Cabral,
Portuguez, varão nobre, de valor, e resolução. O qual partindo de Lisboa pera
aquellas partes da India com huma frota de treze náos [...]” (Vasconcellos,
1623)
“[...] no ano de mil e quinhentos enviou uma
armada de treze naus, com mil e duzentos homens de gente de terra (sem os
marinheiros) e por General dela Pedro Álvares Cabral [...]” (Barbuda, 1624)
“O rei Emmanuel I
mandou uma frota de 13 navios, bem providas, com mil e quinhentos soldados e
munições, sob Peter Aluarez Capralis [...]” (Purchas, 1625)
“A terra do Brasil, que está na America, uma das quatro partes do Mundo,
não se descobriu de propósito e de principal intento, mas acaso, indo Pedro
Alvares Cabral, por mandado de el-rei Dom Manuel no anno de 1500 para a índia
por capitão-mór de doze naus.” (Salvador,
1627)
“Aprestaram-se treze navios desiguais
em grandeza. Nomeou-se por Capitão maior a Pedro Alvarez Cabral, [...] Continha a frota 1.600 homens de mar, e
guerra [...].” (Sousa,
1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
Na frota iam, para
catequizar os indianos, o guardião frei Henrique de Coimbra, futuro bispo de
Ceuta, e 5 ou 8 franciscanos: os frades Gaspar, Francisco da Cruz, Simão de
Guimarães, Luiz do Salvador, Maffeu, Pedro Netto e João da Victoria.
“E hia também cõ
Pedraluarez cabral hū frey Anrique
frade da ordem de sam Francisco [...] y yão coele cinco frades outros pera ho
ajudarem.” (Castanheda, 1551)
“[...] oito frades da ordem de São Francisco, de que era guardião frey
Henrique, que depois foi bispo de C,epta & cõfessor delRey, barão de vida
mui religiosa, & de grão prudência: com maes oito capelães, & hum
vigairo [...]” (Barros, 1552)
“[...] mandou prover das [coisas] espirituais,
e estas foram oito religiosos da ordem de San Francisco, cujo Guardião foi frai
Enrique, o qual, depois, foi bispo de Ceuta e confessor do Rei, varão de vida
muito religiosa e grande prudência. Enviou este mesmo [o rei de Portugal] oito Capelães e um Vigário para que
administrassem os Santos Sacramentos em uma fortaleza que o rei de Portugal
mandava fazer, todos varões escolhidos, o que convinha para aquela obra
evangélica.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“E na nao
Capitania frey Anrique Soares, frade de Sam Francisco, com outros cinco frades [...]”
(Correia, 1561)
“[...] mandou nesta
armada oito frades da ordem de sam Frãçisco, homens letrados, de que era
vigário frei Henrrique, que depois foi confessor del Rey, & bispo de Çepta [Ceuta]
[...]” (Gois, 1566)
“Por ordem do rei foram
nesta armada cinco religiosos franciscanos, de grande opinião e virtude, para residirem
em Calecut, no caso em que os pactos se fizessem, e ali administrassem os
sacramentos aos portugueses que, por causa de comércio, naquela cidade fossem,
e instruíssem no catecismo os gentios, que quisessem entrar na nossa santa fé.
Deu-lhes por guardião a Frei Henrique, homem de singular religião e piedade,
que depois, pela santidade da sua vida, foi bispo de Ceuta.” (Osório, 1571)
“Proveio como tão
Católico Príncipe que fossem na armada, assim para a predicação Evangélica,
como para administrar os Sacramentos, oito Religiosos de são Francisco, e por
superior deles um grande Letrado e famoso varão da mesma Ordem, chamado frei
Enrique [...]” (San Roman,
1604)
“[...] oito frades da ordem do nosso padre S. Francisco, que iam com Pedro
Alvares Cabral, e por guardião o padre frei Henrique, que depois foi bispo de
Cepta.” (Salvador, 1627)
“Contia a frota [...] oito
Religiosos de San Francisco, oito capelães, e um Vicario; sujeitos capazes
todos para o intento.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
Iam como capitães
Sancho de Tovar (segundo no comando), Simão de Miranda Azevedo, Aires Gomez da
Silva, Bartolomeu Dias, seu irmão Diogo Dias, Nicolau Coelho, Vasco de
Ataíde, Pero de Ataíde, Nuno Leitão da Cunha, Simão de Pina, Luís Pires e
Gaspar de Lemos. (Vide 1ª Observação).
Embora não se saiba o nome da nau capitânia de Cabral, a nau sota-capitânia, capitaneada
pelo vice-comandante da armada, Sancho de Tovar, se chamava El-Rei. A outra cujo nome permaneceu é a
Anunciada, comandada por Nuno
Leitão da Cunha. Esta última pertencia a Dom Álvaro de Bragança, filho do duque
de Bragança, e fora equipada com os recursos de Bartolomeu Marchionni e
Girolamo (ou Geronimo) Sernige, banqueiros florentinos que residiam em Lisboa e
investiam no comércio de especiarias. Conservou-se ainda o nome da caravela capitaneada
por Pero de Ataíde, a São Pedro.
A armada era completada por um pequeno navio (talvez uma caravela) de
mantimentos, comandada por Gaspar de Lemos (segundo outros, André
Gonçalves). Coube a este navio retornar à Portugal com as notícias sobre a
descoberta do Brasil. Baseado em documento incompleto, que teria localizado na
Torre do Tombo, em Lisboa, Varnhagen identificou cinco das dez naus que
compunham esta frota: Santa
Cruz, Vitória, Flor de la Mar, Espírito Santo e Espera. A fonte citada por Varnhagen
nunca foi reencontrada, portanto, a maioria dos historiadores prefere não
adotar os nomes por ele listados. Outros historiadores do século XIX declararam
que a nau capitânia de Cabral era a lendária São Gabriel, a mesma comandada por Vasco da Gama na viagem em que ele
descobriu o caminho marítimo para as Índias em 1498. Entretanto, não existem
documentos para comprovar esta tese. Dos 13 navios, 10 eram destinados à Índia,
2 a Sofala (Moçambique) e 1 para transporte de víveres. Iam na frota Pêro Vaz
de Caminha, autor da célebre carta a D. Manuel; mestre João (físico, misto de
cirurgião, farmacêutico, astrônomo e barbeiro), que enviou ao rei uma outra
carta; Duarte Pacheco Pereira, autor do Esmeraldo e futuro herói nas lutas de
formação do Império Português no oriente; os pilotos Pêro Escolar, Affonso
Lopes e os que Vasco da Gama trouxe de Melinde. Iam também Balthazar e outros
Índios vindos na primeira viagem; os intérpretes Gaspar da Gama, Gonçalo Madeira
de Tanger e um grumete negro da Guiné; os degredados Affonso Ribeiro, João
Machado, Luiz de Moura, Antônio Fernandes, que era carpinteiro de naus, e mais
16; Ayres Correia, feitor de Calecut e seus filhos Ayres e Antônio, Vasco da
Silveira, Fernão Peres Pantoja, João de Sá, Francisco Henriques, Lourenço
Moreno, Fernão Diniz, Affonso Furtado, Sebastião Alexandre e Gonçalo Peixoto. Iam
os navios de Cabral aparelhados e fornecidos do necessário para ano e meio de
viagem, bem providos de artilharia, munições, pipas d'armas brancas, espadas e
lanças, e uma botica em cada nau. Para comerciarem ia coral em ramo e em fio; cobre,
vermelhão, mercúrio e âmbar; panos de lã grossos e finos; veludos, cetins e
damascos de todas as cores.
“[...] determinou logo a mandar la hū
fidalfo com hūa grossa armada pera que assentasse amizade cõ elRey de Calicut [...] escolheu a hū
fidalgo chamado pedraluarez cabral, que fez capitão mór da armada que avia de
mãdar a Calicut que foy de dez nãos e tres redondos, cujos capitães a fora ele
forão Sãcho de toar que ya na sua subcessam / Niculao coelho, Aires gomez da
silva, Simão de Miranda dazeuedo / Vasco dataide / Pero dataide, Simão de Pina,
Nuno leytão, Bertolameu diaz, y Diogo diaz seu irmão [...] y a mais por
capitães hū gaspar de lemos y hū Luys pirez.” (Castanheda, 1551)
“[...]
cujos
capitães eram estes: Pedraluarez Cabral capitão mór, Sancho de Toar filho de
Martim Fernãdez de Toar, Simão de Miranda filho de Diogo de Azeuedo, Aires
Gomez da Silua filho de Pero da Silua, Vasco de Taide & Pero de Taide
d’alcunha Inferno, Nicolao Coelho que fora com Vasco da Gamma, Bartholomeu Diaz
o que descobrio o cabo de Boa Esperança, & seu irmão Pero Diaz, Nuno
Leitão, Gaspar de Lemos, Luis Pirez & Simão de Pina.” (Barros, 1552)
“E das naos fez ElRey capitães Sancho de Toar,
fidalgo castelhano, Simão de Miranda d’ Azeuedo, Braz Matoso, Vasco d’Ataide,
Nuno Leitão da Cunha, Symão de Pina, Nicolao Coelho, Pedro de Figueiró,
Bertholameu Diaz, Diogo Diaz seo irmão, Luis Pires, Gaspar de Lemos, André Gonçalves,
Mestre que viera com Dom Vasco que lhe
quis elle dar esta honra: estes tres capitães dos navios pequenos, Simão de
Miranda d’ Azeuedo era Capitão da nao Capitania, e “hia” pera Capitão mór na
socessão de Pedraluarez cabral se
elle falecesse.” (Correia, 1561)
“[...] & por sota capitão Sãcho de toar, hos outros capitães erão Simão de
Miranda, Aires gomez da Sylua, ho mesmo Nicolao Coelho, Nuno leitam, Vasco
dataide, Bartholomeu diaz que descobrio ho cabo da boa Sperãça, Pero diaz seo
irmão, Gaspar de lemos, Luis pires, Simão de pinna, Pero dataide dalcunha
inferno, & por feitor da armada Aires correa [...]” (Gois, 1566)
“[...] e tendo também claridade bastante como se havia
de navegar aquela viagem, tomou por bom acordo enviar a Pedro Aluarez Cabral
homem fidalgo e de quen se tinha bom conceito, assim por seu valor, como por
ser mui prudente: levou 12 navios, e neles mil e quinhentos homens, em que iam
muitos fidalgos, e alguns religiosos da Ordem do bem-aventurado Sant Francisco,
partiiu em quatorze dias do mês de Marzo deste Ano, [...]” (Ochoa de la
Salde, 1585, fl. 10a)
“Os outros Sancho de Toar,
Simon de Miranda, Ayres Gomez de Silva, Vasco, e Pedro de Ataíde, Nicolao
Coello, Bartolome Diaz (este que havia descoberto o Cabo da Boa esperança, e esse
outro acompanhado a Don Vasco) Pedro Diaz seu irmão, Nuño Leytam, Gaspar de
Lemos, Luis Perez, e Simon de Pina.” (Sousa, 1666, Vol.
1, cap. 5, pg. 44)
“[...] e lhe dá por tenente um outro gentil-homem nomeado Sanche de Tovar.
Todos os outros capitães eram gente de mérito e experiência.” (Lafitau, 1733, Vol. 1, Livro II)
“Foi-nos conservado o
nome de todos os capitães. Os dos navios eram Sancho de Toar, que comandava o
navio de Cabral; Nicolas Coelho, Don Luis Coutinno; Simon de Misaran [Miranda]; Simon Layton [Simão de Pina?];
Barthelemy Diaz, o mesmo que descobriu o cabo da Boa Esperança; Diego Diaz, seu
irmão, que foi tesoureiro de Gama na sua viagem. Os capitães das caravelas eram
Pedro de Athaïde e Vasco da Silveyra. Por feitor a frota tinha Ayres Correa,
que devia permanecer em Calicut nesta qualidade.” (Rouselot de Surgy, 1746)
O domingo 8 de março
de 1500 passara-se em festas populares.
“Em hum Domingo outo de Março daquelle
anno, estando tudo prestes, sahimos a duas milhas de distancia de Lisboa, a hum
lugar chamado Rastello, onde está o Convento de Belém, e ahi foi ElRei entregar
pessoalmente ao Capitão mór o Estandarte Real para a, dita Armada.” (Navegação,
1501)
“[...] e chegado o tempo de sua partida estando
em restelo foy elRey dom Manuel fazer honrra a pedraluarez cabral foy em
procissam a nossa senhora de Belem [...] e elRey se tornou a Lisboa por não poder a armada
partir aquele dia polo estorvo do tempo [...]” (Castanheda,
1551)
“[...] foi el-Rey
que então estava em Lisboa hum domingo oito dias de Março do anno de mil &
quinhentos, cõ toda corte ouvir missa a nossa Senhora de Bethlem que é em
rastello: onde já as nãos estalão com seu alardo da gente d’armas feito.” (Barros, 1552)
“Prestes
esta armada, estando já em Restello el Rei que foi aho mosteiro de Bethlem, õde
mãdou dizer missa em pontifical [...]” (Gois, 1566)
“[...] embarcar-lhe a oito de Março de 1500 [...]” (San Roman, 1604)
“Eram oito de Março quando
elRey entregou de sua mão a bandeira da Cruz, e Orden de Christo, a Pedralvarez,
[...]” (Sousa, 1666, Vol.
1, cap. 5, pg. 44)
A frota partiu de
Belém (Lisboa) segunda-feira, 9 de março de 1500.
“Que a partida de Belém, como Vosa Alteza
sabe, foy segunda feira ix [9] de
Março [...]” (Caminha,
1500)
“O dito meu capitão [Cabral] com
treze naus partiu de Lisboa a nove de Março do ano passado [1500].” (D. Manuel, 1501)
“[...]
Cabo Verde [...] onde por acaso encontramos ancorada dois navios do Rei de Portugal, que
estavam de retorno da parte da Índia Oriental, que são aquelas mesmas que foram
a Calichut, já faz quatorze meses, que foram treze navios, com os quais tive
grandíssima conversa, não tanto da sua viagem, como da costa da terra que
percorreram, e das riquezas que encontraram, [...]. Esta frota do Rei de Portugal, partiu de Lisboa no ano 1499, no mês de
Abril, [...]” (Vespucci, 1501, Lettera
Baldelli, Bd)
“[...] forão ao noue de Março de mil e
quinhentos fez a capitania sinal as outras que se levassem, o que logo fizeram:
e posta toda frota á vela saio aquele dia de foz em fora, e prosseguio sua
viagem [...]” (Castanheda,
1551)
“Ao seguinte dia que erão noue do mes de
Março defferindo suas velas que estalão a pique: saio Pedraluarez com toda a
frota [...]” (Barros,
1552)
“Partiu, pois, a frota portuguesa, cujo
capitão foi Pedro Álvarez Cabral, de Lisboa, segunda, a 9 dias do mês de Março,
ano de 1500, [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap CLXXIV)
“[...] sendo ordenado que partissem em dia de Nossa Senhora vinte e cinquo dias
de Março.” (Correia,
1562)
“Ho ovtro dia pela
manhãe, que foram noue de Março de mil, & quinhentos, partio ha frota do
porto de Bethlem com bom vento de foz em fora [...]” (Gois,
1566)
“Partiu Cabral com toda
a sua armada a 9 de Março do ano de 1500.” (Osório, 1571)
“A qual [frota]
partiu da Cidade de Lixboa a nove de
Março no anno de 1500.” (Gandavo, 1576)
“Na
segunda viagem que os portugueses fizeram sob o rei Dom Emanuel para a
descoberta das Índias Orientais, Pedralvares Cabral partiu de Lisboa a nove de
março de mil e quinhentos [...]” (La Popelinière,
1582, Livro III, pg 17)
“[...] arrancou aos nove de Março
de Lisboa [...]” (San Roman, 1604)
“[...] partiu de Lisboa
segunda a 9 de Março deste Ano; [...]” (Herrera, 1611)
“Partiu a
armada em nove de março [...]” (Barbuda, 1624)
“Ele [Cabral] partiu de Lisboa em 8 de Março do ano
secular.” (Purchas, 1625)
b) Chegada às Ilhas Canárias (14 de março de 1500)
No sábado 14 de março
de 1500 foram avistadas as Ilhas Canárias.
“[...] e sabado xiiij [14] do dito
mes, amtre as biij [8] e ix [9] oras, nos achamos amtre as Canareas, mais
perto da Gram Canarea ; e aly amdamos todo aquele dia em calma, a vista delas,
obra de tres ou quatro legoas [18,5-25km] [...]” (Caminha, 1500)
“[...] aos quatorze do mesmo mez
chegámos ás Canárias: [...]” (Navegação, 1501)
“[...] ahos quatorze houue vista das ilhas da
Canarea [...]” (Gois, 1566)
c) Chegada às Ilhas de Cabo
Verde (22 de março de 1500)
No domingo 22 de março
de 1500 avistaram as ilhas de Cabo Verde. Caminha relata que no dia seguinte, 23
de março, um navio com 150 homens, comandada por Vasco de Ataíde,
desapareceu sem deixar vestígios. A maioria dos outros autores relata, no
entanto, que foi o navio de Luís Pirez que sumiu. Cabral teria esperado, em
vão, por 2 dias para ver se o navio aparecia; como este não aparecesse, seguiu
viagem. (Vide 2ª Observação)
“[...] e domingo xxij
[22] do dito mes, aas x [10] oras, pouco mais ou menos, ouvemos vista das
jlhas de Cabo Verde, saber : da jlha de Sam Njcolaao, segundo dito de Pero
Escolar, piloto ; e, a noute segujmte aa segunda feira, lhe amanheçeo (sic) se
perdeo da frota Vaasco d Atayde com a sua naao, sem hy aver tempo forte, nem
contrairo pêra poder seer ; fez o capitam suas deligençias pera o achar a huūas e a outras partes, e nom pareceo
majs ; e asy segujmos nosso caminho per este mar de lomgo [...]” (Caminha, 1500)
“[...] aos vinte e dous passámos Cabo verde; e no dia
seguinte esgarrou-se huma náo da Armada, por fôrma tal, que não se soube mais
della.” (Navegação, 1501)
“[...] durante a viagem, daqui [Lisboa] distante
80 léguas [500km], uma destas naves
do rei se perdeu; dela não se soube mais notícia [...]” (La Faitada,
1501)
“[...] e navegaram para o meio-dia das Ilhas de Cabo Verde, [...]” (Vespucci, 1501, Lettera
Baldelli, Bd)
“[...] aos vinte dous passou pola ilha d’Santiago e aos vinte
quatro se apartou dela com tormenta Luis pirez que arribou a Lisboa.
Desaparecida a carvela de Luis pirez esperou Pedraluarez cabral por ela dous
dias [...]” (Castanheda, 1551)
“[...] fazendo sua
viagem ás ilhas do cabo Verde, pera ahi fazer aguada, onde chegou em treze
dias. Però antes de tomar este cabo, sendo entre estas ilhas, lhe deu hum tempo
que lhe fez perder de sua companha o nauio de que era capitão Luys Pirez, o
qual se tornou a Lisboa.” (Barros, 1552)
“[...] e
tomou seu rumo para as ilhas de Cabo Verde, [...]”
(Las Casas, 1561,
Vol. II, Cap. CLXXIV)
“Sendo fora de Lisboa a frota navegando
com bom tempo forão demandar as Ilhas Terceiras por se mais metterem no mar,
pera que os ventos lhe fossem mais largos pera nauegar pera o Cabo [...] no qual
caminho acharão a nao de Pero de Figueiró muito zorreira, que com ella se
perdia a metade do que as outras andauão, e com os ventos que as outras animauão
ella sem amainar inda não podia chegar, e sendo na linha de Guiné, tiuerão
chuveiros com pés de ventos fortes, com que todos amainauão. A nao de Pero de
Figueiró, que a andar teue a vela, hum pé de vento a soçobrou, que não foy
vista com a grande çarração da chuiua que, sendo passada, nunqua mais a virão ;
e querendo o capitão mór voltar em sua busca, lhe disse o piloto que não
perdesse caminho [...]” (Correia,
1561)
“E tendo huma nao
perdida em sua busca perdeo a derrota, [...]” (Galvão,
1563, fl. 28a)
“[...] ahos vinta dous com vento prospero passou pela ilha de
Sanctiago, auante da qual se apartou da frota com tormenta ha nao de que era
capitam Luis piz, que arribou a Lisboa desbaratada, per cujo respeito andou
Pedraluarez cabral aho pairo com toda a armada dous dias, mas vendo que não
aparecia, seguiu sua viagem [...]” (Gois, 1566)
“Mas Pedro Alvares
Cabral, que hia em derrota da India,
seguindo a mesma esteira do Gama, veio à ilha de Sant-Iago, d’onde querendo
passar avante, tal tormenta se levantou, que a Armada se lhe desgarrou, e huma
das naus desalvorada recuou para Lisboa. Applacada a tempestade, cuidou Cabral em recolher a si a Armada, em que
achou aquela nao de menos, pelo que mandou arrear as vergas e esperar por ella
dous dias: vendo porém que não apparecia, pôz a proa no Occidente.”
(Osório, 1571)
“E
sendo já entre as Ilhas do Cabo verde, as quaes hiam demandar para fazer ahi
aguada, deu lhes hum temporal, que foi cauza de as nam poderem tomar, e de se
apartarem alguns navios da companhia.” (Gandavo, 1576)
“[...] e como
ele descobriu o Cabo Verde, seguindo a costa da Barbaria, para o Cabo da Boa
Esperança, foi impelido para a costa da América..” (La Popelinière, 1582, Livro III,
pg. 17)
“[...]
passou adiante às Ilhas de Santiago aos vinte e dois
dias do dito mes de Março. Passada a Ilha de Santiago teve tormenta, que
apartou alguns navios da conserva, entre os quais uma caravela de Luis Perez,
depois de andar forcejando com a fúria do mar, e haver passado muitos perigos,
não foi possível juntar-se com os demais, tendo que voltar a Lisboa, muito
triste.” (San Roman,
1604)
“7 [...] foi arrebatado de força de ventos tempestuosos, e derrotados seus navios.
Hum d'elles, o do Capitão Luis Pires, destroçado, tornou a arribar a Lisboa [...]” (Vasconcellos, 1623)
“[...] e passando pelas ilhas de Cabo Verde, lhes deu um
grande temporal, com o que uma das treze naus retornou a Lisboa [...]” (Barbuda, 1624)
“[...] e mantendo seu curso para S. Iago, lá encontrou-se com
uma tempestade que espalhou a Frota, e forçou um navio a retornar.” (Purchas, 1625)
“Defiridas as velas, e navegando prosperamente doze
dias, correram fortuna a vista de Cabo Verde, com que Luis Perez chegou a
Lisboa.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
d) Travessia do Atlântico (26 de março a 21 de abril
de 1500)
A frota cruzou
a Linha do Equador em 9 de abril de 1500 e navegou rumo a sudoeste
afastando-se o mais possível do continente africano, utilizando uma técnica de
navegação conhecida como a volta do mar, para evitar as calmarias e tempestades,
conforme orientação de Vasco da Gama. (Vide
3ª Observação)
“E se ouuerē [os navios] de gynar
seja sobre ha bamda do sudueste e tanto que neles deer o vento escasso deuē hyr na volta do mar até meterē o cabo de boõa esperamca em leste
franco. E dy emdiamte navegarē
lhe seruir o tpõ e mais ganharem porque como forē na dyta parajem nõ lhe mygoara tpõ cõ ajuda de noso Sñr. com que
cobrem o dito cabo.” (Fragmentos de Instrucções, 1500)
“[...] por fugir da terra de Guiné onde as calmarias lhe podião impedir seu
caminho: empêgouse muito no mar por lhe ficar seguro poder dobrar o cabo de Boa
Esperança.” (Barros, 1552)
“[...] e dali [das ilhas de Cabo Verde], para fugir
da costa Guinea, onde há muitas e frequentes calmarias, meteu-se muito ao mar,
que quer dizer à mão direita, para o Austro [sul], e também porque como sai
muitíssimo no mar o cabo de Boa Esperança, para podê-lo melhor dobrar; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“E sendo a
armada de todo apercebida, e pagamento feito ás gentes, Dom Vasco fez conselho
com os mestres e pilotos da navegação que farião pera encurtar caminho, que era
cortar polo mar largo, tomando largos os ventos do mar, que corrião pera terra,
com muyto resguardo por dobrar o Cabo da Boa Esperança...” (Correia, 1561)
“E depois de
haver bonança junta outra ves a frota, em pégaramse ao mar, assi por fugirem
das calmarias de Guiné que lhes podiam estrovar sua viagem, como por lhes ficar
largo e poderem dobrar o Cabo de boa esperança.” (Gandavo, 1576)
“[...] e para fugir da Costa de Guinea, aonde há
muitas calmarias, se meteu muito ao Mar, dirigindo-se à mão direita, para o
Austro, ou Sul, para poder melhor dobrar o Cabo da Boa Esperança, pelo muito
que sai ao Mar; [...]” (Herrera, 1611)
Um mês mais tarde, na terça-feira
21 de abril de 1500, oitava de Páscoa (semana seguinte à Páscoa, que foi
domingo 19 de abril), eles avistaram, boiando no mar, ervas marinhas muito
compridas, sinais de proximidade de terra.
“[...] segujmos nosso caminho per este mar de lomgo ataa terça feira d’oitavas
de páscoa que foram xxj [21] dias
d’Abril, que topamos alguuns sygnaaes de tera, seemdo da dita jlha, segundo os
pilotos deziam obra de bjc lx [60] ou lxx [70] legoas [370-430km], os quaaes heram mujta camtidade d’ervas
compridas, a que os mareantes chamam botelho, e asy outras, a que também chamam
rabo d’asno ; [...]”
(Caminha, 1500)
“E tendo huma nao
perdida em sua busca perdeo a derrota, & indo fora della, toparã sinaes da
terra, por onde o capitão mòr foy em sua busca tantos dias, que os darmada lhe
requererão que deixasse aquella profia: mas ao outro dia virão a costa do
Brasil.” (Galvão,
1563, fl. 28a)
e) Quarta 22 de abril de 1500
Na quarta-feira 22 de abril de 1500, pela
manhã, eles avistaram aves e, à tarde, viram o monte Pascoal, no Estado da
Bahia, que é visível a mais de 110km do mar. Nesta noite, ancoraram a seis
léguas [35km] da terra. Observe que quase todos os autores dão como data do
descobrimento dia 24 de abril, e não 22 de abril; praticamente só Caminha dá a
data de 22 de abril. Além disto, os autores antigos nunca citam a ocorrência de
tempestades ou fenômenos meteorológicos dignos de nota. (Vide 4ª Observação)
“[...] aa quarta feira segujmte pola manhaã topamos aves a que chamam fura
buchos ; e neeste dia, a oras de bespera, ouvemos vista de tera, saber :
primeiramente d’huum gramde monte muy alto e redomdo, e d’outras terras mais
baixas, ao sul d’ele, e de terra chaã, com gramdes arvoredos, ao qual monte
alto o capitam pos nome o monte Pascoal, e aa tera [terra] a tera da Vera Cruz. Mandou lançar o prumo ;
acharam xxb [25] braças [55m]; e ao sol posto, obra de bj [6] legoas [37km] de tera surgimos amcoras em xix [19] braças [42m], amcorajem
limpa. Aly jouvenmos toda aquela noute ; [...]” (Caminha, 1501)
“[...] Aos vinte e quatro de Abril,
que era huma quarta feira do Outavario da Páscoa houvemos visto de terra [...]” (Navegação, 1501)
“De sobre o Cabo da Boa Esperança, para Oeste,
descobriram uma terra nova, chamam a terra dos papagaios, por serem os
papagaios compridos de um braço ou mais, de várias cores, dos quais vi dois.” (Pisani, 1501)
“Nas oitavas da páscoa seguinte chegou a
uma terra que novamente descobriu, à qual pôs nome de Santa Cruz, na qual achou
as gentes desnudas como na primeira inocência, mansas e pacíficas ; a qual
parece que nosso Senhor milagrosamente quis que se achasse, porque é mui
conveniente e necessária para a navegação da Índia, porque ali reparou seus
navios e tomou água; e por o caminho grande que tinha por andar não se deteve
para se informar das coisas da dita terra, somente me enviou dali um navio a me
notificar como a achou, e fez seu caminho via Cabo da Boa-Esperança; [...]” (Don Manuel, 1501)
“[...] como disse, estes treze navios sopracitados
navegaram para o meio-dia da Ilha de Cabo Verde, com o vento que se diz entre
meio-dia e Libeccio. E, depois de haver navegado vinte dias, cerca de setecentas
léguas [...] chegaram a uma terra onde encontraram gente
branca e ignorante, da mesma terra, que eu descobri para o Rei de Castella,
salvo que mais a levante, [...]” (Vespucci, 1501, Lettera Baldelli, Bd)
“[...] e aos vinte quatro Dabril que foy derradeyra oytaua da
Pascoa foy vista terra [...]” (Castanheda,
1551)
“[...] quando veo á segunda
octaua da Pascoa que erão vinte e quatro de Abril, foi dar em outra costa de
terra firme [...]” (Barros, 1552)
“[...] e havendo já um mês que navegava, sempre metendo-se ao mar, nas
oitavas de Pascoa, que então foram a 24 de Abril, foi a dar na costa de terra
firme, a qual, segundo estimavam os pilotos, podia distar da costa de Guinea
450 léguas [2.780km], e em altura do Polo antártico, da parte do Sul, 10°.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“A capitania, que hia diante,
amanhecendo hum domingo houve vista de terra a barlavento, ao qual fez sinal
com tiro de berço [pequeno canhão
naval], e foy correndo pera ella, e a
descobrindo, que era grande costa, terra noua, que nunquaa fora vista, e sendo
perta [...] e sendo já tarde virão huma grande baya,
onde o capitão mór entrou com o prumo sondado. Achando bom fundo, sorgio o que
assim fez toda a frota” (Correia, 1561)
“[...] ahos xxiiij [24]
dias do mes D’abril virão terra, do que
forão mui alegres, porque polo rumo em que jazia, não ser nenhūa das que atte então eram descubertas,
Pedralurez cabral fez fazer rosto pa aquella bãda [...]” (Gois, 1566)
“A 24 de
Abril descobrirão os gajeiros terra, de que todos conceberão incrivel contentamento,
não havendo nenhum dos nossos que tivesse a menor suspeita, de que lhes
demorasse terra habitada de homens por semelhantes paragens.” (Osório, 1571)
“E avendo ja
hum mes que hiam naquell volta navegando com vento prospero, foram dar na Costa
desta Província: ao longo daqual cortaram todo aquelle dia, parecendo a todos
que hera alguma grande Ilha que ali estava sem aver piloto, nem outra pessoa
alguma que tevesse notiticia della nem que presumisse que podia estar terra
firme para aquella parte Occidental.” (Gandavo, 1576)
“Esta terra se
descobriu aos 25 dias do mez de Abril de 1500 annos por Pedro Alvares Cabral, [...]” (Souza,
1587)
“Partido este
Capitão de Lisboa, fez sua viagem pelo caminho já conhecido té onde lhe pareceo
conveniente mudar a derota, pera tomar o Cabo de Boa Esperança de mais largo:
& empégouse, tanto no mar, que havendo hum mez que hia naquella grande
volta, foy dar em hūa grande costa, de terra firme, fora de toda esperança : por estar
averiguado entre os homens, não haver algūa terra firme Occidental a
toda a costa de Affrica,como era aquella.” (Mariz, 1597)
“Detiveram-se até este ponto coisa de um mês, ao cabo do qual, chegaram com muita
gritaria e prazer a descobrir nova terra [...]” (San Roman, 1604)
“[...] e havendo já um Mês que navegava,
metendo-lhe sempre ao Mar, a 24 de Abril foi dar na Costa de Terra-firme: a
qual, segundo a estimação dos Pilotos, podia estar, da Costa de Guinea,
quatrocentas e cinquenta Léguas [2.800km], e em altura do Polo
Antártico, da Parte do Sul, dez Gráus.” (Herrera, 1611)
“7 [...] depois de
quasi hum mez de derrota, aos 21 de Abril segunda oitava de Paschoa (segundo o
computo de João de Barros, Luis Coelho, e outros) vierão a ter vista de huma
terra nunca d'antes sabida de outro mareante : esta reputárão por ilha ao
principio, mas depois de navegarem alguns dias junto a suas praias, averiguárão
ser terra firme.” (Vasconcellos, 1623)
“[...] aos vinte e quatro de abril
viram terra não descoberta [...]” (Barbuda, 1624)
“[...] em vinte e tres de Abril viu terra [...]” (Purchas, 1625)
“[...] navegando ao principio com prospera viagem, experimentou aos doze dias
taõ contraria fortuna, que arribando hum dos baixeis a Lisboa, os outros
correndo tormenta, perdidos os rumos da navegacaõ, e conduzidos da altissima Providencia,
mais que dos porfiados ventos, na altura do Polo Antartico , dezaseis graos , e
meyo da parte do Sul, aos vinte e quatro de Abril, avistou ignorada terra, e já
mais surcada costa.” (Rocha Pita, 1730)
“[...] a 24 de Abril, ele se encontra à
vista de uma terra ignorada, situada à oeste.” (Lafitau, 1733, Vol. 1, Livro II)
“A navegação continua bastante feliz até a 24
de abril. Descobriu-se a terra neste dia.” (Rouselot de Surgy, 1746)
f) Quinta 23 de abril de 1500
Na quinta-feira 23 de
abril continuou a viagem lenta e cuidadosamente, indo os navios menores
adiante, sondando a profundidade. À distância de 3,5km da costa, fundearam, diante
da foz de um rio, cerca das 10:00 horas. Os portugueses detectaram a presença
de cerca de 8 habitantes na costa.
“[...] aa quinta feira pola manhaã fezemos vella e segujmos direitos aa terra,
e os navjos pequenos diante, himdo per xbij [17 braças, 37,5m], xbj [16 braças 35m], xb [15 braças 33m], xiiij [14 braças, 31m],
xiij [13 baças, 28,5m], xij [12
braças, 26,5m], X [10 braças, 22m] e ix [9 braças, 20m] braças ataa mea legoa [3km] de terra, omde todos lançamos amcoras em
direito da boca de huum rio ; e chegariamos a esta amcorajem aas X [10h] oras pouco mais ou menos ; e d aly ouvemos
vista de homeens que amdavam pela praya, obra de bij [7], ou biij [8], segundo os navjos pequenos diseram, por chegarem primeiro.” (Caminha,
1500)
“[...] tendo todos grandíssimo prazer, nos chegámos a ella para a recomhecer e
achando-a muito povoada de arvores, e de gente que andava pela praia lançámos ancora na
embocadura de hum pequeno rio.” (Navegação, 1501)
Os capitães de todos
os navios reuniram-se a bordo do navio de Cabral para deliberarem. Cabral
mandou Nicolau Coelho, capitão que havia viajado com Vasco da Gama à
Índia, para fazer contato com os nativos. Ele chegou na foz do rio em um batel,
mas não está bem claro se ele chegou a desembarcar em terra ou fez contato com
os nativos apenas do barco. Os intérpretes não conseguiram entender a língua
nativa. Ele trocou presentes com os indígenas e retornou ao navio por já ser
tarde. Os portugueses surpreenderam-se com o aspecto físico dos nativos, bem
diferentes dos negros da África com quem estavam acostumados.
“Aly lançamos os batees e esquifes fora
; e vieram logo todolos capitaães das naaos a esta naao do capitam moor ; e aly
falaram ; e o capitam mandou no batel em tera Nicolaao Coelho pera veer aquelle
rio ; e tamto que ele começou pera la d’hir acodiram pela praya homeens, quando
dous, quando tres, de maneira que, quamdo o batel chegou aa boca do rio, heram
aly xbiij [18] ou xx [20] homeens pardos,
todos nuus, sem nenhuúa cousa que lhes cobrise suas vergonhas e traziam arcos
nas maãos e suas seetas ; vjnham todos rijos pera o batel ; e Nicolaao Coelho
lhes fez sinal que posesem os arcos ; e elles os poseram. Aly nom pode d’eles
aver fala nem entendimento que aproveitasse, polo mar quebrar na costa;
soomente deu lhes huum barete vermelho e huúa carapuça de linho que levava na
cabeça e huum sombreiro preto ; e huum d’elles lhe deu huum sombreiro de penas
d’aves compridas com huūa
copezinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagayo ; e outro lhe
deu huum ramal grande de comtinhas bramcas meudas, que querem parecer
d’aljaveira; as quaaes peças creo que o capitam manda a Vossa Alteza ; e com
jsto se volveo aas naaos, por seer tarde e nom poder d’eles aver mais fala, por
aazo do mar.” (Caminha, 1500)
“O nosso Capitão mór mandou deitar fora hum
batel, para ver que povos erão aquelles, e os que nelle forão acharão huma
gente parda, bem disposta, com cabellos compridos; andavão todos nus sem
vergonha alguma, e cada hum delles trazia aquelle seu arco com frexas, como quem
estava alli para defender aquelle rio: não havia ninguém na armada que
entendesse a sua lingoagem, de sorte que vendo isto os dos bateis, tornarão
para Pedro Alvares [...]” (Navegação, 1501)
“[...] reconhecida a terra pelo mestre da
capitania que la foy [...]” (Castanheda, 1551)
“E por se
afirmar no certo se era ilha ou terra firme, foi cortando ao longo della todo
hū dia: & onde lhe pareceo mães azada pera poder anchorar mandou lançar hū
batel fora. O qual tanto que foi com terra, virão ao longo da praia muita gente
nùa [...] se tornarão logo os do batel a dar razão do que virão, &
que o porto lhe parecia bom surgidouro. [...] Pedraluarez por aver
noticia de terra encaminhou ao porto cõ toda a frota, mandou ao batel que se
chegasse bem a terra: & trabalhasse por auer à mão alguma pessoa das que
virão, sem os amedrontar cõ algum tiro que os fizesse acolher. Mas elles não
esperarão por isso, porque como virão que a frota se vinha contra elles, &
que o batel tornaua outra vez â praia, fugirão della: & puzerãse em hū teso
soberbo, todos apinhoados a ver o que os nossos fazião. Os do batel enquãto
Pedraluarez surgia hū pouco largo do porto, por não amedrentar aquella noua
gente maes do que o mostraua em se acolher ao teso: pozerãse debaixo no mesmo
batel & começou hum negro grumete falar a lingua de Guinê, & outros que
sabião algumas palavras do Arauigo, mas elles nem a lingua nem os acenos em que
a natureza foi cõmū a todalas gentes nunca acodirão. Vendo os do batel que nem
os acenos nem as cousas que lhe lançarão na praia acodião, cansados de esperar
algum final de intedimento delles, tornarão se a Pedraluarez, contando o que
virão.” (Barros, 1552)
“Não podiam
crer os pilotos que aquela era terra firme, e sim, alguma grande ilha, como
esta ilha Española [Hispaniola], que chamavam os
portugueses Antella, e para experimentá-lo, foram ao longo da costa um dia;
lançaram um batel fora, chegaram à terra e viram infinita gente desnuda, não
preta nem de cabelos torcidos como os de Guinea, mas sim longo e escorrido e
como o nosso, coisa que lhes pareceu muito nova. Retornou logo o batel a dar
novas disto, e que parecia bom porto aonde podiam fundear; chegou-se a frota à
terra, e o Capitão mandou que retorna-se lá, e, se pudesse, tomasse alguma
pessoa, porém eles foram-se fugindo a uma colina, e juntos, esperavam para ver
o que queriam os portugueses fazer; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“O
Capitão mór deitou o esquife fora, o que assim fizeram os capitães, e forão ver
o Capitão mór, o qual mandou Nicolao Coelho no seu esquife com o piloto mouro
que fosse a terra, e visse se podia hauer fala da gente da terra. O qual foy
com dez homens de lanças e bestas, porque ainda então não hauia espingardas, e
sayo na terra, e achou povoações de casas de palhoças [...]” (Correia,
1561)
“[...] mãdou aho seu
mestre que no esquife fosse a terra, ho qual tornou logo, com nouas de ser
muito freca, & visçosa, dizendo que vira andar gente baça [...] pelo
que mãdou a algūs dos capitães que fossem com hos bateis armados ver se era
isto assim, hos quaes sem saírem em terra, tornaram à capitania afirmado ser
verdade ho que ho mestre dixera [...]” (Gois, 1566)
“Nada menos mandou Pedro virar sobre a terra, e deo ordem ao Mestre da Capitanea fosse na lancha
orçando pela praia, e registando apuradamente o sitio, a natureza daquelle paiz.
Voltou o mestre e trouxe averiguado, que era amena a terra e fertil, acuberta
de viçosas hervas e altissimas arvores, vertente em copiosas aguas: que víra
gente baça, de brando cabello corredio, nús de corpo, passeando pela praia com
arcos e fléchas. Não satisfeito Cabral com o testemunho do Mestre, fez embarcar
alguns Capitães nas lanchas armados, para que melhor indagassem o terreno. Elles
perfizerão a ponto quanto Cabral lhes incumbíra e, de volta confirmarão por
certo quanto o Mestre denunciado tinha.” (Osório, 1571)
“E no logar que lhes pareceo
della mais accomodado, surgiram aquella tarde, onde logo teveram vista de gente
da terra: de cuja semelhança nam ficaram pouco admirados, e porque era
diferente da de Guinè, e fóra do comum parecer de toda outra que tinham visto [...]” (Gandavo, 1576)
“E porque a vista della, já
entre elles sem duvida, & esta opinião, que diziamos, causou vários
pareceres, mandou o Capitão mór hum batel que rodeando a terra, os
desenganasse. O qual encontrando cõ gente bem differente, em a cor, &
cabello da de Guiné, de que elles tinhaõ noticia se tornou logo ao Capitão Mòr [...]” (Mariz,
1597)
“Não
podiam crer os Pilotos, que aquela era Terra-firme, mas sim alguma grande Ilha,
como a Hispaniola e para experimentá-lo, foram um Dia ao longo da Costa,
lançaram fora uma Barca, saíram à Terra, e viram infinita Gente desnuda, não
preta, nem de cabelos torcidos, como a de Guinea, mas sim escorrido, e liso,
como o nosso, coisa que lhes pareceu muito nova: voltaram ao Batel a dar nova
disto, e que era bom o Porto, aonde podiam surgir [...] chegou-lhe a Frota
à Terra, e o Capitão mandou, que voltassem a sair, e viessem de tomar algun
Homem: a Gente se retirou a uma Colina, esperando o que fariam os Portugueses; [...]”
(Herrera, 1611)
“8 [...] Puzerão-lhe
a prôa, e maudou Cabral ao mestre da Capitania que entrasse no batel, e fosse
investigar o sitio, e a natureza da terra: tornou alegre, e referindo que era
fertil, amena, vestida de erva e arvoredo, e cortada de rios; e que vira andar
junto às praias huns homens nús, [...]” (Vasconcellos, 1623)
“Entre várias tormentas, e bonanças,
registrando diferentes pontas de terra, na altura do Polo Antártico, da parte do
Sul dez graus, veio gente nua de cor baça, pelo liso, e rosto chato. Quiseram
comunicar com eles, mas vendo-os fugir, e logo firmarse unida em posto
eminente, falavam-lhes em várias línguas, e por sinais. Porém sendo tudo em vão,
correron adiante, [...]” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
Nesta noite, um temporal
cai sobre a esquadra mostrando a conveniência de procurar um lugar mais abrigado
para fundear os navios.
“A noute segujmte ventou tamto sueste
com chuvaceiros, que fez caçar as naaos, e especialmente a capitana ;” (Caminha, 1500)
“[...] e no em tanto se fez noute, e se levantou com ella hum
muito rijo temporal.” (Navegação, 1501)
“[...] saltou aquella noute tanto tempo com elles que lhe
conueo leuar as anchoras [...]” (Barros, 1552)
“[...] querendo lançar mais batéis fora e gente, veio um grande vento e
alçaram as âncoras, e foram-se ao longo da costa em direção do Sul, donde lhes
servia o vento, e fundearam em um bom porto.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“[...] se aleuantou
denoite hum temporal [...] (Gois, 1566)
“Detendo-se
alli sobre as ancoras aquella noite, sobreveio tamanho temporal, que carregando
na Armada, a forçou a rodear ao longo daquella costa muito embatida das ondas,
e destroncada por aquelles mares [...]” (Osório,
1571)
“Estando assi surtos nesta parte que digo
saltou aquella noite com elles tanto tempo, que lhes foi forçado levarem as
âncoras [...]” (Gandavo, 1576)
g) Sexta 24 de abril de 1500
Na Sexta-feira 24 de
abril, Cabral ordenou que a frota rumasse ao norte, os navios maiores mais
afastados, os navios menores mais chegados à terra. Ao pôr do sol, após viajarem
60 km para o norte, encontraram um recife (Porto-Seguro), abrigando um
porto de larga entrada, onde fundearam a 6km do litoral. À vasta enseada, que
era um porto natural, se deu o nome de Porto Seguro, que não é o Porto Seguro
atual, mas a enseada de Santa Cruz, que tem o nome atual de Baía Esbrália. (Vide 5ª Observação)
“[...] aa sesta pola manhaã, aas biij [8] oras pouco
mais ou menos, per conselho dos pilotos, mandou o capitam levamtar amcoras, e
fazer vela ; e fomos de lomgo da costa, com os batees e esquifes amarados per
popa comtra o norte, pera veer se achavamos alguūa abrigada e boo pouso, omde jouvesemos, pera tomar agoa e lenha, nom por nos ja mjnguar,
mas por nos acertarmos aquy ; e quamdo fezemos vela seriam ja na praya,
asentados jumto com o rio, obrra de lx [60] ou lxx [70] homeens que se
jumtaram aly poucos e poucos ; fomos de lomgo, e mandou o capitam aos navios
pequenos que fosem mais chegados aa terra, e que, se achasem pouso seguro pera
as naaos que amaynasem. E, seendo nós pela costa obra de x [10] legoas [60km] d’omde nos levamtamos, acharam os ditos navios pequenos huum arrecife
com huum porto dentro muito boo, e muito seguro, com huūa muy larga entrada, e meteram se dentro e amaynaram ; e as naaos
arribaram sobr’eles e huum pouco amtes sol posto amaynaram, obra de huūa legoa [6km] do arrecife, e ancoraram se em xj [11] braças [24m].” (Caminha,
1500)
“Na manhã seguinte escorremos com elle'a
costa para o Norte, estando o vento Sueste, até ver se achávamos algum porto
aonde nos podessemos abrigar e surgir; finalmente achámos hum aonde ancorámos, [...]” (Navegação, 1501)
“[...] e por ho porto em
que surgio ser bom, lhe pos nome porto seguro [...]” (Castanheda,
1551)
“[...] & correrão cõtra o sul sempre ao longo
da costa, por lhe ser por aquelle rumo o vento largo: te que chegarão a hum
porto de mui bom surgidouro, que os segurou do tempo que leuauão, ao qual por
esta razão Pedraluarez pos o nome que ora tem, que he Porto Seguro.” (Barros,
1552)
“E mandou o capitão mòr
hum nauio apalpar se achaua porto, tornou, dizendo, que achaua bom &
seguro, & assi lhe poserão o nome, & dizem que está da parte do sul em
dezasete graos daltura.” (Galvão, 1563, fl. 28a)
“[...] hum temporal com
que correram de longo da costa atte tomarem hū porto muito bõ, onde Pedralurez
surgio co has suas naos & por ser tal lhe pos nome Porto Seguro.” (Gois,
1566)
“[...] até que acertou com hum excellente
porto, que Pedro Alvares mandou se chamasse dalli em diante Porto Seguro.” (Osório, 1571)
“[...] e com aquelle vento que lhes era largo por aquelle
rumo, foram correndo a costa atè chegarem a hum porto limpo, e de bom
surgidouro, onde entraram: ao qual pozeram este nome que hoje em dia tem de Porto
Seguro, por lhes dar a colheita, e os asegurar do perigo da tempestade que
levavam.” (Gandavo, 1576)
“Isto
ele encontra no porto, que depois ele fez chamar de Porto Seguro, tanto pelo
fácil desembarque, como por se ver aí protegido da tempestade e borrasca, que
començava a se elevar.” (La Popelinière, 1582, Livro
III, pg 17)
“[...] lhe sobreveyo taõ grande vento, que com as âncoras na maõ, correrão grande
parte ao longo daquella costa: té que abrandando o tempo, foraõ ter a hum Porto
que o Capitaõ chamou Seguro [...]” (Mariz, 1597)
“[...] acharam ser acomodada e
segura para recolher-se nela as naus que por ali chegassem, e por isto a
chamaram Porto Seguro.” (San Roman, 1604)
“[...] e querendo lançar mais Batéis, o tempo
lhes fez ir ao longo da Costa adiante, e surgiram em outro bom Porto, que
chamaram Porto Seguro [...]” (Herrera, 1611)
“9 Lançou a armada ferro pera descançar da
viagem, e experimentar terra tão nova, em lugar a que chamárão Porto seguro, ou
porque n'elle reconhecião seguro abrigo, ou porque n'elle consideravão já
seguro o fim de seus maiores trabalhos.” (Vasconcellos, 1623)
“[...] e
chegaram às vésperas de Páscoa em um porto, que chamaram, Seguro, por tê-lo
sido para eles.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 44)
Nesta noite, Afonso
Lopes, piloto da nau capitânia, trouxe dois índios, que estavam pescando
em uma canoa, a bordo para conversarem com Cabral, que se encontrava acompanhado
de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha. Assim como no
primeiro contato, o encontro foi amistoso e Cabral ofereceu presentes e
alimentos aos nativos, que dormiram no navio.
“E seendo Affonso Lopez nosso piloto, em
huum d’aqueles navios pequenos per mandado do capitam, por ser homem vyvo e
deestro pera jsso, meteo se loguo no esquife a somdar o porto demtro, e tomou
em huūa almaadia [canoa] dous
d’aqueles homeens da terra, mancebos e de boos corpos ; e huum d’eles trazia
huum arco e bj [6] ou bij [7] seetas, e na praya amdavam mujtos com seus
arcos e seetas, e nom lhe aproveitaram ; trouve os logo ja de noute ao capitam,
omde foram recebidos com muito prazer e festa. [...] O capitam, quando
eles vieram, estava asentado em huūa cadeira, e huūa alcatifa [tapete] aos pees por estrado, e bem vestido com huum
colar d’ouro muy grande ao pescoço, e Sancho de Toar, e Simam de Miranda, e
Nicolaao Coelho, e Aires Corea, e nos outros que aquy na naao com ele himos
asentados no chaão per esa alcatifa. Acemderam tochas e emtraram, e nom fezeram
nenhuūa mençam de cortesia, nem de falar ao capitam, nem a njmguem ; pero huum
d’eles pos olho no colar de capitam, e começou d’acenar com a maão pera a
terra, e despois pera o colar, com o que nos dezia que avia em tera ouro; e
também viu huum castiçal de prata, e asy meesmo acenava pera a tera e entam
pera o castiçal como que avia também prata. [...], e entam estiraran
se asy de costas na alcatifa a dormjr sem teer nenhua maneira de cobrirem suas
vergonhas [...]. O capitam lhes mandou poer aas cabeças
senhos coxijs, e o da cabeleira procurava asaz polla nom quebrar, e lançaram
lhes huum manto em cjma, e eles consentiram e jouveram e dormiram.” (Caminha,
1500)
“[...] e vimos daquelles mesmos homens, que andavão pescando
nas suas barcas; hum dos nossos bateis foi ter aonde elles estavão, e apanhou
dous que trouxe ao Capitão mór, para saber que gente erão; porém, como
dissemos, não se entendião por fallas, nem mesmo por acenos, e assim tendo-os
retido huma noute comsigo [...]” (Navegação, 1501)
“E em terra forão tomados dous homens
dos naturaes dela / que por não se entenderem com nhū dos lingoas [intérpretes] que Pedraluarez leuaua os mandou
soltar [...]” (Castanheda, 1551)
“Enviou um batel e tomou dois índios em uma canoa; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“Surta a frota mãdou Pedralurez algūs dos capitães nos esquifes ver ha terra,
que logo tornáram cõ dous homens que estavã pescado em hūa almádia, dos quaes
se quisera informar da calidade dela, mas achou hos tam bárbaros, que allem de
nam hauer lingoa que hos entendesse, nem per açenos sabiã dar sinal de cousa
que lhes perguntasse, pelo que lhes mandou dar de vestir [...] & assi
ajaezados hos fez poer em terra.” (Gois, 1566)
“Abrigadas alli as náos,
encommendou Cabral a alguns Capitães, que fossem nos bateis examinar aquelles sitios.
Logo voltárão com dous pescadores, que tomárão d’hum barco; e como nenhuns dos
nossos lhes podia comprehender a linguagem, por acenos e sinaes começárão a
tratar com elles. Mas tão boto engenho tinhão estes Indios, e tão embaçados
estavão de animo, que se lhes não pôde por sinaes dar nada a perceber.”
(Osório, 1571)
“[...] saiu um Batel, que
tomou dois Índios, e o Capitão os mandou vestir, e enviá-los à Terra : [...]”
(Herrera, 1611)
“8 [...] tornou a mandar Capitães, e fizerão estes certo tudo o referido; porque
trouxerão comsigo dous pescadores, que apanhárão em huma jangada junto à praia:
entrados na náo, vinhão a vel-os com espanto, como a monstros da natureza : e
como nem elles comnosco, nem nós com elles podiamos fallar, por acenos e sinaes
procuramos tirar noticias; porém debaldo; porque sua rudeza, e o medo com que
estavão era tal, que a nada acudião.” (Vasconcellos,
1623)
h) Sábado 25 de abril de 1500
No sábado dia 25 de
abril de 1500 eles entraram na enseada de Porto Seguro (Baía Cabrália),
ancorando entre a ponta da Coroa vermelha e a baía rasa de Santa Cruz, com o
Rio João de Tiba no meio. Os recifes defendiam a frota do vento sul.
“Ao sabado pola manhaã mandou o capitam fazer
vella, e fomos demandar a emtrada, a qual era muy largua e alta, de bj [6], bij [7] braças [13-15,5m], e entraram
todalas naaos demtro e amcoraram se em b [5], bj [6] braças [11-13m], a qual amcorajem dentro he tam grande e
tam fremossa e tam segura, que podem jazer dentro nela mais de ijc
[200] navjos e naaos.” (Caminha,
1500)
Neste mesmo dia os
capitães se reuniram na capitânia, onde Cabral determinou que Nicolau Coelho e
Bartolomeu Dias devolvessem os 2 índios à terra; acompanhava-os Caminha e
Afonso Ribeiro, um degradado, que deveria ficar com os índios para lhes
conhecer os costumes, mas os índios o devolveram com presentes.
“E tanto que as naaos foram pousadas e
amcoradas vieram os capitaães todos a esta naao do capitam moor, e d’aquy
mandou o capitam Nicolaao Coelho e Bertolameo Dias que fosem em terra e levasem
aqueles dous homens [os 2 índios que
tinham dormido na nau de Cabral], e os
leixasem hir com seu arco e seetas ; aos quaaes mandou dar senhas camisas nuvas
e senhas carapuças vermelhas e dous rrosairos de contas brancas d’oso, que eles
levavam nos braços, e senhos cascavees e senhas campainhas. E mandou com eles
pera ficar la huum mancebo degradado, creado de Dom Joham Teello, a que chamam
Affonso Ribeiro, pera amdar la com eles, e saber de seu vjver e maneira, e a
mym mandou que fose com Nicolaao Coelho. Fomos asy de frecha direitos aa praya
; aly acodiram logo obra de ijc [200] homeens todos nuus e com arcos e seetas nas maãos ; aqueles que nos
levavamos acenaram lhes que se afastasem e posesem os arcos ; e eles os poseram
e nom se afastaram muito ; abasta que poseram seus arcos, e emtam sairam os que
nos levavamos e o mancebo degradado com eles ; os quaaes, asy como sairam, nom
pararam mais, nem esperava huum por outro, senom a quem mais coreria ; e
pasaram huum rio [...], e outros mujtos com eles ; e foram asy
corendo aalem do rrio antre huūas moutas de palmas, onde estavam outros ; e aly
pararom ; e naquilo foy o degradado com huum homem, que logo ao sair do batel
ho agasalhou ; e levou o ataa la ; e logo ho tomaram a nos ; e com ele vieram
os outros que nos levamos, os quaaes vijnham Ja nuus e sem carapuças. E entam
se começaram de chegar mujtos, e entravam pela beira do mar pera os batees ataa
que mais nom podiam ; e traziam cabaaços d’agoa e tomavam alguuns barris que
nos levavamos, e emchia nos d’agoa e trazia nos aos batees; nom que eles de
todo chegasem a bordo do batel, mas, junto com ele, lançavam no da maão, e nos
tomavamo los, e pediam que lhes desem alguūa coussa. Levava Nicolaao Coelho
cascavees e manjlhas, e huuns dava huum cascavel, e a outros huūa manjlha, de
maneira que com aquela emcarna casy nos queriam dar a maão. [...] D’aly se partiram os outros dous mancebos, que nom os vimos mais.
Amdavam aly mujtos d’eles ou casy a maior parte, [...] Aly amdavam
antr’eles tres ou quatro moças bem moças e bem jentijs, com cabelos mujto
pretos comprjdos pelas espadoas, e suas vergonhas tão altas e tam çaradinhas, e
tam limpas das cabeleiras, que de as nos mujto bem olharmos nom tijnhamos
nenhuūa vergonha. [...] Acenamos lhe que se fosem ; e asy o fezeram
e pasaran se aalem do rrio, e sairam tres ou quatro homeens nossos dos batees,
e encheram nom sey quantos barrijs d’agoa que nos levavamos e tornamo nos aas
naaos ; e em nos asy vyndo acenavam nos que tornasemos ; tornamos e eles
mandarem o degradado, e nom quiseram que ficase la com eles ; [...] Nom curaram de lhe tomar nada, e asy o mandaram com tudo ; e entam
Bertolameu Dias o fez outra vez tornar que lhes dese aquilo ; e ele tornou, e
deu aquilo, em vista de nós, aaquelle que o da primeira (sic) agasalhou ; e
entam veo ssee trouvemolo.” (Caminha, 1500)
“[...] tendo-os retido huma noute comsigo, os poz em terra no
dia seguinte, com huma camiza, hum vestido, e hum barrete vermelho, com o que
ficarão muito contentes, e maravilhados das cousas que lhes havião sido mostradas.” (Navegação, 1501)
“[...] mandou-os vestir de pés
à cabeça e enviou-os à terra: vieram grande número de gente cantando, bailando
e tangindo certos cornos e buzinas, fazendo saltos e bailes de grande alegria e
regozijo, que o ver era maravilha.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“O que
visto por Cabral, lhes deo alguns pannos, cascaveis, anneis de latão e espelhos
, e assim dadivados, os mandou pôr em terra. Elles mui vaidosos com taes
presentes, alardeão com grande contentamento as riquezas suas, de maneira que,
abalada toda a povoação de tantos encarecimentos, acudirão em chusmas com grão
miudo, grande copia de farinha, e muita variedade de fructas, que tudo mui lhanamente
permutavão com os nossos. Embellezavão-se nos espelhos, divertião-se com os
cascaveis, altanavão-se com os braceletes, estavam fitos em nós, sem se poderem
fartar de remirar cada cousa de per si.” (Osório, 1571)
“8 [...] Cabral, mandou que os vestissem, e lançassem em terra com bom
tratamento; com que forão contentes aos seus, e lhes contárão o que virão, e
facilitárão o tratto.” (Vasconcellos, 1623)
À tarde Cabral e os
capitães dos outros navios e Caminha foram em seus batéis até a ilha da Coroa
Vermelha, na enseada de Porto Seguro, e ali pescou.
“Aa tarde sayo o capitam moor em seu batel
com todos nos outros e com os outros capitaães das naaos em seus batees a
folgar pela baya, a caram da praya ; mas njnguem sayo em tera, polo capitam nom
querer, sem embargo de njmguem neela estar ; soomente sayo ele com todos em
huum ilheeo grande que na baya esta que e baixamar fica muy vazio, pero he de
todas partes cercado d’agoa, que nom pode njmguem hir a ele sem barco ou a
nado. Aly folgou ele e todos nos outros bem hūa ora e meya e pescaram hy
amdando marinheiros com huum chimchorro ; e matarom pescado meudo nom mujto ; e
entam volvemo nos aas naaos ja bem noute.” (Caminha, 1500)
i) Domingo 26 de abril de 1500
No dia 26 de abril,
domingo de Pascoela, construiu-se um altar e celebrou-se na ilha da Coroa
Vermelha, um ilhéu da baía, a primeira missa em terras do Brasil, celebrada por
frei Henrique de Coimbra com os frades de São Francisco, os primeiros
religiosos que vieram ao Brasil. Frei Henrique pregou sobre o evangelho do dia.
Os índios ficaram em terra atentos e curiosos ao que acontecia e, depois,
começaram a tocar instrumentos musicais e a dançar. (Vide 6ª Observação)
“Ao domingo de pascoela pola manhaã
detremjnou o capitam d’hir ouvir misa e preegaçam naquele ilheo, e mandou a
todolos capitaães que se correjesem nos batees e fosem com ele ; e asy foy
feito. Mandou naquele ilheeo armar huum esperavel, e dentro neele alevantar
altar muy bem coregido ; e aly com todos nos outros fez dizer misa, a qual dise
o padre frei Amrique em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos
outros padres e sacerdotes que aly todos heram ; a qual misa, segundo meu
parecer, foy ouvjda por todos com muito prazer e devaçom. Aly era com o capitam
a bandeira de Christos com que sayo de Belém, a qual esteve sempre alta aa
parte do avamjelho [lado do evangelho
ou esquerda]. Acabada a misa, desvestio
se o padre, e pose se em huūa cadeira alta, e nos todos lamçados per esa area,
e pregou huūa solene e preveitossa preegaçom da estoria do avanjelho, e em fim
d’ela trautou de nossa vjnda e do achamento d’esta terra conformando se com o
sinal da cruz sô cuja obediencia vijmos, a qual veo mujto a preposito e fez
mujta devaçom. Acabada a misa, desvestio se o padre, e pose se em huūa cadeira
alta, e nos todos lamçados per esa area, e pregou huūa solene e preveitossa
preegaçom da estoria do avanjelho, e em fim d’ela trautou de nossa vjnda e do
achamento d’esta terra conformando se com o sinal da cruz sô cuja obediencia
vijmos, a qual veo mujto a preposito e fez mujta devaçom. Emquanto estevemos aa
misa e aa preegaçom seriam na praya outra tanta jente pouco mais ou menos como
os d’omtem com seus arcos e seetas, os quaaes amdavam folgando e olhando nos ;
e asentaram se ; e, despois d’acabada a misa, aseentados nos aa pregaçom,
alevantaran se mujtos d’elles, e tanjeram corno ou vozina, e começaram a saltar
e dançar huum peduço, e alguuns d’eles se meteram em almaadias duas ou tres que
hy tijnham, [...] e aly se metiam iiij [4] ou b [5] ou eses que queriam, nom se afastando casy nada da terra, senom quanta
podiam tomar pee.” (Caminha,
1500)
“Naquelle mesmo dia, que era no
Outovario da Páscoa a vinte e seis de Abril, determinou o Capitão mór de ouvir
Missa; e assim mandou armar hum tenda naquella praia, e debaixo della hum
altar; e toda a gente da Armada assistio tanto á Missa como á Pregação,
juntamente com muitos dos naturaes, que bailavão, e tangião nos seus
instrumentos; logo que se acabou, voltámos aos navios, e aquelles homens
entravão no mar até aos peitos, cantando e fazendo muitas festas e folias.” (Navegação, 1501)
“[...] e dia da Pascoela ouuio missa em terra / que foy dita
em hū tenda cõ grande solenidade, e
pregou frey Anrique, e em quanto ho officio diuino foy celebrado se ajuntou
muyta gente da terra e fazião grandes festas [...]” (Castanheda,
1551)
“[...] ao segundo dia da chegada que era domingo de Pascoa,
ele Pedraluarez saio em terra com a maior parte da gente: & ao pé de hūa grande aruore se armou hū altar em o qual
disse missa cantada F. Henrique gardião dos religiosos, & ouue pregação.” (Barros,
1552)
“Saiu em terra o Capitão com gente
numerosa, dia de Páscoa, e ao pé de uma grande árvore fizeram um altar, e disse
missa cantada o supradito Guardião [frei Henrique]; chegaram-se os índios
muito pacíficos e confiados, como se fossem os cristãos, de antes, seus muito
grandes amigos, e como viram que os cristãos ficavam de joelhos e davam nos
peitos, e todos os outros atos que os viam fazer, todos eles os faziam. Ao
sermão que predicou o Guardião estavam atentíssimos, como se o entendessem, e
com tanta quietude e sossego e silêncio, que disse o historiador, que movia aos
portugueses à contemplação e devoção, considerando quão disposta e aparelhada
estava aquela gente para receber doutrina e religião cristã.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap CLXXIV)
“[...] ordenou que aho outro dia dixesse frei Henrrique missa
em terra onde em amanhecendo mandou armar hum altar debaixo de hūa muito grande aruore. Há missa foi de
Diácono, & Subdiácono, offiçiada com todolos frades, capellães das naos,
& sacerdotes que hiam na armada, & outras pessoa que entendiam de
canto, em que houue pregassam, sendo presentes muitos dos da terra a todo ho offiçio
diuino, com grande espãto & acatamento. Acabada a missa Pedralurez se
recolheo ahos bateis, com toda ha gente acompanhodoho hos da terra com grandes
festas, cantares, saltos, & trejeitos que faziam em sinal dalegria,
tangendo cornos, & buzinas, lançando frechas pero ho ar, com outras mostras
de contentamento, aleuantando has mãos ao çeo [...]” (Gois, 1566)
“A simpleza desta gente empenhou Pedro Alvares Cabral a
descer á terra, e alli á sombra de huma arvore grossíssima mandar erguer hum Altar,
onde com grande cerimonia se celebrasse Missa cantada, e houvesse prégação. Nem
forão excluidos daquelle espectaculo os colonos daquella terra, que mudos e
estupefactos entranhavão sem pestanejar no íntimo dos sentidos a santidade das
cerimonias e a harmonia do canto; e na inclinação de seus corpos mostravão-se
muito entrados do nosso culto.” (Osório, 1571)
“Ao outro dia seguinte sahio Pedralvares em
terra com a maior parte da gente : na qual se disse logo missa cantada, e houve
pregaçam: e os índios da terra que alí se ajuntaram ouviram tudo com muita
qüietaçam, usando de todos os actos e cerimonias que viam fazer aos nossos: e
assim se punham de joelhos e batiam, nos peitos como se teveram lume de Fé, ou
que por alguma via lhes fora revelado aquelle grande, e inefabil mistério, de
Santíssimo Sacramento, [...]”
(Gandavo, 1576)
“Tomaram
terra, e em um altar portátil, celebrou frei Henrique, instruindo os bárbaros
que se chegassem em nossa Fé [...]” (San Roman, 1604)
“[...] um grande número de Gente, cantando, e bailando,
e tangendo Cornos, e Buzinas, fazendo saltos, e regozijos: saiu o Capitão à
Terra, com a maior parte da Gente, e porque em Dia de Páscoa, ao pé de uma
grande Árvore fizeram um Altar, e disseram Missa cantada; chegavam-se os Índios
muito pacíficos, e confiados, e ficavam de joelhos, e davam nos peitos, fazendo
todo o que os Cristãos faziam: o Sermão, que houve, estuveram atentíssimos,
como se o entendessem: [...]” (Herrera, 1611)
“[...] ordenou o General que
dissessem Missa de Pontifical [...]” (Barbuda, 1624)
“Mostrou-se sua gente pouco
esquiva facilitando a nostra o sair, e construir ao pé de uma formosa árvore um
altar, onde ouve missa e sermão escutando também com admirável sossego daquele
Pagão, que por ventura estava ainda na lei da Natureza.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
Em seguida Cabral e os
outros portugueses retornaram aos seus navios.
“Acabada a pregaçom, moveo o capitam, e todos
pera os batees com nosa bandeira alta, e embarcamos, e fomos asy todos contra
terra pera pasarmos ao longo per ond’eles estavam, hjndo Bertolameo Dias em su
esquife, per mandado do capitam, diamte [...] e nos todos obra de
tiro de pedra tras ele. Como eles viram ho esquife de Bertolameo Dias, chegaram
se logo todos a agoa, metendo se neela ataa onde mais podiam. Acenaran lhes que posesem os arcos, e mujtos
d’eles os hiam logo poer em terra, e outros os nom punham. Amdava hy huum que
falava mujto aos outros que se afastasem, mas nom ja que m’a mym parecese que
lhe tijnham acatamento, nem medo. [...] Sayo hunm homem do esquife de Bertolameu
Dias, e andava antr’eles sem eles emtenderem nada neele quanta pera lhe fazerem
mal, senom quanto lhe davam cabaaços d’agoa, e acenavam aos do esquife que
saisem em terra. Com isto se volveo Bertolameu Dias ao capitam, e veemo nos aas
naaos a comer, tanjendo tronbetas e gaitas, sem lhes dar mais apresam ; e eles
tornaram se a asentar na praya, e asy por entam ficaram. E quando Cabral se vinha retirando para os navios,
vieram-no acompanhando até aos batéis com muito gosto. Tão declaradas eram
estas significações de regozijo, que com amiudados cantos, com tangeres de
cornos e buzinas, com gestos de seu corpo, com setas atiradas ao ar e as mãos
apontadas para o céu, pareciam render imensas graças a Deus de ter ali trazido
aqueles homens.” (Caminha, 1500)
“Tão
soçobrados estavão de assombro, que disseras tinhão perdido o juizo, pois
muitos, enquanto Cabral vogava para a Armada, se mettião pelo mar em seu
seguimento, até lhe dar a água pelos peitos, outros hião nadando, e delles em bateis,
até que agarrados com as náos, não havia modo de arrancallos dellas.” (Osório, 1571)
Os capitães, após
comerem, reuniram-se, a bordo da nau capitânia, com Cabral e decidiram que
conviria mandar ao rei de Portugal a nova do descobrimento desta terra pelo
navio de mantimentos. Decidiram, também, deixar 2 degredados para aprender a
língua e costumes dos índios.
“[...] e, tamto que comemos, vieram logo todolos capitaães a esta naao per
mandado do capitam moor, com os quaaes se ele apartou, e eu na conpanhia, e
preguntou asy a todos se nos parecia seer bem mandar a nova do achamento d’esta
terra a Vosa Alteza pelo navjo dos mantijmentos, pera a mjlhor mandar
descobrjr, e saber d’ela mais do que agora nos podiamos saber, por hirmos de
nossa viajem; e antre mujtas falas que no caso se fezeram, foj per todos ou a
mayor parte dito que seria mujto bem, e nisto comcrudiram; e, tamto que a
concrusam foy tomada, pregumtou mais se seria boo tomar aquy per força huum par
d’estes homeens pera os mandar a Vossa Alteza, e leixar aquy por eles outros
dous d’estes degradados. A esto acordaram que nom era necesareo tomar per força
homeens, porque jeeral costume era dos que asy levavom per força pera algūa parte dizerem que ha hy todo o que
lhe preguntam ; e que mjlhor e mujto mjlhor emformaçom da terra dariam dous
homeens, d’estes degradados, que aquy leixassem, do que eles dariam, se os
levasem, por seer jente que njmguem emtende, nem eles tam cedo aprenderiam a
falar pera o saberem tambem dizer, que mujto mjlhor ho estoutros nom digam,
quando ca Vosa Alteza mandar ; e que portamto nom curasem aquy de per força
tomar njmguem, nem fazer escandolo, pera os de todo mais amansar e apaceficar,
senom soomente leixar aquy os dous degradados, quando d’aquy partisemos ; e asy
por mjlhor parecer a todos ficou detreminado ; acabado jsto, dise o capitam que
fosemos nos batees em terra e veersia bem o rrio quejando era, e tambem pera
folgarmos.” (Caminha, 1571)
“Nos dias que aqui estivemos, determinou
Pedro Alvares fazer saber ao nosso Serenissimo Rei o descobrimento destas
terras e deixar nella dous homens condenados á morte, que trazíamos na Armada
para este efeito [...].” (Navegação, 1571)
Em seguida, Cabral foi
com seus homens em terra e se misturaram com os nativos e com eles comerciaram.
“Fomos todos nos batees em tera armados,
e a bandeira comnosco. Eles amdavam aly na praya aa boca do rrio,
omde nos hiamos, e ante que chegasemos, do emsino qued’antes tynham, pozeram
todos os arcos, e acenavam, que saisemos ; e, tanto que os batees pozeram as
proas em terra, pasaram se logo todos aalem do rrio, o qual nom he mais ancho
que huum jogo de manqual, e, tanto que desenbarcamos, alguuns dos nosos pasarom
logo o rrio e foram antr’elles, e alguuns aguardavam, e outros se afastavam ;
pero era a cousa de maneira que todos andavam mesturados. Eles davam d’eses
arcos com suas seetas por sonbreiros e carapuças de linho e por quallquer cousa
que lhes davam. Pasaram aalem tamtos dos nosos e amdavam asy mesturados com
eles, que eles se esqujvavam, e afastavan se, e hian se d’eles pera cima onde
outros estavam ; e entam o capitam, feze se tomar ao colo de dous homeens, e
pasou o rrio e fez tornar todos. A jente que aly era nom seria mais ca aquela
que soya ; e, tanto que o capitam fez tornar todos, vieram alguuns d’eles a
ele, nom polo conhecerem por senhor, ca me parece que nom entendem, nem tomavam
d’isso conhecimento, mas porque a jente nossa pasava já pera aquém do rrio. [...]; e entam tornou se o capitam aaquem do rrio, e logo acodiram mujtos aa
beira d’ele. [...] E despois moveu o capitam pera cima ao longo
do rrio, que anda sempre a caram da praya, e aly esperou huum velho que trazia
na maão hua paa d’almadia ; falou, estando o capitam com ele, perante nos
todos, sem o nunca njmguem emtender, nem ele a nos quant a cousas que lh’omem
pregumtava d’ouro, que nos desejavamos saber se o avia na terra. [...] Amdamos per hy veendo a rribeira, aqual he de mujta agoa, e mujto boa;
ao longo d’ela ha mujtas palmas, nom mujto altas, em que ha muito boos
palmitos. Colhemos e comemos d’eles muitos. Entam tornou-se o capitam pera
baixo pera a boca do rrio, onde desenbarcamos, e aalem do rrio amdavam muitos
d’eles damçando e folgando huuns ante outros, sem se tomarem pelas maãos, e
faziam no bem.” (Caminha, 1500)
“Depois de jantar tornou a terra o
Capitão mór, e a gente da armada para espairecer com elles: e achámos neste
lugar hum rio de agoa doce.” (Navegação,
1501)
“Deu licença o
Capitão à gente dos navios, aquele dia, depois de comer, para que saíssem em
terra e se divertissem, e resgatassem com os índios cada um o que quisessem; [...]”
(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
Diogo Dias, então, foi
com um gaiteiro e ambos dançaram junto com os índios.
“Pasou se emtam aalem do rrio Diogo
Dias, almoxarife que foy de Sacavém, que he homem gracioso e de prazer, e levou
comsigo huum gayteiro noso com sua gaita, e meteo se com eles a dançar tomando
os pelas maãos, e eles folgavam e riam, e amdavam com ele muy bem ao soom da
gaita. Despois de dançarem fez lhe aly amdando no chaão muitas voltas ligeiras
e salto real, de que se eles espantavam, e riam e folgavam mujto ; e com quanto
os com aquilo muito segurou e afaagou, tomavam logo huūa esqujveza como
montezes ; e foran se pera cjma; [...]” (Caminha,
1500)
Cabral e os portugueses, então
retornam aos navios.
“[...] e entam o capitam pasou o rrio com todos nos outros ;
e fomos pela praya de longo, himdo os batees asy a caram de terra, e fomos ataa
huūa lagoa grande de agoa doce, que esta jumto com a praya, [...]; e, depois de
pasarmos o rrio, foram huuns bij [7] ou
biij [8] d’eles amdar antre os
marinheiros que se recolhiam aos batees, e levaram d’aly huum tubaram, que
Bertolomeu Dias matou ; e levava lh’o, e lançou o na praya.” (Caminha,
1500)
“Pela volta da tarde tornámos ás náos, [...]” (Navegação, 1501)
Cabral tentou,
novamente, deixar o degredado Afonso Ribeiro com os índios, mas estes,
novamente, o devolveram. À noite, os portugueses voltaram para os navios.
“Mandou o capitam aaquele degradado
Affonso Ribeiro que se fosse outra vez com eles ; o qual se foy ; e andou la
huum boom pedaço ; e aa tarde tornou se, que o fezeram eles vimjr ; e nom o
quizeram la consemtir; e deram lhe arcos e seetas, e nom lhe tomaram nenhuūa
cousa do seu; ante, dise ele que lhe tomara huum d’eles hūas continhas amarelas
que ele levava, e fogia com, elas; e ele se queixou, e os outros foram logo
após ele e lh’as tornaram e tornaran lhas a dar; e emtam mandaram no vimjr; [...] e asy nos
tornamos aas naaos ja casy noute adormjr.”
(Caminha, 1500)
j) Segunda 27 de abril de 1500
Na segunda 27 de
abril, os portugueses foram novamente em terra. Mestre João foi com Sancho de
Tovar e o piloto da nau capitânia (Afonso Lopes?) em terra fazer medições
astronômicas.
“Aa segunda feira depois de comer saimos
todos em terra a tomar agoa; aly vieram emtam mujtos, mas nom tamtos como as
outras vezes; e traziam ja muito poucos arcos; e esteveram asy huum pouco
afastados de nos ; e despois poucos e poucos mesturaran se comnosco; e
abraçavam nos e folgavam ; e alguuns d’eles se esquivavam logo ; aly davam
alguuns arcos por folhas de papel, e por algūa carapucinha velha, e por
qualquer cousa ; e em tal maneira se pasou a cousa, que bem xx [20] ou xxx [30] pesoas das nosas se foram com elles onde
outros mujtos d’eles estavam, com moças e molheres, e trouveram de la muitos
arcos e baretes de penas d’aves d’eles verdes, e deles amarelos, de que creo
que o capitam há de mandar amostra a Vossa Alteza ; e, segundo deziam eses que
la foram folgavam com eles. Neeste dia os vimos de mais perto, e mais aa nosa
vontade por andarmos todos casy mesturados ; e aly d’eles andavam, [...]” (Caminha, 1500)
“[...] ontem segunda-feira
que foram 27 de abril descemos em terra eu, e o piloto do capitão-mór e o piloto
de Sancho de Tovar e tomamos a altura do sol ao meio-dia e achamos 56 graus na
sombra era septentrional pelo que segundo as regras do astrolábio julgamos ser
afastados da equinocial por 17 graus, e, por conseguinte, ter a altura do polo
antárctico en 17 graus [...] (Mestre João, 1500)
“[...] e no dia seguinte determinou-se fazer aguada, e tomar
lenhas; pelo que fomos todos a terra, e os naturaes vierão comnosco para
ajudar-nos.” (Navegação, 1501)
Cabral mandou o
degredado Afonso Ribeiro com outros 2 degredados e Diogo Dias para junto dos
índios, tendo eles ido até uma aldeia deles, mas estes os fizeram retornar à
noite, voltando todos para as naus.
“E o capitam mandou aaquele degradado
Affonso Ribeiro e a outros dous degradados que fosem amdar la antr’eles; e asy
a Diogo Dias, por seer homem ledo, com que eles folgavam ; e aos degradados
mandou que ficasem lá esta noute. Foram se la todos e andaram antr’eles ; e,
segundo elles deziam, foram bem huūa legoa e mea a hūa povoraçom de casas, em
que averja ix ou x casas, [...]; e que lhes davam de comer d’aquela vianda que eles
tijnham, saber, mujto jnhame, e outras sementes que na terra ha, que eles
comem. E, como foi tarde, fezeram nos logo todos tornar, e nom quiseram que la
ficasse nenhuum, e ajnda, segundo eles deziam, queriam se vimjr com eles. [...] E com isto
vieram, e nos tornamo nos as naaos.” (Caminha,
1500)
“Alguns dos nossos caminharão até huma
povoação onde elles habitavão, cousa de três milhas [5,5km] distante
do mar, e trouxerão de lá papagaios, e huma raiz chamada inhame, que he o pão
de que alli uzão, e algum arroz; dando-lhe os da Armada cascavéis e folhas de
papel, em troca do que recebião.” (Navegação, 1501)
“Foram alguns portugueses às povoacões, viram infinito arvoredo, águas e
frescuras, e terra viciosíssima e deleitável, mui abastada de milho e outras coisas
de comer, e onde se fazia muito algodão.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“[...] e algūs
portugueses forã ver as suas povoações [...]” (Castanheda,
1552)
“Foram
às Povoações, e parecendo-lhes a Terra viciosa, e deleitável, muito abastecida
de Milho, e Algodão.” (Herrera, 1611)
k) Terça 28 de abril de 1500
Na terça 28 de abril,
os portugueses foram novamente em terra e Cabral mandou recolher lenha e fazer
uma cruz de madeira. Os portugueses, também, aproveitaram para lavar a roupa em
terra.
“Aa terça feira, depois de comer, fomos em
terra dar guarda de lenha, e lavar roupa ; estavam na praya, quando chegamos,
obra de lx [60] ou lxx [70] sem arcos e sem
nada ; tamto que chegamos, vieram se logo pera nos sem se esquivarem , e depois
acodiram mujtos que seriam bem ijc [200] todos sem arcos ; e mesturaram se todos tanto comnosco, que nos
ajudavam d’eles a acaretar lenha e meter nos batees e lujtavam com os nosos, e
tomavam mujto prazer ; e, emquanto nos faziamos a lenha, faziam dous
carpenteiros huua grande cruz de huum paao que se omtem pera yso cortou. Mujtos
d’eles viinhãm aly estar com os carpenteiros ; e creo que o faziam mais por
veerem a faramenta de ferro com que a faziam, que por veerem a cruz, porque
eles nom teem cousa que de fero seja ; [...]” (Caminha, 1500)
Cabral mandou Diogo
Dias e 2 degredados (um deles o já nomeado Afonso Ribeiro) para irem à aldeia dos
nativos e dormirem lá e retornou com os outros portugueses para os navios.
“[...] e o capitam mandou a dous degradados, e a Diogo Dias
que fosem la a aldeã, e a outras, se ouvesem d’elas novas, e que em toda
maneira nom se viesem a dormjr aas naaos, ainda que os eles mandasem ; e asy se
foram. [...] e acerqua da
noute nos volvemos pera as naaos com nossa lenha.” (Caminha, 1500)
l) Quarta 29 de abril de 1500
Na quarta 29 de abril
os portugueses não vão à terra, à exceção de Sancho de Tovar, pois Cabral passa
o dia esvaziando o navio de mantimentos e distribuindo a sua carga entre os
outros navios, para poder mandá-lo de volta à Portugal com a notícia do
descobrimento.
“Aa quarta feira nom fomos em terra,
porque o capitam andou todo o dia no navio dos mantijmentos a despejalo, e
fazer levar aas naaos isso que cada huūa podia levar; eles acodiram aa praya
mujtos, segundo das naaos vimos, que seriam obra de iijc [300], segundo
Sancho de Toar, que la foy” (Caminha, 1500)
Diogo Dias, Afonso Ribeiro
e o outro degredado retornaram e 2 índios foram passar a noite a bordo.
“Diogo Dias e Affonso Ribeiro, o
degradado, a que o capitam omtem mandou que em toda maneira la dormisem,
volveram se ja de noute, por eles nom quererem que la dormisem, [...] ; e quando
se Sancho de Toar recolheo aa naao querian se vimjr com ele alguuns, mas ele
nom quis, senom dous mancebos despostos, e homeens de prol. Mandou os esa noute
muy bem pensar e curar, e comeram toda vianda que lhes deram ; e mandou lhes
fazer cama de lençooes, segundo ele dise, e dormjram, e folgaram aquela noute [...]” (Caminha, 1500)
m) Quinta 30 de abril de 1500
Na quinta feira 30 de
abril novamente foram à terra com os 2 índios que dormiram nas naus. Em terra,
foram beijar a cruz de madeira que já estava pronta. Retornaram com 4 ou 5
índios que dormiram nas naus. Esses dias foram gastos armazenando água,
alimentos, madeira e outros suprimentos.
“Aa quinta feira, deradeiro d’abril,
comemos logo casy pola manhaã, e fomos em terra por mais lenha e agoa ; e, em
querendo o capitam sair d’esta naao, chegou Sancho de Toar com seus dous
ospedes, e por ele nom teer ajnda comjdo poseran lhe toalhas, e veo lhe vianda,
e comeo ; os ospedes asentaram nos em senhas cadeiras, e de todo o que lhes
deram comeram muy bem, [...] acabado o comer, metemo nos todos no batel, e eles
comnosco ; [...] Andariam na
praya, quando saymos biij [8] ou x d’eles, e d’hy a pouco começaram de
vimjr, e parece me que vimjriam este dia aa praya iiijc [400] ou iiijc [45]. [...]
acaretavam d’esa lenha quamta
podiam com muy boas vomtades, e levavam na aos batees, e andavam ja mais mansos
e seguros antre nos, do que nos andavamos antr’eles. Foi o capitam com alguuns
de nos huum pedaço per este arvoredo ataa huūa ribeira grande e de muita agoa,
que a noso parecer era esta mesma que vem teer aa praya, em que nos tomamos
agoa ; ali jouvemos huum pedaço bebendo e folgando ao longa d’ela antr’ese
arvoredo, que he tamto e tamanho e tam basto e de tamtas prumajeens, que lhe
nom pode homem dar conto ; ha antr’ele muitas palmas, de que colhemos mujtos e
boos palmjtos. Quando saymos do batel dise o capitam que seria boo hirmos
dereitos aa cruz, que estava encostada a huūa arvore junto com o rrio, pera se
poer de manhaã, que he sesta feira, e que nos posesemos todos em giolhos e a
beijasemos, pera eles vee Tem ho acatamento que lhe tijnhamos ; e asy o
fezemos. Eestes x ou xij [12] que hy
estavam acenaram lhes que fezesem asy, e foram logo todos beijala. Parece me
jemte de tal inocência que, se os homem emtendese, e eles a nos, que seriam
logo christaãos, porque eles nom teem nem emtendem em nenhuūa creemça, segundo
parece. [...] Em quanto aly este dia amdaram, sempre, ao
soom de huum tanbory nosso, dançaram e bailharam com os nosos, em maneira que
são muito mais nosos amigos que nos seus; se lhes homem acenava se queriam
vimjr aas naaos, faziam se logo prestes pera iso, em tal maneira, que se os
homem todos quizera comvidar, todos vieram; porem nom trouvemos esta noute aas
naaos senom iiij [4] ou b [5], saber: o capitam moor dous, e Simão de
Miranda huum que trazia já por page, e Ayres Gomes outro, asy page; os que o
capitam trouve era huum d’eles huum dos seus ospedes que aa primeira quando
aquy chegamos lhe trouveram, o qual veo hoje aquy vestido na sua camiza e com
ele huum seu irmaão, os quaes foram esta noute muy bem agasalhados, asy de
vianda, como de cama de colchoões e lençoões, polos mais amansar.” (Caminha,
1500)
n) Sexta 01 de maio de 1500
Na sexta 01 de maio,
os portugueses foram a terra e Cabral escolheu o local para erguer a cruz. O
local escolhido ficava acima do Rio Mutari, antes conhecido como Itacumirim. Então,
Cabral, Caminha e outros portugueses, auxiliados por alguns voluntários índios,
levaram a cruz de madeira ao local definido por Cabral e a ergueram. Alguns
autores, por engano, dizem que a cruz era de pedra, mas na verdade ela era
mesmo de madeira.
“E oje que he sexta feira, primeiro dia
de Mayo, pola manhãa saimos em terra com nossa bandeira, e fomos desenbarcar
acima do rio contra o sul, onde nos pareceo que seria milhor chantar [fixar] a cruz,
pera seer milhor vista; e aly asijnou o capitam onde fezesem a cova pera a
chantar; e emquanto a ficaram fazendo ele com todos nos outros fomos pola cruz,
abaixo do rio, onde ela estava; trouvemola d’ahy com eses relegiosos e
sacerdotes diante cantando, maneira de precisam. Heram já hy alguuns d’eles,
obra de lxx [70] ou lxxx [80]; e quando nos asy viram vimjr, alguns
d’eles se foram meter de baixo d’ela ajudamos; pasamolo rio ao longo da praya e
fomola poer onde avia de seer, que será do rio obra de dous tiros de beesta:
aly andando nysto vimjriam bem cl [150],
ou mais.” (Caminha, 1500)
“Despachado o navio sahio o Capitão em
terra, mandou fazer huma Cruz de madeira muito grande, e a plantou na praia [...]” (Navegação, 1501)
“Nesta terra mandou Pedraluares meter hū padrão de pedra cõ hūa Cruz [...]” (Castanheda,
1551)
“[...] por dar nome áquella terra por elle nouamente achada:
mandou aruorar hūa cruz mui grande no
maes alto lugar de hūa aruore & ao pé della se disse missa.” (Barros, 1552)
“[...]
nesta terra mandou o Capitão por uma cruz mui alta
e mui bem feita,
[...]” ((Las
Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“Antes que Pedralurez partisse deste lugar, mandou
poer em terra hūa Cruz de pedra quomo
por padrão, com que tomaua posse toda aquella provinçia, pera coroa dos Regnos
de Portugal [...]” (Gois, 1566)
“[...] mandou pôr huma columna de mármore, [nenhum outro autor cita esta coluna,
devendo ser um erro pela cruz de madeira] semelhante
ás que o [Vasco da] Gama mandava collocar
em varias partes, [...]” (Osório,
1571)
“E tornando Pedralvares, seu
descobridor, passado alguns dias que ali esteve fazendo sua aguada e esperando
por tempo que lhe servisse, antes de se partir por deixar nome aquella
Província, por elle novamente descoberta, mandou Alçar numa cruz no mais alto
lugar, de uma arvore, onde foi arvorada
com grande solemnidade e benções de Sacerdotes que levava em sua companhia, [...]” (Gandavo, 1576)
“[...] por se aqui arvorar uma muito grande [Cruz], por
mandado de Pedro Alvares Cabral [...] e para solemnidade desta posse plantou este
capitão no mesmo logar um padrão com as armas de Portugal, dos que trazia para
o descobrimento da índia, para onde levava sua derrota.” (Souza, 1587)
“Mandou Pedro Álvares Cabral levantar em
um arvoredo uma grande Cruz, que campeasse toda aquela costa [...]” (San Roman, 1604)
“Mandou
Peralvarez, que se pusesse ali uma Cruz de Pedra, em sinal de Posessão [...]” (Herrera, 1611)
“9 [...] Aqui arvorárão aos 3 de Maio (como querem alguns) o
primeiro tropheo de Portugueses que o Brasil vio, o estandarte da Santa Cruz,
ao som de demonstrações de grandes alegrias, e solemnidade de missa, prégação,
e salvas de artilharia da armada toda [...]” (Vasconcellos, 1623)
“[...] e depois armou uma Cruz, de cujo nome chamou toda a
terra [...]” (Barbuda, 1624)
“[...] deixando alli uma cruz levantada [...]” (Salvador, 1627)
“[...] e os carpinteiros prepararão uma grande cruz de pau. Até então tinhão os
navios portuguezes, quando sahião a descobertas, levado pillares de pedra, com
as armas de Portugal esculpidas, para que, plantando-os nos paizes que
descobrissem, por este acto tomassem posse da terra para a coroa de Portugal.
Cabral não vinha provido d'estes marcos, por que o seu destino era seguir a
derrota do Gama; de todas as terras que ficavão no rumo em que elle devia
navegar, se havia ja tomado posse, nem se contava com novas descobertas.” (Southey, 1822)
Ao pé da cruz foi
montado um altar, onde nova missa foi oficiada pelo Frei Henrique, sendo esta a
grande missa oficial, realizada em terra firme e não em uma ilhota. Nicolau
Coelho distribuiu entre os índios uns crucifixos de estanho presos a um fio,
para que pusessem ao pescoço.
“Chentada a cruz com as armas e devisa
de Vosa Alteza que lhe primeiro pregarom armaram altar ao peé d’ela. Aly dise
misa o padre frei Amrique, a qual foy camtada e ofeçiada per eses ja ditos; aly
esteveram comnosco a ela obra de 1 [50] ou lx [60] d’eles asentados todos em giolhos, asy coma nos, e quando veo ao
avanjelho, que nos erguemos todos em pee com as mãaos levantadas, eles se
levantaram comnosco e alçarom as mãaos, estando asy ataa seer acabado ; e entam
tornaram se a asentar coma nos. E quando levantantarom a Deos, que nos posemos
em giolhos, eles se poseram todos asy coma nos estavamos com as maãos
levantadas, e em tal maneira asesegados, que certefico a Vosa Alteza que nos
fez mujta devaçom. Esteveram asy comnosco ataa acabada a comunham, e depois da
comunham comungaram eses religiosos e sacerdotes e o capitam com alguuns de nos
outros; alguuns d’eles por o sol seer grande, em nos estando comungando
alevantaram-se, e outros esteveram e ficarom; huum d’eles, homem de 1 [50] ou Ib [55] annos, ficou aly com aqueles que ficaram ; aquele em nos asy estamdo
ajumtava aqueles que aly ficaram, e ainda chamava outros ; este andando asy
antr’eles falando lhes acenou com o dedo pera o altar, e depois mostrou o dedo
pera o ceeo coma que lhes dizia alguūa cousa de bem; e nos asy o tomamos.
Acabada a misa, tirou o padre a vestimenta de cjma e ficou na alva, e asy se
sobio junto com ho altar em huūa cadeira; e aly nos pregou do avanjelho e dos
apostolos, cujo dia hoje he, trautando em fim da preegaçoan d’este voso
pressegujmento tam santo e vertuoso, que nos causou mais devaçam; eses, que aa
preegaçam sempre esteveram, estavam, asy coma nos, olhando pera ele ; e aquele
que digo chamava alguuns que viesem pera aly; alguuns vijnham e outros hiam se;
e, acabada a preegaçom, trazia Njcolaao Coelho mujtas cruzes d’estanho com
cruçufiços que lhe ficarom ainda da outra vijnda; e ouveram por bem que
lançasem a cada huum sua ao pescoço; pela qual cousa se asentou o padre frey
Anrique ao pee da cruz, e aly a huum e huum lançava sua atada em huum fio ao
pescoço, fazendo lhe primeiro beijar e alevantar as maãos ; vinham a isso
mujtos e lançaram nas todas, que seriam obra de R [40] ou L [50] ; e, isto acabado,
era ja bem huūa ora depois do raeo dja, viemos aas naaos a comer, onde o
capitam trouve comsigo aquelle meesmo que fez aos outros aquela mostramça pera
o altar e pera o ceeo, e huum seu irmaão com ele, ao qual fez mujta homrra; [...] Antre todos estes que oje vieram, nom veo mais que hhūa molher moça, a
qual esteve sempre aa misa, aa qual deram huum pano com que se cobrise, e
poseram lh’o d’arredor de sy ; pero ao asentar nom fazia memorea de o mujto
estender pera se cobrir; [...] Acabado isto, fomos asy perante eles beijar
a cruz, e espedimo nos, e vjemos comer.” (Caminha, 1500)
“Se disse Missa, & pregação, a que
muitos dos naturaes da terra estiveraõ presentes, & espantados de taõ
grande novidade, andavaõ juntos em grande numero. E mostrouse Deos nesta obra
taõ maravilhoso que deu noticiade si áquelles barbaros no Santissimo
Sacramento: porque todos se punhaõ em giolhos, & uzavaõ dos mesmos, actos
que viaõ fazer os nossos [...]” (Mariz, 1597)
“[...] ao pé da qual [Cruz]
mandou dizer, em seu dia , a 3 de Maio,
uma solemne missa com muita festa, [...]” (Souza, 1587)
Dois grumetes parecem
ter desertado da frota esta noite e ter ido viver com os índios, junto com os 2
degredados que foram deixados no Brasil para aprender a língua dos Índios. Parece
que posteriormente um deles foi levado de volta a Portugal.
“Creo, senhor, que com estes dous
degradados, que aquy ticam, ficam mais dous grometes, que esta noute se sairam
d’esta naao no esquife em terra fogidos, os quaes nom vieram majs, e creemos
que ficaram aquy, porque de manhaã, prazendo a Deos, fazemos d’aquy nosa
partida.” (Caminha, 1500)
“[...] deixando como ja disse, os dous degradados neste mesmo
lugar; os quaes começaõ a chorar, e forão animados pelos naturaes do paiz, que
mostravão ter piedade delles.” (Navegação, 1501)
“Sahindo a dita armada d'este logar, o
capitão deixou ahi dous christãos á mercé de Deus: pois elle trazia vinte
homens já condemnados á morte pela justiça para deixal-os aonde melhor lhe
parecesse. D'estes dous homens, em uma outra armada que directamente mandamos
aquella térra, voltou um que sabia a lingua dos indígenas, e nos informou de
tudo.” (D. Manuel, 1505)
“[...] d’algūs
degredados que hião n’armada leixou Pedraluarez ali dous: hum dos quaes veo
depois a este reyno & seruia de lingoa naquellas partes [...]” (Barros,
1552)
“Trazia o
Capitão 20 homens desterrados por serem malfeitores, e resolveu deixar ali dois
deles para que soubessem os segredos da terra e aprendessem a língua, os quais
os índios trataram mui bem, e, depois, um deles serviu de língua ou intérprete
muito tempo em Portugal.”
(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“[...] deixando alli dous degradados, de vinte que leuaua [...]” (Gois, 1566)
“[...] deixou ali o Capitão dois Homens, de vinte
que havia sacado de Portugal desterrados, para deixá-los onde lhe parecesse,
aos quais trataram bem os Índios, e um aprendeu a Língua, e serviu muito tempo
de Intérprete.” (Herrera, 1611)
“[...] deixando alli uma cruz levantada como também dous portuguezes degradados
pera que aprendessem a lingua, [...]” (Salvador, 1627)
“Alli dexó dos Portugueses
para investigar la capacidade y los frutos, la lengua, y las costumbres q
usava, y posseia aquella nueva gente.” (Sousa, 1666, Vol.
1, cap. 5, pg. 45)
“Também
os indigenas, quando virão que os seus hospedes estavão para partir, não
persistirão em repellir os dous criminosos que se queria deixar entre elles. A
estes porem faleceu-lhes o animo, quando chegou o momento decizivo, e
lamentavão a sua sorte com vozes tão sentidas, que moverão a compaixão d'estes
pobres índios, os mais mansos e dóceis de todas as tribos brazileiras. Um
d'elles com tudo viveu, para voltar a Portugal, e serviu mais tarde como
interprete n'aquellas partes. Da armada desertarão dous moços, escondende-se na
praia, tentados pela perspectiva de liberdade e ociosidade da vida selvagem, de
que apenas havião visto a superfície.” (Southey, 1822)
Caminha considerou a
terra descoberta bem grande e fértil e sugeriu a conversão dos índios, o que
ele considerava fácil por eles não serem idólatras. A enorme cruz de madeira
serviu para assinalar a posse tomada em nome da coroa de Portugal. Cabral deu-lhe
o nome de Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Santa Cruz. (Vide 7ª Observação)
“Esta terra, senhor, me parece que da
pomta, que mais contra o sul vimos, ataa outra ponta, que contra o norte vem,
de que nos d’este porto ouvemos vista, sera tamanha, que avera neela bem xx ou
xxb [25] legoas per costa. [...] em tal maneira he graciosa que querendo a
aproveitar, darseá nela tudo per bem das agoas que tem; pero o mjlhor fruito
que neela se pode fazer me parece que será salvar esta jemte; e esta deve seer
a principal semente que Vosa Alteza em ela deve lamçar; e que hy nom ouvese
mais ca teer aquy esta pousada pera esta navegaçom de Calecut abastaria, quanto
majs desposiçam pera se neela conprir e fazer o que Vosa Alteza tamto deseja,
saber, acrecentamento da nosa santa fé. [...] D’este Porto Seguro
da vosa jlha da Vera Cruz oje sesta feira primeiro dia de Mayo de 1500.” (Caminha,
1500)
“Estivemos neste lugar sinco ou seis
dias: [...] o terreno he
grande, porém não podemos saber se era Ilha ou terra firme; ainda que nos
inclinamos a esto ultima opinião pelo seu tamanho; [...]” (Navegação, 1501)
“Julgam esta terra ser terra firme, porque corre pela
costa 2000 milhas e (sic) mais, jamais encontram seu fim. Habitam homens nus e
formosos.” (Pisani, 1501)
“A Vera Cruz chamada pelo nome a quall achou
pedralvares cabrall fidalgo da ca [casa]
Manoel Rey de portugall e elle a descobrio índo por capita moor de quatorze
naos que o dito topou com esta terra a qual terra se cree fez terra firme em
aqual a muyta gente [...] foy
descoberta esta dita terra em a era de quinhentos.” (Cantino, 1502)
“Navegando elle além do Cabo Verde
descobriram uma terra que novamente veiu á noticia d'esta nossa Europa, á qual
terra puz o nome de Santa Cruz: e isto foi porque na praia arvorou urna cruz
muito alta. Outros chamam-lhe terra nova ou novo mundo.” (D. Manuel, 1505)
“[...]
hūa Cruz, e por isso lhe pos nome terra de santa Cruz [...]” (Castanheda, 1551)
“A
qual foi posta cõ solenidade de benções dos sacerdotes, dando este nome â
terra, Sancta Cruz.” (Barros, 1552)
“[...] mandou o Capitão por uma cruz mui alta e
mui bem feita, e por esto se chamou aquela terra de Sancta Cruz, pelos
portugueses, alguns anos; depois, o tempo andando, como acharam nela
pau-brasil, chamaram e hoje se chama a terra de Brasil.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“o
Capitão mór pos nome de Santa Cruz a esta noua terra, porque a ella chegarão a
tres de Maio, dia de Sancta Cruz [...]” (Correia, 1561)
“[...] à qual pos nome de
Sancta Cruz [...]” (Gois, 1566)
“Nesta terra, que
Cabral quiz appellidar Santa Cruz, e hoje se chama Brazil, [...]” (Osório, 1571)
“[...] dando á terra este nome de
Santa Cruz: cuja festa celebrava naquelle mesmo dia a Santa Madre Igreja, que
era aos três de maio. O que nam parece carecer de Mistério, porque assi como
nestes Reynos de Portugal trazem a cruz no peito por insígnia da Ordem e Cavallaria
de Christus, assi prouve a elle que esta terra se descobrisse a tempo que o tal
nome lhe podesse ser dado neste Santo dia, pois avia de ter possuída de
Portuguezes, e ficar por herança de patrimônio ao Mestrado da mesma Ordem de
Christus. Por onde nam parece razaõ que lhe neguemos este nome, nem que nos
esqueçamos delle tam individamente por outro que lhe deo o vulgo mal
considerado, depois que o pao da tinta começou de vir a estos Reinos; ao qual
chamaram brasil por vermelho, éter semelhança de braza, e da qui ficou a terra
com este nome de Brasil.”
(Gandavo, 1576)
“[...] onde agora é a capitania do Porto Seguro, no logar onde já esteve a ilha
de Santa Cruz, que assim se chamou por se aqui arvorar uma muito grande, por
mandado de Pedro Alvares Cabral... pelo qual respeito se chama a villa do
mesmo nome, e a provincia muitos annos foi nomeada por de Santa Cruz e de
muitos Nova Lusitânia [...]” (Souza,
1587)
“[...] lhe deixar nome, como se costuma fazer a todas as cousas, que de novo
saem á noticia dos homens. E pera isto em o dia em que a Igreja celebra a
Invenção da Santa Cruz,que he a tres de Mayo, mandou levantar hūa grande Cruz no mais alto
de hūa arvore das muitas, que a terra tinha; & ao pé della se disse Missa,&
a Cruz se benzeo com solennidade, querendo que aquelle lugar, & a toda a
província, ficasse o nome de Sãta Cruz: & por este nome foy conhecida
muitos annos, & a Cruz arvorada, durou ali alguns. Porém diz João de
Barros, como o demônio com o sinal da Cruz perdeo todo o dominio, que tinha sobre
os homens, receando perder também o muito, que possuia sobre aquella provincia,
de que ainda hoje entre os barbaros della esta tão apoderado, que se lhe communica
cõ muita facilidade muy particularmente: trabalhou que entre o povo se esquecesse
o primeiro nome, & lhe ficasse o de Brasil, que he num pao vermelho assi
chamado, de que vem a este Reyno grandissima quantidade [...]” (Mariz,
1597)
“[...] e porque se levantou o dia
da Cruz de Maio, se chamou aquela terra de Santacruz muito tempo [...]” (San Roman,
1604)
“[...] e por isto
chamaram os Portugueses aquela Terra de Santa Cruz e hoje se chama a Terra do
Brasil, por o Pau que dela trazem: [...]” (Herrera, 1611)
“9 [...] pondo por nome a terra tão fermosa, Terra de Santa Cruz: titulo, que
depois converteo a cobiça dos homens em Brasil, contentes do nome de outro páo
bem differente do da Cruz, e de effeitos bem diversos.” (Vasconcellos, 1623)
“O dia que o capitão-mór Pedro Alvares
Cabral levantou a cruz, que no capitulo atraz dissemos, era a 3 de Maio, quando
se celebra a invenção da santa cruz em que Christo Nosso Redemptor morreu por
nós, e por esta causa poz nome á terra que havia descoberta de Santa-Cruz e por
este nonme foi conhecida muitos annos.” (Salvador, 1627)
o) Sábado 02 de maio
Em 2 de maio, enquanto
o navio de mantimentos, sob o comando de Gaspar de Lemos ou André Gonçalves,
zarpava para Portugal, com uma carta escrita por Pero Vaz de Caminha,
para anunciar ao rei o descobrimento de novas terras, o resto da frota zarpou
em direção a Índia. Na viagem a Portugal, o navio de mantimentos subiu a costa
do Brasil explorando-a. (Vide 8ª
Observação). Provavelmente Gaspar de Lemos chegou a Lisboa em junho ou
julho. Depois de muitas peripécias na Índia, Cabral retornou com apenas 6 naus,
mas carregado de tesouros.
“[...] assim despachou hum navio que vinha em
nossa conserva carregado de mantimentos, alem dos doze sobreditos [outros
navios que foram para as Índias], o qual
trouxe a ElRei as cartas em que se continha tudo quanto tínhamos visto e descoberto.
[...] No outro dia, que erão dous de
Maio, fizemonos á vela, para hir demandar o Cabo da boa Esperança, achando-nos
então engolfados no mar mais de mil e duzentos leguas de quatro milhas cada
huma [...]” (Navegação, 1501)
“[...] e pela extensão de caminho que ainda tinha de andar,
não se deteve para se informar das cousas da dita terra, sómente me enviou
d’ali um navio a me participar como a encontrára e seguiu sua rota para o cabo
da Boa Esperança.” (D. Manuel, 1501)
“Desta terra o capitão fez regressar a
nós aquella caravella que levava mantimentos. No segundo dia do mez de maio
partiram em direcção ao Cabo da Boa Esperança [...]” (D.
Manuel, 1505)
“[...] desta terra
mandou Pedraluarez Gaspar d’ Lemos na sua caravela cõ cartas a elRey dõ Manuel,
em que dizia ho que lhe ate li tinha acontecido / e mandoulhe hū homem daquela terra / e ao outro dia que
forão tres de Maio partiose Pedraluares cabral cõ toda a frota [...]” (Castanheda, 1551)
“Pedraluarez vendo que por razão de sua
viagem outra cousa não podia fazer, dali espedio hum nauio, capitão Gaspar de
Lemos com noua pera elRey dom Manuel do que tinha descuberto [...]” (Barros, 1552)
“Despachou logo dali o Capitão um navio ao rei
de Portugal, o qual disse que recebeu grande alegria com as novas da terra
novamente descoberta, e todo o reino.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap CLXXIV)
“[...] o Capitão mór, por conselho de todos, d’aqui tornou a
mandar ao Reyno o nauio de André Gonçalues, com a noua a ElRey desta noua terra
que descobrira [...] E mandou André Gonçalues que fosse correndo a costa
sempre em quanto podesse e trabalhasse por lhe ver o cabo, o que ele assi fez,
e descobryo muyto dela, que tinha muytos bons portos, escrevendo tudo, e as
sondas e sinaes; [...]” (Correia,
1561)
“[...] & assi despachou pera o Regno Gaspar de lemos no
seu nauio, com nouas deste descobrimento, no qual mandou hum homem dos da terra
a elRei...se partio ahos dous dias do mes de Maio [...]” (Gois, 1566)
“E dalli
enviou Gaspar de Lemos, hum de seus Capitães, a Portugal para dar parte a ElRei
D. Manoel do sitio daquellas novas terras. [...] Passados algūs dias em quanto o tempo não servia, & fizeram
sua agoada [...]
Partio cabral das regiões Brazilicas aos 5 de Maio [...]” (Osório, 1571)
“Entaõ despedio logo Pedralvares hum navio com a nova a
EIRey Dom Manuel, a qual foi delle recebida com muito prazer e contentamento [...]”
(Gandavo, 1576)
“Com, esta nova, que à Pedro Cabral pareceo de grande
importância e maravilha, mandou hum Navio a elRei D. Manoel, que o reçebeo, com,
o contentamento, que tam grande cousa merecia.” (Mariz, 1597)
“Com um destes
bárbaros (como por mostra) se partiu logo a Portugal Gaspar de Lemos...” (San Roman, 1604)
“[...] despachou desde ali Peralvarez Cabral um
Navio ao Rei de Portugal, e nele a Gaspar de Lemos, com o aviso da Terra
novamente descoberta, com que recebeu grande alegria: [...]” (Herrera,
1611)
“12 Gastado em todas estas mostras cousa de
hum mez, determinou o General Pedro Alvares Cabral mandar noticias a Sua Alteza
das novas terras que descobrira, dos rumos, e das paragens, e do que n'ellas
vira. E como era força proseguir elle sua derrota, que era pera a India,
despedio a este intento hum Capitão de effeito por nome Gaspar de Lemos: o qual
junto com as noticias, levou primicias dos frutos da terra, e hum dos Indios
d'ella, sinaes indubitaveis. Foi recebido em Portugal com alegria do Rei, e do
Reino. Não se fartavão os grandes, e pequenos de ver, e ouvir a falla, gesto, e
meneios d'aquelle novo individuo da geração humana. Huns o vinhão a ter por hum
Semicapro, outros por hum Fauno, ou por algum d'aquelles monstros antiguos,
entre poetas celebrados : porém alegravão-se todos pela esperanca que concebião
da fertilidade d'aquellas regiões.” (Vasconcellos,
1623)
“[...] e despediu um navio a Portugal de que era,
capitão Gaspar de Lemos com a nova a el-rei D.Manuel que a recebeu com o
contentamento que tão grande cousa e tão pouco esperada merecia” (Salvador, 1627)
“O Cabral enviou aviso ao Rei
deste achado com Gaspar de Lemos, e antes de sair dali com os onze navios que lhe
restavam, deu àquella terra o nome de Santa Cruz fixando uma na estremidade de
uma árvore grande.” (Sousa, 1666, Vol. 1, cap. 5, pg. 45)
“Foi Gaspar de Lemos despachado para Lisboa com novas
da descoberta, e sabe-se que levou comsigo um dos selvagens. Tendo-se resolvido
não arrebatar á força nenhum dos índios, deve-se presumir que aquelle o
acompanharia voluntário.” (Southey, 1822)
“Como
a costa corre ao mesmo rumo , a que o nosso correio (Gaspar de Lemos)
necessariamente devia navegar, e elle tinha interesse (e provavelmente
recommandações de Pedralvez Cabral) em saber até que altura a terra se estendia
para o norte , nada he tão verosímil e natural , como avistal-a elle muitas
vezes até cabo de S. Roque , se he que não a levou sempre á vista até esta
paragem ; porque as aguas n’esta monção empurrão para terra. Os dois indigenas
, com que chegou a Portugal , segundo Barros , provão que elle aportou em alguma
parte depois que sahio de Porto-Seguro , visto não serem deste lugar.” (Cazal, 1833)
3) Observações sobre a Viagem
1ª) Os capitães dos
navios eram Sancho de Tovar (segundo no comando), Simão de Miranda Azevedo
(morto cerca de Moçambique em 1515), Aires Gomez da Silva (morto após sair do
Brasil em uma tempestade no Cabo da Boa Esperança, em 29 de maio de 1500),
Bartolomeu Dias (idem), seu irmão Diogo Dias, Nicolau Coelho (morto em uma
tempestade em 1502, quando voltava de outra viagem às Índias), Vasco de Ataíde
(Sumiu com seu navio em Cabo Verde a 23 de março de 1501, vide 2ª observação),
Pero de Ataíde (morto em Moçambique em 1502), Nuno Leitão da Cunha, Simão
de Pina (morto na tempestade do Cabo da Boa Esperança), Luís Pires (morto na
tempestade do Cabo da Boa Esperança) e Gaspar de Lemos, comandante do navio de
suprimentos (vide observação 8ª
Observação).
2ª) Caminha relata que no dia 23 de março de
1500, ao largo das ilhas de Cabo Verde, um navio com 150 homens, comandada
por Vasco de Ataíde, desapareceu sem deixar vestígios. A maioria dos
outros autores relata, no entanto, que o navio desaparecido foi o de Luís
Pirez. Autores posteriores dizem que o navio de Luís Pires acabou retornando a
Lisboa. Caminha relata que o tempo estava bom e não havia motivo para o
desaparecimento deste navio, mas autores posteriores relataram um temporal;
talvez este tenha sido inventado para explicar o desaparecimento inexplicável
daquele navio. A informação de Caminha parece mais confiável por ele ter acesso
às reuniões dos comandantes e por ter escrito mais perto do fato.
3ª) Aqui vai um breve
estudo das correntes marítimas e da navegação de Cabral. As correntes dominantes no Atlântico Sul
são a Corrente Fria de Benguela e
a Corrente Equatorial Sul, ambas de
sentido anti-horário. A Corrente Fria de
Benguela, uma corrente de águas muito frias, provenientes do Oceano Antártico
e da subida de águas frias profundas, acompanhada de ventos frios que corre de
Sul para Norte, margeando a costa oeste da África, desde o Cabo de Boa
Esperança até atingir o Equador, onde vira bruscamentee para Oeste,
transformando-se na Corrente
Equatorial Sul. A Corrente Fria
de Benguela alarga-se à medida que se dirige para Norte, chegando a atingir
300 Km de largura ao largo de Benguela, em Angola. O impacto da Corrente Fria de Benguela é
manifestado pelos nevoeiros persistentes ao largo da costa meridional angolana.
Devido à ação da Corrente Fria de
Benguela e dos Ventos Alísios, é extremamente difícil aos navios veleiros
viajar no sentido Norte-Sul ao longo da costa de Angola e da Namíbia, obrigando
os navios a tomaram uma rota muito larga quase tocando a costa
brasileira.
A Corrente Equatorial Sul tem origem na região
equatorial e nas proximidades da costa africana corre de Leste para Oeste,
próximo do Equador, entre 3º Norte e 10º Sul, com velocidade no início, de 15
milhas por dia, aumentando em direção a oeste, chegando a atingir 60 milhas.
Ela bifurca-se, cerca de Fernando Noronha, para formar a Corrente das Guianas, com o grosso do volume de águas,
que corre
paralelamente à costa Norte do Brasil e Guianas, e à Corrente Brasileira, que se dirige para o sul, margeando a costa leste
da América do Sul, com velocidade de 20 milhas por dia, até além do estuário do
Rio da Prata. Empurrada pela corrente fria das Falklands ou Malvinas, que vem
do Sul, costeando a Argentina, encurva-se em direção à África, sob a ação dos
ventos de oeste. O ponto de encontro do Oceano Atlântico Sul com o Oceano
Índico é também onde a Corrente Fria
de Benguela encontra a Corrente
Quente das Agulhas ao largo do Cabo de Boa Esperança. Este
encontro resulta numa mistura atribulada de águas e ventos quentes e frios,
cuja diversidade dá lugar uma instabilidade acentuada de clima.
Por causa deste regime de ventos e correntes os
navios, após saírem de Cabo Verde, rumavam para sudoeste, para aproveitar o
vento e a corrente, que vem de nordeste (Corrente Equatorial Sul),
enquanto que, costeando a África, os ventos e correntes vem do Sul (Corrente
Fria de Benguela), contra a direção da navegação. O próprio Vasco da Gama assim aconselhara a Cabral, e ele mesmo, em sua
primeira viagem para a Índia, passara próximo ao litoral do Brasil, não o
descobrindo por pouco, pois, a dia 22 de agosto de 1497 achava-se a 5.000km da
costa africana, isto é, a 45° ao Ocidente do Sul da África. No Roteiro de
Vasco da Gama, está relatado que se viu aves que à noite tiravam contra sudoeste,
tão rijas como aves que iam para terra.
“[...] faram seu caminho direito a ylha de samtiago
e se ao tempo que hy chegarem teuerem agoa em abastança pera quatro meses nam
devem pousar na dita ylha nem fazer nenhuuma demora soomente em quamto lhe o
tempo seruyr a popa fazerem seu caminho pelo sul e se ouuerem de guynar seja
sobre ha banda do sudueste. (À margem)—se tomarem ante a ilha de sam nicolao no
caso desta necesidade pela barra da ylha de sam tiago. —E tanto que nelles deer
o uento escasso deuem yr na volta do mar ate meterem o cabo de bõoa esperança
em leste franco e dy em diante nauegarem segundo lhe seruyr o tempo e mais
ganharem porque como forem na dyta parajeem nom lhe myngoara tenpo com ajuda de
noso senhor com que cobrem dito cabo. E per esta maneira lhe parece que a nauegaçam
sera mais breue e os nauyos mais seguros do bussano e jsso mesmo os mantymentos
se teem mjlhor e a jente yraa mais sãa.” (Intruções de Vasco da Gama para
Cabral, 1500, apud Dias)
“E huuma quynta feira que eram tres dias
d'agosto partimos em leste [das Ilhas de Cabo Verde], e hindo huum dia com sull quebrou a verga ao Capitam moor, e foy em
XVIII dias d' agosto, e seria isto CC legoas [1.200km] da Ilha de Santiaguo, e pairamos com o traquete e o papafigo dous dias
e huuma noute, e em XXII do dito mes hindo na volta do mar ao sull e a quarta
do sudueste, achamos muitas aves feitas como garçoeens, e quando veo a noute
tiravam contra o susoeste muito rrigas como aves que hiam pera terra, e neste
mesmo dia vimos huuma balea, e isto bem oytocentas legoas [5.000km] em mar.” (Roteiro da viagem de Vasco
da Gama, 1498)
“[...] tanto que se passar a linha bem amarado
do Cabo das Palmas não se engeite o ló tanto o que o vento der logar até cento
e vinte legoas do Cabo de S. Agostinho, e da altura dos Abrolhos, na costa do
Brazil, se vá bem a barlavento das ilhas da Trindade, e Martim Vaz, e d'ali
ir-se-ha seguindo derrota até altura de trinta graos sul, buscando o meridiano
das ilhas de Tristão da Cunha, e estando norte sul com ellas, se dará caminho á
nau conforme o vento, e se ha d'ir demandar por altura de trinta e cinco graos
e dois terços o Cabo das Agulhas.” (Manuel Pimentel, Arte de Navegar, sec.
XVII-XVIII)
Os navios de Cabral saíram no
final do inverno do Hemisfério Norte navegando em direção Sul com ventos
favoráveis em direção ao Equador. Ao aproximar-se deste, o vento diminui de
velocidade, surgindo as calmarias equatoriais. É um percurso de cerca de 280
léguas que levava normalmente cerca de 7 dias com uma velocidade média de 40
1éguas/dia. Como a viagem de Cabral começou no inverno, não soprava a monção de
Sul, de forma que a armada podia rumar nesta direção, com o vento favorável
entre Norte e Nordeste e só perto do Equador é que teria havido alguns dias com
ventos variáveis e calmos. Ao passar as calmarias equatoriais, Cabral não podia
navegar mais para o Sul ao longo da costa da África, pois os ventos e correntes
(Corrente Fria de Benguela) iam em direção
contrária, de Sudeste para Nordeste. O melhor era, então, rumar um pouco a Sudoeste,
por escassear o vento, seguindo os ventos e a Corrente
Equatorial Sul. Do Equador à costa do Brasil vão cerca de 420 léguas, que Cabral
percorreu em 13-14 dias (9 a 22 de abril) com velocidade média de 30-32
léguas/dia. A cerca de 50 léguas a Leste do Cabo Santo Agostinho, quando os
navios atingem os 10º de latitude Sul, o vento e as correntes (Corrente Brasileira), rodando de Sudeste para
oeste, permitem aos navios rumarem para sul. No entanto, Cabral foi, por algum motivo, muito mais
para o sudoeste do que devia, mesmo não sendo necessário, pois, ao
aproximarem-se dos 17º de latitude Sul, já normalmente o vento e as correntes
permitem aos navios o irem muito afastados da costa do Brasil, acabando topando
com a costa brasileira. Em seguida os navios aproveitam que a corrente muda em
direção a oeste para ir para o Cabo da Boa Esperança.
4ª) Quase todos os
autores, inclusive testemunhas oculares da viagem, como o autor da Relação
do Piloto Anônimo, dão como data
do descobrimento o dia 24 de abril de 1500. Praticamente só Caminha dá o dia 22
de abril. Apesar disto, considera-se mais confiável esta data dada por Caminha,
pois sua carta é a fonte mais extensa e detalhada da deste período, inclusive
com um relato diário do mesmo. Além disto, ele foi o único autor (com exceção
de Mestre João, que não relata a data do descobrimento) que escreveu logo no
momento do descobrimento, enquanto os outros escreveram bem depois do fato.
Observe que, em 1582, Portugal adotou o Calendário Gregoriano, em
substituição do Calendário Juliano, que retirou 10 dias do ano, o que fará o
descobrimento do Brasil cair em 03 de maio de 1500, se se fizer a contagem do
tempo decorrido do descobrimento, de hoje para trás.
5ª) Sabe-se com bastante precisão o ponto de
desembarque no Brasil, contrariamente às outras grandes descobertas da época,
graças às observações astronômicas feitas pelos físico e astrônomo Mestre João,
e relatadas na sua famosa carta ao rei de Portugal.
6ª) A 1ª missa
realizada no Brasil foi em 26 de abril de 1500, domingo de Pascoela, que é o
domingo seguinte à Páscoa, que teria sido domingo 19 de abril. Esta missa foi
realizada em um ilhote e não em terra-firme mesmo. A missa principal realizada
no Brasil, foi a missa da sexta-feira 1º de maio de 1500, esta já em
terra-firme. É importante lembrar que a missa nesta época, não era falada, mas
cantada em canto gregoriano em latim, coisa que certamente os frades
franciscanos teriam feito em coro e antífona, formando um espetáculo
deslumbrante para os índios.
7ª) O nome inicial do
Brasil era Ilha de Vera (verdadeira) Cruz, nome que foi dado por Cabral,
provavelmente, quando de sua descoberta a 22 de abril. Este nome foi usado por
muito pouco tempo, pois já em 1501, nas instruções a João da Nova, é transformado no de Ilha da
Cruz. D. Manuel, na carta que escreveu aos reis da Espanha, a 29 de julho de
1501, já dá o nome de Santa Cruz. Muitos autores erradamente atribuem este nome
a Cabral por este ter erguido a cruz no Brasil em 3 de maio, dia, no calendário
religioso, da Santa Cruz. Mas Cabral, como se vê em Caminha, que escreveu a 1º
de maio, nomeou o Brasil, antes disto de Ilha de Vera Cruz. Além disto, Cabral
partiu do Brasil a 2 de maio, portanto antes do dia de Santa Cruz (3 de maio). O
nome Terra de Santa Cruz ainda foi usado pelos escritores portugueses na maior parte do século XVI, seja sozinho, seja
associado ao de Brasil, mas no roteiro de Gonneville (1503-1505) o nome de Brasil, já é usado
pelos franceses e em 1511 (Roteiro da Nau Bretoa) pelos portugueses.
8ª) Quase todos os
autores dão Gaspar de Lemos como comandante da nave de suprimentos que retornou
a Portugal dando notícia do descobrimento. Ele teria retornado em 1501 com
Américo Vespúcio na 1ª Expedição Exploradora do Brasil. No entanto, Gaspar
Correia (1561) nomeia André Gonçalves como capitão da nave de suprimentos e
alguns historiadores como Capistrano de Abreu o seguem.
4) Descoberta Intencional ou Acidental?
Para finalizar, cabe aqui discutir a velha questão se
o descobrimento do Cabral foi acidental ou intencional. A questão é um pouco mais
difícil, pois existem nuances intermediárias. Há, na verdade, 3 grandes
possibilidades. A 1ª Possibilidade é que os navios saíram da rota programada,
contra a vontade de Cabral, e acabaram topando, completamente por acaso, com a
costa do Brasil. A 2ª Possibilidade é que os portugueses suspeitavam que
houvesse terras, ainda desconhecidas, naquela região e Cabral teria se desviado
um pouco do curso previsto para averiguar se estas realmente existiam ou não. A
3ª Possibilidade é que Portugal já sabia da existência de terras na altura do
Brasil e, por motivos políticos e/ou econômicos estivesse mantendo segredo
delas, mas que, por uma mudança da conjuntura, resolveu expor e reivindicar
estas terras para si, fazendo um “teatrinho” do descobrimento, para não ter que
admitir que escondia a existência da mesma.
a) 1ª Possibilidade: Os navios saíram da rota
programada, contra a vontade de Cabral
Na 1ª hipótese, os navios da expedição teriam sido arrastados, contra a vontade de Cabral,
para oeste pela ação insuperável de fatores
náuticos ou climáticos, como uma tempestade muito prolongada. Caminha nem nenhum escritor relata que os navios foram arrastados contra
a vontade para o sudoeste e também não relatam nenhuma tempestade neste período
(houve uma relatada no Cabo da Boa Esperança, depois de saírem do Brasil). Pero de Magalhães de
Gandavo refere na sua Historia da Provincia de Santa Cruz, que passadas
as Ilhas de Cabo Verde, foi o vento prospero até avistarem a costa do Brasil.
Além disto, as tempestades da costa do Brasil, nesta época do ano, sopram do Noroeste
e do Sudoeste, o que afastaria os navios de Cabral da costa do Brasil. E por
último, se uma tempestade ocorresse, a frota seria desbaratada e não chegaria
unida e completa ao Brasil. Portanto, esta hipótese pode ser descartada.
Outra hipótese é que
os navios da expedição teriam saído da rota, contra a
vontade de Cabral, por erros de navegação. Isto poderia acontecer por (1ª) Erro
cometido no rumo ou orientação;
ou (2ª) Erro na latitude ou na estimativa da distância percorrida. Um (1ª) Erro cometido no rumo ou
orientação deve ser
descartado, pois os portugueses conheciam bem o rumo para o Cabo da Boa
Esperança e, inclusive, nesta expedição ia Bartolomeu Dias que já tinha feito
esta viagem antes. Além disto, eles já usavam a bússola, que, mesmo
experimentando esta uma variação para o leste, de 5º a 10º, na região e na época
em questão (que já era conhecida e corrigida pelos portugueses), não podia esta
pequena diferença do rumo da agulha, mesmo não corrigida, causar um tão grande
desvio na rota da frota para oeste, que a levasse às costas brasileiras. Este
fato é corroborado pelo fato de a frota ter passado pelas Ilhas Canárias e Ilhas
de Cabo Verde, sem apresentar nenhum erro na rota, apesar de sofrerem o mesmo
desvio na bússola. Um (2ª) Erro
na latitude ou na estimativa da distância percorrida também deve ser descartado, porque, apesar do cálculo da latitude
na época ser mais sujeito a erros, se tivesse havido um erro na latitude
calculada pela observação do sol, ou na distância estimada pelos pilotos, este
teria se refletido nas observações feitas em terra por Mestre João e relatadas
em sua carta, fato que não se deu, pois ele calculou corretamente a localização
do ponto de chegada no Brasil e não achou diferenças nos cálculos que fez a
bordo durante a viagem com os cálculos em terra. Por fim, os portugueses eram
os melhores navegadores do mundo nesta época e não seria crível que fizessem um
erro tão crasso. Portanto, os portugueses não foram jogados contra a vontade no
Brasil, por motivos náuticos ou climáticos e nem por erros de cálculo da rota;
disto, pode-se concluir que o descobrimento do Brasil não foi puramente
acidental.
b) 2ª Possibilidade: os portugueses suspeitavam que
houvesse terras, ainda desconhecidas, naquela região e Cabral teria se desviado
um pouco do curso previsto para averiguar se elas realmente existiam.
Os portugueses podiam suspeitar da existência de terras
na localização do Brasil por (1) Indícios
físicos da existência de terras para o oeste; ou (2) Motivos teóricos. Existiam vários (1) Indícios físicos da existência de terras para o oeste: ocasionalmente
apareciam nas Ilhas dos Açores, Madeira e na Guiné vestígios, que apontavam
para a existência de ilhas ou terras a Ocidente e que eram trazidos pelo mar,
desde a direção oeste, além oceano. Estes vestígios eram madeiras, às vezes lavradas
e grossas canas; também há relatos de corpos de pessoas com fisionomia oriental,
em Galway (Irlanda), e nas Ilhas dos Açores. Nas Ilhas
da Graciosa e do Faial (Açores), quando sopravam ventos de oeste e de noroeste,
o mar trazia pinhas. Os vestígios vindos do Ocidente surgiam porque as
correntes marítimas se dirigiam, nestas latitudes, de oeste para Leste. Portanto,
se vinham vestígios de material terrestre e humano desde a direção oeste, é de
se esperar que houvesse terras nesta direção. Havia, também, vários (2) Motivos teóricos para se acreditar que
houvesse terras a oeste. Sabia-se que a terra é redonda e, desta forma, se se
navegasse para o este, conforme Colombo fez, obrigatoriamente achar-se-ia
terra, seja as Índias ou alguma terra desconhecida entre esta e Portugal; há de
se acrescentar, que, naquela época, achava-se que a Terra era bem menor do que
é na realidade, e que, por isso, tinha um diâmetro bem menor, como supunha
Colombo, não sendo necessário desviar muito mais para o oeste para se achar
terras. O célebre cartógrafo Paolo dal Pozzo Toscanelli, em 1474, colocava a
distância de Portugal para a China em cerca de 6.500km apenas, o que influenciou
Colombo a tentar a chegar às índias indo pelo ocidente. Além disto, desde que
Colombo descobriu a América sabia-se que havia terras mais ao norte que o rumo
da viagem, e desde a 3ª viagem do mesmo sabia-se que havia um continente
(América do Sul) ao sul das explorações espanholas no Caribe, o qual poderia (ou
não) se estender bem para o sul, e que caso, realmente se estendesse nesta
direção, poderia ser descoberto pouco a oeste da rota programada por Cabral.
Por último, é importante acrescentar, que mesmo que não houvesse terras naquela
direção, se se descobrisse uma rota para as Índias pelo Oeste (lembre-se que a
terra era redonda e supostamente bem menor do que realmente era), seria um
ótimo feito, como acabou sendo para a Espanha, após a viagem de Fernão de
Magalhães. Pode-se concluir, que havia indícios físicos de terras a oeste e
motivos teóricos para se esperar que estas existissem, portanto existe uma boa
probabilidade que Cabral tivesse se desviado um pouco da rota, de propósito,
para averiguar se estas terras realmente existiam, ou se não existissem, se
seria possível chegar às Índias pelo ocidente.
“Disse, pois, Cristóbal Colon entre outras
coisas que pôs em seus livros por escrito, que falando com homens do mar,
pessoas diversas que navegavam os mares de Ocidente, principalmente as ilhas
dos Azores e da Madera, entre outras, disse-lhe um piloto do rei de Portugal,
que se chamava Martin Vicente, que achando-se uma vez 450 léguas [2.500km] ao Poente do Cabo de San
Vicente, viu e colheu no navio, no mar, um pedaço de madeira lavrada por
artífice, e, ao que julgava, não com ferro; do qual e por haver muitos dias
ventado ventos Poentes, imaginava que aquele pau vinha de alguma ilha ou ilhas
que para o Poente houvesse. Também outro que se nomeou Pero Correa , concunhado
do mesmo Cristóbal Colon , casado com a irmã de sua mulher, certificou-lhe que
na ilha do Puerto Sancto havia visto outro madeiro vindo com os mesmos ventos e
lavrado da mesma forma, e que também havia visto canas muito grossas, que em
uma cana delas pudiam caber três azumbres [6
litros] de água ou de vinho ; e isto mesmo disse Cristóbal Colon que
ouviu afirmar ao Rei de Portugal, falando com ele nestas matérias , e que o Rei
se as mandou mostrar. O qual teve por certo (digo o Cristóbal Colon) serem as
ditas canas de algumas ilhas ou ilha que não estava muito longe, ou trazidas da
Índia com o ímpeto do vento e do mar, pois em todas nossas partes da Europa não
as havia, ou não se sabia que as houvesse semelhantes. [...] Então, por alguns
dos moradores das ilhas dos Azores, era certificado Cristóbal Colon , que
ventando ventos fortes Poentes e Noroestes, trazia o mar alguns pinheiros e
lançava-os naquelas ilhas, na costa, em especial na ilha Graciosa e na do
Fayal, não havendo por parte alguma daquelas ilhas onde se achasse pinheiros.
Outros disseram-lhe que na ilha das Flores, que é uma dos Azores, havia lançado
o mar dois corpos de homens mortos , que pareciam ter as faces muito largas e
de outro gesto que têm os cristãos; outra vez, diz, que no Cabo de la Verga,
que é em , e por aquela comarca, viram-se almadias ou canoas com
casa movediça, as quais, por ventura, passando de uma ilha a outra, ou de um
lugar a outro, a força dos ventos e mar lançou-as onde, não podendo retornar os
que as traziam, pereceram, e elas, como nunca jamais se afundam, vieram a parar
por tempo aos Azores. Assim mesmo um Antonio Leme, casado na Ilha da Madera ,
certificou-lhe, que havendo uma vez corrido com uma sua caravela bom trecho ao
Poente, havia visto três ilhas próximo de onde andava, que fosse verdade ou
não, ao menos diz que muito se soava pelo vulgo comum, principalmente nas ilhas
da Gomera e do Hierro, e dos Azores muitos afirmavam-no e juravam-no, ver cada
ano algumas ilhas para a parte do Poente. [...] Mas diss Cristóbal Colon, que no
nño de 1484 viu em Portugal que um morador da ilha da Madera foi pedir ao Rei
uma caravela para ir descobrir certa terra, que jurava que via cada ano e
sempre de una maneira, concordando com os das ilhas dos Azores. Daqui sucedeu,
que, nas cartas de marear que nos tempos passados faziam-se, pintavam-se
algunas ilhas por aqueles mares e comarcas, especialmente a ilha que diziam de
Antilla, e punham-na pouco mais de 200 léguas [1.115km] ao Poente das ilhas
de Canarias e dos Azores. [...] e diz-se que
no tempo do Infante D. Enrique de Portugal, com tormenta, correu um navio que
havia saído do porto de Portugal e não parou até dar nela, e, saltando em terra,
os da ilha levaram-nos à igreja para ver se eram cristãos [Groelandeses] e faziam as
cerimônias romanas, e visto que o eram, rogaram-lhes que estivessem ali até que
viesse seu senhor que estava dali afastado; porém os marinheiros, temendo não
lhes queimassem o navio e os detivessem ali, suspeitando que não queriam ser
conhecidos por ninguém, retornaram a Portugal muito alegres esperando receber
mercedes do Infante ; aos quais diz que maltratou e mandou que retornassem,
porém o mestre e elos não o ousaram fazer, por cuja causa, do reino saídos,
nunca mais a ele retornaram: dizem mais, que os grumetes colheram certa terra
ou areia para seu fogão, e que acharam que muita parte dela era ouro. Alguns
saíram de Portugal a buscar esta mesma, que, por comum vocábulo, chamavam-na
Antilla, entre os quais saiu um que se dizia Diego Detiene [Diego de Teive], cujo piloto, que
se chamou Pedro de Velasco, morador de Palos, afirmou ao mesmo Cristóbal Colon,
no monastério de Sáncta María de la Rábida, que haviam partido da ilha do
Fayal, e andaram 150 léguas [850km] pelo vento lebechio,
que é o vento Noroeste , e na volta descobriram a ilha das Flores [Ilha do Arquipélago de Açores, em
1452], guiando-se por
muitas aves que viam voar para lá , porque conheceram que eram aves de terra e
não do mar, e assim julgaram que deviam de ir dormir em alguma terra. Depois
diz que foram pelo Nordeste tanto caminho, que se lhes ficava o Cabo de Clara [Cape Clear], que está em
Ibernia [Irlanda], para o Leste ,
onde acharam ventar muito forte os ventos Poentes e o mar era muito plano, pelo
qual criam que devia de ser por causa de terra que por ali devia de haver, que
os abrigava da parte do Ocidente ; o qual não prosseguiram indo para
descobri-la, porque era já por Agosto e temeram o inverno. Isto diz que foi
quarenta anos antes que Cristóbal Colon descobrisse nossas Índias. Concorda com
isto o que um marinheiro caolho disse ao dito Cristóbal Colon, estando no porto
de Sancta María, que, em uma viagem que havia feito a Irlanda, viu aquela terra
que os outros haver por ali criam, e imaginavam que era Tartaria, que dava
volta pelo Ocidente ; a qual creio eu certo que era a que agora chamamos a dos
Bacallaos, à qual não puderam chegar pelos terríveis ventos. Então , um
marinheiro que se chamou Pedro de Velasco, gallego, disse ao Cristóbal Colon em
Murcia, que, indo aquele em viagem de Irlanda, foram navegando e metendo-se
tanto ao Noroeste, que viram terra para o Poente de Ibernia [Irlanda], e esta acreditaram
os que ali iam que devia de ser a que quis descobrir um Hernán Dolinos, como
logo se dirá. Um piloto português, chamado Vicente Díaz, morador de Tavira,
vindo de Guinea para a ilha Tercera, dos Azores, havendo passado o lugar da
ilha da Madera e deixando o Levante, viu ou lhe pareceu ver uma ilha que teve
por muito certo que era verdadeira terra; o qual, chegando à dita ilha Tercera,
descobriu o segredo a um mercador muito rico, genovês, amigo seu, que tinha por
nome Lúcas de Cazana, ao qual persuadiu muito que armasse para o descobrimento
dela, tanto que o houve de fazer; o qual, depois de tida licença do Rei de
Portugal para fazê-lo, enviou recado para que um seu irmão, Francisco de
Cazana, que residia em Sevilha, provisse de armas uma nau cmn presteza e a
entregasse ao dito piloto Vicente Diaz, porém o dito Francisco de Cazana burlou
da empresa e não quis fazê-lo; retornou o piloto à Tercera e armou logo o dito
Lucas de Cazana, e saiu o piloto três e quatro vezes buscar a dita terra até
cento e tantas léguas, e nunca pôde achar nada, por maneira que o piloto e seu
armador perderam esperança de jamais achá-la.” (Las Casas, 1561, Livro I, Cap. XIII)
“[...]
o infante D. Fernando, meu muito prezado
e amado irmão nos disse que Gonçalo Fernandes, morador em Tavira, ao vir das
pescarias, do rio do Ouro, estando no pego [mar alto] a oesnoroeste das ilhas Canárias e da ilha da Madeira, houve vista de
uma ilha e que por o tempo lhe ser contrario não se poude chegar a ella, a qual
o dito meu irmão já mandou buscar por certos signaes que lhe deram d'ella, mas
não lh'a acharam e que porquanto elle queria outra vez mandar buscal-a, nos
pedia por mercê que lh'a déssemos, e outorgamos-lhe a dita ilha que achada é,
ou em algum tempo se achar por seus navios ou por outros quaesquer na dita
paragem.” (Carta Régia de 29 de outubro de 1462, apud Fonseca, 1908, pg. 68)
c) 3ª Possibilidade: Portugal já sabia, em segredo, da
existência do Brasil e resolveu revelá-la.
Segundo esta teoria, Portugal já sabia da existência
de terras na altura do Brasil e, por motivos políticos e/ou econômicos estava
mantendo segredo, mas que, por uma mudança da conjuntura, resolveu expor e
reivindicar estas terras para si, fazendo um “teatrinho” do descobrimento, para
não ter que admitir que escondia a existência desta terra. Há quem postule, que
Portugal já tinha descoberto o Brasil, mas que, até então não tinha revelado
sua existência ao mundo, para poder se dedicar ao comércio com as Índias e a
criação do seu Ímpério no Oriente, por falta de maiores recursos, sem ter que
se preocupar com defender o Brasil das outras potências marítimas européias que
desconheciam sua existência. No entanto, por algum motivo, Portugal resolveu
revelar a existência do Brasil, talvez medo que outra nação o “descobrisse”
antes e reivindicasse sua posse; deve-se lembrar que a Espanha estava, nesta
época, explorando o litoral norte da América do Sul, com Colombo, Hojeda e
Vespucci, Pinzón e Lepe, etc. Para não ter que revelar que já sabia do Brasil,
teria feito um falso descobrimento para revelar ao mundo sua existência. A
favor desta teoria, existe o contido na Carta de Mestre João sobre a
localização do Brasil em um mapa antes de sua descoberta:
“[...] quanto Senhor ao sítio desta terra, mande vossa alteza trazer
um mapa-mundo que tem Pero Vaz Bisagudo, e por aí poderá ver vossa alteza o sítio
desta terra, porém, aquele mapa-mundo não certifica esta terra ser habitada, o
não: é um mapa-mundo antiguo [...]” (Mestre João, 1500)
Pero Vaz da Cunha alcunhado Bisagudo era um navegador português que em
1488 fortificou a foz do Rio Senegal. Seu mapa-mundom, provavelmente, continha
as terras míticas já presentes em mapas medievais anteriores. Outro argumento a
favor é que em alguns outros mapas da época, via-se a localização do Brasil. Contra
esta teoria está que muitos destes mapas eram fantasiosas, com a localização de
terras míticas, como a Ilha das 7 Cidades, Ilha das Antílias e Ilha do Brasil
(inclusive das 3 no mesmo mapa), que muitas vezes se localizavam no meio do
Atlântico, longe de qualquer terra real existente. Outro argumento contrário é
que Mestre João não sabia se esta terra descrita no mapa de Bisagudo era
habitada ou não, não devendo haver dúvida deste fato, se o Brasil já tivesse
sido descoberto antes, pois todo o litoral era povoado. Outro argumento a favor
é a existência de várias supostas descobertas prévias do Brasil por navegadores
portugueses, como Duarte Pacheco Pereira (ver Descobrimento do Brasil – Parte
I, neste blog), mas contra vai que nenhuma destas foi provado. Também, a favor,
há a insistência de Portugal, no Tratado
de Tordesilhas, em 1494, de extender a linha divisória em 370 léguas das
Ilhas de Cabo Verde, em vez das 100 léguas da Bula Intercoetera. Outro argumento contra é que nunca se descobriu
algum documento que realmente provasse a descoberta prévia do Brasil, além de
que os testemunhos dos participantes da expedição mostraram todos surpresa ao
se descobrir o Brasil. Por último, há de se acrescentar que, se Portugal já
conhecia a existência do Brasil, porque Cabral teve pressa de mandar logo de
volta do Brasil um navio (o navio de mantimentos de Gaspar de Lemos) ao rei de
Portugal informando da descoberta de terras que este rei já saberia existirem,
em vez de só relatar oficialmente quando retornasse da Índia. E se Portugal já
sabia do Brasil, porque Cabral não levava os famosos marcos de pedra que se
usavam para tomar posse de terras, tendo, em vez disso, erguido uma cruz de
madeira. E porque, também, o rei de Portugal mandou imediatamente, no ano
seguinte, uma expedição (Gaspar de Lemos e Amérigo Vespucci) para explorar uma
coisa que já era conhecida e que já teria sido, certamente, explorada.
Portanto, é possível que Cabral tivesse
se desviado da rota, de propósito, para tomar posse oficialmente do Brasil, que
já seria conhecido antes, mas cujo conhecimento era guardado em segredo, no
entanto não há nenhuma prova disto e, se existem alguns indícios a favor,
existem mais contra.
5) Bibliografia
O Descobrimento do
Brasil é relatado em vários autores durante estes mais de 500 anos desde o dia
que Cabral chegou ao Brasil. Sobre o Descobrimento do Brasil há basicamente 4 tipos
de fontes: (1ª) Documentos Oficiais sobre a organização da armada; (2ª)
Testemunhas oculares que participaram da viagem; (3ª) Autores contemporâneos
que colheram informações diretamente dos participantes da viagem; (4ª) Historiadores
posteriores que consultaram autores anteriores, inclusive textos escritos por
participantes da viagem, alguns dos quais já não mais existentes.
(1ª) Os principais
Documentos Oficiais sobre a organização da armada são: (a) Carta da capitania-mór a Pedro Alvares de Gouveia (Cabral), datada
de 15 de fevereiro de 1500 (b) os dois Apontamentos
fragmentários de Instruções para a Viagem. Estes documentos falam sobre a
preparação, rota e/ou missão da expedição. No entanto, nenhum deles cita os nomes
dos navios e nem os dos seus comandantes.
(2ª) As principais
Testemunhas oculares que participaram da viagem são: (a) Carta de mestre João (João Emeneslau), datada de 28 de abril (ou 1
de maio) de 1500, que é bastante
curta e dá poucas informações. Sua importância reside nas observações
astronômicas por ele feitas, permitindo localizar precisamente o lugar em que
Cabral chegou; há também a inesperada menção (ver acima) ao mapa de Pedro Vaz
Bisagudo. (b) Carta de Pero Vaz de
Caminha escrita em 01 de maio de 1500, na véspera da partida de Cabral do
Brasil, dá um relato completo da viagem, da saída de Lisboa até o dia em que
foi escrita. É nossa melhor fonte ocular da descoberta. Ela faz um relato
diário e detalhado da estância no Brasil e é ela que fixou o dia 22 de abril para
o descobrimento. No entanto, não relata a partida do Brasil a 2 de maio, nem os
fatos posteriores da viagem. Além disto, não dá detalhes náuticos, nem cita o
nome dos navios ou seus comandantes. Estas 2 cartas foram escritas do Brasil e
foram remetidas de volta com o navio que trouxe a notícia do descobrimento para
o rei de Portugal. (c) Relação do Piloto Anônimo. É bem mais sumária que
a Carta de Caminha, mas relata toda a viagem de Cabral desde sua partida até
seu retorno a Portugal. Neste grupo incluir-se-iam, também, uma série de
documentos já perdidos, como as cartas que Cabral e Aires Correa escreveram ao
Rei de Portugal e a o Diário de bordo da nau capitânia.
(3ª) Autores
contemporâneos que colheram informações diretamente dos participantes da
viagem: (a) Carta de Bartolomeu Marchioni
(Códice Voglienti V. Uzielli), armador duma das naus da expedição; (b) Carta de La Faitada, datada de 26 de
junho de 1501, escrita por um italiano residente em Lisboa e contém referências
à viagem; (c) Carta de Pisani, datada
de 27 de julho de 1501, escrita por outro italiano residente em Lisboa e,
também, contém referências à viagem; (d) Carta
de D. Manuel aos reis de Castela, data de 28 de agosto de 1501, poucos dias
depois da chegada de Cabral a Portugal; (e) Carta
de D. Manuel aos reis de Castela, data de março de 1505. Existe, também, uma
carta de Américo Vespúcio: a Lettera a
Lorenzo Pietro Francesco di Medici (Lettera
Baldelli) (Carta II – Bd) datada de 4 de junho de 1501, em Cabo Verde, isto
é, no começo da sua dita 3ª viagem (1ª a serviço de Portugal, 501-15012); foi descoberta
na Biblioteca Riccardiana de
Florença, no meio de papeis de Pier Voglienti, e editada pela 1ª vez em
italiano por Baldelli em 1827. Não traz nada de novo, apesar de não contradizer
nem o pensamento de Vespucci nem os dados de sua biografia, e é em geral tido
como apócrifa.
(4ª) Historiadores
posteriores e Mapas do Século XVI: destacam-se os cronistas portugueses do
século XVI: (a) Castanheda, História do Descobrimento e Conquista da Índia
pelos Portuguezes (1551), é o primeiro, o mais exato e possui pormenores
que nunca mais se tornam a encontrar nas outras crônicas e sua narrativa
aproxima-se em especial da Relação do Piloto anônimo, e é de uma fidelidade
escrupulosa; (b) João de Barros, Década primeira
da Ásia (1552), nas suas linhas gerais, acompanha o que se averigua
pelas fontes, mas omite ou desvirtua alguns dos pormenores, ainda que forneça
muitos dados novos, além de ser o que melhor nos dá a visão íntima dos fatos; (c)
Corrêa, Lendas da Índia (1561) é bastante inexato com muitos erros de nomes e
datas; (d) Damião de Gois, Chronica do Felicissimo Rei Dom Emanuel (1566); (e) Osório, Da vida e feitos d’El Rei D. Manoel (1571), é o mais sucinto e mais sóbrio e também
segue a Relação do Piloto anónimo; (f) Livro
das Armadas, traz uma relação das armadas que saíram do reino até 1566, com
desenhos e notas manuscritas, mas, em relação à armada de Cabral, não passa
duma cópia mal feita do que dizem as crônicas; (g) Gandavo, Historia da Provincia de
Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576) dá poucas informações sobre este tema; (h)
Souza, Tratado descriptivo do Brasil em
1587, também não acrescenta nada de importante; (i) Las Casas, Historia
de las Indias (1552) é um autor
espanhol e dá poucas informações sobre este tema; (n) Mapa de Cantino contém uma inscrição
acerca da viagem de Cabral e uma carta de El-Rei de Cochim a D. Manuel, na qual
se fazem igualmente referências a esta expedição.
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quilli christiani che de poi la occisione in Calichut al Regno de Cuchi ascese
nostre carauelle per Portogallo & Roma. in MONTALBODDO, Fracanzano da. Paesi
nouamente retrouati per la Nauigatione di Spagna in Calicut et da Albertutio
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Detalhe das correntes do Atlântico |
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