DESCOBRIMENTO
DO BRASIL – Parte I
1 – Introdução:
Quando se fala do descobrimento do Brasil vem
sempre à mente a célebre questão de se o descobrimento do Brasil por Pedro
Álvares Cabral foi por acaso ou se foi premeditado. No entanto, deve-se por
esta descoberta em uma perspectiva mais ampla do descobrimento da América e
particularmente da América do Sul. É fato que Cristóvão Colombo descobriu a
América do Sul na sua 3ª viagem, ao avistar a Ilha de Trinidad em 31 de julho
de 1498 e em 01 de agosto avistou o continente propriamente dito, em frente ao
estreito que separa esta ilha da costa da Venezuela, que, no entanto, ele
considerou ser uma ilha (Isla Sancta). A partir de então, os Espanhóis
começaram a explorar o litoral norte da América do Sul, incluindo o litoral da
Venezuela, Colômbia e Guianas (Guiana, Suriname e Guiana Francesa), talvez
chegando até o Brasil, visto que por esta região não havia limites naturais
entre o Brasil e o resto do litoral norte da América do Sul. Por outro lado,
Pedro Álvares Cabral aportou no Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, há
várias pretensões de descobrimento do Brasil nos 15 anos anteriores à chegada
de Cabral ao Brasil.
2 – Período anterior a Pedro Álvares Cabral
(1500)
a) Jean Cousin (1488)
Jean
Cousin era um navegador francês de Dieppe, que se tornou um dos principais
comerciantes da dita cidade. Segundo Desmarquets (1785), os comerciantes de
Dieppe montaram uma expedição comercial e deram o comando a Cousin. Este teria
embarcado no porto de Dieppe em 1488, para ir comerciar na África
Ocidental. Segundo Gaffarel, ele teria como companheiros dois dos irmãos
Pinzón, Martín Alonso Pinzón e Vicente Yañez Pinzón, os mesmos que
participaram, como capitães de 2 (Pinta
e Niña) dos 3 navios, da esquadra de Colombo, que descobriu a América em 1492.
“[...] não hesitaram
eles, embora ele fosse jovem, de lhe dar o comando de um de seus maiores
navios, com ordem de navegar progressivamente pelas costas da África devendo
seguir para aquelas de Adra e de Congo, para as quais sua carga estava
destinada. Cousin [...] não podia ouvir os discursos e as lições do
sábio Descaliers, sem desejar estar entre o número daqueles que honravam sua
pátria. [...] Cousin partiu do porto de Dieppe no começo do ano de
1488.” (Desmarquets, 1785)
“Alguns grandes mercadores desta cidade [Dieppe] se
associaram e propuseram a Jean Cousin de partir para uma viagem de exploração. [...] Embora ele devesse avançar para o
sul do Equador, [...] ele aceita as ofertas dos
mercadores de Dieppe, e pôs-se a velejar em 1488.” (Gaffarel,
1878, pg. 2-3)
Cousin, para fugir das
tempestades e bancos de areia e recifes próximos à costa ocidental da África,
teria navegado para o sudoeste e, perto das Ilhas dos Açores, uma corrente
marítima o teria arrastado até o Brasil, onde teria descoberto o Rio Amazonas.
“Desde
que ele saiu de la Manche, ele lança-se no Oceano, e acha-se bloqueado ao fim
de dois meses por uma terra desconhecida, onde ele assinala a foz de um grande
rio, que ele nomeia Maragnon, e que depois se nomeou rio das Amazonas. Cousin,
baseado na latitude tomada desta terra, compreendeu que deveria, para ganhar a
parte superior da costa de Adra, fazer rota para o polo do meio-dia, correndo
sobre o leste; por este meio, ele foi o primeiro a descobrir a ponta da África;
ele dá o nome de Aiguilles [agulha ou ponta] a um banco que ele aí observa. Este jovem capitão
tendo tomado nota dos lugares e de suas posições, retorna às costas do Congo e
de Adra, onde ele trocou suas mercadorias, e chegou a Dieppe correndo o ano de
1489. Os armadores desta cidade combinaram, por seu interesse, de guardar
segredo das descobertas que fizeram seus navios; eles esconderam aquela que
Cousin acabava de fazer do fim da África; [...] Cousin quando de seu
relatório se queixou das inquietudes e das penas que seu segundo capitão,
nomeado Pinçon, lhe deu durante sua viagem. Este homem duro e invejoso de
caráter era, na verdade, um marinheiro mais antigo que Cousin; mas ele
ignorava, assim como aqueles de seu tempo, a hidrografia, ciência que Descaliers
acabava de criar, e que Cousin punha em prática. Vincent Pinçon não podia ver a
ciência deste último, sem inveja, [...].” (Desmarquets, 1785)
“A
fim de evitar as tempestades, sempre frequentes nestas paragens, e para não
chocar contra os recifes e bancos de areia, tão numerosos nas costas ocidentais
da África, desde o Estreito de Gibraltar até o cabo de Palmas, Cousin
aproveitou os ventos ao largo, e se lançou em pleno oceano. Chegando à altura
dos Açores foi arrastado para o oeste por uma corrente marítima e aportou em
uma terra desconhecida, junto à embocadura de um rio imenso. Ele tomou posse
deste continente, mas, como ele não tinha nem equipagem bastante numerosa, nem
recursos materiais suficientes para fundar um estabelecimento, ele reembarcou.
Em vez de retornar diretamente a Dieppe para aí prestar contas de sua descoberta,
ele navega na direção do Sudeste, ou seja, da África austral, descobre o cabo
que desde então guardou o nome de cap des Aiguilles, toma nota dos lugares e de
suas posições, sobe novamente para o norte, ao longo do Congo e da Guiné, onde ele
troca suas mercadorias, e retorna a Dieppe em 1489.” (Gaffarel, 1878, pg.
3)
Não há dúvidas da
existência real de Jean Cousin, mas, apesar de não se poder provar que esta
viagem nunca ocorreu, não há base histórica suficiente para se dar crédito no
descobrimento do Brasil por este navegador. Na verdade, parece ter havido
vários Jean Cousin ou Cossin, sendo que um deles estava vivo cerca de 1570, bem
posteriormente ao descobrimento do Brasil. (1) A única base para afirmação que
Jean Cousin descobriu o Brasil é o livro de Desmarquets, um autor notoriamente
não confiável, que escreveu em 1785, quase 300 anos depois do fato narrado, não
havendo antes desta data nenhum registro conhecido desta viagem. (2)
Desmarquets afirma ter usado como sua fonte, o relato desta viagem presente nos
arquivos do Almirantado e da Prefeitura da Cidade de Dieppe, que ninguém nunca
viu nem antes nem depois dele, e que teriam se perdido no incêndio de 1694 (mas
o livro foi escrito em 1785!!!). (3) Há uma série de inconsistências no relato
desta viagem no livro de Desmarquets. (4) O relato da viagem parece uma cópia
da viagem de Cabral. (5) Desmarquets coloca Cousin, como discípulo do célebre
cartógrafo francês Descaliers, que, no entanto, estava vivo cerca de 50 anos
após esta suposta viagem, criando uma notável inconsistência cronológica em
relação a estes fatos; possivelmente houve um Cousin posterior ao citado piloto
que poderia ter sido realmente discípulo de Descalier. (6) Não há outras provas
fidedignas da participação dos irmãos Pinzón nesta viagem. Portanto, do ponto
de vista histórico, esta pretensão deve-se considerar, no mínimo, como muito
fraca.
Bibliografia
-
DESMARQUETS, Mémoires chronologiques pour servir l’histoire de Dieppe et
celle des navigations françaises. Paris:
Éditions Desauge, 1785.
- GAFFAREL, Paul. Histoire du Brésil
Français ao seizième siècle. Paris: Maisonneuve et Cle., 1878.
Pg. 1-18.
- GAFFAREL, Paul. Les descouvreurs françaises du XIV au XVI
siecle: côtes de Guinée, du Brésil et de l’Amérique du Nord. Paris:
Challamel et Compagnie, 1888. Pg. 39-63.
- CORTAMBERT, Richard. Nouvelle Histoire des Viages et des Grands Découvertes Géographiques
dans tous les Temps et dans Tous les Pays. L’Amerique – Le Pole Nord.
Paris. Libraire Illustré. Sem data (entre 1865 e 1884). Pg. 233-234.
- CAPISTRANO DE ABREU, João. Descobrimento
do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI. Rio de Janeiro: Typographia
de G. Leuzinger e filhos, 1883. Pg. 1-15.
- ACADEMIA REAL DE SCIÊNCIAS. Centenário do descobrimento da América.
Memórias da Comissão Porugueza da Exposição Colombina de Madrid, 1892.
Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1892. Pg. 54-55.
- LIMA-BARBOSA, Mário. Les Français dans
l’histoire du Brésil. Rio de Janeiro: F.
Briguiete et cia ed. 1923. Pg. 4-5.
- HOLANDA, Sérgio Buarque de et al. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo
I. Volume 1. A Época Colonial. Do
descobrimento à Expansão Colonial. 20ª ed. Rio de Janeiro: Betrand Russel,
2015. Pg. 54.
https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean_Cousin_(navigateur)
b) Duarte Pacheco Pereira (1498)
Duarte Pacheco Pereira
(1460-1533) foi um nobre, militar, navegador e cartógrafo português e herói das
lutas na Índia. Ele relata em seu livro Esmeraldo de situ orbis (1505)
que, em 1498, o rei de Portugal D.
Manuel I encarregou-o de uma
expedição para o Ocidente, possivelmente organizada com o objetivo de
reconhecer as regiões que foram concedidas a Portugal pelo Tratado de
Tordesilhas (1494). A expedição teria partido do Arquipélago de Cabo Verde e navegado em direção a
oeste, tendo descoberto uma terra desconhecida, que seria muito extensa e teria
muitas e grandes ilhas, estendendo-se de 70º de latitude norte (Groelândia) a 28,5º de latitude sul
(Sul de Santa Catarina) e para oeste
até 45º (Ubatuba, SP, ou costa oeste do Maranhão)
“Bemauenturado Príncipe, temos sabido e
visto como no terceiro anno de vosso Reinado do hanno de
nosso senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa alteza mandou
descobrir a parte oucidental, passando alem ha grandeza do mar oceano, onde he
hachada e navegada hūa tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas
ajacentes a ella, que se estende a setente graaos de ladeza da linha equinocial
contra ho pollo artico e posto que seja asaz fóra, he grandemente pouorada, e
do mesmo circulo equinocial torna outra vez e vay alem em vinte e oito graaos e
meo de ladeza contra ho pollo antártico, e tanto se dilata sua grandeza e corre
com muita longura, que de hūa parte nem da outra nam foy visio nem sabido ho
fim e cabo della ; pello qual segundo ha hordem que leua, he certo que vay em
cercoyto por toda a Redondeza; asim que temos sabido que das prayas e costa do
mar d’estes Reynos de Portugal e do promontorio de Finis-Terra [Promontório da Espanha, 9,13º W] e de
qualquer outro lugar da Europa e d’Africa e d’Asia hatravesando alem toda ho
oceano direitamente ha oucidente, ou ha loest segundo hordem de marinharia, por
trinta e seis graaos de longura, que seram seiscentas e quarenta e oyto leguas [4.000
km] de caminho, contando ha dezoyto leguas por graao e ha luguares algum
tanto mais lonje, he hachada esta terra naueguada pellos nauios de vossa alteza
e, por vosso mandado e licença, os dos vossos vassalos e naturaes, [...]”
(Pereira, Esmeraldo, 1505).
Segundo alguns autores
ele teria chegado a algum ponto da costa do Brasil entre o Maranhão e o Pará,
entre os meses de novembro e dezembro de 1498. Dali, ele teria acompanhado a
costa Norte, alcançando a foz do rio
Amazonas e a ilha de Marajó. Pereira teria achado
pau-brasil a 28,5º Sul (Garopaba, SC).
“[...] e hindo por esta costa sobredita, do
mesma circolo equinocial em diante, per vinte e oyto graaos de ladeza contra o
pollo antartico he hachado nella munto e fino brasil com outras muitas cousas
de que os nauios nestes Reynos vem grandemente carregados; [...].” (Pereira, Esmeraldo, 1505).
Assim como com Jean
Cousin, não há dúvidas da existência real de Duarte Pacheco Pereira, mas,
apesar de não se poder provar que esta viagem nunca ocorreu, não há base histórica
suficiente para se dar crédito no descobrimento do Brasil por este navegador.
(1) A única prova desta sua suposta viagem é seu relato no seu livro publicado
em 1505, depois do descobrimento de Cabral em 1500. Além disto, o texto é
ambíguo. Duarte Pacheco Pereira diz textualmente que o rei de Portugal “mandou
descobrir”, mas não que ele chegou
realmente a executar esta ordem e que esta expedição chegou a se
realizar e ele foi descobrir. Para
aumentar ainda mais a dúvida, ele vinha inicialmente falando das suas ações na 1ª
pessoal do plural da voz ativa e
depois fala que foi “hachada e navegada hūa tam grande terra firme”, na 3ª pessoal do singular (voz
passiva), não ficando claro, portanto, se esta terra foi achada por ele, ou
posteriormente por outro descobridor. (2) É difícil de acreditar nas latitudes
e longitudes que ele diz ter explorado: ele teria explorado desde os 70º de
latitude Norte (próximo da baía de Disko, Groelândia); até os 28,5º de latitude
Sul (próximo de Tubarão, SC); e até os 36º de longitude a oeste do Cabo
Finisterra (9.17º W), que seria próximo a Ubatuba (SP) e a oeste de São Luís
(MA); nenhum navio daquela época tinha condições de fazer tão extensa
exploração. Isto sugere que ele falava não de suas explorações, mas de tudo que
já fora explorado por vários exploradores e era conhecido em 1505. (3) Ele não
teria como explorar a costa em toda esta extensão, pois entre a América do Sul
e do Norte há o Mar do Caribe. (4) É duvidoso que se conseguisse manter em
segredo por tanto tempo este descobrimento. Em seu favor, no entanto, há o fato
de que Pereira é conhecido como um homem honesto, honrado e modesto que não
mentia. Portanto, do ponto de vista histórico, esta pretensão deve-se
considerar como, no mínimo, muito fraca.
Bibliografia
- PEREIRA, Duarte Pacheco. Esmeraldo
de situ orbis. Edição Epifânio da Silva. Pg. 23-24. (Original de 1505)
- FONSECA, Faustino da. A descoberta do Brasil. 2ª ed. Porto:
Typ. de A. J. da Silva Teixeira, Sucessora, 1908. Pg. 55-56, 313-315.
-
DIAS, Carlos Malheiro. História da
Colonização Portuguesa do Brasil. Porto: Litografia Nacional, 1921. Pg.
XXIV, XXVIII, XXXII, XLVII, XLVIII, 231-259.
- CORTESÃO, Jaime. A
expedição de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil. Lisboa:
Livrarias Aillaud e Bertrand, 1922, pg. 143-161.
- HOLANDA, Sérgio Buarque de et al. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo
I. Volume 1. A Época Colonial. Do
descobrimento à Expansão Colonial. 20ª ed. Rio de Janeiro: Betrand Russel,
2015. Pg. 47-49.
c)
Amerigo
Vespucci (10 ou 20 de maio de 1497 a 15 de outubro de 1498)
Outro suposto
descobridor do Brasil foi o florentino (Italiano) Amerigo Vespucci ou Américo
Vespúcio, cujo primeiro nome foi usado para nomear o continente americano. Baseado
em suas cartas, alega-se que ele descobriu o Brasil na viagem que realizou
junto com Alonso de Hojeda em 1499. No entanto, há muita controvérsia sobre
suas viagens. A Lettera (Ba),
atribuída a Vespucci, descreve 4 viagens supostamente realizadas por Vespucci,
sendo que as duas primeiras teriam se realizado a serviço da Espanha, antes do
descobrimento do Brasi por Cabral, em 1500: a 1ª Viagem de 1497-1498 e a 2ª em
1499. A realização de uma viagem em 1497-1498 foi questionada e negada pela
maioria dos autores desde a antiguidade. Alguns autores antigos como Bartolomé
de las Casas e Herrera achavam que a comprovada viagem que Vespucci fez com
Hojeda foi a 1ª Viagem por ele descrita na Lettera
Ba, mas que a data estava errada, devendo-se ler 1499 em vez de 1497-1498,
e que a 2ª Viagem corresponderia à posterior viagem realizada por Hojeda em 1502,
apesar de não haver provas que Vespucci participou desta 2ª viagem de Hojeda. No
entanto, a maioria dos autores atuais negam esta 1ª Viagem e consideram que a
viagem feita com Hojeda seria a 2ª Viagem de Vespucci. Portanto ou eles excluem
completamente os relatos da 1ª Viagem ou fundem o relato da 1ª com a 2ª Viagem.
Portanto, devido a estas controvérsias, vou descrever as duas viagens, pela
dificuldade de separá-las.
Em abril de 1495, o
Governo Espanhol concedeu uma licença geral para fazer descobrimentos no Novo
Mundo. Em 2 de junho de 1497 corrigiu-se esta ordem, declarando-se que esta
licença fosse sem prejuízo dos direitos concedidos a Colombo, e que as
expedições que saíssem, não deveriam tocar em nenhum ponto das terras
descobertas por ele antes da data desta licença geral. A partir de então,
várias expedições exploradoras se dirigiram à América, equipadas por
particulares, como a descrita por Vespucci.
c.1) Vespucci parte de Cádiz e vai para
as Ilhas Canárias (10 ou 20 de maio de 1497)
A única fonte para o
conhecimento desta viagem é a Lettera Ba,
carta supostamente escrita por Vespucci, mas como ele frequentemente se
contradiz nos detalhes, muita coisa ainda é incerta. Desta carta há 2 versões,
uma italiana e outra latina, que se distinguem nos detalhes, sendo a versão
latina uma tradução provavelmente com erros. No entanto, apesar disto, a versão
latina foi a mais disseminada na época e foi a seguida pelos autores antigos.
Vespucci partiu de
Cádiz com 4 navios a 10 (versão italiana) ou 20 (versão latina) de maio de
1497. Ele foi direto para as Ilhas Canárias, onde proveram-se de água e lenha e
outras coisas necessárias. Quaritsch e Vignaud calcularam a viagem para as
Ilhas Canárias entre 6 e 10 dias, portanto eles aí chegaram entre 16 e 20
(versão italiana) ou 26 e 30 (versão latina) de maio de 1497. Ficaram 8 dias
(até 24/28 de maio ou 3/7 de junho de 1497) nas ilhas abastecendo-se e partiram
entre 24 de maio (versão italiana) e 7 de junho (versão latina) de 1497.
“[...]
o Rei dom Ferrando de Castela indo mandar
quatro navios a descobrir novas terras para o Ocidente, fui eleito por sua
alteza para que eu fosse nessa frota para ajudar a descobrir: e partimos do
porto de Calis no dia 10 [20 na versão latina] de maio de 1497. [...] Como
disse acima, no ano do Senhor de 1497, aos 10 dias de maio, partimos do porto
de Cádiz, em quatro navios de conserva, e começamos nossa navegação direto para
as Ilhas Afortunadas, que hoje se chamam a Grande Canária, [...], onde permanecemos oito dias provendo-nos de água e
lenha e de outras coisas necessárias: [...]” (Vespucci, 1504,
Lettera, Ba, 1ª Viagem)
“Em 1497, a
vinte de maio chegamos com os navios nas Ilhas Afortunadas, [...]” (Munster, 1558, libro V,
pg. 1187)
c.2) Chegada à América (entre 31 de junho e 04 de
julho de 1497)
Partiram das Ilhas
Canárias entre 24 de maio e 7 de junho, e navegaram por 37 dias (versão
italiana) ou 27 dias (versão latina) até encontrarem terra firme, entre de 31
de junho e 04 de julho de 1497. Observe-se que a data de chegada à América é a
mesma nas duas versões, pois na versão italiana os navios saem 10 dias mais
cedo, que na versão latina, mas a duração da viagem é exatamente estes 10 dias
mais longa que na versão latina. Vespucci disse que eles aportaram na latitude
de 16º N e na longitude de 75º a Oeste da Ilha Grande Canária, percorrendo
1.000 léguas. Navarrete já ressaltava que 1.000 léguas antigas (1.333 léguas
modernas) em 16º de latitude Norte e 75º a Oeste da Ilha Grande Canária (cerca
de 15º O), colocaria Vespucci no litoral Norte de Honduras ou Guatemala, ou no
Sul de Belize, mas para aí chegar ele teria que ter passado pelo arquipélago
das Pequenas Antilhas, fato não citado. Quaritsch julgava que desembarcaram
perto do cabo Gracias a Dios (Nicarágua). Varnhagen achava que eles chegaram na
Península do Yucatán. Alguns autores, como Gomar, liam, ao invés, 6º N, o que
corresponderia ao Suriname ou Guiana Inglesa.
“[...] Feitas nossas
orações, abrimos as velas, começando nossa navegação pelo Poente, tomando um
quarto ao Libeccio [O¼SO], navegamos até
que, ao cabo de trinta e sete dias [27 dias na versão latina], fomos dar em
uma terra que julgamos ser terra firme, a qual dista das Ilhas Canárias, para o
Ocidente, cerca de mil léguas [5.570km]
dentro da Zona Tórrida, porque
encontramos que o Polo do Setentrião eleva-se, fora de seu horizonte dezesseis
graus, e mais Ocidental que a Ilha Canária setenta e cinco graus: [...].” (Vespucci, 1504,
Lettera, Ba, 1ª viagem)
“E então, em noventa e sete dias, chegamos a uma
terra mais Ocidental que as Ilhas Afortunadas [Ilhas Canárias],
[...]” (Munster,
1558, libro V, pg. 1187)
“Seus caminhos endereçaram para o
Poente, primeiro, desde as ilhas Canarias, depois em direção ao Austro [S]. Em vinte sete
dias chegaram (segundo disse o mesmo Américo) à vista da terra, a qual julgaram
ser firme, e não estavam nisto enganados; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II,
Cap. CLXV)
“[...]
encaminharam-se primeiro ao Poente, e depois
ao Sul, e em vinte e sete Dias chegaram à vista de Terra, que julgaram ser
firme.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 97)
Vespucci relatou que
eles ancoraram a cerca de 8,5 km da praia, a qual estava cheia de nativos, e
foram com os barcos em terra. Os indígenas, ao verem os espanhóis lançarem os
barcos em direção à praia, assustaram-se e subiram em um monte, com medo, e,
apesar dos sinais de paz e de amizade dos espanhóis, os nativos recusaram-se a
descer e ter com eles. Como não havia lá bom ancoradouro, os espanhóis resolveram
partir no dia seguinte (entre 01 e 05 de julho) em busca de um bom porto.
“[...] na qual
ancoramos com nossos navios a uma légua e meia da terra: [8,4km], lançamos os botes e, tripulados de gente armada, fomos
à terra e, antes que chegássemos a ela, vimos muita gente na praia, com o que
nos alegramos e vimos que esta gente estava desnuda. Porque todos os que víamos
andavam desnudos, pareciam também que estavam em grande medida assombrados de
ver-nos, sem dúvida (pelo que eu entendo) por ver-nos vestidos e de semblantes
distintos dos seus. Assim é que apenas viram que havíamos chegado, fugiram
todos a um monte imediato, de onde não pudemos conseguir, nem com gestos nem
com sinais de paz e de amizade, que saíssem e se aproximassem de nós.
Entretanto, vindo já a noite, e temendo que a esquadra estivesse ancorada em
lugar mal seguro, sem abrigo nenhum contra as tempestades do mar, determinamos
de comum acordo partir logo que amanhecesse, e buscar algum porto onde colocar
em paragem seguro os navios: [...].” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba,
1ª viagem)
“Lá encontramos gente nua, a qual nos vendo,
subitamente retirou-se para um monte propínquo. ” (Munster, 1558, libro V, pg. 1187)
“[...] chegados
à mais propínqua terra, lançaram âncoras, obra de uma légua [5,6km] da
margem, por medo de dar em algum baixio. Lançaram
as barcas fora e equiparam-se de suas armas, chegam à margem, vem infinito
número de gente nua; eles recebem inestimável gozo. Os índios param-se a
olhá-los como pasmados, põe-se logo em fuga ao mais propínquo monte; os
cristãos, com sinais de paz e amizade, tentam persuadi-los, porém eles não
acreditavam neles, e porque haviam lançado as âncoras na praia e não no porto,
temendo não padecessem perigo, se viesse algum tempo ruim, alçaram e foram-se
costa abaixo a buscar portos, vendo toda a costa cheia de gente, [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap.
CLXV)
“Encaminharam-se primeiro a Poente, e depois
ao Sul, e em vinte e sete Dias chegaram à vista de Terra, que julgaram ser
firme. Fundearam a uma Légua [5,6km], para não dar
em algum Baixio: lançaram Gente
nas Barcas, e acercando-se à Terra, viram infinita Gente nua, que como pasmados
olhavam, porém logo fugiram aos Montes; e ainda que os Castelhanos os
estimulassem, não voltavam, e, porque estavam na Praia, e temiam algum
temporal, concordaram de ir Costa abaixo, buscando Porto.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 97)
Navegaram seguindo a
costa de perto em rumo NO por 2 dias (entre 03 e 07 de julho), quando acharam
um bom porto, onde ancoraram. Eles saíram à terra com 40 homens, mas os nativos
se assustaram e se retiraram. Ficaram mais um dia (entre 04 e 08 de julho),
quando comerciaram com os nativos, abastecendo-se de víveres. Quaritsch julgou
o local ser o cabo Cameron ou a baía de Honduras.
“[...]
e navegamos pelo Maestrale [NO], porque nessa direção ia a costa, sempre à
vista da terra e continuando a viagem vimos gente na praia. Havendo navegado
assim dois dias, encontramos um lugar seguro para os navios, e ancoramos a meia
légua [2,8km]
da
terra, onde vimos muita gente, e neste dia mesmo fomos à terra com os batéis e
saltamos em terra com quarenta homens bem ordenados, mas a gente de terra se
mostrou esquiva à nossa conversação e não conseguimos que viessem falar
conosco. Neste dia nos empenhamos tanto em dar-lhes algumas coisas nossas, como
sinos, espelhos, contas, dragonas e outros frascos que alguns deles tomaram
coragem e vieram a ter trato conosco. Tendo feito com eles boa amizade, vindo a
noite, despedimo-nos deles, e retornamos aos navios. No outro dia, quando
amanheceu, vimos que na praia estava infinita gente, e estivemos com eles, suas
mulheres e filhos; fomos à terra, e achamos que todos vinham carregados com
seus mantimentos, que são aqueles, que em seu lugar se dirá; e antes que
chegássemos em terra, muitos deles se lançaram a nado e vieram nos receber no
mar à distância de um tiro de balestra, pois que são grandíssimos nadadores,
com tanta confiança, como se houvéssemos com eles tido trato há longo tempo;
com esta sua confiança tivemos prazer.”
(Vespucci, 1504, 1ª viagem, Lettera,
Ba)
“E daí navegamos por dois dias até que
encontramos porto seguro, onde haviam muitos homens, os quais com esforço pudemos
persuadir a parlamentar conosco, havendo-lhes primeiro dado chocalhos, espelhos,
contas, e outras coisas semelhantes. Mas assim vendo a sinceridade de espírito
nosso para com eles, correram em bando à praia e se uniram a nós.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1187)
“[...]
e ao cabo de dois dias o acharam
bom. Seguiram meia légua [2,8km] de
terra, apareceu infinita multidão de gentes que vinham ver coisa tão nova.
Saltaram em terra 40 homens bem armados, chamaram as gentes com sinais,
mostrando-lhes sinos e espelhos e outras coisas de Castela; eles, sempre
temendo não fossem iscas de anzol ou carne de abutre, não confiavam neles,
porém por fim, alguns dos índios que se atreveram, chegaram-se aos cristãos, e
às coisinhas que se lhes davam, e as receberam. Sobrevindo a noite,
retornaram-se às naus e os índios às suas aldeias, e, em clareando, estava a
praia cheia de gente, homens e mulheres com suas crianças nos braços, como umas
ovelhas e cordeiros, que era grande alegria vê-los. Saltaram os cristãos em
suas barcas para sair à terra, lançam-se os índios a água, nadando, indo
recebê-los à distância de um grande tiro de balestra; chegados a terra, de tal
maneira, receberam-nos, e com tanta
confiança e segurança ou descuido juntavam-se os índios com eles, como se fossem
seus pais uns dos outros, e toda sua vida tivessem vivido e conversado com eles.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXV)
“Navegando dois Dias, acharam bom Porto,
com infinito número de Gente, que acudia a ver coisa tão nova, como aqueles
Navios, e os Homens. Saíram à Terra quarenta Soldados, bem armados, chamando os
Índios com sinais, mostrando-lhes Sinos, Espelhos, e outras coisinhas, porém
eles não se fiavam: e alguns mais atrevidos, acercaram-se, e receberam os Sinos,
e por ser noite, os Castelhanos retornaram aos Navios, e os Índios foram-se a
suas Casas. Pela Manhã, estava a Marina coberta de Gente, e as Mulheres com as
crianças nos braços, muito quietas. Saíram os Castelhanos à Terra, e os índios,
com muita confiança, iam nadando a receber as Barcas.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I,
Libro IV, Cap. I, pg. 97)
c.3) Chegaram a uma aldeia sobre palafitas (início de
agosto a cerca de 10 de setembro de 1497)
Os espanhóis navegaram
costa acima, ao longo da praia, por alguns dias, desembarcando várias vezes em
terra, comerciando com os índios. Viram uma grande povoação fundada em palafitas, na atual Venezuela. Havia certo número (44 na versão italiana, 20 na latina) de casas montadas sobre palafitas. Os índios recolheram
as pontes das palafitas com medo e os espanhóis não puderam lá adentrar. Os
nativos foram com certo número (22 na versão
italiana, 12 na latina) de canoas e puseram-se em volta
dos navios espanhóis. Quando estes tentaram se aproximar dos nativos, aqueles
fugiram para um bosque, de onde retornaram com 16 mulheres, que entregaram, 4
para cada batel espanhol. No entanto, eles subitamente atacaram os espanhóis,
mas foram repelidos e retiraram-se lançando flechas contra os espanhóis e as
índias pularam dos navios para a água. Os espanhóis foram em bateis atrás das
canoas dos índios, mataram-lhes de 15 a 20 (precisamente 20 na versão latina) e
capturaram alguns homens (2 na versão italiana e 3 na latina) e 2 mulheres, mas
estas duas e um daqueles fugiram; 5 espanhóis se feriram. Varnhagem julgou que
esta aldeia ficava em Vera Cruz no México e Quaritsch na baía de Campeche um
pouco ao norte de Tabasco; Vignaud colocava em Tabasco. Há um episódio
semelhante, mas comprovado por outras fontes, na suposta 2ª viagem de Vespucci
(mas este não cita lá este episódio), onde havia uma aldeia sobre palafitas no
Golfo da Venezuela, a oeste de Pária, a qual teria dado o nome (Venezuela: pequena Veneza)
ao golfo e posteriormente ao país.
“[...]
concordamos de partir deste ponto e andar
mais adiante, costeando sempre a terra na qual fizemos muitas escalas e tomamos
informes dos habitantes e no fim de alguns dias, fomos a dar a um porto onde
estivemos em grandíssimo perigo, do qual nos salvamos graças ao Espírito Santo;
havia neste porto uma povoação fundada sobre a água como em Veneza; compunha-se
de umas quarenta e quatro [20 na versão latina] casas grandes, em forma de cabanas, sustentadas sobre paus grossíssimos
e suas portas eram em forma de pontes elevadiças, podendo-se, assim, desde uma
casa recorrer todas as demais; vindo a nós seus habitantes, mostraram ter medo
de nós e levantaram imediatamente todas as pontes. Enquanto estávamos vendo
esta maravilha, vieram pelo mar cerca de vinte e duas [12 na versão latina]
canoas [...] as quais rodearam nossos navios, como se eles se maravilhassem da nossa
aparência e vestuário, mas se mantinham à distância de nós. E estando assim,
fizemos-lhes sinais para que viessem a nós, tranquilizando-lhes com todos os
sinais de amizade, mas vendo que, a pesar de nossas demonstrações de amizade
não conseguíamos atraí-los, fomos para eles, porém eles fugiram fazendo-nos
entender com sinais que esperássemos e que eles voltariam. Foram direto para um
bosque, mas não demoraram para retornar, trazendo consigo dezesseis de suas
donzelas, e entraram com estas nas suas canoas, e foram aos batéis: e em cada
um dos batéis colocaram quatro, e tanto nos maravilhamos com este ato, quanto
pode pensar S. M.; e eles se puseram com suas canoas sob nossos navios, vindo
falando conosco: de modo que o julgamos sinal de amizade; e passando estas
coisas, vimos vir muita gente pelo mar nadando, que vinham das casas, e,
enquanto vinham se aproximando de nós, sem suspeitarmos de nada, neste momento,
mostraram-se nas portas das casas algumas velhas, dando grandíssimos gritos e
arrancando os cabelos e mostrando tristeza; isto nos fez suspeitar, e
recorremos cada um às armas. De súbito, as mulheres que estavam nos batéis,
lançaram-se ao mar e aqueles das canoas afastaram-se de nós, e começaram, com
seus arcos, a nos lançar flechas, e aqueles que vinham a nado, cada um trazia
uma lança de baixo d’água o mais escondido possível, de modo que, conhecida a
traição, começamos não só a nos defendermos deles, mas asperamente a
ofendê-los, e soçobramos com os batéis muitas de suas Almadias ou canoas, que é
assim que as chamam, fazendo muito estrago, e todos se lançaram a nadar,
deixando desamparadas as suas canoas, e com muito dano deles, eles se foram
nadando à terra: morreram deles cerca de 15 ou 20 [a versão latina especifica
20] e muitos ficaram feridos; dos nossos
foram feridos 5 e todos salvaram-se, graças a Deus. Capturamos duas das
mulheres e dois homens [3 na versão latina], e fomos às suas casas, e entramos nelas, e lá só encontramos duas
velhas e um enfermo: arrebatamos-lhes muitas coisas, mas de pouco valor, e não
quisemos queimar suas casas, porque nos pareceu pesar na consciência: e
retornamos aos nossos batéis com cinco prisioneiros e fomos aos navios, e
metemos cada um dos presos a ferros nos pés, salvo as moças, e, na noite
seguinte, fugiram as duas moças e um dos homens, de modo muito sutil. No outro
dia decidimos partir deste porto e andar mais adiante: [...]” (Vespucci,
1504, Lettera, Ba)
“Consideradas estas suas condições,
determinamo-nos de navegar mais adiante e, seguindo a terra, depois de alguns dias
chegamos a um porto onde estavam cerca de vinte casas em forma de sino, e veio
a nós uma grande multidão de homens sob o pretexto de fazer conosco amizade, alguns
à nado, outros em barcos, e, subitamente, começaram a atirar contra nós com
seus arcos. Mas nós, vendo-nos atacados assim inesperadamente, fizemos tal
defesa, que matamos cerca de vinte deles e ferimos muitos, e ficaram cinco dos
nossos feridos, os quais depois se recuperaram.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1187)
“Deixaram estas gentes e vão-se costa
abaixo, muitas vezes saltando em terra e vendo e conversando com diversas
gentes, até que chegaram a um porto, no qual, quando entraram, viram uma aldeia
sobre a água fundada como Veneza; na qual, disse Américo, que havia 20 casas
muito grandes e de feitura semelhante, em forma de campainha, postas sobre
postes fortíssimos, cujas portas tinham suas pontes elevadiças, pelas quais,
como por ruas, passavam e andavam de uma casa a outra. Os moradores dela, assim
que viram os navios e a gente deles, ao que parece, levantaram logo todas suas
pontes, e logo em suas casas se recolheram, e, estando os cristãos olhando e
admirando-se disto, viram vir 12 canoas ou barquinhos dos de um madeiro, cheias
de gente que vinham neles; e, tendo chegado, param-se a olhá-los rodeando os
navios de uma parte a outra, maravilhados e como pasmados de vê-los.
Fizeram-lhes os cristãos sinais de amizade e que viessem a eles, mas não
quiseram; vão-se os cristãos para eles, porém não quiseram esperar, mas
apressaram-se a fugir, e com as mãos fazendo sinais para que os esperassem que
retornariam, saem de suas canoas e vão-se a uma serra, e retornam com 16
donzelas, e vem com elas aos navios em suas canoas, e pondo em cada navio
quatro, oferecem-lhas assim de boa amizade, de dentro de suas canoas, entrando
e saindo dos navios, e conversávamos com eles. Nisto saíram das casas que
havíamos visto muita gente, e lançaram-se ao mar, nadando, e foram para os
navios, e, quando já chegavam próximos, apareceram certas mulheres velhas e deram
tantos gritos e vozes, fizeram tantos clamores, arrancando-se os cabelos,
mostrando tanta dor e angústia, que parecia que rasgavam os céus; vendo isto,
as donzelas, de súbito, se deixaram cair ao mar, e os Índios que estavam nas
canoas começaram a apartar-se dos navios e a atirar-lhes flechaços muito
frequentemente, e os que vinham nadando, diz que, traziam suas lanças com a
água encobertas. Devia ser que atiravam as flechas e traziam as lanças para
defesa das moças, já que se arrependiam de havê-las dado, porque não se as
tornassem a tomar. Visto isto, os cristãos que não suportam dos índios muitos
ardis, saltaram nas barcas e foram atrás deles; lançaram-se contra as canoas e
afundaram-nas, matando 20 deles, e ferindo com a espada e a lança a muitos, não
de todo mortos. Salvaram-se a nado todos os que puderam; dos cristãos ficaram
feridos cinco, porém não padeceram perigo algum. Capturaram das moças duas, e
três dos homens prenderam; foram logo às casas, mas não acharam mais de duas
velhas e um homem enfermo; não quiseram queimar as casas porque lhes pareceu
ter escrúpulo de consciência, disse Américo. [...]. Retornaram a seus navios com
seus cinco cativos, lançaram os três homens em ferros; uma noite, as duas moças
e um dos presos, que se soltou sutilmente, lançaram-se ao mar e desapareceram.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap.
CXLXVI)
“Passou Alonso de Ojeda a Costa abaixo,
saltando muitas vezes em Terra, contratando diversas vezes, até que chegaram a
um Porto, onde viram uma Aldeia sobre a Água, fundada como Veneza onde havia
vinte e seis Casas grandes, em forma de Campainha, postas sobre postes, com
Pontes elevadiças, por onde andavam de uma Casa a outra os índios, os quais, em
vendo os Navios, tiveram grande medo, alçaram suas Pontes, e se recolheram em
suas Casas. Nisto foram doze Canoas para os Navios, que, em chegando, se pararam
a observá-los, e os rodearam, pasmados de vê-los. Os Cristãos fizeram-lhes
sinais de amizade, e foram para eles, mas estes não quiseram esperar, apesar de
que faziam sinais, que retornariam. Saídos das Canoas, se foram para uma Serra,
e retornaram com dezesseis Donzelas aos Navios, e deram quatro a cada um, e com
eles tratavam mansamente. Saiu, nisto, muita Gente das Casas, que havíamos
visto, e nadando, iam-se aos Navios: e, quando chegaram próximos, certas
Mulheres velhas deram grandes gritos, e se descabelaram os cabelos; e vendo
isto, as Donzelas, se lançaram ao Mar, e os Índios que andavam nas Canoas, se
apartaram dos Navios, atirando Flechaços: foram atrás deles, nas Barcas, os
Castelhanos, e afundaram algumas Canoas, e mataram vinte Índios, e feriram
muitos, e ficaram feridos cinco Castelhanos, e prenderam três Índios, e duas
das Donzelas: e um dos presos se soltou subtilissimamente, e se lançou ao Mar.” (Herrera, 1611, Vol. I,
Década I, Libro IV, Cap. II, pg. 98-99)
c.4) Lariab (fim de setembro ou início de outubro de
1497)
Os espanhóis navegaram
mais 450km e desceram em um ponto da costa, em uma província chamada Lariab (versão italiana; Parias no versão latina), sob o Trópico
de Cancer (23º26’14’’ N). Varnhagem, Vignaud e Quaritsch julgavam que Lariab corresponderia a Pánuco ou
Tampico, em Tamaulipas (México). Outros argumentam que o ponto fica entre o
Equador e o Trópico de Câncer, e não exatamente na sua linha. Gomar julgava que
o correto é a versão Parias do texto
latino. Os
espanhóis acharam um povo, que inicialmente se mostrou esquivo, mas depois
comerciou com eles, e alguns deles (23 na versão latina e 28 na italiana) fizeram uma entrada para o interior por cerca de 120km, passando 3 dias em
uma aldeia e 9 em outra. Depois eles espanhóis retornaram aos navios e a frota partiu.
“[...]
navegamos continuamente ao longo desta
costa, tendo visto uma outra gente que podia estar distante daquela, 80 léguas [450km], e a achamos
muito diferente de língua e de costumes: decidimos desembarcar e fomos com os
batéis à terra, e vimos na praia muitíssima gente, que poderiam ser cerca de
4.000 almas, e quando chegamos próximo à terra, não nos esperaram, mas
puseram-se a fugir para o bosque abandonando suas coisas; saltamos em terra e
fomos por um caminho que andava ao bosque e em espaço de um tiro de balestra
encontramos as suas cabanas, onde haviam feito grandíssimos fogos, e em duas se
estavam cozinhando seus alimentos e assando muitos animais e peixes de muitos
tipos [...] assando uns animais que nos pareciam serpentes [iguanas] e fazendo uma espécie de pão ou massa com
uns pequenos peixes e muitas outras classes de alimentos e frutas. [...] e visto que a gente não retornava, decidimos
não tocar nem lhes tomar coisa alguma para melhor tranquilizá-los, e deixamos-lhes
em suas cabanas muitas das nossas coisas em lugar em que pudessem ver e
retornamos à noite aos navios. No outro dia, quando amanheceu, vimos na praia
infinita gente e fomos à terra, e como ainda mostravam medo de nós, nós os
tranquilizamos para terem trato conosco, dando-lhes tudo quanto eles pediam.
Mostraram-se muito amigos de nós, dizendo-nos que estas não eram as suas
habitações, e que tinham vindo aqui para pescar e nos solicitaram que fôssemos
às suas habitações e povoados, pois que queriam receber-nos como amigos e que
se fazia tanta amizade por causa de dois homens que mantínhamos como nossos prisioneiros,
porque eram seus inimigos, de modo que, visto tanto importunação que eles
faziam, fizemos nosso Conselho e decidimos que 28 [23 na versão latina] dos nossos cristãos iriam com eles em boa
ordem e com firme propósito, se necessário fosse, de morrer. Depois que
estivemos aqui quase três dias, fomos com eles por terra adentro, e a três
léguas [17km]
da
praia fomos a um povoado de muita gente, mas de poucas casas, pois estas não
eram mais que nove, onde fomos recebidos com tantas e tão bárbaras cerimônias,
que não basta a pena para escrevê-las: [...] e aqui permanecemos a noite e metade do
outro dia; foram tantos os povos que por maravilha aqui vinham a ver-nos, que
eram incontáveis: e os mais velhos nos pediam que fossemos com eles a outros
povoados, que estavam mais terra adentro, mostrando que nos fariam grandíssimas
honras, pelo que concordamos de ir e não se pode dizer quantas honras nos
fizeram, e fomos a muitas populações, tanto que estivemos nove dias nesta
viagem, tanto que já os nossos cristãos, que tinham permanecido nos navios
suspeitavam que algo nos ocorrera; estando cerca de 18 léguas [100km] terra
adentro, deliberamos retornarmos aos navios, e no retorno era tanta a gente,
tanto homens como mulheres, que vinham conosco para junto do mar, que foi coisa
admirável, e se algum de nós se cansava do caminho, eles nos levavam em suas
redes muito descansadamente [...] e quando chegamos junto ao mar, veio para
nós os batéis, entramos neles, e era tanta a multidão que eles faziam para
entrar nos batéis, e vir ver os nossos navios, que nos maravilhávamos, e com os
batéis levamos quantos destes pudemos, e fomos aos navios, e tantos outros
foram a nado, que ficamos inclinados a impedir-lhes, por vermos tanta gente nos
navios, que eram mais de mil almas, todos nus e sem armas; maravilhavam-se das
nossas aparência e engenhos, e grandeza dos navios: [...] e havendo descansado todo o dia nos navios,
dissemos-lhes que se fossem, porque queríamos partir à noite, e assim partiram
com muita amizade, e amor e se foram à terra [...]. Esta terra está dentro da Zona Tórrida juntamente, ou de baixo do
paralelo, que descreve o Trópico de Cáncer, onde eleva-se o Polo sobre o
horizonte vinte e três graus, no fim do segundo clima. Vieram a ver-nos muitos
povos, e se maravilharam com o nosso aspecto e nossa branqueza, e nos
perguntaram de onde vínhamos: [...].
Partimos deste porto cuja província se chama Lariab [versão italiana; Parias na versão latina] [...]”
(Vespucci, 1504, Lettera, Ba)
“Por isto deixamos aquele porto, e, tendo
navegado muito ao longe, encontramos uma gente muito diferente desta, na
linguagem e no conversar. Estes tendo vindo aos navios, nós os recebemos amigavelmente,
e honramos seus costumes, e ficamos com estes nove dias. Esta região [...] nomeada por
eles de Paria.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1188)
“Alçam as velas deste porto, e vão-se 80
léguas [450km] costa
abaixo, e esta foi a terra de Paria, que havia descoberto o Almirante, como
pareceu acima, onde acharam outra gente, muito diversa daquela, em língua e
conversação; lançaram suas âncoras, saltaram nas barcas para ir à terra e viram
acima de 4.000 pessoas na margem. Não esperaram, os índios, com medo, antes,
fugiram aos montes, deixando quanto tinham. Saídos os cristãos à terra, vão-se
por uns caminhos, acham certas choças e muitas, que acreditavam que fossem de
pescadores; acharam muitos fogos, e neles pescados de diversas maneiras, e
assando-se uma das iguanas que acima dissemos, de que se assombraram, crendo
que era alguma bravíssima serpente. [...] e nenhuma coisa delas lhes tomaram,
antes deixaram-lhes em seus ranchos e choças coisinhas das de Castela, para, se
pudessem, abandonarem o medo que tinham, e retornaram a seus navios. No outro
dia, ao sair o sol, começa a vir à praia infinita gente; saíram a terra os
cristãos dos navios, esperam os índios, ainda que, todavia, muito tímidos;
aproximam-se os cristãos, e, pouco a pouco perdem o medo, e, por sinais lhes
dizem que aquelas choças não são suas casas principais, mas feitas para vir
pescar, e que lhes rogavam fossem com eles a suas aldeias. Visto a insistência
que faziam e sua importunidade, e que pareciam proceder de boa vontade,
concordaram de ir 23 homens, bem armados, com determinação de morrer quando a
necessidade os compelisse, empregando primeiro isto bem suas pessoas. Estiveram
ali com eles três dias em grande conversação de amizade, posto que com nenhuma
palavra se entendiam. Foram-se com eles terra adentro, três léguas [17km], a uma aldeia que estava
ali, onde foram recebidos com tantos bailes, cantares, alegria e regozijos, e
servidos de tantos manjares e comida dos que tinham, que disse Américo que não
tinha tinta que o pudesse escrever. Disse mais, que aquela noite dormiram ali,
e que suas próprias mulheres, com toda prodigalidade lhes ofereciam, e isto com
tanta insistência que não bastavam a resistir-lhes; como ali estiveram aquela
noite e outro dia até o meio dia, foi tanto e tão admirável o povo que a vê-los
de outras povoações da terra veio, e viam-se absortos em olhá-los, rodeá-los e
tocá-los, que era uma coisa maravilhosa. Certos homens anciãos, que deviam ser
os senhores, rogaram-lhes com a mesma insistência que se fossem com eles a suas
aldeias, o que lhes concederam, que fácil coisa de contar não é, disse Américo,
quantas honras e bom tratamento lhes fizeram. Estiveram em muitas aldeias suas,
por nove dias, durante este tempo os que ficaram nos navios estiveram bastante
apenados, temendo que a ida deles houvesse sucedido mal. Depois dos nove dias,
que gastaram andando por muitas aldeias, concordaram em retornar a seus navios;
foi coisa quase incrível a gente que com eles, em sua companhia, veio até o
mar, homens e mulheres; quando se cansava algum dos cristãos, eles
levantavam-nos, e nas redes os traziam às costas, como quem anda em liteira, e
ainda com bastante menos perigo e mais descanso, eles levavam-nos. Na travessia
dos rios, que havia muitos e muito grandes, com balsas e outros seus
artifícios, com tanta segurança e enxutez passavam-nos como se fossem por
terra. Vinham com muitas coisas carregados, que aos cristãos em suas aldeias
deram, como muitos arcos e flechas, muitas coisas de pluma; de papagaios grande
número, de diversas cores; outros traziam suas joias quantas tinham para
dar-lhes e deixar-lhes quando para suas casas retornassem; outros, disse
Américo, traziam seus animais consigo; estes animais não posso eu entender
quais fossem. E conta uma coisa, entre as outras, muito admirável: que cada um
dos índios se tinha por feliz, se na travessia dos rios que se vadeavam, passa
o cristão em seus ombros, e aquele que mais vezes ou mais cristãos passava por
mais bem-aventurado se estimava. Assim, quando chegaram à praia, e viram as
barcas dos navios a tomar os cristãos, quiseram entrar nelas, e tanta gente
pôs-se, e com tanta pressa, a entrar quiseram, uns primeiros que outros, que
quase se afundaram as barcas; foram tantos os que entraram nas barcas com os
cristãos e os que iam nadando, que passavam de mil, e davam alguma moléstia com
sua insistência e frequência aos cristãos. Entraram nos navios e estiveram
neles, ainda que nus e sem armas, disse Américo; de ver os navios e o cordame e
todos os instrumentos e aparatos das naus, e de sua grandeza, não acabavam de
se admirar. Estando assim admirados, concordam os de um navio, e devia de ser
do navio do capitão Hojeda, burlando ou querendo de verdade espantá-los mais;
soltaram certas lombardas, pegando fogo, e, com o terrível estrondo que deram,
a maior parte de todos eles dão consigo no mar, da mesma maneira que as rãs que
estão no seco na margem, ouvindo algum estrondo, subitamente saltam logo a
lançar-se na água; e de tal maneira ficaram atônitos e sem fala, que já aos
cristãos de burlar-lhes começava a pesar; começaram a rir-se e incentivá-los,
até que viram que aquilo era burla, fazendo-lhes entender por sinais, que
aquelas armas eram para as guerras que costumavam ter contra seus inimigos.
Estiveram ali todo aquele dia, com grande contentamento, e que não os podiam
despedir de si até que lhes disseram por sinais que se fossem, porque aquela
noite queriam partir; foram-se muito alegres e contentes, e com grande amor e
benevolência dos cristãos. Disse Américo aqui, que aquela terra era de gente
muito povoada e de muitos e diversos animais cheia, poucos que se pareciam aos nossos
de Espanha, [...] Disse Américo, que, depois de
batizados, diziam os índios, charaybí, que soa em sua língua, chamando a si
mesmos, varões de grande sabedoria; coisa é esta de rir, porque ainda não
entendiam que vocábulo tinham por pão ou por água, que é o primeiro que
daquelas línguas no princípio aprendemos, e em dois dias ou dez que ali
estiveram, que talvez não chegaram a seis, quer Américo fazer entender que
entendia que charaybí queria dizer varões de grande sabedoria. Aqui declara
Américo, que aquela terra chamavam os naturais dela, Paria, e dissimula o que
ali passou das novas que souberam, como havia estado ali tantos dias o
Almirante, e viram as coisas que lhes havia dado das de Castela, e fora razão
que calara.” (Las Casas,
1561, Vol. II, Cap. CLXVI)
“Navegaram oitenta Léguas [450km] Costa
abaixo, pela terra de Paria, que o Almirante havia descoberto, onde acharam
outra Gente, de diversa Língua, e trato. Saíram a terra, e havia na Margem,
mais de quatro mil Pessoas, e de medo fugiram aos Montes, deixando quanto
tinham. Entrando em terra, acharam Choças, que pareciam de Pescadores, com
muitos fogos, e Pescados, que nelas se assavam: e entre eles uma Yuana, chamada
em outras partes das Índias, Ycotea, que pensaram, que era uma Serpente. [...]. Acharam outros manjares
de ervas, e Frutas, e em nada tocaram, antes lhes deixaram algumas coisinhas de
Castela, para ver se os podiam amansar. No Dia seguinte, quando saiu o Sol,
apareceram muitos Índios, e saíram os Castelhanos a Terra, e os Índios, ainda que
muito tímidos, aguardavam. Foram pouco a pouco perdendo o medo, e com sinais
dando a entender, que não eram suas Casas aquelas Choças, mas apenas de pescar,
e que fossem a suas Casas, e o pediam com insistência. Foram vinte e três
homens bem armados, e estiveram com eles três Dias, bem tratados, ainda que não
entendiam nenhuma palavra. Os Bailes, Cantares, e Regozijos, que os Índios
faziam, eram muitos; e a comida que lhes davam, e regalo que lhes faziam, era
incrível, oferecendo-lhes suas Mulheres, com toda prodigalidade, e com tanta
importunidade, que não bastavam a refletir. Estava esta Aldeia, aonde foram
levados os vinte e três Castelhanos, três Léguas [17km] dos Navios: e acudiu tanta Gente de
outras a vê-los, que era coisa estranha ver como os rodeavam, e com quanto
espanto os tocavam, e observavam e porque certos homens anciãos lhes rogaram,
que fossem a suas Aldeias, não o puderam escusar: e nelas, e outras, lhes
detiveram nove Dias, estando, entretanto, a Gente dos Navios com muita pena,
temendo que lhes houvesse sucedido algum desastre, porém eles eram bem tratados
e, ao fim, concordaram de retornar aos Navios, indo acompanhados de infinita
Gente, homens, e Mulheres: e quando algum Cristão se cansava, lhe levavam em
uma rede, como quem vai em Liteira, com muito mais descanso, e menos perigo. [...] em chegando na Margem do
Mar, foram logo às Barcas dos Cristãos: e tantos Índios acudiram a elas, e com
tanta pressa quiseram entrar, que quase se afundaram: e os que entraram, e iam
nadando em companhia das Barcas, passavam de mil. Entraram nos Navios, e
admirados de sua grandeza, e do Cordame, e equipamento, não se cansavam de
olhá-los: e para espantá-los, dispararam a Artilharia de um Navio, e da mesma
maneira que as Rãs saltam na Água, quando estando em seco na Margem, sentem
algum ruído, se lançaram todos ao Mar, atônitos, e sem fala, até que, rindo-se
os Castelhanos, viram, que aquilo era burla. Estiveram todo aquele Dia nos
Navios, com tanto prazer, que não os podiam despedir: e querendo-se partir os
Castelhanos; foram-se os Índios, com grande amor, e alegria.” (Herrera, 1611, Vol. I,
Década I, Libro IV, Cap. II, pg. 99)
c.5) Melhor porto do Mundo (fim de junho ou início de
julho de 1498)
Partiram de Lariab (Parias na versão latina) em início de novembro de 1497 e navegaram
ao longo da costa, em direção noroeste, por cerca de 5.740km (870 léguas na versão
italiana e 860 léguas na versão latina), e como os navios e apetrechos estavam
deteriorados, aportaram em um excelente porto que acharam, onde ficaram 37 dias
reparando os navios. Os nativos foram amistosos e os ajudaram. Com os materiais
dos barcos e tonéis, fizeram um pequeno navio. Varnhagen acreditava que este
porto corresponderia à Baía de Chesapeake, Quaritsch julgava ser o Cabo
Hatteras, e Vignaud um porto entre a Baía de Chesapeake e o Cabo Canaveral. Las
Casas julgava ser Cariaco, e Navarrete a Marapacana (Mochima), próximo de
Cumaná.
“[...]
a província se diz Lariab: e navegamos ao
largo da costa sempre à vista de terra, fazendo umas oitocentas e setenta
léguas [4.850km] ainda para o
maestrale [NO], fazendo nela muitas
escalas e tendo trato com muita gente: e em muitos lugares resgatamos ouro, mas
não em muita quantidade, e fizemos muito para descobrir esta terra e saber se
lá havia ouro. Havíamos estado já treze meses nesta viagem e os navios e seus
apetrechos estavam muito deteriorados e os homens cansados: acertamos de comum
conselho por os navios em terra e repará-las porque faziam muita água, e calafetá-los
e breá-los de novo, e retornarmos para a Espanha: e enquanto isto
deliberávamos, estávamos próximo a um porto, o melhor do mundo, no qual
entramos com os nossos navios, e onde encontramos infinita gente, a qual nos
recebeu com amizade e em terra fizemos um bastião com os nossos batéis e botes
e tonéis e nossa artilharia, o que alegrou a todos; tendo descarregado e
tornado mais leve nossos navios, os tiramos em terra e reparamos de tudo que
era necessário, e a gente de terra era de grandíssima ajuda [...] no qual estivemos trinta e sete dias, e
fomos muitas vezes ao seu povoado: onde éramos recebidos com grandíssima honra:
[...]” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba, 1ª viagem)
“Nós, então, navegamos para muito longe
de lá e encontramos muita gente e encontramos ouro, mas não em grande quantidade,
e chegamos a uma gente humaníssima com a qual habitamos trinta e sete dias.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
“E, porque tinham
necessidade de reparar os navios, porque estavam defeituosos para navegar a
Espanha tanto caminho, e de mantimentos para a maior parte de sua viagem,
chegaram a um porto que o Américo disse que era o melhor do mundo, e não disse
a que parte ou lugar, nem tão pouco o diz Hojeda, e segundo eu consigo, de
quarenta e três anos atrás, recordar, quando falávamos da viagem de Hojeda (e
ainda talvez sejam mais de cinquenta anos), suspeito que deva ser no golfo que
acima disse de Cariaco, que entra 14 léguas [78km] terra dentro, e está a boca dele 7
léguas [39km] de Margarita, na terra firme, junto
a Cumaná. Por outra parte, parece-me que ouvi naquele tempo que havia Hojeda
entrado e reparado os navios e feito um bergantim no porto e aldeia que nomeou
Maracapana; porém este, ainda que seja porto, no é o melhor do mundo.
Finalmente, ancoraram ali onde quer que seja, dentro daquelas 200 léguas [1.115km] de terra firme, de Paria abaixo; foram
recebidos e servidos das gentes daquela comarca, que disse Américo eram
infinitas, como se foram anjos do céu, e eles, como Abraham conheceu os três,
por anjos tomaram-nos. Descarregaram os navios, e chegaram-nos à terra, tudo
com ajuda e trabalhos dos Índios; limparam-nos e deram-lhes carena, e fizeram
um bergantim de novo. Deram-lhes todo o tempo que nisto estiveram, que foram
trinta e sete dias, de comer de seu pão e veados e pescado, e outras coisas de
suas comidas, que gastar de seus mantimentos de Castela nenhuma necessidade
tiveram, por maneira que, se não lhes proviessem, disse Américo, não teriam
para retornar à Espanha, sem grande necessidade de mantimentos, o que comessem.
Em todo o tempo que estiveram, se iam por terra dentro às aldeias, nas quais
lhes faziam caritativos recebimentos, honras, serviços e festas.” (Las Casas, 1561, Vol.
II, Cap. CLXVII)
“[...] e porque os Navios não estavam bons,
ancoraram em Maracapana, e foram recebidos, e servidos, como se fossem Anjos,
de infinitas Gentes daquela Comarca. Descarregaram os Navios, levaram-nos à
Terra, deram-lhes carena, com ajuda dos Índios. Fizeram um bergantim de novo: e
todo o tempo, que nisto se detiveram, que foram trinta e sete Dias, lhes deram
de comer de seu Pão, Carne de Veado, Pescados, e de suas Vitualhas; de tal
maneira, que se não tivessem achado esta Provisão, não teriam alimentos para
retornar à Castela. Enquanto estiveram naquela Aldeia, andavam pela Terra
adentro, de Aldeia em Aldeia, onde lhes faziam muitas festas.” (Herrera, 1611, Vol. I,
Década I, Libro IV, Cap. II, pg. 100)
c.6) Ilha de Ity (meados de agosto de 1498)
Quando os espanhóis
decidiram retornar para a Espanha, após reparar os navios, os nativos pediram
sua ajuda contra uma tribo de canibais que os atacavam periodicamente e que
viviam na Ilha de Ity a 570km de distância a leste. Os espanhóis navegaram para
leste e nordeste estes 570km em 7 dias e atacaram os nativos, morrendo um
espanhol e ficando 22 feridos. Os espanhóis capturaram alguns nativos (250 na
versão italiana, 25 na latina) que depois venderiam como escravos na Espanha.
Alguns identificam Ity com a Ilha de Dominica ou a Ilha de Guadalupe e outras
ilhas próximos; Varnhagen e Quaritsch identificaram com as Bermudas (mas elas
eram desabitadas); Markham e outros com as Bahamas. Outros julgam ser invenção
pura de Vespucci, derivando o nome da voz verbal italiana Iti (ir) ou de Haiti.
Navarrete questionava o número de escravos feitos e julgava que seriam 25 e não
250, ver c.11).
“[...]
e querendo partir para nossa viagem, eles
fizeram uma reclamação de como em certa época do ano vinham pelo mar, para esta
sua terra, uma gente muito cruel, e seus inimigos: e pela força matavam muitos
deles, e lhes subjugavam e a alguns capturavam, e lhes levavam presos às suas
casas, ou terra; eles mal podiam se defender daqueles, fazendo-nos sinais que
eram gente de ilhas, e podiam estar mar adentro 100 léguas [573km], e com tanta afeição nos diziam isto, que
acreditamos neles, e prometemos-lhes de vingá-los e eles ficaram muito alegres
com isto, e muitos se ofereceram de vir conosco, mas não quisemos levá-los por
muitas razões, salvo que levássemos sete, com a condição de que fossem em suas
canoas, para que não fôssemos obrigados a trazê-los de volta à sua terra; e
foram contentes. E assim nós partimos daquela gente deixando muitos amigos
nossos. Reparados nossos navios, e navegando sete dias à volta do mar, pelo
vento infra Greco [NE] e levante [E], ao cabo de sete dias chegamos nas ilhas,
que eram muitas, e algumas povoadas, e outras desertas, e ancoramos em uma
delas, onde vimos muita gente, que chamavam Iti; e, equipados os nossos batéis
de boa gente, e em cada um com três tiros de bombarda, fomos à terra, onde
encontramos 400 homens e muitas mulheres, e todos desnudos como antes. [...] e quando fomos próximo à terra com os
batéis à distância de um tiro de arco, todos saltaram na água a atirar-nos
setas, e tentando impedir-nos de saltar à terra, [...] e tanto perseveraram em impedir-nos de ir à terra, que fomos forçados a
usar nossa artilharia, e quando ouviram o estrondo e viram cair mortos alguns
deles, todos se retiraram à terra. Após realizarmos nosso conselho, decidimos
saltar à terra 42 de nós e que esperássemos combater com eles. Assim que
saltamos em terra com nossas armas, eles vieram a nós e combatemos cerca de uma
hora [duas horas na versão latina], e
tivemos pouca vantagem sobre eles, salvo que os nossos balestreiros e
espingardeiros mataram alguns deles e eles feriram alguns dos nossos, e isto
ocorria porque não nos esperavam no alcance do tiro de lança nem da espada, e
tanta força pusemos enfim, que fomos ao alcance do golpe das espadas, e como
não puderam resistir às nossas armas, puseram-se em fuga pelos montes e bosques,
e nos deixaram vitoriosos no campo com muitos deles mortos e muitos feridos; e
neste dia não fizemos outra coisa além de repeli-los, pois estávamos muito
fatigados, e ao retornarmos aos navios os sete homens que conosco vinham
mostraram tanta alegria, que não se continham. Vindo o outro dia, vimos vir
pela terra grande número de gente, com sinais de quererem batalha, soando
cornos e outros vários instrumentos que eles usam nas guerras, e todos pintados
e emplumados, o que era coisa bem estranha de se ver. E como todos os navios
fizeram conselho, decidiu-se que, posto que esta gente vinha contra nós com
inimizade, que fôssemos a ir ver com eles, e que fizéssemos todo o possível
para fazer-lhes amigos, mas caso não quisessem nossa amizade, que lhes tratássemos
como inimigos, e que capturássemos quantos deles pudéssemos, todos fazendo
nossos escravos. Armando-nos como melhor pudemos, fomos próximos à terra, e não
nos impediram de saltar à terra, creio que por medo das bombardas, e saltamos
em terra com 57 homens em quatro esquadrões, cada capitão com a sua gente, e
fomos às mãos com eles, e depois de uma longa batalha e mortos muitos deles,
metemo-los em fuga, e seguimo-los até a um povoado, havendo capturado cerca de
250 [25 na versão latina] deles, e queimamos o povoado, e retornamos
com vitória e com 250 [25 na versão
latina] prisioneiros para os navios,
deixando entre eles muitos mortos e feridos, e dos nossos só morreu um, e 22
feridos, todos os quais se salvaram, Deus seja louvado. Ordenamos nossa partida
e os sete homens, dos quais cinco estavam feridos, pegaram uma canoa da ilha, e
com os sete prisioneiros que lhes demos, quatro mulheres e três homens,
retornaram à sua terra muito alegres, maravilhando-se das nossas forças
[...]” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba,
1ª viagem)
“Aqueles disseram ser uma gente feroz e
muito inimiga deles e danosa e que vinham todos os anos em certa época, e matavam
muitos deles e arrebatavam também muitos, e comiam-lhes, tanto de forma que com
dificuldade podiam defender-se deles. E tendo se lamentado com vozes de dor de
tais injúrias, nós prometemos-lhe de vingá-los de tanto sofrimento que recebiam.
De forma que mandando conosco 7 deles, depois de 7 dias chegamos à Ilha de Ity,
onde habitam aqueles homens inumanos, os quais, guarnecidos de suas armas, vieram
contra nós, e começou a batalha, que durou duas horas e finalmente os pusemos
em fuga, havendo matado e ferido muitos, e preso vente cinco com a morte de um
dos nossos, e vente e um feridos, os quais depois se recuperaram. Nós demos
àqueles homens que tinham vindo conosco, três homens e quatro mulheres daqueles
prisioneiros, os quais esses levaram à sua terra com muita alegria.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
“Já que determinavam, reparados seus navios e
feito o bergantim, de partir-se para Castela, disse aqui Américo, que aqueles
seus Bons hóspedes lhes deram grandes queixas de outra certa gente feroz e
cruel, habitantes de certa ilha, que dali 100 léguas [570km] estaria,
que vinha em certo tempo do ano, pelo mar, a fazer-lhes guerra, e aprisionavam-nos,
e, levando-os consigo, matavam-nos e comiam-nos. Com tanta insistência e
afeição e dor, parece que o representavam, disse Américo, que os moveu à
compaixão, e se ofereceram a vingá-los deles. Alegraram-se, disse Américo, em
grande maneira, e disseram que queriam ir com eles, porém os cristãos, por
muitos motivos, não o quiseram consentir, com exceção de sete deles, com a
condição que não fossem obrigados a trazê-los de volta à suas terras, em vez
disto, que eles com suas canoas sozinhos retornassem, e assim, disse que, com
esta condição, uns e outros consentiram. Não sei eu como fizeram estes acordos
e todas as demais palavras, pois em trinta e sete dias não poderiam saber sua
língua, nem ter intérprete. E que sabiam Hojeda e Américo e os de sua
companhia, se tinham os daquela ilha contra estes, por alguma justa causa,
justa guerra? Tão certos estiveram da justiça destes, só porque se lhes
queixaram, que logo, sem mais tardar, a vingá-los se lhes ofereceram? [...] Saíram, pois, dali, e, em
sete dias, topando no caminho com muitas ilhas, algumas povoadas e outras
despovoadas, disse Américo, chegaram aonde iam. Estas ilhas não podiam ser
outras que não as que topamos vindo de Castela, como são a Dominica e
Guadalupe, e as outras que estão naquele arquipélago. Viram logo nela, disse
ele, uma grande quantidade de gente, a qual, assim que viu os navios e as
barcas que iam à terra, ainda que bem armadas com seus tiros de pólvora, e os
cristãos bem armados, chegaram-se à costa cerca de 400 Índios, nus, e muitas
mulheres, com seus arcos e flechas, e com seus escudos, e, todos de diversas
cores pintados, e com umas franjas e plumas de aves grandes, que pareciam muito
belicosos e ferozes, e, quando se aproximaram das barcas, à distância de um
tiro de balestra, entraram na água e disparam infinitas flechas para
resistir-lhes a entrada. Os cristãos, que não lhes poupam, disparam os tiros de
pólvora neles, e matam muitos deles. Vistos os mortos, e o estrondo do fogo e
dos tiros, logo deixam a água e metem-se todos em terra. Saltam 42 homens das
barcas, e vão atrás deles; eles varonilmente, não fugiram, mas, como leões,
fazem cara e resistem e pelejam fortemente, defendendo-se a si e a sua pátria.
Pelejaram duas horas grandes, e com as balestras e espingardas, e depois com as
espadas e lanças, mataram muitíssimos, e não podendo mais resistir, para não
perecerem todos, os que puderam fugiram aos montes, e assim ficaram os cristãos
vitoriosos. Retornaram aos navios com grande alegria de haver lançado ao
inferno os que nunca lhes haviam ofendido. Outro dia, de manhã, viram vir
copiosa multidão deles, ressoando os ares com seus cornos e buzinas, pintados e
armados para a segunda peleja, mas com as barrigas e peles de fora, porque
costumam andar despidos. Determinaram sair contra eles 57 homens, tendo sido
feitas quatro quadrilhas, cada uma com seu Capitão, com a intenção, disse
Américo, de que se os pudesse fazer seus amigos, bem, porém se não, que como a
inimigos os tratariam, e, quantos deles tomar pudessem, fariam seus escravos
perpétuos. Isto disse assim Américo, e é de notar aqui o escárnio que quer
fazer Américo da verdade e justiça, e dos leitores, como se quando se moveram a
vir 100 léguas [570km],
havendo prometido aos outros de vingá-los e fazer guerra, vieram a tratar de
amizade com eles, ou para ter ocasião de cumprir com suas cobiças, que era pelo
que de Castela vinham. [...] Saíram, pois, em terra, porém os
Índios, porque os tiros de fogo, não lhes ousaram impedir a saída, mas
esperam-nos com grande denodo: pelejaram os nus contra os vestidos,
fortissimamente, por muito tempo; os vestidos mataram e feriram dos nus,
imensos, porque as espadas empregam-se bem nos corpos nus; vendo-se assim
fazer-se em pedaços, fugiu o resto. Vão atrás deles até a uma aldeia; prendem
os que puderam, que foram 25; retornam com sua vitória, posto que amarga,
todavia, por deixar de sua companhia um morto e trazer 22 feridos. Despediram
os 7 que haviam vindo com eles da terra firme; repartiram, disse Américo, com eles
a presa, porque lhes deram 7 pessoas, 3 homens e 4 mulheres dos cativos, e os
enviaram muito alegres, admirados daquela façanha que os cristãos fizeram e de
suas forças. Tudo isto conta Américo, acrescentando que dali retornaram à
Espanha e chegaram a Cáliz com 222 Índios cativos, onde foram, segundo ele
disse, com muita alegria recebidos, e ali seus escravos todos venderam. Quem
lhe preguntará agora de onde roubaram e tomaram ou arrebataram os 200 daqueles?
Porque isto, como outras coisas, passa em silêncio Américo. Note-se, pois,
aqui, os leitores, que sabem algo do que contém em si a reta e natural justiça,
ainda que sejam sem fé, gentis, com que direito e causa fizeram estes, com quem
Américo ia, guerra aos daquela ilha, e fizeram e levaram estes escravos, sem
lhes haver injúria feito, nem em coisa pequena nem grande ofendido, ignorando
também se justa ou injustamente os da terra firme acusavam aos desta ilha [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXVII)
“E estando para partir para Castela, aqueles Índios
lhes deram muitas queixas da Gente de certa ilha, que lhes fazia Guerra,
cativava e comia: e isto representaram com tanta dor, que lhes ofereceram de
vingá-los: e os Índios quiseram ir com eles, porém por certos motivos, não
quiseram receber mais de sete; com condição, que não fossem obrigados a
retorná-los a sua Terra, mas que eles retornassem em suas Canoas. Partiram
dali, e em sete Dias, topando no caminho com muitas ilhas, algumas povoadas, e
outras não, que deviam de ser a Dominica, e Guadalupe, e as demais, que estão
pela aquela área, chegaram aonde iam, descobriram muita Gente, a qual, ao ver
os Navios, e as Barcas, que iam a Terra, com os Soldados bem armados, foram à
costa, e seriam quatrocentos Índios, com Arcos, Flechas, e Escudos, pintados os
corpos de diversas cores, e muito cheios de penas; e em se aproximando as
Barcas, dispararam-lhes Flechas, e os Cristãos sua Artilharia, e Escopetas, que
mataram muitos, e espantaram-nos, e afugentaram. Saltaram quarenta Castelhanos
a Terra, porém retornando os Índios, valentemente pelejaram; tendo-o feito com
muito valor, por espaço de duas horas, mas não podendo mais resistir, fugiram
para os Montes. No outro Dia de manhã, apareceu infinita multidão de Índios,
pintados, ou tingidos, ressoando o Mundo com gritos, Cornos e Buzinas.
Determinaram de sair contra eles cinquenta e sete Castelhanos, em quatro
Quadrilhas, cada uma com seu Capitão. Saíram a Terra, sem que, por os tiros de
fogo, ousassem impedi-los. Pelejou-se fortissimamente por muito tempo, matando
Gente sem número: os demais fugiram, seguiram-lhes por muito tempo, até a uma
Aldeia, onde prenderam vinte e cinco, porém ficou morto um Castelhano, e vinte
foram feridos: e repartindo a presa com os sete Índios, que com eles haviam
ido, porque lhes deram três Homens, e quatro mulheres, despediram-nos muito
alegres, admirados das façanhas, que os Castelhanos fizeram, e de suas forças.
Disse Americo Vespucio, que daquela ilha retornaram a Castela, e que chegaram a
Cádiz com duzentos e vinte e dois Índios cativos: e não foi assim, porque
primeiro foram a Española, ainda que esta ida a aplica à segunda viagem de
Ojeda e assim com muita cautela vai Americo Vespucio trocando as coisas que
aconteceram em uma viagem, na outra, por escurecer, que o Almirante D.
Christoval Colon descobriu a Terra-firme. O Fiscal Real pretendeu o contrário,
e apresentou por Testemunhas a Alonso de Ojeda, e ao Piloto Andrés de Morales,
e a outros; os quais juraram, que na primeira Viagem foram à ilha Española,
aonde causou Alonso de Ojeda os escândalos, que adiante se dirão: com que fica
provada a ficção de Americo; além do que jamais foi Alonso de Ojeda descobrir,
sem que fosse a parar na volta na Española.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, Cap. II, pg. 100)
c.7) Chegada à Espanha (15 de outubro de 1498)
Após os combates na
Ilha de Ity, partiram para a Espanha, chegando no porto de Cádiz em 15 de
outubro de 1498, levando 222 (vide c.6, acima) índios aprisionados em combate.
Foram 18 meses de viagem.
“[...]
e nós assim fizemos vela para a Espanha
com 222 prisioneiros escravos, e chegamos no porto de Cadis no dia 15 de
outubro de 1498 [1499 na versão latina],
onde fomos bem recebidos, e vendemos nossos escravos.” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba, 1ª viagem)
““[...]
Partimos do porto de Cádiz a 10 [20
na versão latina] de maio de 1497 e
tomamos nosso caminho pelo Oceano; em cuja viagem empregamos dezoito meses e
descobrimos muita terra firme e infinitas ilhas, quase todas habitadas: [...]” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba, 1ª Viagem)
“Nós tomamos a direção de retorno à Espanha
e chegamos em Calici com muitos prisioneiros em 1499, à quinze de Outubro onde vendemos
os nossos prisioneiros, e fomos alegremente recebidos.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
c.8) Conclusão
Sobre as viagens de
Vespucci há quatro fontes: (1) As cartas supostamente escritas por Vespucci
descrevendo suas viagens; (2) Os registros do pleito (Probanzas) movido por Diego Colombo, filho de Cristóvão Colombo,
contra os reis da Espanha; (3) Os historiadores espanhóis do século XVI e
início do século XVII; (4) Referências a Vespucci em documentos da época.
As cartas supostamente
escritas por Americo Vespucci são, de longe, a principal fonte de informações sobre
suas viagens. Porém, aí que está o problema. Existem, atualmente, 5 cartas e um
outro fragmento de carta atribuídos a Vespucci, mas a autenticidades destas
cartas é posta em dúvida pelos autores contemporâneos; 2 são tidas como
autênticas pela maioria dos autores (Mundus
Novus [A] e a Lettera [Ba]) e 3
como espúrias (Bandini [Bb], Bartolozzi [Bc] e Baldelli [Bd]). Estas 2 cartas tidas como autênticas são
contemporâneas de Vespucci, enquanto as outras foram achadas apenas no século
XVIII. A Lettera (Ba), uma das 2
cartas tidas como autênticas, descreve 4 viagens de Vespucci; a 2ª viagem,
aparentemente, seria a provada viagem com Hojeda (1499-1500), a 3ª viagem seria
a primeira viagem ao Brasil a serviço de Portugal (Gaspar de Lemos, 1501-1502)
e a 4ª viagem seria a segunda viagem ao Brasil a serviço de Portugal (Gonçalo
Coelho, 1504-1505). As outras cartas são Bandini
(Bb), que relata a 2ª viagem de Vespucci, e a Mundus Novus (A), Bartolozzi
(Bc) e Baldelli (Bd) que se referem à
3ª Viagem de Vespucci. Portanto temos: 1ª viagem: Lettera (Ba); 2ª viagem: Lettera
(Ba) e Bandini (Bb); 3ª viagem: Lettera (Ba), Mundus Novus (A), Bartolozzi
(Bc) e Baldelli (Bd); 4ª viagem: Lettera (Ba). No entanto, as cartas não
são registros oficiais de viagens, mas são relatos a amigos ou sócios e são
vagas e dão poucos detalhes, limitando-se a registrar as “aventuras” de
Vespucci e contar coisas pitorescas que atiçavam a imaginação da época. Além
disto, as cartas divergem em detalhes importantes entre si e, ainda por cima,
as cartas tidas como autênticas (Mundus
Novus [A] e a Lettera [Ba]) apresentam-se
em duas versões, uma latina e outra italiana, que diferem frequentemente nas
cifras (datas, distâncias, número de pessoas ou coisas). No caso da Lettera (Ba), a versão italiana seria a
original, enquanto a latina, mais famosa, é decorrente de uma tradução da
versão original italiana para o francês e deste para o latim, portanto, nos
detalhes seguir-se-á a versão italiana. No entanto, a maioria dos autores,
desde Las Casas no século XVI, nega a existência desta 1ª viagem de Vespucci, datada
de 1497-1498, o que cria um problema com a Lettera
(Ba), supostamente autêntica: ou a carta é autêntica e Vespucci inventou
esta 1ª viagem, ou alguém pegou uma carta real de Vespucci e a adulterou. Daí
se depreende as nas cartas de Vespucci, se é que as cartas são mesmas de
Vespucci, apesar de ricas em informações, são pouco confiáveis.
Os registros do pleito
(Probanzas) movido por D. Diego
Colombo, contra os reis da Espanha constituem a 2ª principal fonte de
informações sobre as duas supostas viagens feitas por Vespucci para o rei da
Espanha. As Probanzas (Pleitos
Colombinos de 1512 a 1515 - Probanzas
do Fiscal) foi um processo
judicial movido por D. Diego Colombo, contra os Reis da Espanha, em que ele
reivindicava herdar os privilégios concedidos por estes reis a seu pai, o
Almirante Cristóvão Colombo, pelo descobrimento da América, e que lhe tinham
sido até então negados. Nestas Probanzas várias pessoas, inclusive alguns dos
primeiros exploradores da América foram intimados a depor pelo Fiscal do Rei.
Apesar de as informações serem, em geral confiáveis, só fornecem poucas
informações sobre a expedição de Hojeda e Vespucci.
A outra fonte de
informação a cerca desta viagem são os historiadores espanhóis do século XVI e
início do século XVII. Muitos dos historiadores contemporâneos não citam as
duas supostas viagens de Vespucci ou a e mal citam seu nome, assim como omitem
a 1ª Viagem de Hojeda, como D’Anghiera, Oviedo e Gómara, e os que relatam as
viagens, como Las Casas e Herrera, não aportaram quase nenhuma informação nova
em relação às cartas de Vespucci, limitando-se a citar resumos destas cartas,
às vezes com críticas baseadas nas informações das Probanzas, não adicionando quase nada de novo. Além disto
Por último, há referências
a Vespucci e Hojeda em documentos da época, como contratos comerciais,
concessões de títulos e vantagens por parte dos reis espanhóis, ou processos
legais da época, que raramente trazem alguma informação nova, limitando-se, no
máximo, a ajudar indiretamente na cronologia das viagens.
A 1ª viagem descrita
na Lettera seria uma viagem de
Vespucci ao norte da América do Sul e ao Caribe em 1497-1498, mas esta viagem
não é mencionada em nenhuma fonte antiga e seria anterior à 2ª viagem de
Cristóvão Colombo, na qual ele, segundo todos os historiadores, descobriu a
América do Sul, o que torna impossível a suposta 1ª viagem de Vespucci. A
maioria dos autores considera esta viagem como fictícia, julgando que a 1ª
viagem de Vespucci foi aquela que fez com Hojeda em 1499-1500. Assim julgam Las
Casas e Markham. Varnhagem, Gomar e Vignaud acreditavam nesta viagem, muitas
vezes criando uma rota pelo Golfo do México e EUA. Julgavam, então, que
Vespucci abordou em Honduras (16º N), contornou a Península do Yucatán, foi até
Pánuco (Lariab) e contornou o litoral
norte do Golfo do México (Norte do México e Sul dos EUA), contornou a Flórida e
subiu o litoral Atlântico dos EUA até um ponto entre o Cabo Canaveral e a Baía
de Chesapeake. Varnhagen (1865) e Quaritsch (1885) acreditavam que esta era a
mesma expedição comandada por Vicente Yañez Pinzón e em que iam juntos João
Dias de Solis e Juan de la Cosa, viagem esta citada superficialmente por Las
Casas (História de las Indias, vol.
3, cap. XXXIX), no entanto, qualquer associação com dita viagem é pura
especulação, além de que esta viagem ocorreu, segundo a maioria dos autores,
após o retorno de Colombo de sua 4ª viagem em 1502, portanto esta 1ª viagem de
Vespucci não poderia ser anterior à viagem de Vespucci com Hojeda (2ª Viagem de
Vespucci).
“[...]
Costa de Paria, [...] Também se diz que percorreram aquelas costas
ocidentais Vincent Yañez, sobre o qual eu escrevi previamente, e um Juan Diaz
Solis de Lebrija e muitos outros, mas estas coisas ainda não conheço bem.” (D’Angheria,
1530, Década I, Livro X)
“Descobriu Christoual Colon trezentas e
setenta léguas [2.000km] de costa, que vão do rio grande de
Higueras ao Nombre de Dios, no ano de mil e quinhentos e dois e dizem, porém,
alguns que três anos antes os haviam andado Víncéte Yanez Pinzon, e Iuan Diez
de Solis, que foram grandíssimos descobridores.” (Gómara, 1554, Cap. LV, pg. 63)
“E não é assim; porque o golpho Higueras o
descobriu os pilotos Viçente Yañez Pinçon e Johan Díaz de Solís e Pedro de
Ledesma com três caravelas, antes que o Viçente Yañez descobrisse o rio
Maranhon, e que o Solís descobrisse o rio de a Plata.” (Oviedo, 1557, Vol. II, Livro XXI, Cap. VIII, pg. 140)
A maioria dos autores
considera a 1ª Viagem de Vespucci da Lettera
(Ba) como fictícia. Parece que esta 1ª Viagem foi criada pegando-se material
referente à 2ª Viagem e transferindo para a 1ª Viagem. A maioria dos autores
espanhóis antigos como Las Casas e Herrera já fundiam os dois relatos em uma
viagem só. Esta 1ª Viagem é pouco crível por vários motivos:
1º. Não há nenhum
registro de uma viagem feita pela Espanha nesta época ao Golfo do México, e
Vespucci diz que esta expedição foi oficial, mandado pelos reis, o que
determinaria que houvesse um registro oficial dela.
2º O problema do local
chamado Lariab (versão Italiana) ou Parias (versão latina). Se se considerar
a versão Lariab, resolve-se o
problema de Paria só ter sido
descoberta um ano depois da viagem de Vespucci, por Colombo, mas a rota
descrita por Vespucci desde Lariab é
impossível pois 870 léguas a NO de Lariab,
na altura de Pánuco, significaria que os navios atravessaram o México por terra
até a Califórnia (Ver item c.5
acima). Além disto “O melhor porto do mundo” (Ver item c.5 acima) não se acharia se Lariab
fosse Pánuco; se fosse Paria,
poderia ser algum porto na costa da Venezuela, mas haveria o problema da data
de 1497. Se se considerar que Lariab
fosse erro de impressão por Pária,
poder-se-ia admitir esta rota, mas está provado que o 1º a chegar a Pária foi Colombo em 1498, e, portanto,
Vespucci não poderia ter aí ido em 1497. Também há o problema da Ilha de Ity (Ver item c.6 acima), que para o caso de Lariab,
seria impossível por não existir nenhuma ilha a 100 léguas a leste da costa
leste dos EUA, o mais próximo disto seriam as Ilhas Bermudas, mas elas eram
desabitadas na época; no caso de Paria
seriam as Pequenas Antilhas (Guadalupe ou Martinica).
3º. Alguns fatos
descritos na 1º Viagem como a descoberta da aldeia sobre Palafitas, chamada de
Venezuela (Ver item c.3 acima), ou os
22 espanhóis feridos e 1 morto (Ver item c.6
acima) comprovadamente ocorreram na viagem de Hojeda (2ª Viagem de Vespucci),
mas são relatados nesta 1ª Viagem.
4º. Vespucci relata
detalhes da estrutura social e hábitos dos índios, que ele não poderia ter
sabido, pois nenhum espanhol conhecia a língua dos nativos, além dele citar
nomes que os nativos davam a seus alimentos, alguns dos quais de origem
africana como o inhame.
“Todas estas coisas conta Américo em sua
primeira navegação, muitas das quais não era possível nem em dois, nem em três,
nem em dez dias que podiam estar ou estavam entre os índios, não entendendo-lhes
palavra alguma, como ele aqui confessa, sabê-las, como é aquela de que em oito
anos se mudavam de terra em terra pelo ardor do sol, e que quando se enjoavam
de seus maridos, as criaturas expulsavam as mulheres, e que não tinham lei nem
ordem nos matrimônios, e nem Rei, nem senhor, nem Capitão nas guerras, e outras
semelhantes; e por isto, só aquilo que com os olhos viam, e podiam ver, como
era o que comiam e bebiam, e que andavam nus e eram de cor tal, e grandes
nadadores, e outros atos exteriores, é o que podemos crer; o resto parece todo
ficção.” (Las Casas, Vol. II, Cap
CLIV, 1552)
Portanto, a maioria
dos autores julga que Vespucci ou o editor de sua carta (Lettera, Ba) criou uma viagem fictícia inventando alguns episódios
e retirando outros da 2ª Viagem e colocando-os na suposta 1ª Viagem. Certamente
os episódios das casas sobre palafitas (c.3)
e o acontecimento de uma morte e 22 feridos entre os espanhóis (c.6) ocorreram na viagem de Hojeda de
1499 e 1500. Ver abaixo detalhes na 2ª Viagem.
“De haver chegado a Pária, o Américo [Vespucci], nesta sua
primeira viagem, ele mesmo o confessa na sua primeira navegação, dizendo: Et
provincia ipsa Parias ab ipsis nuncupata est [E
aquela província é nomeada por eles de Parias]. Depois fez também com o
mesmo Hojeda a segunda navegação, […].
Aqui é agora muito de notar e ver claro o erro que a cerca de Américo pelo
mundo há, e digo assim: que como ninguém antes do Almirante [Colombo] houvesse chegado nem visto a
Paria, nem coisa daquela terra, e o primeiro que chegou depois dele foi Hojeda,
segue-se, que Américo, ou foi com Hojeda, ou depois dele; se foi com Hojeda, e
Hojeda foi depois do Almirante, e o Almirante partiu de Sant Lúcar a 30 de
Maio, e chegou a ver [a Ilha
de] Trinidad e a terra
firme depois de Julho, e primeiro e três de Agosto, como tudo isto já está
demonstrado, como, com verdade, Américo diz em sua primeira navegação, que
partiu de Cáliz a 20 de Maio, ano de nossa salvação de 1497? Clara parece a
falsidade, e se foi voluntariamente, maldade grande foi, e se não foi, ao menos
parece, pois mostra levar dez dias de vantagem no mês ao Almirante, em relação
à partida de Cáliz, pois o Almirante partiu de Sant Lúcar a 30 de maio, e
Américo diz ter partido de Cáliz a 20 do dito mês, e usurpa-lhe, também, um
ano, porque o Almirante partiu no ano de 1498, e Américo finge que partiu para
sua primeira navegação no ano de 97. Verdade é que parece ter havido erro e não
malícia nisto, porque diz Américo que tardou naquela sua primeira navegação
dezoito meses, e ao cabo dela diz que tornou a entrar de volta em Cáliz a 15 de
outubro, ano de 499. Claro está, que se partiram de Cáliz a 20 de maio, ano de
497, que tardaram na viagem vinte nove meses; sete do ano de 97 e todo o ano de
98, e mais dez meses do ano de 99. Também se pode errar ao contrário em por o
ano de 99 pelo de 98 como fim, quando trata de sua volta a Castela, e, se assim
foi, era certa a malícia. Por causa desta falsidade ou erro de data, o que
tiver sido, e de saber bem, e com bom estilo, relatar e falar e enriquecer,
Américo, suas coisas e navegação, e omitir o nome de seu Capitão, que foi
Hojeda, e não fazer mais menção que de si mesmo, e escrever ao rei Renato,
levaram os escritores estrangeiros a nomear a nossa terra firme de América,
como se Américo só, e não outro com ele, e antes que todos a tivessem
descoberto; […]” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CXL)
“Partiu do porto de Sancta María ou de Cáliz, pelo
mês de Maio, e, se não disse contra a verdade Américo Vespucio em relação aos
dias do mês, como não o disse quanto ao ano, foi sua partida a 20 de Maio de
499; e não de 97 como Américo disse, usurpando a glória e honra que ao
Almirante pertencia, e aplicando-se-a a si mesmo só, querendo dar a entender ao
mundo, que ele havia sido o primeiro descobridor da terra firme de Paria, e não
o Almirante, a quem todo o descobrimento de todas estas Índias, ilhas e terra
firme, justa e devidamente se lhe deve, [...]. No qual capítulo trabalhei de por duvidoso, se o Américo havia de
propósito negado, tacitamente, este descobrimento primeiro ter sido feito pelo
Almirante [Colombo] e aplicado a si somente, porque não
havia observado o que depois comparei dos mesmos escritos do Américo, com
outras escrituras que daqueles tempos tenho e achei, pelo que digo haver sido
grande falsidade e maldade a do Américo, querendo usurpar, contra a justiça, a
honra devida ao Almirante, e a prova desta falsidade por esta maneira e pelo
mesmo Américo ficará clarificada. Suponhamos o que acima no cap. 140 ficou
provado, convém a saber: o primeiro, o testemunho de tanta multidão numerosa de
testemunhas, que de vistas sabiam que o Almirante foi o primeiro que descobriu
a terra firme de Pária, e, por conseguinte, ninguém por toda a terra firme
chegou antes, e isto afirma também Pedro Mártir, nos capítulos 3.° e 9.° de sua
primeira Década. Em seguida, o mesmo Hojeda, em sua deposição, também o
testifica sem poder negá-lo, dizendo que, desde que viu a gravura ou pintura em
Castela, veio ele a descobrir, e achou que o Almirante havia chegado a Paria e
saído pela Boca del Dragón. O segundo, que Américo veio com Hojeda, ou por
piloto, ou que sabia algo do mar, pois o conta junto com Juan de la Cosa e
outros pilotos, ou, por ventura, que veio como mercador pondo alguns dinheiros
e tendo parte na armada. O terceiro, suponhamos o que Américo confessa em sua
primeira navegação, e é, que chegou à terra que chamavam os Índios moradores
dela, Paria; em seguida, que em certa parte ou província da costa da terra
firme, ou na ilha onde fizeram guerra, os Índios dela lhe feriram 22 homens e
mataram-lhe um, e isto ocorreu no ano 99, como logo se provará. Pois digamos
assim: o Almirante foi o primeiro que descobriu a terra firme e Paria, Hojeda foi
o primeiro depois do Almirante, e Américo foi com Hojeda, e confessa que
chegaram a Paria. Pois o Almirante partiu de Sant Lúcar a 30 de Maio de 98
anos, logo Hojeda e Américo partiram de Cáliz no ano seguinte de 99 anos,
porque se o Almirante partiu a 30 de Maio de Sant Lúcar, e Hojeda e Américo a
20 de Maio de Cáliz, e o Almirante partiu primeiro, não pode ser a partida de
Hojeda e Américo naquele ano de 98, mas sim só no seguinte de 99 anos; nem se
pode dizer em contra que pode se ter partido Hojeda e Américo primeiramente a
20 de Maio do ano mesmo de 98, que partiu o Almirante, posto que sendo verdade
que o Almirante chegou primeiro e descobriu a Paria, porque já tínhamos
confessado o intento, convém, a saber, que o Almirante havia descoberto a
Paria, e ficaria o dito de Américo falso também, por ele ter confessado, que
disse que partiu no ano de 97 anos; logo, sem dúvida, nem partiram de Cáliz no
ano de 97, nem tampouco no de 98, mas sim no de 99, e, por conseguinte, fica
manifesto que não foi Américo quem descobriu primeiro a terra firme de Paria,
nem nenhum outro senão o Almirante. Isto se confirma, pelo que acima no
capítulo 140 se viu, que Hojeda em sua deposição, tomado por testemunha em
favor do Fisco, disse, convém a saber, que depois que viu a pintura da terra,
que o Almirante havia descoberto, em Castela, veio a descobrir e achou ser
verdade a terra como na pintura a havia visto, e pois esta pintura e relação
enviou o Almirante aos Reis no mesmo ano de 98, a 18 de Outubro que partiram os
ditos navios e chegaram pelo Natal, e neles foi meu pai, como aparece no cap.
155, acima. Logo, se partiu Hojeda e Américo por maio, a 20 dele, como escreve
Américo mesmo, não pode ser se não no ano seguinte de 99. Além disto, por outra
razão confirma-se: o Almirante foi avisado dos cristãos, que estavam pela
província de Yaquimo, que se dizia a terra do Brasil, que havia chegado ali
Hojeda, a 5 de Setembro, e assim o escreveu o Almirante aos Reis pelos navios
onde foram os Procuradores do Almirante e de Roldán; e isto foi no ano de 99,
ao tempo que andava acabando ou era acabada a pacificação de Francisco Roldán e
de sua companhia e a obediência do Almirante, e esta é a primeira viagem que
Américo fez com Hojeda; logo não podia ter partido Hojeda nem Américo de Cáliz
no ano de 97, mas sim no de 99. Que
fosse esta a primeira viagem que fez Hojeda e Américo em busca da terra firme,
aparece pelas duas coisas que acima se puseram, que o mesmo Américo em sua
primeira navegação disse; a uma, que chegaram à terra que chamavam os moradores
dela, Paria; a segunda, que lhes feriram os Índios em certa ilha [Ilha de Ity] 22 homens e os mataram um, e isto
disseram a Francisco Roldán os da companhia de Hojeda quando entrou nos navios
de Hojeda o mesmo Francisco Roldán, o qual enviou o Almirante a ele, logo que
soube que havia chegado Hojeda à terra do Brasil, desta ilha, como se dirá no
cap. 168. Escreveu Francisco Roldán ao Almirante, desde lá, [...] descobriram na terra que agora
novamente vossa senhoria descobriu; disse que passaram ao longo de costa 600
léguas, em que acharam gente que pelejava, tantos com tantos, com eles, e
feriram 20 homens e mataram um; em algumas partes saltaram em terra e lhes
faziam muita honra, e em outras não lhes consentiam saltar em terra, etc.» Estas
são palavras de Francisco Roldán ao Almirante. [...] Resta, logo, claro, pelo Américo dito, e
a concordância do que disseram seus companheiros a Francisco Roldán, convém
saber, que lhe haviam ferido 20 ou 22 e morto um, que esta foi sua primeira viagem;
e também por ambos que haviam ido e visto a Paria, terra novamente pelo
Almirante descoberta. Pois se esta foi sua primeira viagem de Américo e veio a
esta ilha no ano de 99, a 5 de setembro, tendo partido de Castela a 20 de maio
no mesmo ano de 99, como fica claramente visto, segue-se ficar Américo, de ter
falsamente posto que partiu de Cáliz no ano de 97, confusamente convencido. [...] [Vespucci] trocou as viagens que fez,
aplicando as coisas da primeira na segunda, e as coisas que em uma lhes
aconteciam, como se em outra acontecessem, as referia. Conta que na primeira
viagem tardaram dezoito meses, e isto não é possível, porque aos cinco meses
que havia partido de Castela veio a esta ilha, e desta ilha não podia retornar
a terra firme, para andar tanto por ela, pelos ventos que sempre correm
contrários, que são as brisas e as correntes, se não com grandíssima
dificuldade e em muito tempo, por maneira, que o que andou por terra firme, foi
dentro de cinco meses, dentro dos quais veio a ela, posto que, como abaixo se
dirá, disse o Hojeda a alguns dos espanhóis que aqui estavam, antes que desta
ilha partissem, que ia fazer uma razia, a qual fez salteando os Índios de
algumas das ilhas destes arredores, das quais levou a Castela, segundo conta o
mesmo Américo, 222 escravos, e isto disse no fim da sua primeira navegação: [...] outra é, que certos danos e
forças que Hojeda fez, e os que com ele vieram, aos Índios e aos espanhóis em
Xaraguá, em sua primeira viagem, pô-los na segunda navegação, [...] Antilla chamavam os
portugueses então esta ilha Española, e porque este Américo escrevia isto em
Lisboa, a chama Antiglia. Que estas injúrias que dizem que passaram ali dos
espanhóis, as quais se escusa dizer, porque não lhe cabe, e a causa por que se
as fizeram, a qual logo se dirá no capítulo seguinte, ocorreram na primeira
viagem, claro, logo, assim mesmo se verá. [...] outra é, que chegaram por 5 de setembro,
como se disse, a esta ilha, e disse que estiveram dois meses e dois dias nela,
e este, de necessidade, havia de ser todo setembro e outubro, e algum dia
andado de novembro; e disse ali, que saíram desta ilha a 22 de julho e que
retornaram ao porto de Cáliz a 8 de setembro; todo isto consta ser falsíssimo. O mesmo se pode averiguar de todos os
outros números dos anos, meses e dias que assinala de suas navegações,
facilmente, [...]” (Las Casas, Vol II, Cap CLIV, 1552)
“Isto ficou claro nos cap. 141 e 163 e 166 e
167, onde se provou que para a primeira viagem que fez Alonso de Hojeda, na
qual trouxe consigo a Américo Vespucio, partiu de Castela e do Porto de Santa
María depois que o almirante enviou as novas aos Reis, de como havia descoberto
a Paria, que é terra firme, e as pérolas, por qual novidade Hojeda se moveu a
vir descobrir, e veio pela mesma figura e caminhos ou rumos que havia enviado o
Almirante aos Reis. E estas novas chegaram com os cinco navios que partiram
desta ilha a 18 dias de outubro do ano de 98, e chegaram a Castela pelo Natal
(como foi no capítulo 155 dito); logo impossível foi ter partido na primeira
viagem a Hojeda e Vespucio no ano de 97, mas sim só no ano de 99, se disse a
verdade no mês e dia, porque diz que partiram a 20 de maio. Nesta viagem disse
também que tardaram dezoito meses, ainda que acima tenha sido declarado que só
foram cinco meses; […]. Daí parece que Américo pretendeu tacitamente aplicar
à sua viagem e a si mesmo o descobrimento da Terra Firme, usurpando ao
Almirante o que tão justamente se lhe devia. Parece também que para este
intento e pelos outros mais que quiçá lhe moveram, permutou as coisas que viram
e fizeram na primeira viagem com as da segunda, e as da segunda com as da
primeira.” (Las
Casas, 1561, Vol. III, Cap. III)
c.9) Bibliografia:
A Lettera
ao gonfalonier de Florence Pietro
Soderini (Lettera) (Carta
V – Ba), datada de Lisboa, 4 de setembro de 1504, narra as quatro supostas
viagens de Vespucci, em sequência. A carta original, escrita em Italiano, foi
traduzida em Portugal para o francês e enviada uma cópia para René II duque de
Lorena. Esta tradução francesa foi retraduzida em latim e publicada na Cosmographiae Introductio de
Waldseemüller de 1507. A carta original também foi publicada em italiano,
provavelmente também em 1507. A versão italiana original contém várias palavras
em espanhol e português, favorecendo a crença que a carta é legítima. No
entanto, como a 1ª viagem de Vespucci é tida por muitos como falsa, depreende-se
ou que este inventou a viagem e mentiu na carta, ou alguém, naquela época
inventou a carta, possivelmente baseado em material original do próprio
Vespucci.
- VESPUCCI, Amerigo. Lettera ao gonfalonier de
Florence Pietro Soderini (Carta V – Ba) (Lisboa, 4 de setembro de
1504) apud GRYNÄUS, Simon. Novus Orbis Regionum ac
insularum veteribus incognitarum, una cum tabula cosmographica, & aliquot
alijs consimilis argumenti libellis, quorum omnium catalogus sequenti patebit
pagina. His accessit copiosus rerum memorabilium index. Basileia: Jo. Heruagium, 1532. Pg. 154-168. (latim)
RAMUSIO, Giovanni Battista. Delle
Nauigationi et Viaggi. 2ª ed. Veneza: Stamperia de Giunti, 1554. Vol. I.
139C-140D (italiano). KERR, Robert. A
General History and Collection of Voyages and Travels, Arranged in Systematic
Order. Vol. 3. Edimburgh: William Blackwood, 1824, pg. 379-382 (inglês)
NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los viajes y descubrimientos que
hicieron por mar los Españoles desde fines del siglo XV, Madrid: Imprenta
Real, 1825. Vol. III, pg. 191-241 (Espanhol e latim). VARNHAGEN, Frederico
Adolfo. Amerigo Vespucci, son caractère, ses écrits (memes les moins authentiques),
sa vie et ses navigations. Lima: Imprimerie du Mercurio, 1865, pg. 27-48
(Latim e Italiano). ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS. Collecção de Noticias para
a História e Geografia das Nações Ultramarinas que Vivem nos domínios
Portugueses ou lhe são Vizinhas, Vol. 2. 2ª ed. Lisboa: Typographia da
Academia Real das Sciencias, 1867, pg. 145-153 (Português). GOMAR, Gregorio
Pérez. Americo Vespucio. Buenos
Aires: Imprenta de la Ondina del Plata, 1880, pg. 119-133 (Espanhol).
QUARITSCH, Bernard. The first four
voyages of Americ Vespucio. Londres: Bernard Quaritsch, 1885, pg. 45-88
(Inglês). MARKHAM, Clements, R. The
letters of Americo Vespucci and other documents illustrative of his career.
London: Lincoln’s in Field, 1894. Pg. 1-21 (Inglês). VIGNAUD, Henry. Recueil de Voyages et de Documents pour
Servir a L'histoire de la Géographie depuis le XIIIe jusqu’a la Fin du XVIe
Siècle. Vol. XXIII. Americ Vespuce 1451-1512. Paris: Ernest Leroux Éditeur,
1917, pg. 313-392 (Italiano, Francês e Latim). DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto:
Litografia Nacional, 1921. Pg. 201-202 (Português)
-
GÓMARA, Francisco López de. Historia
General de las Indias. Zaragoza, 1554.
- OVIEDO Y VALDEZ, Gonzalo
Fernández de. Historia General
y Natural de las Indias. Vol. II.
Madrid: Imprenta de la Real Academia de la Historia, 1852. (original, 1557)
- MUNSTER, Sébastien. Sei Libri Della Cosmografia Vniuersale, ne
quali secondo che nªhanno parlato i piu ueraci scrittori son disegnati, I siti de
tutte le parti del mondo habitabile & le proprie doti: Le Tauole
topographice delle Regioni. Basileia, 1558.
- LAS CASAS, Bartolomeu de.
Historia de las Indias. Vol. 2.
Madrid: Imprenta de Miguel Ginesta, 1875. (original, 1561)
- HERRERA, Antonio de. Historia
General de los Hechos de los Castellanos en las Islas y tierra Firme del Mar
Oceáno. Vol. 1. Madrid: Imprenta Real de Nicolás Rodriguez Franco, 1611.
- DE CHARLEVOIX. Histoire et description générale du Japon
... avec les fastes chronologiques de la découverte du Nouveau-Monde. Vol.
I. Paris: Pierre-François Giffart, 1736, pg. XIX
- ROUSELOT DE SURGY,
Jacques Philibert. Histoire générale des
voyages, ou Nouvelle collection de toutes les relations de voyages par mer et
par terre qui ont été publique jusqu’à present... Vol. 12. Paris: Didot,
1746, pg. 86-93.
- CAULIN, Antonio. Historia coro-graphica natural y evangelica
dela nueva Andalucia provincias de Cumaná, Guayana y Vertientes del Rio
Orinoco. Madrid: Juan de San Martin, 1779. Livro II, Cap. I, Parágrafo 1,
pg. 117.
- NAVARRETE, Martin
Fernandez. Colecion de los viajes e descubrimientos que hicieron por mar los
Españoles desde fines del siglo XV. Vol. III, Madrid: Imprenta Real, 1825.
Pg. 183-190; 291-334.
- IRVING, Washington. Voyages and discoveries of the companions of
Columbus. Philadelphia: Carey and Lea, 1831.
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Recherches sur Améric Vespuce et sur ses
prétendues découvertes en 1501 et 1503 — Avec des Notes addittionnelles (1836),
apud Opúsculos Esparsos. Vol. 1.
Lisboa: Imprensa Libanio da Silva, 1910. pg. 219-248 (francês). NAVARRETE,
Martin Fernandez. Colecion de los viajes e descubrimientos que hicieron por
mar los Españoles desde fines del siglo XV. Vol. III, Madrid: Imprenta
Real, 1825. Pg. 309-314.
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Continuation des Notes additionelles. A
la lettre de M. le vicomte de Santarém, publiée dans le Bulletin de la Société
de Géographie du móis d'octobre 1835, sur les voyages d'Améric Vespuce, de 1501
et 1503, par 1'aucteur à la Société de Géographie (1837), apud Opúsculos
Esparsos. Vol. 1. Lisboa: Imprensa Libanio da Silva, 1910. pg. 413-433
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Continuation des Notes additionelles à la Lettre de M. le Vicomte de
SANTARÉM, publiée dans le Bulletin de la Société de géographie du móis
d’octobre 1835, sur les
voyages d’Améric Vespuce, de 1501, et 1503, adressées par
l’auteur á la Société de géographie.
(1837), apud Opúsculos Esparsos. Vol.
1. Lisboa: Imprensa Libanio da Silva, 1910. pg. 435-457
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Vespuce (Améric) (1839), apud Opúsculos Esparsos. Vol. 1. Lisboa:
Imprensa Libanio da Silva, 1910. Pg. 465-468.
- HUMBOLDT, Alexander von. Examen Critique de l’Histoire de la
Geographie du Noveau Continent et des Progrès de l’Astronomie Nautique au
Quinzième et Sezième Siècles. Paris: Librairie de Gide, 1836-1839. Vol. 1,
pg. 313; vol. II, pg. 196-197, vol. III, pg. 219-222; vol. IV, pg. 28-336.
-
NAVARRETE, Martin Fernandez. Biblioteca
Maritima Espanhola. Madrid: Imprenta de la Viuda de Calero, 1852. Vol. 1,
pg. 55-69.
- VARNHAGEN, Frederico Adolfo. Amerigo Vespucci,
son caractère, ses écrits (memes les moins authentiques), sa vie et ses
navigations. Lima: Imprimerie du Mercurio, 1865, pg. 27-48.
- VARNHAGEN, Frederico Adolfo. Historia geral do
Brazil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa E. e H. Laemmert, 1877. Vol. 1, pg.
24-25.
- CORTAMBERT, Richard. Nouvelle Histoire des Viages et des Grands
Découvertes Géographiques dans tous les Temps et dans Tous les Pays. L’Amerique
– Le Pole Nord. Paris. Libraire Illustré. (entre 1865 e 1884). Pg. 57-58.
- GOMAR, Gregorio Pérez. Americo Vespucio. Buenos Aires: Imprenta de la Ondina do Plata,
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Santiago de Chile: Impresso en la casa del autor, 1897.
- OBER, Frederick A. Amerigo Vespucci. New York e Londres:
Harper & Brothers publishers, 1907.
- VIGNAUD, Henry. Recueil de Voyages et de Documents pour
Servir a L’histoire de la Géographie depuis le XIIIe jusqu'a la Fin du XVIe
Siècle. Vol. XXIII. Americ Vespuce 1451-1512. Paris: Ernest Leroux Éditeur,
1917.
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DIAS, Carlos Malheiro. História da
Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto: Litografia Nacional, 1921.
Pg. CXIII-CXXV, 109-110.
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15. 2a Ed. Detroit, 1998. pg. 476-478.
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1500-1531. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2006.
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I. Volume 1. A Época Colonial. Do
descobrimento à Expansão Colonial. 20ª ed. Rio de Janeiro: Betrand Russel,
2015. Pg. 57-58.
Alonso de Hojeda e Amerigo Vespucci (maio
de 1499 a abril ou maio de 1500)
d.1) Partida, Ilhas Canárias e Ilhas
Cabo Verde (16-18 de maio a 30 de maio/05 de junho de 1499)
Como consequência da
licença supracitada, concedida para fazer descobrimentos no Novo Mundo, Alonso
de Hojeda (ou Ojeda) comandou a sua 1ª Viagem em direção ao norte da América do
Sul e ao Caribe, entre de maio de 1499 e fevereiro de 1500. Está provado que
Vespucci ia nesta expedição. Juan de la Cosa ia como piloto e Amerigo Vespucci
ia como simples mercador e como entendido em cosmografia. Segundo alguns
autores, no início desta viagem Vespucci teria se afastado do resto da expedição
e visitado o litoral nordeste do Brasil. Como a fonte básica para o
conhecimento desta viagem são as cartas de Vespucci, e como ele frequentemente
se contradiz nos detalhes, muita coisa ainda é incerta. Não se sabe ao certo o
local de partida: do porto de Santa Maria (Nicolás Perez, Juan de Xerez, Las
Casas e Herrera) ou de Cádiz (Vespucci, Lettera
Ba). Vespucci falou que eles partiram com 2 (Lettera Bandini) ou 3 navios (Lettera
Ba). Também não se pode precisar com certeza em que dia de maio que eles
partiram: a 16 (Lettera Ba, Charlevoix)
ou 18 (Lettera Bandini) de maio de
1499. Vespucci (Lettera Bandini) e o
piloto Andrés
de Morales (Probanzas) disseram
que eles desembarcaram nas Ilhas Canárias (Ilha de Gomera, segundo Vespucci; Ilha de Hierro, segundo
Morales) onde fizeram provisões; no
entanto, Vespucci na Lettera Ba
(1504) afirmou que eles passaram ao largo das Ilhas Canárias e foram direto
para as Ilhas de Cabo Verde, desembarcando na Ilha do Fogo, onde fizeram
provisões. Como há 2 testemunhos de terem ido para as Ilhas Canárias, além destas
ilhas serem espanholas, enquanto as Ilhas de Cabo Verde serem dos rivais
portugueses, parece que o correto é terem ido mesmo para as Ilhas Canárias,
seja a de Gomera, seja a de Hierro. Quaritsch e Vignaud calcularam a viagem
para as Ilhas Canárias entre 6 e 10 dias, portanto eles aí chegaram entre 22 e
26 (Lettera Ba) e 24 e 28 (Lettera Bandini) de maio de 1499. Na Lettera Ba e na Lettera Bandini menciona-se o reabastecimento nas Ilhas Canários ou
de Cabo Verde, mas não se menciona o período. Se se considerar um tempo de 8
dias de reabastecimento, como descrito para a suposta 1ª viagem, pode-se fazer
um cálculo aproximado da data de partida das ilhas, que seria entre 30 de maio
e 03 de julho (Lettera Ba), e 01 e 05
de julho (Lettera Bandini) de 1499.
“[...] por
comissão deste Rei de Espanha, parti com duas caravelas no dia XVIII de maio de
1499 para ir descobrir para a parte do SO do mar Oceano e tomei meu caminho ao
largo da costa da África, navegando até chegar às Ilhas Afortunadas que hoje se
chamam as Canárias, e havendo-me provido ali de todas as coisas necessárias,
feitas nossas orações, fizemos vela de uma ilha que se chama a Gromera [...]” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“Partimos
do porto de Cádiz com três navios de conserva no dia 16 [a versão latina só
diz que partiram em maio de 1499] de maio
de 1499 e começamos nosso caminho direto às Ilhas de Cabo Verde, passando à
vista da Ilha da Grande Canária, até chegar a uma ilha que se diz Do Fogo, onde
fizemos nossa provisão de água e lenha [...]” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
“Nicolás
Pérez , mestre do navio do Rei, [...] disse
que ao tempo que Cristoval Guerra e Pero Alonso Niño foram descobrir, esta testemunha
ia assim mesmo com a frota de Hojeda e de Juan de la Cosa descobrir, e partiram
primeiro Hojeda e Juan de la Cosa do Puerto de Santa Marya [...]” (Probanza, 1513,
3ª Questão)
“Andrés de Morales,
piloto, [...]. Perguntado como
o sabe, disse que o sabe por que falou muitas vezes com Juan de la Cosa,
piloto, e com Alonso de Hojeda nas navegações daquela viagem, e depois esta
testemunha andou e navegou muitas vezes, [...] partiram da Ilha do Hierro
que é na ilha de Canaria [...]” (Probanza, 5ª
Questão, 1513)
“Juan de
Xerez, piloto [...] e os ditos Juan de la Cosa
e Alonso de Hojeda foram armar no porto de Santa Maria, e dali partiram para
descobrir [...]” (Probanza, 1513, 5ª Questão)
“E é bem aqui considerar, a injustiça e agravo que
aquele Américo Vespucio parece ter feito ao Almirante, ou os que imprimiram
suas quatro navegações, atribuindo a si, ou não nomeando senão a si só, o
descobrimento desta terra firme; e por isto todos os estrangeiros que destas Índias,
em latim ou em sua língua materna escrevem, e pintam, ou fazem cartas ou mapas,
chamam-na de América, como descoberta e primeiro achada por Américo. Porque
como Américo era latino e eloquente, soube enriquecer a primeira viagem que
fez, e aplicá-la a si mesmo, como se fora ele por principal e Capitão dela,
havendo ido como um dos que foram com o capitão Alonso de Hojeda, do qual acima
falamos, ou como marinheiro, ou porque pôs como mercador alguma parte dos
custos da armada; principalmente cobrou autoridade e nome por haver dirigido as
navegações que fez ao rei Renato, de Nápoles. [...] neste tempo [fins de 1498] estava o dito Alonso de Hojeda em
Castela, e chegou a relação deste descobrimento e o desenho da terra que o
Almirante enviou logo aos Reis, e tudo ia às mãos do bispo D. Juan Rodríguez de
Fonseca, que já creio que era bispo de Palencia, que tinha o encargo da
expedição e negócios destas Índias desde seu princípio, [...]. O dito Alonso de Hojeda
era muito querido do bispo, e como chegou a relação do Almirante e a pintura
dita, inclinou-se Alonso de Hojeda a ir descobrir mais terra por aquele mesmo
caminho que o Almirante levado havia, [...] ; e como teve o favor e
vontade do bispo, buscou pessoas que lhe armassem algum navio ou navios, porque
a ele não lhe sobravam dinheiros, e achou em Sevilla (e, por ventura, no porto
de Sancta María, e de ali partiu para o dito descobrimento), onde ele era
conhecido, e porque por suas obras, de homem esforçado e valoroso era
assinalado, quem quatro navios lhe armasse. Dão-lhe os Reis suas provisões e
instruções e constituem-no por Capitão para que descobrisse e resgatasse ouro e
pérolas e o que demais achasse, dando-lhes o quinto aos Reis, e que tratasse de
paz e amizade com as gentes aonde chegar lhe ocorresse. E assim, o primeiro que
depois do Almirante foi a descobrir, não foi outro senão Alonso de Hojeda; e,
os que levou e quis levar em sua companhia; trabalhou de levar todas as pessoas
que pôde, marinheiros, e que mais das navegações destas terras sabiam, que não
eram outros senão os que haviam vindo e andado com o Almirante. Estes foram os
principais, naquele tempo: um deles, Juan de la Gossa, vizcaino, que veio com o
Almirante quando descobriu esta ilha, e depois foi também com ele ao
descobrimento das ilhas de Cuba e Jamaica, laboriosíssima viagem até então;
levou também Hojeda consigo ao piloto Bartolomé Roldán, [...]; trouxe também Hojeda ao
dito Américo, não sei se por piloto ou como homem entendido nas coisas do mar e
douto em cosmografia, porque parece que o mesmo Hojeda o põe entre os pilotos
que trouxe consigo. E o que creio e recolho do prólogo que faz ao rei Renato de
Nápoles no livro de suas «Cuatro navegaciones,» [Lettera Ba] o
dito Américo, ele era mercador, e assim o confessa; devia, por aventura, por
alguns dinheiros na armada dos quatro navios e ter parte nos proveitos que dali
se tivessem, e ainda que Américo reitere muito que o rei de Castela fez a
armada e por seu mandato iam descobrir, mas não é assim, em vez disto,
juntavam-se três ou quatro, ou dez que tinham algum dinheiro, e pediam e até
importunavam por licença aos Reis, para ir descobrir e granjear, procurando
seus proveitos e interesses. [...] Que tenha ido Américo com
Alonso de Hojeda, e Hojeda ter ido depois do Almirante ter descoberto a terra
firme, é coisa muito averiguada e provada com muitas testemunhas, e pelo mesmo Alonso
de Hojeda, o qual foi presentado pelo Fiscal por testemunha em favor do fisco,
quando o Almirante, D. Diego Colon, legítimo e primeiro sucessor do dito
Almirante D. Cristóbal Colon, moveu pleito ao Rei por todo seu Estado de que
havia seu padre sido despossuído, e ele o estava por esta causa; [...]; à quinta pergunta, que
contém o que o mesmo Hojeda havia descoberto desde Paria em diante, disse assim
Hojeda, que a verdade desta pergunta é que ele veio descobrir em primeiro,
depois que o Almirante descobriu, e que ele foi para o Meio-dia da terra firme,
quase 200 léguas [1.115km],
e desceu depois até Paria e saiu pela Boca del Dragón, e ali soube que o
Almirante havia estado na ilha da Trinidad, junto com a Boca del Dragón; e
abaixo disse, que nesta viagem, que esta testemunha fez, trouxe consigo a Juan
de la Cosa e a Américo Vespucio, e outros pilotos, etc. Isto disse Alonso de
Hojeda, entre outras coisas, em seu dito e deposição; por maneira, que ficam
provadas por este mesmo Hojeda duas coisas: uma, que trouxe a Américo consigo,
e a outra, que veio descobrir por terra firme depois de tê-la descoberto o
Almirante; e esta última está muito provada, convém a saber, que o Almirante
havia sido o primeiro que descobriu a Paria, e que nela esteve antes que cristão
algum chegasse a ela, nem a parte alguma de toda a terra firme, nem tivesse
notícia de coisa dela, e isto provou o Almirante, Don Diego, seu filho, com 60
testemunhas de ter ouvido e 25 de ter visto, como parece pelo processo deste
negócio e pleito, o qual eu vi e bem vi.” (Las Casas, Vol II, Cap CXL, 1552)
“[...] como Alonso de Hojeda,
que já estava em Castela, o qual, creio eu, que devia de ir-se quando meu tio
Francisco de Peñalosa, soube que o Almirante [Colombo] havia a dita terra descoberto [Pária, Venezuela] e as pérolas, e viu o desenho dela
que o Almirante enviou aos Reis, e dizia em suas cartas que era ilha, e com
dúvida (ou alguma crença) que era terra firme, como lhe favorecia e era
aficionado o bispo de Badajoz, D. Juan de Fonseca, que disto tudo cuidava e
provia, suplicou-lhe que lhe desse licença para vir descobrir por estas partes,
ilhas ou terra firme, ou o que achasse. O bispo deu-a a ele, firmada de seu
nome e não dos Reis, [...]. Deu-a, porém, com esta limitação,
que não tocasse na terra do rei de Portugal, nem na terra que o Almirante havia
descoberto até o ano de 95. Também ocorre aqui outra dificuldade: porque não
excluía a terra que agora o Almirante havia descoberto, pois constava na
pintura e cartas que dela enviava aos Reis? A isto não saberei responder. [...]. Tendo recebido, pois, a
licença Hojeda, houve pessoas em Sevilla que lhe armaram quatro caravelas ou
navios, porque havia muitos ávidos e cobiçosos de ir descobrir o novelo pelo
fio que lhe pôs nas mãos o Almirante, por haver sido o primeiro que abriu as
portas deste, cerrado tantos séculos havia, mar Oceano. Partiu do porto de
Sancta María ou de Cáliz, pelo mês de maio, e, se não disse contra a verdade
Américo Vespucio em relação aos dias do mês, como não o disse quanto ao ano,
foi sua partida a 20 de maio de 499; [...].” (Las
Casas, Vol. II, Cap CLIV, 1552)
“Partiu, pois,
com quatro navios, pelo mês de maio, do porto de Cáliz, Alonso de Hojeda, e
Juan de la Cosa por piloto já experimentado pelas viagens em que havia ido com
o Almirante, e outros pilotos e pessoas que também se haviam achado nas ditas
viagens, e também Américo, [...] ou foi como mercador ou como
sábio nas coisas de cosmografia e do mar; partiram, digo, por maio, segundo
disse Américo, porém não como ele disse, no ano de 1497, mas no ano de 99, como
assaz foi provado.” (Las
Casas, Vol. II, Cap CLXV, 1552)
“Vesputio em maio seguinte pôs-se de novo
a navegar, e chegou às Canarias, até a tórrida zona, e encontrou um país fora do
equador situado, onde o polo meridional é alto cinco graus.” (Munster, 1558, libro V,
pg. 1187)
“Achava-se, nesta época, na Corte, Alonso de
Ojeda, e viu a pintura, e a mostra das Pérolas, e do Ouro: e como era
Favorecido de Juan Rodrigues de Fonseca, que já estava próximo aos Reis, e provia
as coisas das Índias, pediu a licença para ir por aquelas Partes, descobrir
Ilhas, ou Terra-firme, ou o que achasse. O bispo deu-lhe-a, firmada de seu
Nome, e não dos Reis, com que não tocasse em Terra do Rei de Portugal, nem na
que o Almirante havia descoberto até o Ano de 1495. Com esta Licença, houve
Pessoas, que armaram em Sevilla quatro Navios, porque já havia muitos cobiçosos
para ir descobrir; e partiu do Puerto de Santa Maria, a 20 de maio. Ia por
Piloto Juan de la Cosa, Vizcaino, Homem de valor, e Americo Vespucio por
Mercador: e como sábio nas coisas de Cosmografia, e do Mar [...]” (Herrera, Vol. I, Década I, Libro IV, Cap. I,
pg. 97, 1611)
“A dezesseis
de Maio, Alphonse de Ojeda, Gentil-homem Espanhol, acompanhado de Americ
Vespuce, Florentino, e de Jean dela Cosa, o mais hábil Piloto, que estava então
na Espanha, aborda ao Continente da América, a duzentas léguas [1.115km] a Oriente do Orenoco, percorreu a
Costa durante duzentas outras léguas [1.115km],
até ao Cap. de la Vela, ao qual ele dá este nome, descobriu o Golfo de
Maracaïbo, e dá o nome de Venezuela, quer dizer, de pequena Veneza, a uma
Povoação, que ele encontrou fundada sobre a água, mais ou menos como esta
grande Cidade, nome, que depois se estendeu a toda esta Província; e reconheceu
toda a Costa de Cumana. Americ Vespuce, que era apenas um Cidadão, na Esquadra,
e associado na Empresa de Ojeda, publica a Relação desta descoberta, na qual
ele se dá toda a honra; e para persuadir ao Público que ele foi o primeiro de
todos os Europeus a abordar ao Continente desta grande parte do Mundo, ele ousa
dizer que sua Viagem foi de vinte e cinco meses. Ojeda, interrogado
juridicamente sobre este fato, o desmente com juramento; mas como,
inicialmente, acreditou-se em sua palavra, acostumou-se a dar seu nome ao Novo
Mundo e o erro prevaleceu sobre a verdade.” (Charlevoix, vol. 1,
1736)
d.2) Chegada à América do Sul (entre 24 de junho e 07
de julho de 1499)
Partindo da Ilha de
Hierro ou Gomera (Ilhas Canárias) ou da Ilha do Fogo (Ilhas de Cabo Verde),
navegaram para oeste e depois para o sul e, após muitos dias alcançaram terra
firme, cerca de 200 léguas (1.115km) a leste de Pária, cerca de 5º Norte
(Suriname ou Guiana Francesa). Markham julgava que chegaram à Venezuela, perto
da foz do Rio Orinoco, e Navarrete, Humboldt e Irving diziam Suriname. Varnhagen,
Quaritsch, Cortambert, Gomar e outros autores, seguindo o relato da carta Ba, supunham que eles chegaram a 5º Sul,
o que corresponderia ao litoral noroeste do Rio Grande do Norte. Navarrete
ressaltou que a distância supostamente percorrida era 666 2/3 léguas marítimas
(3.715km), e o rumo a SO; este rumo e distância colocavam a Vespucci e seus
navios sobre o continente Americano na parte setentrional de Brasil, a umas 165
léguas (920km) terra adentro. O mesmo rumo e a latitude de 5° S situavam-no
também umas 58 léguas (323km) no interior do continente sul-americano. A
maioria dos autores atuais considera que eles chegaram na costa das Guianas ou
do leste da Venezuela. O tempo de viagem até a América do Sul variou: 19 dias (Lettera Ba, versão latina), 24 dias (Lettera Bandini), e 44 dias (Lettera Ba, versão italiana). Seguindo
os nossos cálculos, a data de chegada à América do Sul seria aproximadamente de:
a) Lettera Bandini: partida das Ilhas
Canárias entre 01 e 05 de julho, 24 dias de viagem, chegada entre 25 e 29 junho
de 1499; b) Lettera Ba versão
italiana: partida das Ilhas Canárias entre 30 de maio e 03 de julho, 44 dias de
viagem, chegada entre 03 e 07 de julho de 1499. Portanto, a data de chegada à
América do Sul situa-se entre 25 de junho e 07 de julho de 1499.
“[...] pusemos
a proa para o Libeccio [SO] e
navegamos XXIIII dias com vento fresco, sem ver terra alguma, ao cabo de XXIIII
dias avistamos terra e reconhecemos haver navegado cerca de mil e trezentas
léguas [7.245km], contadas desde a
cidade de Cádiz, no rumo do Libeccio [SO].” (Vespucci, 1500, Lettera
Bandini, Bb)
“[...]
e partimos dela tomando rumo pelo Libeccio [SO] e em quarenta e quatro [19 dias na
versão latina] dias fomos a dar com uma
terra nova, que julgamos ser terra firme e contígua com a acima mencionada, a
qual está situada dentro da Zona Tórrida e depois da Linha Equinocial pela
parte do Sul, sobre a qual se eleva o polo do Meridiano cinco graus e dista de
dita ilha, pelo vento Libeccio [SO],
oitocentas léguas. Encontramos que eram iguais os dias com as noites, porque
fomos a esta no dia 27 de junho, quando o sol esta cerca do trópico de câncer: [...].” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
Vespucci disse que os
espanhóis, ao chegar, não teriam visto nenhum nativo e teriam lançado os bateis
e tentado descer em terra, o que não conseguiram por a terra ser toda alagada.
“Vista a
terra demos graças a Deus e lançamos para fora os barcos e com XVI homens fomos
à terra e a encontramos tão povoada de árvores que era coisa maravilhosa, [...]. E andamos com o barco ao longo da costa
para vermos se encontrávamos lugar aonde saltar a terra, e como era terra
baixa, nos afanamos todo o dia até a noite sem poder achar desembarcadouro,
pois no-lo impedia no solo o baixo da terra além também da espessura das
árvores; de modo que concordamos retornarmos aos navios e irmos descobrir a
terra em outra parte: e vimos uma coisa maravilhosa neste mar e foi que antes
de atracar à terra, à quinze léguas, encontramos a água tão doce como a de um
rio, tanto que enchemos todos os cascos vazios que tínhamos.” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“[...] esta terra
reconhecemos que era toda alagada e cheia de grandíssimos rios. Neste princípio
não vimos gente alguma: ancoramos com nossos navios e lançamos nossos batéis;
fomos com eles à terra, e como disse, encontramo-la cheia de grandíssimos rios,
e alagada pelos grandíssimos rios que encontramos, e a abordamos em muitas
partes para ver se poderíamos entrar nela, mas pelas grandes águas e rios que
encontramos, e por mais trabalho que tivemos, não encontramos lugar que não
fosse alagado. Vimos pelos rios muitos sinais de que a terra era povoada: [...].” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
Vespucci afirma ter partido em direção a leste-sudeste por 220km, mas
como as correntes eram contrárias, resolveram mudar de direção e ir
acompanhando a costa na direção noroeste. Na carta Bandini ele alegou ter ido até 6º S, o que corresponderia ao
litoral do Rio Grande do Norte, um pouco ao sul de Natal; Varnhagen, Gomar e
Quartisch eram desta opinião. A expedição reconheceu dois grandes rios, um que
corria de Ocidente a Oriente e que devia ser o Orinoco, cujas águas corriam
muitas léguas mar adentro sem misturar-se com as águas salgadas do mar, e outro
rio de Sul a Norte e que devia de ser um dos braços do mesmo rio, que forma seu
delta sobre o Oceano, porém, segundo Navarrete e Humboldt, seria o Rio
Essequibo, no Suriname, que, por algum tempo, denominou-se Rio Dulce.
“Quando
retornamos para os navios, levantamos âncoras e fizemos vela pondo a proa no
meio; porque minha intenção era ver se podíamos dobrar um cabo de terra, que
chama Tolomeo de Cabo de Catigara que dá passo ao Seio Magno que, segundo minha
opinião não estava muito distante deste ponto, segundo os graus de latitude e
longitude como mais abaixo referirei. Navegando para o Sul ao largo da costa,
vimos sair da terra dois grandes rios, um que vinha do Poente e corria para o
Levante e tinha de largura quatro léguas [22,3km], que são dezesseis milhas: e o outro que corria de Sul para o Norte e
tinha de largura três léguas [17km]:
e creio que estes dois rios faziam que o mar estivesse doce por causa de sua
grandeza. E vendo que, todavia, a terra era baixa, concordamos em entrar em um
destes rios com as barcas e navegar tanto nele até que encontrássemos
ancoradouro onde saltar à terra ou de achar alguma povoação; ajeitadas nossas
barcas e, levando mantimentos para quatro dias, com vinte homens bem armados,
entramos pelo rio e à força de remo navegamos por ele cerca de dois dias, em
uma extensão de cerca de dezoito léguas [100km], tendo tentado desembarcar em muitas partes, mas sempre encontramos
que era continuamente terra baixa e tão povoada de árvores que apenas um
pássaro podia voar por ela; e navegando assim pelo rio vimos sinais certos de
que a terra era habitada: e porque havíamos deixado as caravelas em lugar
perigoso se soprava o vento de través, concordamos no fim dos dois dias
voltarmos a elas e o pusemos em prática. [...] e no rio vimos muita gente de aspecto extraordinário a pescar. Uma vez
nos navios nos movemos tendo a proa sempre ao meio dia e achando-nos saídos no
mar cerca de quarenta léguas [223km],
nos achamos em uma corrente de mar, que corria de Scirocco [SE] ao Maestrale [NO] que era tão grande e vinha com tal fúria que nos deu medo e nos trouxe
por isto grande perigo. A corrente era tal que aquela do estreito de Gibraltar
e aquela do Estreito de Messina são como um estanque em comparação desta: de
modo que como ela nos vinha pela proa não fazíamos caminho a pesar de ter
vento; e assim vendo o pouco caminho que fazíamos e o perigo em que estávamos,
resolvemos virar a proa para o Maestrale [NO] e navegar para o Norte e posto que se mal não recordo, V. M. entende
algo de Cosmografia penso descrever-lhe nossa marcha por via de longitude e
latitude; assim pois saberá V. M. que navegamos tanto para a parte do meio-dia
que entramos à Zona Tórrida, dentro do Círculo de Cancer [...] Navegamos pela Zona Tórrida para a parte Austral
até achar que nos encontrávamos sob a Linha Equinocial, e que tínhamos um e
outro Polo ao fim de nosso horizonte; passamos a linha em seis graus [...]. Em conclusão digo que nossa navegação se estendeu
tanto à parte meridional que nos afastamos do caminho da latitude de Cádiz
sessenta graus e meio; porque sobre a Cidade de Cádiz eleva-se o polo a trinta
e cinco graus e meio e nós havíamos passado a Linha Equinocial em seis graus: [...]. Haveis de notar que esta navegação ocorreu
nos meses de julho, agosto e setembro, [...] Até aqui referi-me ao que naveguei para o meio-dia e o Ocidente; [...].” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“[...] Visto que nesta parte não pudemos entrar,
decidimos retornarmos aos navios, e de abordá-la em outra parte, e levantamos
nossas âncoras, e navegamos infra levante e sciloccho [ESE], costeando continuamente a terra, que assim
corria, e em muitas partes a abordamos no espaço de 40 léguas [223km] e tudo foi tempo perdido. Encontramos nesta
costa que as correntes do mar eram de tanta força, que não nos deixavam navegar
e todas vinham do sciloccho [SE] ao
maestrale [NO], de modo que visto
tantos inconvenientes para a nossa navegação, fizemos nosso Conselho, e
decidimos retornar a navegação na parte do maestrale [NO]: [...]” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba)
d.3) Costa da Venezuela (fins de junho ou início de
julho de 1499)
Hojeda navegou em direção Norte e, chegou
a uma ilha a 10º Norte, onde viram grande multidão em terra e onde 22 espanhóis
desembarcaram e foram bem acolhidos. Os nativos os levaram a uma de suas
populações, que estava terra adentro cerca de 11km. Depois de ter estado com
eles todo um dia, retornaram aos navios. Navegaram ao largo da costa desta ilha
e viram na margem do mar outra grande povoação; foram com o batel à terra e novamente
foram bem acolhidos. Navarrete supunha que esta ilha fosse a Ilha de Trinidad
no Golfo de Pária.
“Digo
que depois que dirigimos nossa navegação para o Norte, a primeira terra
habitada que encontramos foi uma ilha que distava dez graus da Linha Equinocial
e quando chegamos nela percebemos grande multidão de gente à beira do mar que
nos observava como coisa maravilhosa, e ancoramos junto à terra coisa de uma
milha e armamos o barco e fomos à terra com 22 homens bem armados; vendo-nos saltar
em terra, souberam que éramos gente de distinta natureza à sua [...] de modo que tendo medo de nós todos fugiram
ao bosque e com grande trabalho por meio de sinais os tranquilizamos e tratamos
com eles; e encontramos que eram de um povo que se diz de canibais, que quase a
maior parte deste povo ou todos, vivem de carne humana e tenham-no por certo V.
M [...] em conclusão, tivemos trato
com eles, e eles nos levaram a uma de suas populações , que estava terra
adentro cerca de duas léguas [11km],
e nos deram o almoço, e qualquer coisa que pedíssemos, então nos davam, creio
que mais por medo que por amor, e depois de ter estado com ele todo um dia,
retornamos aos navios, mas permanecendo amigos deles. Navegamos ao largo da
costa desta ilha e vimos na margem do mar outra grande povoação; fomos com o
batel à terra e encontramos que nos estavam esperando carregados de víveres;
deram-nos de almoçar muito bem do que tinham; vendo que eram tão boas gentes
que nos tratavam tão bem, não ousamos apoderar-nos de nada [...]” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
Eles navegaram até que, aproximadamente
em julho de 1499, chegaram a um porto natural formado por uma grande ilha que
ficava na entrada de uma grande enseada. Lá eles tentaram capturar uma canoa de
Canibali, mas quando se aproximaram
os nativos saltaram da canoa no mar e os espanhóis só conseguiram aprisionar
alguns índios no mar e algumas crianças que iam prisioneiras para serem
comidas. Os espanhóis, então, desembarcaram na ilha e soltaram um dos presos
com presentes, o qual conseguiu trazer os nativos. Estes, após a libertação do
outro prisioneiro e da devolução da canoa, fugiram para o interior. Varnhagen
supunha que fosse a ilha de Caiena; outros, como Quaritsch, supunham que fosse
o Golfo de Pária. Navarrete supunha que fosse a ilha a Ilha de São Luís (MA).
“[...] e tanto navegamos ao longo da terra, que
fomos a ter a um belíssimo porto: o qual era causado por uma grande ilha, que
estava na entrada, e dentro se fazia uma grandíssima enseada, e navegando para entrar
nela, ao longo da ilha, vimos muita gente e alegramo-nos, viramos nossos navios
para ancorarmos onde víamos a gente, que estavam mais para o mar, cerca de
quatro léguas [22km], e navegando
deste modo, vimos uma canoa, que vinha de alto mar, com muita gente a bordo.
Decidimos tomá-la e fizemos a volta com nossos navios em direção a ela, com
ordem de que nós não a perdêssemos, e navegando a sua volta com tempo fresco,
vimos que estavam parados com os remos elevados, creio que por estarem
maravilhados com os nossos navios, e quando viram que nós nos apressávamos em
sua direção, meteram os remos na água e começaram a navegar para a terra, e
como nossa companhia vinha em uma caravela de 45 tonéis muito boa de vela, ela
se pôs a barlavento da canoa, e quando lhe pareceu chegar o tempo de cair sobre
ela, despregou as velas e foi sobre a canoa e também o navio, e como a
caravelazinha emparelhasse com ela e não quisessem investir sobre ela, passou-a
e depois permaneceu em sotavento, e como se vissem em vantagem, começaram a fazer
força com os remos para fugir, e nós que nos encontrávamos nos bateis, com a
popa já provida de boa gente, pensamos em tomá-la; e trabalhamos mais de duas
horas, e enfim, se a caravelinha não fazia uma outra volta sobre ela, perderla-íamos,
e quando se viram encurralados pela caravela e pelos bateis todos se lançaram
ao mar, que podiam ser 70 homens [20 na versão latina], e distavam da terra cerca de duas léguas [11km], e seguindo-lhes com os batéis, durante
todo o dia, só pudemos tomar dois, pois os outros todos se foram a terra,
salvando-se; na canoa ficaram 4 crianças, que não eram do mesmo povo, pois que
os traziam prisioneiro de outra terra, e os haviam castrados, pois que todos
eram sem membro viril, e estavam com a chaga fresca. Com isto, muito nos
maravilhamos e os colocamos nos navios, disseram-nos por sinais, que os haviam
castrado para comê-los e soubemos que aqueles eram de uma gente, que se diziam
Camballi, muito brutais, que comiam carne humana. Fomos com os navios, levando
conosco a Canoa na popa, em volta da terra, e ancoramos a meia légua [2,8km]
e como em terra víamos muita gente na
praia, fomos com os batéis em terra, e levamos conosco os dois homens que
tomamos. Ao chegarmos em terra, toda a gente fugiu e foram-se a um bosque;
libertamos um dos homens, dando-lhe muitos sinos, e mostramos-lhe ser seus
amigos. Ele fez muito bem o que lhe mandamos, e trousse consigo toda a gente,
que podia ser 400 homens, e muitas mulheres, os quais vinham sem nenhuma arma
para aonde estávamos com os bateis. Tendo feito com eles boa amizade,
devolvemos-lhe o outro prisioneiro, e mandamos aos navios pela sua Canoa, e
devolvemo-la. Esta Canoa era longa de 26 passos, [...] e quando a tiveram varada em um rio, e colocada em um lugar seguro,
todos fugiram, e não quiseram mais tratar conosco, o que nos pareceu um ato
totalmente bárbaro, e julgamos-lhe gente de pouca fé e de má condição. Neles
vimos algum pouco ouro que tinham nas orelhas.” (Vespucci, Ba, 1504, Lettera)
“Mas não podendo
descer à terra, enquanto que andavam vagando pelo mar, tomaram uma barca onde
estavam cerca de 20 homens, os quais, para não ficarem prisioneiros, saltaram na
água e salvaram-se, exceto dois que foram presos, e encontraram na barca por
eles abandonada, quatro jovens que não eram da mesma nação, mas prisioneiros em
terra alheia, aos quais recentemente haviam cortado o membro viril. Vespucio fez-lhes
vir no seu navio, compreendeu com os sinais deles como foram feitos prisioneiros
pelos Canibali, que em pouco tempo os teriam comido.” (Munster, 1558, libro
V, pg. 1189)
d.4) Pária (fins de julho
de 1499)
Vespucci foi, em seguida, para dentro da enseada, que se supõe ser o
Golfo de Pária. Navarrete supunha que a enseada relatada na Lettera Ba, era uma das que havia a
leste do Rio Pará. Segundo alguns, a povoação, onde eles foram bem recebidos
pelos nativos e adquiriram dos nativos 150 pérolas e ficaram 17 dias, ficava
junto ao Rio Guarapiche, enquanto Irving situava em Maracapana.
“[...] e
nos fizemos à vela chegando a um golfo que se chamou golfo de Parias; fomos
sair a frente de um grandíssimo rio que é causa de ser doce a agua deste golfo;
vimos uma grande povoação que estava junta ao mar e onde havia tanta gente
grande, que era uma maravilha, achando-se todos sem armas e em atitude de paz;
fomos com os barcos em terra e receberam-nos com muito amor e nos levaram a
suas casas, onde se tinham muito bem preparados para fazer o almoço. [...] Deram-nos algumas pérolas pequenas e onze
grandes; dizendo-nos por sinais que se queríamos esperar alguns dias iriam
pescá-las e trariam muitas delas; não nos preocupamos em receber muitos
papagaios de várias cores e nos despedimos com muita amizade. Por esta gente
soubemos que aqueles da ilha referida eram canibais e que comiam carne humana.”
(Vespucci, 1500, Lettera
Bandini, Bb)
“Partimos
daqui, e entramos dentro da enseada, onde encontramos tanta gente, que foi algo
admirável; com estes fizemos em terra amizade e fomos muitos de nós com eles às
suas povoações, com muita segurança e fomos bem recebidos. Neste lugar
resgatamos 150 pérolas [500 na versão latina], que as
deram por um sino, e um pouco de oro, que davam de graça. [...] Ficamos neste porto 17 dias com muito prazer
e cada dia vinham nos ver novos povos da terra adentro, maravilhando-se de
nossas feições e brancura, e de nossas roupas e armas, e da forma e grandeza
dos navios. Desta gente tivemos notícia de como havia uma gente mais ao poente
do que eles, que eram seus inimigos, que tinham infinita quantidade de pérolas
e que aquelas que eles tinham, eram as que eles haviam tomado deles nas suas
guerras: [...].” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
“Nicolás Pérez, mestre do navio do Rei, morador
desta vila de Santo Domingo, de idade de mais de 35 anos, deu sua declaração na
mesma vila na quarta-feira 9 de Fevereiro de 1513, e disse que [...] a
frota em que esta testemunha ia, que era de Alonso de Hojeda, chegou primeiro à
vista da terra de Paria; porém que não desembarcaram ali, mas passaram adiante, e que em quinze dias chegaram Christoval Guerra e Pero Alonso Nyño e
entraram dentro em Paria [...]”
(Probanza, 1513, 3ª Questão)
“Andrés de Morales,
piloto, [...]. Perguntado como
o sabe, disse que o sabe porque tem falado muitas vezes com Juan de la Cosa,
piloto, e com Alonso de Hojeda das navegações daquela viagem, e depois esta
testemunha o andou e navegou muitas vezes, [...] partiram da ilha de Hierro
que está na ilha de Canaria, e foram a dar na terra firme encima da província
de Paria, e percorreram a costa abaixo da dita província de Paria, e passaram
mais abaixo da dita ilha Margarita e de Ayarmaba, Maracapana, descobrindo a
Costa até o dito cacique Aiaraite onde o dito Cristóbal Guerra havia chegado, e
dali prosseguiu pela dita costa de porto em porto até a ilha dos Gigantes, e
dali percorreram a província de Quinquibacoa até o cabo de la Vela, cujo nome
lhe puseram os ditos Juan de la Cosa e Hojeda, e que dali se foram a esta ilha
Espanhola.” (Probanza, 1513, 5ª
Questão)
“Alonso de Hojeda disse, [...] veio
descobrir primeiro depois do almirante [Colombo], e descobriu ao meio-dia a terra firme, e correu-a
cerca de 200 léguas [1.115km] até Paria, e saiu pela Boca del
Dragón, [...] e dali correu e descobriu a costa
da terra firme, até o Golfo de las Perlas e foi à ilha Margarita e a andou por
terra a pé, porque soube que o Almirante só sabia dela de havê-la visto, indo
em seu caminho, e dali foi descobrindo toda aquela costa da terra firme desde
los Frailes até as ilhas de los Gigantes, o golfo de Venecia que é em terra
firme, e a província Quinquibacoa, e em toda esta terra firme 200 léguas [1.115km] antes de Paria, e de Paria até las
Perlas, e desde las Perlas até Quinquibacoa: [...] trouxe consigo a Juan de la
Cosa, piloto, e Morigo Vespuche e outros pilotos: que foi despachada esta
testemunha para a dita viagem por mandado do dito D. Juan de Fonseca, bispo de
Palencia, por mandado de SS. AA.”
(Probanza, 1513, 5ª
Questão)
“Miguel de Toro, que
Hojeda foi o primeiro descobridor depois do dito Almirante, e depois que viu em
Paria os sinais que se disseram, foi costeando ao longo da costa e foram pela
mesma costa a dar na província de Citamar, que foi uma mesma costa que dizem
terra-firme, e ali fizeram estadia em uma terra que se diz Conqueboca
(Coquibacoa). Achou-se presente esta testemunha.” (Probanza, 1515, 16ª
Questão)
“Por isto deixou aquele país, e navegando
mais além, chegaram a um porto seguro, onde recebidos por muitos homens fizeram
com aqueles amizade, e fizeram comércio com aqueles comprando com um chocalho
50 pérolas.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
“No tempo em que esteve na Espanha, o almirante primeiro
[Colombo], seguiu-se aquele capitão Alonso de Hojeda, com o favor do
bispo dom Juan Rodriguez de Fonseca, que era principal que entendia no governo
destas Índias, veio descobrir pela costa de Terra-Firme, e trouxe sua derrota a
reconhecer debaixo do rio Maranñon, na província de Paria, e chegou a tomar
terra oito léguas encima de onde agora está a povoação de Sancta Maria em uma
província que se dizia Cinta. [...] Isto foi no ano de mil e quinhentos e
um.” (Oviedo, 1557, vol. 1, Livro 3, cap. 8)
Partindo da enseada, passaram pelo Golfo Dulce, entre a Ilha de
Trinidade e Pária e navegaram muitos dias ao longo da costa até pararem em um
porto para reparar um dos navios que fazia água. Lá os nativos se mostraram
hostis e os espanhóis tinveram que os combater sempre que queriam desembarcar.
Varnhagen, Navarrete e Irving supunham que eles saíram do Golfo de Pária pela
Boca del Dragón.
“Saímos
deste Golfo e costeamos a terra vendo sempre muita gente, e quando tínhamos
ocasião tratávamos com eles dando-nos do que tinham, e tudo o que lhes
pedíamos. [...]. Depois de ter navegado
cerca de 400 léguas [2.230km] continuamente
pela costa concluímos que esta era terra firme, que julguei o confim da Ásia
pela parte do Oriente e o princípio pela do Occidente; porque muitas vezes
tivemos ocasião de ver vários animais como leões, cervos, veados, porcos
selvagens, coelhos, e outros animais terrestres, que não se acham em ilhas, mas
em terra firme. [...] E navegando
pela costa cada dia descobríamos infinita gente que falava diferentes idiomas,
ao extremo que, depois de haver navegado 400 léguas [2.230km], começamos a encontrar gente que não queria
nossa amizade e esperavam-nos com suas armas que eram arcos e flechas e outras
mais, e quando íamos com os barcos em terra impediam-nos de saltar em terra, de modo que éramos
forçados a combater com eles, ainda que sempre no fim da batalha, terminávamos
vencedores, pois como estavam desnudos fazíamos neles grande matança, assim
muitas vezes, sucedeu-nos que 16 dos nossos combatessem com 2.0000 deles
desbaratando-os no fim e roubando suas casas.” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“Partimos
deste porto, e navegamos pela costa, pela qual, continuamente, víamos fumaça
com gente na praia, e ao cabo de muitos dias fomos a ter em um porto, para
reparar um dos nossos navios, que fazia muita água. Lá encontramos muita gente,
com as quais não pudemos, nem por força nem por amor, ter nenhuma conversação,
e quando andávamos a terra, defendiam asperamente a terra de nós, e quando não
podiam mais, fugiam para os bosques, e não no esperavam.” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
“Combinaram de sair deste porto, e
devia ser o golfo dulce, de que acima se fez larga menção, que faz a ilha de a
Trinidade com a terra de Paria, dentro da Boca del Dragón, e suspeito que, como
coisa que era assinalada e notório havê-la descoberto o Almirante, calou
Américo, de propósito, o nome da Boca del Dragón; porque isto é certo, que
Hojeda e Américo estiveram dentro deste porto, como o mesmo Hojeda, na
supracitada sua deposição, com juramento o confessa, e outras muitas
testemunhas, assim mesmo com juramento, na Probanza que fez o Fiscal, o
afirmam; e aqui disse Américo, que havia já treze meses que andavam por ali,
porém eu não o creio, e se disse verdade quanto aos meses, foram na segunda
viagem, que depois com o mesmo Hojeda fez, no que tenho entendido, e não nesta
primeira, como parece por muitas razões acima trazidas, e pelas que mais se
trarão.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXVII)
“Acabaram estes Navios de
sair daquele Golfo dulce, que faz a ilha da Trinidade com a Terra de Paria,
dentro da Boca del Dragón: e como coisa, que era muito notória que primeiro a
descobriu o Almirante D. Christoval Colon, calou Americo Vespucio, de
propósito, o Nome da Boca del Dragón, e ainda que dissesse, que havia treze
Meses que andava por ali, foi na segunda viagem, que fez com Alonso de Ojeda,
porque na primeira só esteve cinco, como o Fiscal Real o provou, e o confessou
com juramento Alonso de Ojeda, e outros; do qual, e de outras muitas coisas, se
infere, quão artificiosamente escreveu Americo Vespucio, para atribuir-lhe a
glória do primeiro Descobrimento da Terra-firme, quitando-a ao Almirante D.
Christoval Colón, que a achou com grandíssimos trabalhos, como ficou referido.” (Herrera, 1611, Vol. I,
Década I, Libro IV, Cap. II, pg. 100)
d.5) Ilha Margarita
(agosto de 1499)
Passada a Boca del Dragón, seguiu descobrindo Hojeda a costa firme até
o Golfo de las Perlas ou Curiana, e depois foram a uma ilha, onde foram
recebidos amigavelmente, provavelmente em agosto de 1499. Varnhagen, Vignaud e
Quaritsch achavam que era a Ilha de Margarita. Navarrete julgava ser a Ilha de
Joanes ou Ilha de Marajó. No caminho eles reconheceram os ilhotes de Los
Frailes, que estão a 50km a leste e ao norte da Ilha Margarita, e o penhasco
Centinela, e foram dar no Cabo Isleos, hoje Cabo Codera, fundeando na enseada
de Corsarios, que chamaram Aldea Vencida.
“Tendo
conhecido que eram tão bárbaros, partimos daqui e fomos navegando, e vimos uma
ilha, que distava no mar 15 léguas [84km] da
terra, e decidimos ir ver se era povoada. Encontramos nessa a mais bestial
gente e a mais bruta que jamais se viria, e era desta sorte. [...] Esta gente, quando nos viu, veio a nós tão
familiarmente, come se houvéssemos tido com eles amizade e visto que não
tínhamos nenhum proveito, partimo-nos, [...]” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba)
“Andrés
de Morales, piloto, [...], e foi dar em terra firme,
encima da província de Paria e discorreram pela costa abaixo na dita província
de Paria [...].” (Probanza, 1513, 5ª
Questão)
“Juan de
Xerez, piloto [...] e os ditos Juan de la Cosa
e Alonso de Hojeda [...] a costa que
descobriu, que é desde los Frayles até a ponta Ququibacoa [...]”(Probanza, 1513, 5ª
Questão)
“Rodrigo
de Bastidas disse [...] que foram costeando os ditos
Hojeda e Juan de la Cosa pela mesma costa da terra firme [...] onde descobriram os ditos Hojeda e Juan de
la Cosa por onde tomou sua derrota desde Paria e da Margarita para retornar a
esta ilha, [...]” (Probanza, 1513, 5ª Questão)
“Pedro
de Ledesma disse, [...] e haviam descoberto e achado
na costa do poente desde los Frayles ou los Gigantes até a parte que agora chamam
Quiquibacoa [...]” (Probanza, 1513, 5ª Questão)
“Diego
de Morales disse, [...] esta testemunha foi na dita
viagem com Alonso de Hojeda e viu [...] que
chegaram e entraram pela Boca del Drago e foram descobrindo pela costa de terra
firme, duzentas léguas, pouco mais ou menos, segundo diziam os marinheiros, e chegaram
até onde dizem o cabo de la Vela e passaram pela ilha de los Frayles e los
Gigantes [...]” (Probanza, 1513, 5ª Questão)
“Tendo partido
daqui, depois que navegaram muito, encontraram uma ilha onde haviam homens
bestialíssimos e selvagens, mas simples e algo benignos.” (Munster, 1558, libro V,
pg. 1189)
“Finalmente, saídos, desde
Paria vão-se costa abaixo, e chegam a Margarita, que o Almirante havia visto e
nomeado Margarita, posto que não chegou a ela, e saltou nela Hojeda, e andou em
parte dela com seus próprios pés, como ele mesmo disse, e estas mesmas
testemunhas, que com ele foram, também dizem que chegou a ela, posto que não
negam nem o afirmam que saltasse nela; e disto não há que duvidar de que nela
passearia, porque é uma ilha muito graciosa, e tinha espaço para isto: e pouco
fez menção disto. Ali, é de crer que resgataram pérolas, posto que não o disse,
pois, outros descobridores que logo depois dele vieram, resgataram-nas na dita
Margarita.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXVII)
“Saídos de Paria, foram a
Margarita, aonde saiu a terra Alonso de Ojeda, [...] (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, Cap. II,
pg. 100)
Continuou reconhecendo toda a costa de porto em porto até o Puerto
Flechado, hoje Porto de Chichirivichi, onde parece que teve alguma refrega com
os índios que lhe feriram alguns homens, dos quais um morreu logo que os
levaram a curar em uma das enseadas que está entre aquele Porto, e o Cabo Vela
de Coro, onde permaneceram vinte dias. Observe que um espanhol morto e vinte e
dois feridos também são relatados no item c.9) em relação aos combates na ilha
de Ity, na suposta 1ª viagem.
“Uma vez
vimos muitíssima gente disposta a impedir-nos que baixássemos à terra, armamos
26 homens bem equipados e cobrimos as barcas por causa das setas que nos
lançavam, pois sempre feriam alguns dos nossos antes que pudéssemos saltar em
terra. Apesar de haver feito uma defesa obstinada, pisamos a terra e combatemos
com eles com grandíssimo trabalho, e a causa porque tinham, muito ânimo e maior
esforço contra nós, é que não sabiam que arma é a espada, nem como cortava, e
assim combatendo, foi tanta multidão de gente que se lançou sobre nós, e tanta
quantidade de flechas, que não pudemos nos opor, e, quase abandonando a
esperança de viver, viramos as costas para saltar nas barcas. E assim indo nos
retirando e fugindo, um dos nossos marinheiros, que era português, homem de 55
anos, que havia ficado na guarda do batel, vendo o perigo em que estávamos,
saltou do batel em terra, e com grande voz disse: filhos virai a face às armas
inimigas, que Deus vos dará a vitória, e lançou-se de joelho e fez uma oração;
e depois lançou-se contra os índios, e todos nós juntamente com ele, assim
feridos como estávamos, de modo que eles viraram as costas e começaram a fugir,
e no fim os desbaratamos e matamos deles 150 e queimamos-lhes 180 casas; e
porque nos achávamos bastante feridos e cansados, retornamos aos navios e fomos
reparar em um porto, onde estivemos vinte dias, apenas para que o médico nos
curasse, todos se salvaram, menos um, cuja ferida era no peito. E depois de
curados, voltamos a nossa navegação e por esta mesma costa, ocorreu-nos muitas
vezes de combater com infinita gente, e sempre os vencemos.” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
d.6) Ilha dos Gigantes
(Curaçao)
Desde aquele ponto se dirigiram a uma ilha que chamaram Ilha de los
Gigantes, onde Vespucci supôs que existia um povo de estatura descomunal. Nela
entraram 9 (Lettera Ba) ou 11 (Bandini) espanhóis cerca de 6,5km e
chegaram a uma aldeia de 5 (Bandini)
ou 12 (Lettera Ba) casas onde havia 5
(Lettera Ba) ou 7 (Bandini) mulheres. Pensaram em capturar
as mais novas, mas os homens retornaram ameaçadores e eles tiveram que retornar
para os barcos e partir. Varnhagen, Markham, Navarrete, Vignaud e Quaritsch
consideravam que esta era a Ilha de Curaçao.
“E assim
navegando, demos com uma ilha que estava separada da terra firme quinze léguas [86km], e como ao chegar não vimos gente, e a ilha
nos pareceu de boa disposição, decidimos de ir tentá-la, e fomos a ela com 11 homens
e achamos um caminho e pusemo-nos a andar por ele duas léguas e meio [14km]
dentro da terra e encontramos uma
povoação de 12 casas na qual só havia sete mulheres, e de tão grande estatura,
que não havia nenhuma que não fosse mais alta que uma spanna e meia, e quando
nos viram, tiveram grande medo de nós, e a principal destas, que era uma mulher
discreta, com sinais, levou-nos a uma casa, e fez-nos dar refrescos, e nós
vendo tão grandes mulheres, decidimos de roubar duas delas, que eram jovens de
quinze anos, para fazer presentes destas ao nosso Rei, porque, sem dúvida, eram
criaturas fora da estatura dos homens comuns, porém enquanto fazíamos isto,
vieram 36 homens, e entraram na casa onde estávamos bebendo, e eram de tão alta
estatura, que cada um deles era mais alto, estando de joelhos, do que eu em pé.
[...] e como viram que tínhamos
estatura pequena, começaram a falar conosco para saber quem éramos, e de que
parte vínhamos, e nós, fazendo o possível pela paz, respondíamos-lhes por
sinais, que éramos gente de paz e que andávamos a ver o mundo, em suma, tivemos
por bem partir deles sem termos conflito, e fomos pelo mesmo caminho que
viemos, e nos acompanharam até o mar e fomos aos navios [...].” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“[...] e fomos a uma outra ilha e descobrimos que
nessa habitava gente muito grande; fomos aí em terra, para ver se encontrávamos
água fresca, e pensando que a ilha não fosse povoada, por não ver gente andando
ao longo da praia, vimos pegadas muito grandes de gente na areia, e julgamos
que se os outros membros correspondessem a esta medida, que seriam homens
grandíssimos e andando nesta encontramo-nos em um caminho que ia pela terra
adentro e deliberando nove de nós, julgamos que a ilha, por ser pequena, não
podia ter em si muita gente, e por isto andamos por essa, para ver que gente
era aquela. Depois que fomos cerca de uma légua [5,7km], vimos em um vale cinco das suas cabanas, que nos pareceram
despovoadas e fomos a essas e encontramos só cinco mulheres, duas velhas e três
crianças de tão alta estatura, que por maravilha as olhávamos. Quando nos
viram, tiveram tanto medo que não tiveram ânimo de fugir e as duas velhas começaram
a falar conosco e a convidar, trazendo-nos muitas coisas para comer e metendo-nos
em uma cabana. Eram de estatura maior que um grande homem, e bem seriam grande
de corpo como foi Francesco de glialbizi, mas de melhor proporção, de modo que
estavam todos com o propósito de tomar as três crianças pela força, como coisa
maravilhosa, e trazê-las para Castela. Estando neste desígnio, começaram a
entrar pela porta da cabana bem uns 36 homens, muito maiores que as mulheres,
homens tão bem feitos, que era coisa maravilhosa vê-los. Eles causaram-nos
tanta perturbação que logo preferíamos estar nos navios, do que encontrarmo-nos
com tal gente. Traziam arcos grandíssimos e flechas [...] e falavam entre si de um tom, como se
quisessem fazer-nos mal; vendo-nos em tal perigo, fizemos vários conselhos
entre nós: alguns diziam que se invadisse a casa deles, outros que era melhor
ir ao campo, e outros que diziam que não fizéssemos nada até que víssemos o que
que eles queriam fazer. Decidimos sair da cabana e andarmos dissimuladamente no
caminho dos navios, e assim fizemos, e tendo tomado nosso caminho, retornamos
aos navios. Eles seguiam-nos, no entanto, à distância de um tiro de pedra,
falando entre si, creio que não tinham menos medo de nós, do que nós deles,
porque algumas vezes nós repousávamos e eles também, sem aproximarem-se de nós.
Assim que chegamos na praia, onde estavam os batéis esperando-nos, entramos
neles e, quando fomos longe, eles saltaram e atiraram-nos muitas setas, mas
pouco medo tínhamos já deles; disparamos-lhe dois tiros de Bombarda, mais para
assustá-los que para fazer-lhes mal, e todos, com o estrondo subiram ao monte.
Assim nós partimos deles, que pareceu-nos salvar-nos de um dia perigoso.
Andavam de tudo nus como os outros. Chamamos esta ilha, ilha dos gigantes por
causa da sua grandeza [...]” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
“Deixada,
pois, tal ilha Vesputio com os seus foi a uma outra, onde, tendo entrado achou algumas
casas e viu em uma daquelas duas velhas e três jovens, de tão alta estatura, que
ficaram todos estupefatos. E combinando entre si de conduzir para Castela aquelas
jovens por ser uma coisa admirável, apareceram 36 homens muito maiores que as
donas com arcos e flechas e certos paus aguçados pelo fogo como maça. Os nossos
perturbados da feroz presença retornamos aos navios, seguidos dos gigante até o
mar, os quais lançavam flechas, até que os nossos deram dois tiros de artilharia,
o que lhes fez, com aquele som horrendo, fugir. Os nossos, então, partindo
chamavam esta ilha dos gigantes [...]” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
“Andrés
de Morales, piloto, [...], e foi dar em terra firme,
encima da província de Paria e discorreram pela costa abaixo na dita província
de Paria e passaram mais abaixo da dita ilha de Margarita, e daí até
Maracapana, descobrindo a costa até o dito caçique Ayatrayte, onde o dito
Christoval Guerra havia chegado e daí prosseguiu pela dita costa, de porto em porto,
até a ilha dos Gigantes […].” (Probanza, 1513, 5ª
Questão)
d.7) Casas sobre
Palafitas (Golfo da Venezuela)
Os espanhóis saíram da Ilha dos Gigantes e seguiram costeando o
litoral e foram a uma terra que julgaram ser uma ilha, distante dez léguas da
Ilha de Curaçao, e nela viram um Cabo que forma uma península e chamaram de San
Román, talvez por tê-lo descoberto no dia 9 de agosto, em que se celebra a
festividade deste Santo. Passado este cabo, entraram em um grande golfo, em
cuja costa oriental, viram uma grande povoação fundada em palafitas. Chamou
Hojeda a esta região de Venezuela pela semelhança da aldeia sobre palafitas à célebre cidade de Veneza sobre canais na Itália. Os índios
o chamavam Golfo de Coquibacoa, atual Golfo da Venezuela. Reconheceram o
interior dele e parece que descobriram o Lago e porto de San Bartolomé (Laguna
de Maracaibo), talvez a 24 de agosto, onde tomaram algumas índias de notável
beleza e disposição. Reconhecida a parte ocidental do golfo e dobrado o Cabo de
Coquibacoa, Hojeda e seus companheiros recorreram a costa até o Cabo de a Vela,
termo desta navegação. Hojeda partiu para a Ilha de Hispaniola em 30 de agosto.
“Desta
ilha passamos a outra próxima, a dez léguas, e encontramos uma grandíssima
população, que tinha suas casas fundadas sobre o mar como em Veneza, com muito
artifício e maravilha de tal coisa, concordamos de ir vê-las: e quando fomos às
suas casas, quiseram seus habitantes impedir-nos a entrada, porém havendo
provado como cortavam as espadas, acharam por bem deixar-nos entrar.
Descobrimos que as casas estavam cheias de algodão finíssimo e todas as toras
das suas casas eram de pau-brasil; tomamos muito algodão e pau-brasil e
retornamos aos navios.” (Vespucci, 1500, Lettera
Bandini, Bb)
“Andrés de Morales, piloto, [...], a ilha dos Gigantes, e dali descobriram a
província de Quiquibacoa até o cabo de la Vela, cujo nome lhe puseram os ditos
Juan de la Cosa e Hojeda, […].” (Probanza, 1513, 5ª
Questão)
“Estendeu sua viagem Hojeda até a província e
golfo de Cuquibacoa, em língua de Índios, que agora se chama em nossa
linguagem, Venezuela, e dali ao cabo de la Vela, onde agora se pescam as
pérolas, e ele lhe pôs aquele nome, cabo de la Vela, e hoje permanece, com um
conjunto de ilhas que vão de Oriente a Poente, uma das quais chamou Hojeda dos
Gigantes. Por maneira que andou costeando pela terra firme 400 léguas [2.230km], 200 [1.115km] ao Levante de Pária,
onde reconheceu a primeira terra, e esta, ele só, primeiro que algum outro, com
os que com ele iam e foram, a descobriu e descobriram; e 200 [1.115km] que há de Paria ao cabo de la Vela.
Paria estava descoberta, e a Margarita, pelo Almirante, ocularmente, e grande
parte das ditas 200 léguas [1.115km] de Margarita ao cabo de la Vela,
porque o Almirante viu como ia a terra e a cordilheira e as serras para o
Poente, e assim todo este descobrimento a ele se lhe deve, porque não se segue
que para que se diga haver descoberto uma terra ou ilha, era mister que a circundara
toda; como a ilha de Cuba, claro está que a descobriu por sua pessoa, porém não
se requeria que andasse todos os rincões dela, e o mesmo desta ilha Espanhola e
das demais, e assim de toda a terra firme, por maior seja e por mais que se
estenda, o Almirante a descobriu. Do dito parece, manifestamente, que Américo
aumentou o que em sua primeira navegação afirma, que costearam 860 léguas [4.800km]: isto não é verdade,
por confissão do mesmo Hojeda, o qual não quis perder algo de sua glória e
direito, porém, disse em seu testemunho, como pareceu no cap. 140, que acima de
Paria descobriu 200 léguas [1.115km],
e de Paria a Cuquibacoa, que hoje é Venezuela; eu lhe adiciono até o cabo de la
Vela, porque o achei assim disposto no supracitado processo por algumas
testemunhas que conheceram bem depois toda aquela terra, e tratavam com os
descobridores é iam aos descobrimentos, ainda que não naquela viagem com
Hojeda, porém era tudo isto, então, muito recente, e por isto muito manifesto.
Não fez menção Hojeda do cabo de la Vela, porque está cerca do golfo de
Venezuela e é toda uma terra, e do golfo e província, como coisa assinalada e
notável, que, como se disse, se chamava pelos Índios Cuquibacoa. De toda esta
terra ou costa do mar que andou Hojeda e Américo em sua companhia, ouro e
pérolas, por resgates e trocas, tiveram; a quantidade não soube nem os atos que
pela terra fizeram. Deixada, pois, a Margarita, vieram a Cumaná e Maracapana,
que está de Margarita, 7 léguas [39km] o primeiro e 20 [112km] o segundo. Estas são aldeias que
estão na costa do mar, e antes de Cumaná entra um golfo, fazendo um grande
rincão de água do mar, de 14 léguas [78km],
dentro da terra; estava cercado de aldeias de infinita gente, e o primeiro,
quase à boca ou entrada, estava Cumaná, que disse ser a primeira aldeia. Sai um
rio junto à aldeia, poderoso, e há nele infinitos animais que chamamos
lagartos, porém são apenas naturalíssimos crocodilos como os do rio Nilo.” (Las Casas, 1561, Vol.
II, Cap. CLXVII)
“[...] e passou até a Província, e Golfo de Coquibocoa,
que agora se chama Veneçuela, e dali passou ao Cabo da Vela, topando com uma
multidão de Ilhas, que vão de Oriente a Poente; e uma chamou dos Gigantes, e
ele deu aquele nome do Cabo da Vela, que hoje permanece. De maneira, que costeou
quatrocentas léguas, duzentas ao Levante de Paria, aonde reconheceu a primeira
Terra; e duzentas de Paria ao Cabo da Vela. Paria já estava descoberta, e a
Margarita, pelo Almirante, e grande parte das duzentas léguas da Margarita, ao
Cabo da Vela: e viu como ia a terra, e as Cordilheiras das Serras para o
Poente; e todo este Descobrimento a ele se deve, como o enviou declarado ao Rei
em sua gravura, e assim consta claro, que Americo Vespucio se estendeu, no que
em sua primeira Navegação afirma, que costearam oitocentas e sessenta léguas; e
isto basta para que se tenha por certo, que não porque Americo haja feito as
Marcas, se há de ter por primeiro Descobridor daquele Novo Mundo, a que deram
seu Nome. E quanto nesta viagem se houve descoberto, a Alonso de Ojeda, Natural
de Cuenca, como Capitão, e a Júan de la Cosa, como Piloto, deve-se a glória. Em
toda esta Costa do Mar, que andou Alonso de Ojeda, resgataram Ouro, e Pérolas.
Desde a Margarita passaram a Cumaná, Maracapana, que esta da Margarita sete léguas,
e são Aldeias, que estão na Marina; e antes de Cumaná entra um Golfo, fazendo
um grande canto de água do Mar de quatorze léguas, terra adentro: costumava
estar cercado de Aldeias, com infinita Gente, e era a primeira quase à boca, ou
entrada de Cumaná, e sai da Aldeia um Rio poderoso, aonde há infinitos daqueles
que os Castelhanos chamam Lagartos, e os Índios Caymanes, que são muito
naturalmente Crocodilos do Rio Nilo, segundo a maioria das opiniões; [...] (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, Cap. II, pg. 100)
d.8) Melhor porto do Mundo (fevereiro/março a maio de
1500?)
Alguns autores, como Quaritch, julgam que Alonso de Hojeda e Juan de
la Cosa foram navegando para diante com dois navios, enquanto Vespucci e os
outros dois navios seguiam atrás mais lentamente. Hojeda teria chegado ao Cabo
de la Vela e dali partido, em fins de agosto de 1499, diretamente para a Ilha
de Hispaniola, onde chegaram a 5 de setembro de 1499. Vespucci alega que seguiu
para o Oeste, supostamente com os outros 2 navios, até um ponto do litoral, 15º
N (propriamente 12º30’ N) e 72º W, provavelmente Punta Gallinas, e,
aproximadamente em janeiro de 1500, estando, supostamente, cerca de 10 meses
navegando, navegou de volta ao longo da já explorada costa norte da América do
Sul, na esperança, aparentemente, de adquirir mais pérolas com os nativos. Os
espanhóis continuaram viagem por mais 2.000km. No entanto, não há nenhuma prova
desta separação dos navios.
“Em fim
navegando outras 300 léguas [1.672km] pela
costa, encontramos continuamente gente brava e infinitas vezes combatemos
contra eles, e tomamos destes cerca de vinte, entre os quais havia sete
línguas, de forma que não se entendiam um ao outro; [...].” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“Alonso
de Hojeda disse, que o que desta pergunta sabe é que o dito Cristóbal Guerra e
Pero Alonso Niño e os que foram em sua companhia descobriram a terra firme desde
a boca del Drago de Paria toda a costa de terra firme até o golfo de las
Perlas, depois que esta testemunha o havia já descoberto, […] disse que o sabe porque ele já o havia descoberto
e visto, porque foi o primeiro homem que veio descobrir.” (Probanza, 1513, 3ª
Questão)
Nesta viagem de retorno, que deve ter durado alguns meses, eles navegaram ao longo da costa e, como os navios e apetrechos estavam deteriorados, encontraram (fevereiro
ou março de 1500) um excelente porto para reparar os navios
e lá encontraram gente amistosa. Nele ficaram 47 dias reparando os navios, partindo supostamente em maio de
1500. Las Casas julgava que era Cariaco, e Navarrete a
Marapacana (Mochima), próximo de Cumaná. Quaritsch julgava que eles estavam em um cabo
(Cabo de las Perlas) junto à costa de Caracas, e diante da Ilha de Margarita. Os nativos foram amistosos e os ajudaram. Neste período,
resgataram 119 pérolas e algum ouro.
“[...] Andamos mais em frente, prolongando a terra,
na qual ocorreu-nos muitas vezes combater contra eles por não quererem
deixar-nos tomar coisa alguma da terra, e já estávamos com vontade de retornar
a Castela, porque estávamos no mar cerca de um ano, e tínhamos pouco
mantimentos, e este pouco estava deteriorado por causa dos grandes calores que
passamos; por isto de lá partimos pelas ilhas de Cabo Verde até aqui. Navegamos
continuamente pela tórrida zona, e duas vezes atravessamos a linha equinocial;
que, como acima disse, fomos fora dessa 5 graus à parte do Austro, e aqui
estávamos em 15 graus para o setentrião. Estando nesta resolução prouve ao
Espírito sancto dar algum descanso a tantas nossas tribulações, que foi que,
indo a procura de um porto para reparar nossos navios, fomos a dar com uma
gente, a qual nos recebeu com muita amizade, e descobrimos que tinham
grandíssima quantidade de pérolas orientais e muito boas, com os quais
retemo-nos 47 dias e resgatamos com eles 119 marcas de pérolas por muito pouca
mercadoria: creio que não nos costaram o valor de quarenta ducados porque
aquilo que lhes demos foram apenas sinos e espelhos, e contas, dez bolas e
folhas de algodoeiro; por um sino dava um deles quantas pérolas tinha. [...]
e ao cabo de 47 dias deixamos a gente
muito amiga nossa.” (Vespucci, 1504, Lettera, Ba)
“[...] e foram a uma outra ilha onde foram daquela
gente com afeição recebidos; esta gente lhes ofereceu muitas pérolas, de tal
modo que trocavam nove marcas por pouco preço. E deram-lhes algumas trocas em algumas das quais
eram cento e trinta pérolas e em algumas menos.” (Munster, 1558, libro V,
pg. 1189)
d.9) Alonso de Ojeda
chega à Ilha de Hispaniola (5 de setembro a fevereiro de 1499)
Hojeda entrou no porto de Yáquimo a 5 de setembro de 1499, com
intenção de carregar pau-brasil. Na ilha, Hojeda provocou estragos nos os
colonos espanhóis e nos nativos. Colombo mandou, então, Francisco Roldán,
contra Hojeda, que, por fim, transladou-se com seus navios a Suranha. Vespucci
disse, no entanto, ter chegado à Ilha de Hispaniola no começo de maio de 1500, para reparar os navios e se
reabastecer de suprimentos, tendo permanecido 2 meses (Bandini) ou 77 dias (Lettera
Ba) e partido a 22 de junho.
“Depois
de haver navegado por esta terra mais de 700 léguas [3.900km], ou mais, tendo visto infinitas ilhas,
estando os navios muito avariados e fazendo infinita água, o que apenas
podíamos resolver esgotando duas bombas, e com a tripulação muito cansada e
oprimida e faltos de provisões, e como nos encontrávamos, segundo o piloto,
próximo de uma ilha, que se diz Hispaniola, aquela que descobriu Colombo faz
seis anos, há 120 léguas [670km],
concordamos de ir a ela, isto porque era habitada por cristãos e esperávamos
achar auxílio para reparar nossos navios, dar repouso às tripulações e
prover-nos do necessário, pois desta ilha a Castela há 1.300 léguas [7.250km]
de golfo sem encontrar terra alguma. Em
sete dias fomos a esta, onde estivemos cerca de dois meses, onde consertamos os
navios e fizemos nosso aprovisionamento, [...]” (Vespucci, 1500, Lettera
Bandini, Bb)
“Partimo-nos,
e, pela necessidade de mantimentos, fomos a ter à Ilha de Antilha [Hispaniola], que é esta que descobriu Cristóvão Colombo
faz muitos anos, onde conseguimos muitos mantimentos, e estivemos dois meses e
17 dias, onde passamos muitos perigos e transtornos com os próprios cristãos
que nesta ilha estavam com Colombo; creio que por inveja e para não ser
prolixo, deixo de vos recontar. Partimos da dita ilha no dia 22 de julho: [...]” (Vespucci,
1504, Lettera, Ba)
“Jacome
Ginoves, disse, que sabe que ao tempo que foi descobrir Alonso de Hojeda, foi
com ele Bartolome Roldan, e Juan Vizcayno foi com Juan de la Cosa. [...] viu vir a Bartolome
Roldan quando veio Hojeda de terra Firme e se lhe perdeu a caravela em Yaquimo [...]” (Probanzas
del Almirante, 1512, 14ª Questão)
“Andrés
de Morales, piloto, [...], o cabo de la Vela, cujo
nome lhe puseram os ditos Juan de la Cosa e Hojeda, e que dali se foram a esta ilha
Española.”
(Probanza, 1513, 5ª Questão)
“Cristóbal García, morador de Palos, de idade de
45 anos, deu sua declaração nesta vila em 1.º de Outubro de 1515: disse que o
que sabe de seu conteúdo é que, no tempo que o dito Hojeda e Juan de la Cosa
vieram a descobrir em terra firme, esta testemunha estava em Santo Domingo, e
ali vieram os supracitados em um barquinho, porque haviam perdido os navios, e
cerca de quinze ou vinte homens, porque os outros haviam morrido ou ficado, e
que ali ouvi dizer que os ditos Juan de la Cosa e Hojeda haviam feito
descobrimentos em terra firme, e que traziam muito ouro, e o que descobriram
que foi mais adiante que ninguém havia descoberto, e que isto o ouviu dizer aos
ditos marinheiros, e que por fim vinham da dita viagem, e que não sabe mais do
conteúdo da dita pergunta.” (Probanza, 1513, 5ª
Questão)
“Deixando
este lugar, foram à Ilha de Antiglia, a qual Colombo nos anos anteriores havia encontrado.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
“Daqui ficamos convencido assaz claramente da
falsidade do nosso Américo, porque daquela ilha [Ilha de Ity] que escandalizou e nela tão
grande dano fez, disse que retornaram a Castela, não fazendo menção de haver
vindo primeiro a esta Espanhola, como veio; esta vinda na sua segunda viagem se
aplica, porém, não é verdade, como no cap. 162 provei acima. Posto que pudesse
dizer a verdade, que daquela ilha em que guerrearam e maltrataram foram para
Castela, porém não pelo discurso que até agora falou; o qual prova e parece
assim, pelas testemunhas que se tomaram por parte do Fiscal do Rei no pleito
que o almirante D. Diego Colon teve contra o Rei, sobre a guarda e cumprimento
de seus privilégios, de que fiz muitas vezes menção acima; depuseram que Alonso
de Hojeda, com quem vinha Américo na sua primeira viagem, correu a costa da mar
até Cuquibacoa, que é Venezuela, e o cabo da Vela, e que dali se foi a esta
ilha, e assim o jurou uma testemunha que se chamou Andrés de Morales, que eu
bem conheci, principal piloto e velho nestas Índias, morador desta cidade de
Santo Domingo, o qual, em seu dito disse assim: «Andrés de Morales etc.,» à
quinta pergunta disse: «Que sabe o que nela contém»; perguntado como o sabe,
disse: «Que o sabe por que se achou muitas vezes com Juan de la Cosa e com
Alonso de Hojeda nas navegações daquela viagem etc., e que os supracitados
partiram desta ilha de Roquemes, nas Canaria, e foram a dar em terra firme
encima da província de Paria, e descobriram pela costa abaixo a dita província
de Paria, e passaram mais abaixo da dita ilha Margarita, e daí a Maracapana,
descobrindo a costa até ao dito Cacique Ayarayte, e desde ali, de porto em
porto, até a ilha dos Gigantes, e desde ali descobriram a província de
Cuquibacoa até o cabo da Vela, cujo nome lhe puseram o dito Juan de la Cosa e
Hojeda, e que dali se foram à ilha Espanhola.» Estas são suas palavras. Logo
não pôde dali tão abaixo retornar à ilha que alvoroçaram, porque aquela só pode
ser alguma das que estão para o Oriente, começando de onde eles estavam, como é
a de Guadalupe e suas vizinhas, como acima dissemos; e era dificílimo subir de
baixo para cima, pelas grandes correntes e contrários ventos que por ali são
contínuos. E isto se confirma porque foram a parar ao Brasil desta ilha, que é
o porto de Yaquimo, nesta costa abaixo de Santo Domingo, e é própria e boa a
navegação desde o cabo da Vela até ali. Em seguida, se haviam, naquele porto ou
terra supracitada, reparado, tão pouco havia, seus navios e tomado mantimentos,
como teriam necessidade de repará-los e de comida, como logo se dirá, nesta ilha?
Então, como as testemunhas, em especial o piloto Andrés de Morales, que parece
dizer que ia com eles, como não mencionou, nem nenhum outro, que Hojeda havia
em algum porto daquela terra firme feito um bergantim e reparado seus navios,
sendo coisa comprovada, e que dava mais vigor à verdade de seus ditos, que lhes
pediam para que constasse haver ele descoberto aquela terra firme, que era o
fim que o Fiscal contra o Almirante pretendia? Logo, certo, Américo troca as
coisas que lhes aconteceram e fizeram na primeira viagem, com a segunda, e as
da segunda atribui à primeiro, como acima no cap. 142 mostramos evidentemente,
calando muitas e adicionando outras que não convém. Daqui parece, que o fazer
do bergantim e reparar os navios naquela terra firme, o qual certo foi, e eu o
sei por ser naquele tempo notoriamente manifesto, isto fizeram na segunda
viagem e não na primeira; e vir a esta ilha Espanhola, onde aconteceram certos
escândalos, que causou Hojeda nela, que logo se dirão, foi na primeira e não na
segunda, como quis fingir Américo, e mais digo, que nunca veio Hojeda descobrir
e resgatar, e povoar em terra firme, sem que de volta não viesse a parar nesta
ilha [Espanhola], como
abaixo parecerá, e a vinda na viagem primeira nega ou dissimula Américo debaixo
de silêncio. Então, depois que Hojeda saiu de Espanha, até chegar a esta ilha,
não passaram mais de cinco meses, como acima pareceu, logo não teve tempo para
todo o que disse que fizeram naquela primeira viagem. Tornando, pois, a
prosseguir na primeira viagem de Hojeda, com quem ia Américo, por via reta, e
não por caminho torcido ou interpolado e confuso, como Américo o escreve,
dissemos que, da província de Cuquibacoa, que agora se nomeia Venezuela, e do
cabo da Vela, veio a tomar esta ilha Espanhola, e foi a ancorar a 5 do mês de
Setembro, como acima foi dito no cap. 164, ao Brasil, que é a província de
Yaquimo, e ainda creio que mais abaixo, cerca da que se chama agora a Cabana,
terra e reino de um Rei e senhor que se chamava Haniguayabá; souberam-no logo
os espanhóis que estavam por aquela província de Yaquimo, por Índios, ou porque
viram vir os navios pelo mar, e souberam que era Hojeda, e fazem logo aviso ao
Almirante, que estava aqui em Santo Domingo, recém-feita a paz com Francisco
Roldán e sua companhia; logo o Almirante mandou aparelhar duas caravelas ou
três, e enviou a Francisco Roldán com gente para que lhe proibisse cortar
brasil, suspeitando que carregaria dele, e para que não fizesse algum outro
dano, como sabia que Hojeda era mais atrevido do que ele quisera, e dito e
feito, como dizem." (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXVIII)
“Despedido
Roldan de Hojeda, crendo que era tudo ouro o que reluzia, Hojeda, fez seu pão
segundo viu que lhe convia, em lugar de tomar o caminho de Sancto Domingo, para
ver o Almirante e dar-lhe conta do que havia feito em sua viagem, como mostrou e
ficou com Roldan, e a dar-lhe relação das novas que havia em Castela, foi-se com
seus quatro navios para o Poente e dá a volta ao golfo e porto de Xaraguá; os
cristãos que por ali estavam, pelos povoados dos Caciques, receberam-no com
alegria e lhe deram tudo o que houve mister para ele e os seus, ainda que não
de seus suores próprios, mas sim do dos índios, porque deste costumam aqui ser
os espanhóis muito liberais. E, porque uma de sus caravelas trazia muito
perdida, que não se podia manter sobre a água, fizeram fazer pez aos índios, e
ajudaram-lhe muito até que a restaurou, com tudo o mais que mister houve. Enquanto
que ali estava, como devia de haver por ali a gente mal vezada das relíquias,
que ainda eram muito frescas, da vida solta que tiveram com Roldan, maldizendo
das coisas do Almirante, principalmente que sempre andavam descontentes, como não
enchiam as mãos do que desejavam (e uma queixa ordinária sua era, que não se lhes
pagava o soldo), começa Hojeda, ou movido pelo humor que naqueles achou, ou
porque ele o tinha de sua colheita em vontade, de derramar muita semente de cizânia,
dizendo que se juntassem com ele, e, com a gente que ele trazia, iriam ao
Almirante e lhe requereriam que lhes pagasse, de parte dos Reis, e lhe constrangeriam
a pagar ainda que não quisesse. Para o que, disse, que ele trazia poder de Suas
Altezas para fazê-lo, e que se o haviam dado a ele e a Alonso de Carvajal, quando
o Almirante retornou no ano de 98, para que viessem com ele a forçar-lhe que logo
pagasse; e outras muitas razões ajuntou, e palavras disse demasiadas, segundo
disseram, em muito prejuízo do Almirante, e para provocar a gente ao que
pretendia incliná-la, da qual, toda a maior parte trouxe a si, como a homens
mal assentados, amigos de bagunças e inquietudes, e sem temor de Deus nem dos
danos e escândalos que, nesta ilha, a índios e a cristãos haviam de suceder. E
porque alguns houve que não quiseram seguir a loucura e maldade de Hojeda, e
destes estava parte em certa estância ou lugar cerca de Xaraguá, como todos,
segundo disse, andavam e estavam a manadas, repartidos pelos povoados e lugares
dos índios, para comer e ser servidos deles, porque muitos juntos não os podiam
sofrer nem manter, ou porque aqueles lhe deviam de haver contradito quando os
provocava por cartas ou por palavra, ou porque tinha entre eles a quem ele bem
não queria desde os tempos passados, acertou uma noite, com o favor dos que já
havia arrebanhado para si, dar contra eles e prendê-los ou fazer contra eles
alguma vingança ou outro semelhante má ação, e assim o pôs por obra; de maneira,
que matou e lhe mataram, feriu e lhe feriram certos homens de ambas partes.
Causou grande escândalo na terra em índios e em cristãos, de onde se começaria
outra perturbação muito pior que a passada de Roldan, se Deus, por meio do mesmo
Roldan, não a evitasse. Retornava já Roldan de Sancto Domingo para Xaraguá, e, ou
porque o Almirante suspeitou que Hojeda todavia podia retornar algo e causar alguns
danos a índios e a cristãos, como estivesse certo que era ido desta ilha, ou
porque dele foi avisado, porque em oito dias e a cada oito dias o podia saber
por mensageiros índios que enviavam alguns cristãos dos que lhe obedeciam, enviou,
finalmente, o dito Roldan a Xaraguá, o qual no caminho soube o insulto, e dano e
escândalo que havia intentado e causado Hojeda, e o fim que pretendia. Determinou
logo Roldan de avisar a um Diego de Escobar, homem principal, dos que lhe haviam
sempre seguido, que reunisse a mais gente que pudesse dos que acreditava que não
estavam aficionados de Hojeda, e fosse a Xaraguá; e ele, de caminho recolheu, pelos
povoados onde estavam derramados os cristãos, os que pôde, e assim chegaram os
dois um dia depois do outro a Xaraguá: Hojeda já se havia recolhido aos navios.
Escreveu-lhe uma carta Francisco Roldan, exagerando aqueles escândalos, mortes e
danos que havia feito, que olhasse o desserviço que recebiam os Reis, a perturbação
e alvoroços da terra, a vontade que tinha o Almirante para com ele, que era boa,
não quisesse dar causa que todos se perdessem, e, por tanto, que lhe rogava que
dessa maneira para que se vissem ambos, porque os danos feitos se esquecessem,
pois não se podiam restaurar, e, ao menos, os por vir se desculpassem. Não cuidou
Hojeda de pôr-se naquele perigo, porque devia conhecer a Roldan, que era homem
bem esforçado e astuto, e não pouco entendido. Enviou Francisco Roldan a Diego
de Escobar, a falar-lhe, e este não era menos sábio que ambos, o qual eu bem e
por muitos anos conheci, o qual afeou a Hojeda o que havia feito, o melhor que ele
pôde, e persuadiu-lhe que se viesse com Roldan; respondeu-lhe que ele o desejava
e queria. Retornou Escobar sem poder fazer acordo: crendo Roldan que o faria, enviou-lhe,
para entender nas vistas, a um Diego de Trujillo, o qual, entrando nos navios,
prendeu e lançou em uns grilhões. Saiu logo com 20 homens armados, e foi a
Xaraguá, onde estava um Toribio de Linares, que também eu bem conheci, o qual
prendeu, e levou-o consigo aos navios, onde lhe lançou outro par de grilhões; vão
lhe dizer os índios logo a Roldan, que estava uma légua dali. Saiu logo Roldan
com a gente que tinha, bem aparelhado, atrás dele, porém Hojeda já estava em sua
guarita. Tornou a enviar um Hernando de Estepa, o mesmo muito conhecido de mim,
ao qual respondeu, que se não lhe davam um Juan Pintor, que havia saído dos
navios, que eu não menos que aos demais conheci, e ainda só tinha uma mão, jurava
que havia de enforcar aos dois que tinha, da maneira dita, com grilhões. Observa
que culpa tinham os outros, que merecessem que ele os enforcasse, porque o Juan
Pintor se havia saído. Fez-se à vela Hojeda com seus navios, e vai-se costa abaixo,
para uns povoados e província que se chamava o Cahay, terra e gente graciosíssima,
que estaria de Xaraguá 40 ou 42 léguas, donde saiu em terra com 40 homens e tomou
por força todo o mantimento que quis, em especial, alho e batatas, que são as
raízes de que acima falamos no cap. 45, e ali são as mais nobres e delicadas de
toda a ilha, deixando os índios e cristãos, que ali estavam, muito maltratados.
Vendo que se fazia vela, envia Roldan atrás dele, pela margem do mar, a Diego
de Escobar com 25 homens, e, porque chegaram de noite, já Hojeda era em seus
navios recolhido; no outro dia, logo, partiu Roldan atrás dele com 20 homens, e
chegado a Cahay, Roldan achou uma carta que Hojeda havia escrito a Diego de
Escobar, na qual afirmava que havia de enforcar os supracitados, se seu Juan
Pintor não se lhe restituía. Rogou Roldan a Diego de Escobar que entrasse em uma
canoa esquifada, como os marinheiros dizem, de remadores índios, e fosse para próximo
dos navios para ver se lhe ouviam, e dissesse a Hojeda, de partes de Roldan, que,
pois, ele não se queria confiar nele e vir a falar com ele, que ele o queria fazer,
e ir aos navios, confiando-se nele mesmo, e para isto que lhe enviasse um
batel. Pareceu a Hojeda que tinha já seu jogo feito, porém outro pensa ele que
o engana, e este era Francisco Roldan, […].
Enviou, pois, Hojeda, um muito bom batel, que outro tal no tinha, com oito homens
muito valentes de mar, dentro, com sus lanças e espadas […], os quais, chegando com seu batel a um tiro
de pedra da margem, disseram que entrasse Roldan. Perguntou Roldan, quantos
mandou o senhor Capitão que entrassem comigo? Responderam: cinco ou seis homens.
Mandou logo Roldan que entrassem primeiro Diego de Escobar, e Pero Relio, e
Montoya, e Hernán Brabo, e Bolaños, e não consentiam que entrassem mais. Então
disse Roldan a um Pedro de Manes que lhe metesse na barca, e, como que ia,
tendo de um lado, levava outro que se dizia Salvador. Entrados no batel todos,
dissimuladamente disse Roldan aos que remavam que remassem para terra; eles não
quiseram. Lançam ele, e os seus, mão às espadas, e dão um tal golpe neles, que esfaqueados
e mortos, com se disse, alguns, fazem-nos saltar na água e tomam-nos presos a
todos, e a um índio flecheiro que trazia das ilhas roubado, escapando-se-lhes outro
nadando, e levam-nos à terra; e assim, fica sem a principal barca ou batel de
que maior necessidade tinha, e juntamente sem tanta soberbia e presunção,
Hojeda. Visto Hojeda que se lhe havia desfeito seu artifício e saído em vão seus
pensamentos, concordou de levar o negócio por mais mansidão, e mete-se em um barquinho
que trazia, e Juan de la Cosa, seu principal piloto, com ele, e um espingardeiro
e outros quatro com ele que remavam, e vem para terra. Francisco Roldan, como lhe
conhecia ser travesso e valente e atrevido, ainda pensando que os ousara
acometer, faz aparelhar o batel com sete remeiros e 45 homens para pelejar, e uma
boa canoa em que podiam ir outros 45, todos a pique, como é linguagem de marinheiros,
ou aparelhados, estiveram à beira d’água. Mantendo-se fora, na água, quanto
podia ser ouvido, disse Hojeda, que queria falar com Francisco Roldan; aproximou-se
mais, e Francisco Roldan lhe disse, que por que fazia aquelas coisas tão
escandalosas e culpáveis; respondeu, que porque lhe haviam dito que tinha ordem
do Almirante para o prender. Roldan lhe certificou ser falsidade, e que o
Almirante não tinha propósito de causar-lhe dano, em vez disto, de lhe ajudar e
honrar no que pudera, e se ele fosse a Sancto Domingo, como lhe havia
prometido, por experiência o fosse ver; finalmente, veio a rogar-lhe que o restituísse
seu batel e seus homens, que nele lhe havia prendido, não cuidando já do Juan
Pintor, pois via que sem o batel não lhe era possível retornar a Castela.
Francisco Roldan, vendo a necessidade que Hojeda tinha, e porque nestes dias havia
feito terrível tormenta e havia garrado, que quer dizer, arrastado a âncora, de
onde a primeira vez a lançaram, o navio maior que Hojeda tinha, mais de dois
tiros de balestra para a terra, donde e quando costumam os navios se perder e a
gente com eles, e porque, se davam ao través, e Hojeda e sua gente permaneciam ali,
era ficar a confusão na ilha para que fora pior que a passada do mesmo Roldan, concordou
Roldan dar-lhe o batel e seus homens, e que ele restituísse os dois que ele havia
malvadamente, a um detido e ao outro salteado, e assim se fez que fizeram a troca.
Partiu-se logo a fazer uma razia que dizia que havia de fazer, e segundo disse
um clérigo que trazia consigo, e outros três ou quatro homens de bem que se ficaram,
a razia que trazia fabricada, era a que pensava fazer na pessoa e nas coisas do
Almirante, e este atrevimento, creio eu, que cobrou ele, de saber que os Reis
tratavam de remover ao Almirante de seu estado, e com o favor que ele tinha do
bispo Fonseca, e, pelo contrário, o desfavor que o mesmo bispo deu sempre ao
Almirante, justa ou injustamente, quanto aos homens digo, Deus o sabe. E, ao
que eu suspeito, saído dali Hojeda, foi a carregar os navios de índios em alguma
parte desta ilha, ou da ilha de Sant Juan [Porto Rico], ou de outra das comarcanas, pois levou a Castela e vendeu em Cáliz
222 escravos, como Américo acima sustenta e em sua primeira navegação confessa;
e esta foi, com os outros danos e escândalos que aos índios e cristãos deixou feitos
Hojeda, sua razia. Pelo que neste capítulo se viu, aparece a falsidade
industriosa de Américo, e seu encobrir as tiranias que naquela sua primeira viagem
fizeram, nas quais ele a Hojeda acompanhava, e sua permuta dos fatos que fizeram
nas suas duas viagens, […]. Disse
desta briga e escândalos que Hojeda causou, Américo, no fim de sua segunda
navegação, e ocorreu na primeira, [...].
Tudo isto é falso, porque disse, que as injúrias ou afrontas que padeceram não
as disse para não ser prolixo, dando a entender que injustamente se lhe fizeram,
e não disse porque, e quais foram os insultos que eles cometeram; o segundo, quanto
à por estes escândalos na segunda viagem, é muito falso, como acima
demasiadamente ficou provado; o terceiro, assim mesmo, dizer que partiram desta
ilha a 22 de Julho, é mais que falso, porque não partiram senão quase em fim de
fevereiro, entrando o ano de 500, e ainda creio que em março, como parece pelas
cartas que eu vi e tive em meu poder, e conheço a assinatura de Francisco
Roldan que escrevia cada oito ou quinze dias, quando andava revoltado com
Hojeda, até que se foi, o Almirante. De maneira, que a data que devia ser no
segundo pôs no primeiro, e os alvoroços e danos que fizeram no primeiro, pôs
por afrontas e contumélias, recebidas sem culpa, na segunda viagem.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXIX)
“[...] o Almirante foi avisado pelos cristãos que
estavam na província de Yaquimo, que se dizia a terra do Brasil, que havia chegado
ali Hojeda, a 5 de setembro, e assim o escreveu o Almirante aos Reis nos navios
donde foram os Procuradores do Almirante e de Roldan; e isto foi no ano de 99,
ao tempo que andava acabando-se ou era acabada a redução de Francisco Roldan e
de sua companhia à obediência do Almirante, e esta é a primeira viagem que
Américo fez com Hojeda; logo não pôde haver partido Hojeda nem Américo de Cáliz
no ano de 97, mas de 99. [...] Descobriram
na terra que agora novamente vossa senhoria descobriu; disse que passaram ao longo
da costa 600 léguas, em que acharam gente que pelejava, tantos com tantos, com
eles, e feriram 20 homens e mataram um; em algumas partes saltaram em terra em
que lhes faziam muita honra, e em outras não lhes consentiam saltar em terra,
etc.» Estas são palavras de Francisco Roldan ao Almirante. [...] Outra é, que chegaram cerca de 5 de setembro,
como se disse, a esta ilha, e disse que estiveram dois meses e dois dias nela,
e estes, de necessidade, haviam de ser todo setembro e outubro, e algum dia
andado de novembro; e disse ali, que saíram desta ilha a 22 de julho e que retornaram
ao porto de Cáliz a 8 de setembro; tudo isto consta ser falsíssimo.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXIV)
“Alonso
de Ojeda, a cinco de setembro, chegou à Española, ancorou na parte do Brasil,
que é a Província de Yaquimo, e ainda algo mais abaixo, em Terra de um Rei, que
se chamava Haniguayaba.” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, Cap. III, pg. 101)
d.10) Alonso de Hojeda
parte da Ilha de Hispaniola, pega escravos em Porto Rico e retorna a Espanha (abril
ou maio de 1500)
Vespucci diz que partiram da Ilha de
Hispaniola em 22 de julho de 1500, com direção ao norte, e navegaram para o
norte 1.300km, onde exploraram muitas ilhas (“mais de mil”), a maior parte habitadas. Provavelmente seriam as
Ilhas Lucayas (Bahamas), ainda que sejam em muito menor número. Alonso de Hojeda
partiu da Ilha de Hispaniola e em Porto Rico capturou 232 índios para vender na
Espanha como escravos. Herrera disse que eles foram capturados na Jamaica.
Navarrete questionou como 4 caravelas com 57 tripulantes podiam levar e suprir
220 índios em uma viagem tão longa. Além disto não há registro oficial, nos
livros das Índias, destes escravos. Hojeda regressou a Sevilha cerca de fevereiro
de 1500.
“[...] e
decidimos irmos para a parte do Norte e descobrimos infinita gente e
descobrimos mais de 1.000 ilhas, a maior parte povoadas, no entanto, a gente
andava nua, e toda a gente era medrosa e de pouco ânimo, e fazíamos deles o que
queríamos. Esta última parte que descobrimos foi muito perigosa para a nossa
navegação por causa do mar raso que nesta encontramos, de forma que muitas
vezes corremos perigo de perder-nos. Navegamos por este mar 200 léguas [1.115km], direto ao
Setentrião, e como já andava a gente cansada e fatigada, por já estar no mar
cerca de um ano, comendo seis onças de pão ao dia, e bebendo três pequenas
medidas de água, e sendo perigoso manter o navio no mar, reclamou a gente
dizendo que queriam retornar à Castela, às suas casas, e que não queriam mais
tentar o mar e a fortuna, com o que decidimos de tomar escravos e carregar os
navios e com eles e retornar à Espanha. Fomos a certas ilhas e tomamos lá cerca
de 232 almas [...]” (Vespucci, 1500, Lettera
Bandini, Bb)
“Juan de
Xerez, piloto [...] e os ditos Juan de la Cosa
e Alonso de Hojeda foram armar ao porto de Santa Maria, e dali partiram para
descobrir, e que depois, desde a oito meses, pouco mais o menos, os vi voltar a
Sevilla carregados com índios [...]” (Probanza, 1513, 5ª Questão)
“Cristobal Garcia [...] disse [...] que haviam perdido os navios, e com obra de quinze a vinte homens, que
os outros sete haviam morrido e ficado [...]
haviam descoberto na terra firme e que
traziam muito ouro [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“E, ao que eu suspeito,
saído dali Hojeda, foi a carregar os navios de Índios em alguma parte desta
ilha [Hispaniola], ou da
ilha de Sant Juan [Porto
Rico], ou de outra das vizinhas, pois levou a Castela e vendeu em Cáliz 222
escravos, como Américo acima confessou em sua primeira navegação; e esta foi,
com os outros danos e escândalos que aos índios e cristãos deixou feitos
Hojeda, sua cavalgada. Pelo que neste capítulo se viu, aparece a falsidade
industriosa de Américo, e seu encobrir das tiranias que naquela sua primeira
viagem fizeram, nas quais ele a Hojeda acompanhava, e sua troca dos feitos que
fizeram em suas duas viagens, como já falamos, mais clara que o sol. Disse
deste tumulto e escândalos que Hojeda causou, Américo, no fim de sua segunda
navegação, e aconteceu na primeira, [...].
Tudo isto é falso, porque disse, que as injúrias ou afrontas que padeceram não
as disse para não ser prolixo, dando a entender que injustamente se lhes
fizeram, e não disse por que, e que os insultos foram eles que cometeram; o
segundo, quanto à por estes escândalos na segunda viagem, é muito falso, como
acima demasiadamente fica provado; o terceiro, assim mesmo, dizer que partiram
desta ilha a 22 de Julho, é mais que falso, porque não partiram se não quase em
fim de Fevereiro, entrando o ano de 500, e ainda creio que em Março, como
parece pelas cartas que eu vi e tive em meu poder, e conheço a assinatura de
Francisco Roldán que escrevia a cada oito ou quinze dias, quando andava
disputando com Hojeda, até que se foi ao Almirante. De maneira que a data que
deveu ser na segunda pôs na primeira, e os alvoroços e danos que fizeram na
primeira, pôs por afrontas e contumélias, recebidas sem culpa, na segunda
viagem.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXIX)
“[...].No qual capítulo
trabalhei de por duvidoso, se o Américo havia de propósito negado, tacitamente,
este descobrimento primeiro ter sido feito pelo Almirante [Colombo] e aplicado a si somente, porque não
havia observado o que depois comparei dos mesmos escritos do Américo, com
outras escrituras que daqueles tempos tenho e achei, pelo que digo haver sido
grande falsidade e maldade a do Américo, querendo usurpar, contra a justiça, a
honra devida ao Almirante, e a prova desta falsidade, por esta maneira e pelo
mesmo Américo ficará clarificada. Suponhamos o que acima no cap. 140 ficou
provado, convém a saber: o primeiro, o testemunho de tanta multidão numerosa de
testemunhas, que de vistas sabiam que o Almirante foi o primeiro que descobriu
a terra firme de Pária, e, por conseguinte, ninguém por toda a terra firme
chegou antes, e isto afirma também Pedro Mártir, nos capítulos 3.° e 9.° de sua
primeira Década. Em seguida, o mesmo Hojeda, em sua deposição, também o
testifica sem poder negá-lo, dizendo que, desde que viu a gravura ou pintura em
Castela, veio ele a descobrir, e achou que o Almirante havia chegado a Paria e
saído pela Boca del Dragón. O segundo, que Américo veio com Hojeda, ou por
piloto, ou que sabia algo do mar, pois o conta junto com Juan de la Cosa e
outros pilotos, ou, por ventura, que veio como mercador pondo alguns dinheiros
e tendo parte na armada. O terceiro, suponhamos o que Américo confessa em sua
primeira navegação, e é, que chegou à terra que chamavam os Índios moradores
dela, Paria; em seguida, que em certa parte ou província da costa da terra
firme, ou na ilha onde fizeram guerra, os Índios dela lhe feriram 22 homens e mataram-lhe
um, e isto ocorreu no ano 99, como logo se provará. Pois digamos assim: o
Almirante foi o primeiro que descobriu a terra firme e Paria, Hojeda foi o
primeiro depois do Almirante, e Américo foi com Hojeda, e confessa que chegaram
a Paria. Pois o Almirante partiu de Sant Lúcar a 30 de Maio de 98 anos, logo
Hojeda e Américo partiram de Cáliz no ano seguinte de 99 anos, porque se o
Almirante partiu a 30 de Maio de Sant Lúcar, e Hojeda e Américo a 20 de Maio de
Cáliz, e o Almirante partiu primeiro, não pode ser a partida de Hojeda e
Américo naquele ano de 98, mas sim só no seguinte de 99 anos; nem se pode dizer
em contra que pode ser que tenha partido Hojeda e Américo primeiramente a 20 de
Maio do ano mesmo de 98, que partiu o Almirante, posto que sendo verdade que o
Almirante chegou primeiro e descobriu a Paria, porque já tínhamos confessado o
intento, convém, a saber, que o Almirante havia descoberto a Paria, e ficaria o
dito de Américo falso também, por ele ter confessado, que disse que partiu no
ano de 97 anos; logo, sem dúvida, nem partiram de Cáliz no ano de 97, nem
tampouco no de 98, mas sim no de 99, e, por conseguinte, fica manifesto que não
foi Américo o que descobriu primeiro a terra firme de Paria, nem nenhum outro
senão o Almirante. Isto se confirma, pelo que acima no capítulo 140 se viu, que
Hojeda em sua deposição, tomado por testemunha em favor do Fisco, disse, convém
a saber, que depois que viu a pintura da terra, que o Almirante havia
descoberto, em Castela, veio a descobrir e achou ser verdade a terra como na
pintura a havia visto, e pois esta pintura e relação enviou o Almirante aos
Reis no mesmo ano de 98, a 18 de Outubro que partiram os ditos navios e
chegaram pelo Natal, e neles foi meu pai, como aparece no cap. 155, acima.
Logo, se partiu Hojeda e Américo por maio, a 20 dele, como escreve Américo
mesmo, não pode ser se não no ano seguinte de 99. Além disto, por outra razão
confirma-se: o Almirante foi avisado dos cristãos que estavam pela província de
Yaquimo, que se dizia a terra do Brasil, que havia chegado ali Hojeda, a 5 de
Setembro, e assim o escreveu o Almirante aos Reis pelos navios onde foram os
Procuradores do Almirante e de Roldán; e isto foi no ano de 99, ao tempo que
andava acabando ou era acabada a pacificação de Francisco Roldán e de sua
companhia e a obediência do Almirante, e esta é a primeira viagem que Américo
fez com Hojeda; logo não podia ter partido Hojeda nem Américo de Cáliz no ano
de 97, mas sim no de 99. Que
fosse esta a primeira viagem que fez Hojeda e Américo em busca da terra firme,
aparece pelas duas coisas que acima se puseram, que o mesmo Américo em sua
primeira navegação disse; a uma, que chegaram à terra que chamavam os moradores
dela, Paria; a segunda, que lhes feriram os Índios em certa ilha [Ilha de Ity] 22 homens e os mataram um, e isto
disseram a Francisco Roldán os da companhia de Hojeda quando entrou nos navios
de Hojeda o mesmo Francisco Roldán, o qual enviou o Almirante a ele, logo que
soube que havia chegado Hojeda à terra do Brasil, desta ilha, como se dirá no
cap. 168. Escreveu Francisco Roldán ao Almirante, desde lá, [...] descobriram na terra que agora
novamente vossa senhoria descobriu; disse que passaram ao longo de costa 600
léguas [155km], em que
acharam gente que pelejava, tantos com tantos, com eles, e feriram 20 homens e
mataram um; em algumas partes saltaram em terra e lhes faziam muita honra, e em
outras não lhes consentiam saltar em terra, etc.» Estas são palavras de
Francisco Roldán ao Almirante. [...] Resta, logo, claro, pelo Américo
dito, e a concordância do que disseram seus companheiros a Francisco Roldán,
convém saber, que lhe haviam ferido 20 ou 22 e morto um, que esta foi sua
primeira viagem; e também por ambos que haviam ido e visto a Paria, terra
novamente pelo Almirante descoberta. Pois se esta foi sua primeira viagem de
Américo e veio a esta ilha no ano de 99, a 5 de setembro, tendo partido de
Castela a 20 de maio no mesmo ano de 99, como fica claramente visto, segue-se
ficar Américo, de ter falsamente posto que partiu de Cáliz no ano de 97,
confusamente convencido. [...]
[Vespucci] trocou as viagens
que fez, aplicando as coisas da primeira na segunda, e as coisas que em uma
lhes aconteciam, como se em outra acontecessem, as referia. Conta que na
primeira viagem tardaram dezoito meses, e isto não é possível, porque aos cinco
meses que havia partido de Castela veio a esta ilha, e desta ilha não podia
retornar a terra firme, para andar tanto por ela, pelos ventos que sempre
correm contrários, que são as brisas e as correntes, se não com grandíssima
dificuldade e em muito tempo, por maneira, que o que andou por terra firme, foi
dentro de cinco meses, dentro dos quais veio a ela, posto que, como abaixo se
dirá, disse o Hojeda a alguns dos espanhóis que aqui estavam, antes que desta
ilha partissem, que ia fazer uma razia, a qual fez salteando os Índios de
algumas das ilhas destes arredores, das quais levou a Castela, segundo conta o
mesmo Américo, 222 escravos, e isto disse no fim da sua primeira navegação: [...] outra é, que certos danos e
forças que Hojeda fez e os que com ele vieram, aos Índios e aos espanhóis em
Xaraguá, em sua primeira viagem, pô-los na segunda navegação, [...] Antilla chamavam os
portugueses, então, esta ilha Española, e porque este Américo escrevia isto em
Lisboa, a chama Antiglia. Que estas injúrias que dizem que passaram ali dos
espanhóis, as quais se escusa dizer, porque não lhe cabe, e a causa por que se
as fizeram, a qual logo se dirá no capítulo seguinte, ocorreram na primeira
viagem, claro, logo, assim mesmo se verá. [...] outra é, que chegaram por 5 de setembro,
como se disse, a esta ilha, e disse que estiveram dois meses e dois dias nela,
e este, de necessidade, havia de ser todo setembro e outubro, e algum dia
andado de novembro; e disse ali, que saíram desta ilha a 22 de julho e que
retornaram ao porto de Cáliz a 8 de setembro; todo isto consta ser falsíssimo. O mesmo se pode averiguar de todos os
outros números dos anos, meses e dias que assinala de suas navegações,
facilmente, [...]” (Las
Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLIV)
“Partiu da Espanhola
Alonso de Ojeda, e na ilha de San Juan [Porto Rico] tomou os duzentos e vinte e dois
Índios, que levou a Castela, e encobriu Americo Vespucio as insolências de
Ojeda, e disse que estas revoltas sucederam na segunda Navegação, não sendo
assim, mas sim na primeira, e disse, que partiram da ilha Espanhola a 21. de julho,
pois não partiram se não em fim de fevereiro, do ano que vem de 1500.
Conhece-se o artifício, com que procurou atribuir-se o que era do Almirante D. Christoval
Colón.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, Cap. IV, pg. 101)
Em seguida retornaram à Espanha pelas Ilhas dos Açores, Canárias e
Madeira, e aportaram na Baía de Cádiz em meados de junho de 1500 (segundo outros,
em meados de abril ou maio de 1500), onde venderam muitos dos duzentos escravos
que levavam, por haverem morrido os restantes na navegação, fato cuja
veracidade não é muito segura, sendo certo que foi muito pouco o lucro da
expedição. Vespucci disse que chegaram em 8 de setembro de 1500.
“[...] e embarcamo-nos e tomamos o caminho de Castela e
em 67 dias atravessamos o golfo e fomos às Ilhas Açores, que são do Rei de
Portugal, que distam de Cádiz 300 léguas [1.670km], e aqui
tomamos refresco e navegamos para Castela e o vento nos foi contrário e fomos
forçados a ir às Ilhas Canárias e de Canárias à Ilha de Madeira, e de Madeira a
Cádiz, e empregamos nesta viagem treze meses, correndo muitos perigos e
descobrindo muita terra da Ásia e grande quantidade de ilhas, a maior parte
habitadas, havendo feito muitas vezes a conta no compasso de ter navegado cerca
de 5.000 léguas [28.000km].
Em conclusão, passamos a Linha Equinocial em seis graus e meio e depois
retornamos à parte do Norte, tanto que a estrela polar se eleva sobre nosso
horizonte 35 graus e meio e à parte do Ocidente e navegamos 84 graus contados
do meridiano da Cidade e Porto de Cádiz. Descobrimos infinita terra, vimos
infinita gente, e várias línguas e todos nus. [...] trouxemos pérolas e ouro em grãos,
trouxemos duas pedras, uma cor de esmeralda e outra de ametista, duríssima,
comprida de meia spanna e grossa de três. Estes Reis tiveram grande apreço por
elas e as guardaram entre suas joias: trouxemos um grande pedaço de cristal que
alguns joalheiros dizem que é berílio e segundo diziam os índios havia ali
grande quantidade dela. Também trouxemos quatorze pérolas encarnadas que muito
contentaram à Rainha e muitas outras pedras que pareciam belas; de todas estas
coisas não trouxemos grande quantidade por não termos demorado muito em nenhuma
paragem, mas navegávamos continuamente. Assim que chegamos a Cádiz vendemos
muitos escravos, dos quais tínhamos 200 destes, e o resto até 232, que tomamos
no Golfo, e pago todos os gastos, que se tinham feito nos navios, que alcançou
500 ducados, e tendo que se repartir em 55 partes, muito pouco foi o que a cada
um tocou, porém todos se contentaram de haver se salvado a vida e deram graças
a Deus, pois na viagem dos 57 homens cristãos que éramos, só morreram dois,
mortos pelos índios. E quanto a mim, depois que cheguei, peguei duas febres
quartãs das quais espero curar em breve porque duram pouco e não tenho frio. [...] Estão armando-me três navios para
eu ir novamente a descobrir e creio que estarão prontos em meados de setembro
próximo. Queira Deus dar-me saúde e boa viagem outra vez que espero trazer
grandes notícias e descobrir a ilha Trapobana que está entre o mar Índico e o
mar Gangético, e depois espero voltar à Pátria e descansar passando ali minha
velhice.” (Vespucci, 1500, Lettera Bandini, Bb)
“[...] e navegamos um mês e meio e entramos no porto de
Calis, que foi o dia 8 de setembro, [...]” (Vespucci, 1504, Lettera,
Ba)
“E daqui foram à Calicio de Spagna, onde foram
com honras recebidos.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1189)
“Ele veio
aqui de um navio da Índia da parte do rei meu senhor, os quais foram a descobrir
patrão Zuan Biscaino [Juan de la Cosa] e Almerigo
Fiorentino, os quais passaram pelo poente e garbino [OSO] légua 800 da dita ilha Española que é da força
de Herculus légua 2000 e descobriram terra firma, que julgaram bem léguas 200
da Sp. [Hispaniola], encontraram
terra e pela costa percorreram léguas 600, na qual costa encontraram um rio, léguas
150, na qual são muitas ilhotas habitadas de Índios. [...]. Depois retornaram pela costa de dita terra
léguas 600, onde se encontraram em uma canoa de Índios [...].” (Vianello)
d.11) Conclusão:
Confira a conclusão do
ítem anterior (c.8). Não sobreviveu o
diário de navegação ou o relato oficial da 1ª Viagem de Hojeda à América do Sul
em 1499-1500, no entanto, está provada a existência desta viagem. Os fatos
tidos como certos são: (1) Alonso de Hojeda navegou com Juan de la Cosa e
Amerigo Vespucci; (2) partiram cerca de maio de 1499, provavelmente do porto de
Santa Maria; (3) Fizeram escala para se abastecer nas Ilhas Canárias (Gomera ou
Hierro); (4) Em fins de junho ou início de julho chegaram em algum ponto da
costa nordeste da América do Sul; (5) Entraram no Golfo de Pária (Venezuela) e saíram pela Boca del Drago; (6) Desembarcaram na
Ilha de Margarita e descobriram os ilhotes de Los Frailes; (7) Descobriram a
Ilha de Curaçao (Ilha dos Gigantes); (8) Descobriram o Golfo da Venezuela, onde
acharam uma aldeia sobre palafitas, que lhes fez dar à região o nome de
Venezuela; (9) Navegaram até o Cabo de la Vela (Venezuela); (10) Em combates
com os índios, um espanhol morreu e vinte e dois ficaram feridos; (11) Hojeda
entrou no porto de Yáquimo (Ilha de Hispaniola) a 5 de setembro de 1499; (12)
Hojeda teve conflito com os colonos espanhóis e os índios, sendo forçado a
partir em 22 de novembro de 1499, por Francisco Roldán, enviado de Cristóvão
Colombo; (13) Hojeda transladou-se com seus navios a Suranha em (Ilha de Hispaniola) e daí partiu em fins de
fevereiro de 1500 para a Espanha; (14) Hojeda chegou em Sevilha cerca de abril
ou maio de 1500.
Em relação ao fato (1), esta foi a 1ª
Viagem de Alonso de Hojeda; a função de Vespucci nesta viagem não pode ser bem definida
(comerciante, astrônomo, piloto e/ou comandante de um dos navios?). A viagem de
Hojeda foi de maio de 1499 a fevereiro de 1500. A expedição foi de 16 ou 18 de
maio de 1499 a março/abril ou 08 de setembro de 1500. Vespucci disse que
fizeram uma razia e capturaram cerca de 222 escravos (Puerto Rico, Haiti,
Bahamas?), mas não há provas. Na carta Bandini
(Bb), Vespucci disse ter navegado até a 6º de latitude Sul e 223km para o leste
do ponto de chegada na América do Sul, o que corresponderia ao litoral do Rio
Grande do Norte, um pouco abaixo da cidade de Natal, cerca de 27 de junho de
1499. Na Lettera (Ba) ele diz ter
navegado até 5º de latitude sul, o que daria a fronteira entre o litoral do Rio
Grande do Norte e do Ceará. Não há nenhum outro relato disto e Hojeda não
relata isto nas Probanzas. Mesmo
assim, alguns autores alegam que os navios se separaram e Hojeda teria
desembarcado nas Guinas e Vespucci no RN. No entanto, não há nenhuma base
fidedigna para tal especulação, a não ser as não confiáveis cartas de Vespucci.
Além disto Vespucci diz que navegou 200 léguas a oeste de Pária até o Cabo de a
Vela e 200 léguas a leste de Pária, o que daria como ponto máximo ao leste, a
Guiana ou Suriname.
Há, também, um
problema das datas de sua estadia na Ilha de Hispaniola e de sua saída de lá.
Está provado que Hojeda chegou nesta ilha em 5 de setembro de 1499 e partiu em
fins de fevereiro de 1500. Vespucci disse que chegou à ilha no começo de maio de 1500 e que partiu em 22 de julho de 1500.
Há uma diferença grosseira entre as duas e sabe-se que as primeiras estão
corretas. Alguns, portanto, alegam que Hojeda partiu primeiro de algum lugar da
Venezuela e foi para a Ilha de Hispaniola, enquanto Vespucci continuava a
exploração até o Cabo de Vela, e depois este teria ido separadamente à Ilha de
Hispaniola, onde, por ser amigo do então governador da ilha, Cristóvão Colombo,
ficou vários meses, enquanto Hojeda por ter conflito com o governador, ficou
pouco tempo. No entanto, novamente, não há prova de que alguma vez os navios de
Hojeda e Vespucci se separaram.
Portanto, o mais
provável é que Hojeda e Vespucci não vieram ao Brasil, mas desembarcaram nas
Guianas e exploraram para o oeste até o Cabo de Vela.
d.12) Bibliografia:
A Lettera a Lorenzo Pietro Francesco di Medici (Lettera Bandini) (Carta I – Bb), datada de Sevilha, 18 de julho de
1500, foi descoberta na Biblioteca Riccardiana de Florença, no
meio de papeis de Pier Voglienti, e editada pela 1ª vez em italiano por Bandini
em 1745. Ela narra a dita 2ª viagem espanhola. Apresenta-se cheia de
contradições em relação às cartas consideradas legítimas. É, em geral, tido
como apócrifa.
A Lettera ao gonfalonier de
Florence Pietro Soderini (Lettera)
(Carta V – Ba), datada de Lisboa, 4 de setembro de 1504, narra as quatro
supostas viagens de Vespucci, em sequência. A carta original, escrita em
Italiano, foi traduzida em Portugal para o francês e enviada uma cópia para
René II, duque de Lorena. Esta tradução francesa foi retraduzida em latim e
publicada na Cosmographiae Introductio
de Waldseemüller de 1507. A carta original também foi publicada em italiano,
provavelmente também em 1507. A versão italiana original contém várias palavras
em espanhol e português, favorecendo a crença que a carta é legítima. No
entanto, como a 1ª viagem de Vespucci é tida por muitos como falsa,
depreende-se ou que este inventou a viagem e mentiu na carta, ou alguém,
naquela época inventou a carta, possivelmente baseado em material original do
próprio Vespucci.
- VESPUCCI, Amerigo. Lettera a Lorenzo Pietro Francesco di
Medici. (Bandini) (Carta I – Bb)
(Sevilha, 18 de julho de 1500). apud VARNHAGEN,
Frederico Adolfo. Amerigo Vespucci, son caractère, ses écrits (memes les
moins authentiques), sa vie et ses navigations. Lima: Imprimerie du
Mercurio, 1865, pg. 67-77 (Italiano). GOMAR, Gregorio Pérez. Americo Vespucio. Buenos Aires: Imprenta
de la Ondina do Plata, 1880, pg. 105-118 (Espanhol). VIGNAUD, Henry. Recueil de Voyages et de Documents pour
Servir a L’histoire de a Géographie depuis le XIIIe jusqu’a a Fin du XVIe
Siècle. Vol. XXIII. Americ Vespuce 1451-1512. Paris: Ernest Leroux Éditeur,
1917, pg. 393-402 (Italiano).
- VESPUCCI, Amerigo. Lettera ao gonfalonier de
Florence Pietro Soderini (Carta V – Ba) (Lisboa, 4 de setembro de
1504) in GRYNÄUS, Simon. Novus Orbis Regionum ac
insularum veteribus incognitarum, una cum tabula cosmographica, & aliquot
alijs consimilis argumenti libellis, quorum omnium catalogus sequenti patebit
pagina. His accessit copiosus rerum memorabilium index. Basileia: Apud Jo. Heruagium, 1532. Pg. 169-175.
(latim) RAMUSIO, Giovanni Battista. Delle
Nauigationi et Viaggi. 2ª ed. Veneza: Stamperia de Giunti, 1554. Vol. I.
139C-140D (italiano). KERR, Robert. A
General History and Collection of Voyages and Travels, Arranged in Systematic
Order. Vol 3. Edimburgh: William Blackwood, 1824, pg. 379-382 (inglês)
NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los viajes y descubrimientos que
hicieron por mar los Españoles desde fines del siglo XV, Madrid: Imprenta
Real, 1825. Vol. III, pg. 242-262 (Espanhol e latim). VARNHAGEN, Frederico
Adolfo. Amerigo Vespucci, son caractère, ses écrits (memes les moins
authentiques), sa vie et ses navigations. Lima: Imprimerie du Mercurio,
1865, pg. 48-55 (Latim e Italiano). ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS. Collecção
de Noticias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas que Vivem nos
domínios Portugueses ou lhe são Vizinhas, Vol. 2. 2ª ed. Lisboa:
Typographia da Academia Real das Sciencias, 1867, pg. 145-153 (Português).
GOMAR, Gregorio Pérez. Americo Vespucio.
Buenos Aires: Imprenta de la Ondina del Plata, 1880, pg. 119-133 (Espanhol).
QUARITSCH, Bernard. The first four
voyages of Americ Vespucio. Londres: Bernard Quaritsch, 1885, pg. 45-88
(Inglês). MARKHAM, Clements, R. The
letters of Americo Vespucci and other documents illustrative of his career.
London: Lincoln’s in Field, 1894. Pg. 38-41 (Ingles). VIGNAUD, Henry. Recueil de Voyages et de Documents pour
Servir a L’histoire de la Géographie depuis le XIIIe jusqu’a la Fin du XVIe
Siècle. Vol. XXIII. Americ Vespuce 1451-1512. Paris: Ernest Leroux Éditeur,
1917, pg. 313-392 (Italiano, Francês e Latim). DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto:
Litografia Nacional, 1921. Pg. 201-202 (Português)
- Probanzas hechas por
el fiscal del Rey en el pleito que siguió contra el Almirante de índias D.
Diego Colon, preguntas 7ª e 8ª. apud
NAVARRETE, Martin Fernández. Colecion de los viajes y descubrimientos que
hicieron por mar los Españoles desde fines del siglo XV, Madrid: Imprenta
Real, 1825. Tomo III, pg. 542-547. DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto:
Litografia Nacional, 1921. Pg. 203-216
(Original de 1513 e 1515)
-
GÓMARA, Francisco López de. Historia
General de las Indias. Zaragoza, 1554.
- OVIEDO Y VALDEZ, Gonzalo
Fernández de. Historia General
y Natural de las Indias. Vol. II.
Madrid: Imprenta de la Real Academia de la Historia, 1852. (original, 1557)
- LAS CASAS, Bartolomeu de.
Historia de las Indias. Vol. 2.
Madrid: Imprenta de Miguel Ginesta, 1875. (original, 1561)
- MUNSTER, Sébastien. Sei Libri Della Cosmografia Vniuersale, ne
quali secondo che nªhanno parlato i piu ueraci scrittori son disegnati, I siti
de tutte le parti del mondo habitabile & le proprie doti: Le Tauole
topographice delle Regioni. Basileia, 1558.
- HERRERA, Antonio de. Historia
General de los Hechos de los Castellanos en las Islas y tierra Firme del Mar
Oceáno. Vol. 1. Madrid: Imprenta Real de Nicolás Rodriguez Franco, 1611.
- DE CHARLEVOIX. Histoire et description générale du Japon
... avec les fastes chronologiques de la découverte du Nouveau-Monde. Vol.
I. Paris: Pierre-François Giffart 1736, pg. XIX
- ROUSELOT DE SURGY,
Jacques Philibert. Histoire générale des
voyages, ou Nouvelle collection de toutes les relations de voyages par mer et
par terre qui ont été publique jusqu’à present... Vol. 12. Paris: Didot,
1746, pg. 86-93.
- CAULIN, Antonio. Historia coro-graphica natural y evangelica
dela nueva Andalucia provincias de Cumaná, Guayana y Vertientes del Rio
Orinoco. Madrid: Juan de San Martin, 1779. Livro II, Cap. I, Parágrafo 1,
pg. 117
- NAVARRETE, Martin
Fernandez. Colecion de los viajes e descubrimientos que hicieron por mar los
Españoles desde fines del siglo XV. Vol. III, Madrid: Imprenta Real, 1825.
Pg. 4-11, 183-190; 291-334.
- HUMBOLDT, Alexander von. Examen Critique de l’Histoire de la
Geographie du Noveau Continent et des Progrès de l’Astronomie Nautique au
Quinzièm et Sezième Siècles. Paris: Librairie de Gide, 1836-1839. Vol. 1,
pg. 313; vol II, pg. 196-197, vol. III, pg. 219-222; vol. 4, pg. 28-336.
- IRVING, Washington. Voyages and discoveries of the companions of
Columbus. Philadelphia: Carey and Lea, 1831.
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Recherches sur Améric Vespuce et sur ses
prétendues découvertes en 1501 et 1503 — Avec des Notes addittionnelles (1836),
apud Opúsculos Esparsos. Vol. 1.
Lisboa: Imprensa libanio da Silva, 1910. pg. 219-248. NAVARRETE, Martin
Fernandez. Colecion de los viajes e descubrimientos que hicieron por mar los
Españoles desde fines del siglo XV. Vol. III, Madrid: Imprenta Real, 1825.
Pg. 309-314.
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Continuation des Notes additionelles. A
la lettre de M. le vicomte de Santarém, publiée dans le Bulletin de la Société
de Géographie du mois d’octobre 1835, sur les voyages d’Améric Vespuce, de 1501
et 1503, par 1’aucteur à la Société de Géographie (1837), apud Opúsculos
Esparsos. Vol. 1. Lisboa: Imprensa libanio da Silva, 1910. pg. 413-433
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Continuation des Notes additionelles à la Lettre de M. le Vicomte de
SANTARÉM, publiée dans le Bulletin de la Société de géographie du mois
d’octobre 1835, sur les
voyages d’Améric Vespuce, de 1501, et 1503, adressées par
l’auteur á la Société de géographie.
(1837), apud Opúsculos Esparsos. Vol.
1. Lisboa: Imprensa libanio da Silva, 1910. pg. 435-457
- 2º VISCONDE DE SANTARÉM
(Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa).
Vespuce (Améric) (1839), apud Opúsculos Esparsos. Vol. 1. Lisboa:
Imprensa libanio da Silva, 1910. Pg. 465-468.
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NAVARRETE, Martin Fernandez. Biblioteca
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e) Vicente Yáñez Pinzon (1499-1500)
d.1) Partida de Palos (Espanha) (novembro/dezembro
de 1499)
Vicente Yáñez Pinzón (1462-1514) foi um
navegador espanhol, que participou como capitão da caravela Niña no
descobrimento da América por Cristóvão Colombo em 1492. Em 1498 os reis da
Espanha decidiram autorizar que outros exploradores explorassem a América
Espanhola (o que até então estava proibido pelo monopólio dado a Cristóvão
Colombo), desde que fossem a terras não exploradas antes por Colombo ou de
direito dos portugueses. Vicente Yáñez Pinzón armou 4 caravelas com seus próprios
recursos e de sua família, e nelas embarcou grande quantidade de parentes e
amigos, entre eles, García Hernández (famoso médico de Palos que apoiou Colombo
quando ninguém o apoiava, como escrivão);
seus sobrinhos e capitães Arias Pérez e Diego Fernández Colmenero (filhos de Martín
Alonso Pinzón); seu tio Diego
Martín Pinzón, seus primos Juan, Francisco e Bartolomeu; os prestigiosos
pilotos Alonso Núñez, Juan Quintero Príncipe, Juan de Umbría e Juan de Jerez
(estes últimos três eram veteranos das três primeiras viagens de Colombo); os
marinheiros Cristóbal de Vega, García Alonso, Diego de Alfaro, Rodrigo Álvarez,
Diego Prieto, Antón Hernández Colmenero, Juan Calvo, Juan de Palencia, Manuel
Valdovinos, Pedro Ramírez, García Hernández (não confundir com o médico
homônimo) e, supõe-se, seu irmão Francisco
Martín Pinzón.
“D. Fernando e Doña Isabel etc. A vós o Corregedor
e Alcaides e outras Justiças da vila de Palos saúde e graça: Saibais, que Arias
Pérez, e Diego Ferrandez, sobrinhos de Vicente Yañez Pinzón, por eles, e em
nome do dito seu tio nos fizeram relação por sua petição, dizendo: que o dito seu
tio e eles, com nossa licença, pode haver um ano pouco mais ou menos, que armaram
quatro caravelas para descobrir nas partes das Índias, com as quais seguiram sua
viagem em nosso serviço, em que descobriram seiscentas léguas de terra firme em
ultramar, além de muitas ilhas, por cuja causa diz que vieram muito gastados e
pobres, e assim por isto, como porque nas ditas quatro caravelas e na armação
delas, gastaram muitas quantias de suas fazendas e ainda mais daquelas para a
dita viagem, […]” (Real
Provision, 1500)
“Vicentines chamado Pinzones, e Aries seu
sobrinho, que foram na primeira viagem com Colombo, em MCCCCXCIX, armaram a
suas custas IIII caravelas [...]” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“Juan de Ungria ou Umbria, [...], em 1º de dezembro
de 1515, que sabe e viu que o dito Vicente Yañez com quatro caravelas armadas
por si e por seus parentes, foram desde o rio de Saltes a descobrir, [...]” (Probanza, 1515,
7ª Questão)
“Vícente
Yáñez, de sobrenome Pinzón, e Alonso Pinzón, filho de seu irmão, que haviam
acompanhado na primeira navegação ao Prefecto marítimo [Almirante] Colombo,
levados por ele e dono daqueles dois navios menores, como acima dissemos, que
se chamam caravelas, atraídos pela amplitude das novas regiões e novas terras,
construíram às suas expensas quatro caravelas no porto que os espanhóis chamam
Palos, de onde eles eram naturais, que está no mar ocidental, [...]” (D’Anghiera, 1530, Década I, Livro IX)
“A maioria dos marinheiros que iam com Cristoual
Colon, quando achou as pérolas, eram de Palos. Os quais se foram logo à España,
e disseram em sua terra as coisas das pérolas, e ainda mostraram muitas, e as
levaram a vender a Sevilla, de onde se soube na corte, e no palácio. Pela muita
fama armaram alguns dali como foram os Pinçones, e os Niños. Aqueles se tardaram
por levar quatro caravelas, e foram ao cabo de Sant Agustin, como depois
diremos.” (Gómara, 1554, Cap. LXXV, pg.97b)
“Já disse que com as novas das pérolas e grandes
terras que descobrira Colombo, encheram-se de cobiça alguns de ir por lá, e
voltaram, como dizem, desbaratados. Estes foram Vicente Yáñez Pinzón e Arias
Pinzón, seu sobrinho, que armaram quatro caravelas às suas custas em Palos,
onde nasceram. Abasteceram-nas muito bem de gente, artilharia, vitualhas e
resgates; que ricos estavam, das viagens que haviam feito às Índias com
Cristóvão Colombo. Tiveram licença dos Reis Católicos para descobrir e resgatar
onde Colombo não tivesse estado.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV, pg.110a-110b)
“Vincenzo dito Pinzone em 1499. armou quatro caravelas
e andou primeiro na Canaria, e depois à Capo uerde, com a qual navegação se vai
em Ostro [Sul], e muito
além do equador, […].” (Munster, 1558, libro V,
pg. 1187)
“[...] pelo
mês de Dezembro e fim do ano de 1499, Vicente Yañez Pinzon, irmão de Martin
Alonso Pinzon, os quais vieram com o Almirante no princípio do descobrimento
destas Índias, [...],
com quatro navios ou caravelas, equipadas às suas custas, porque era homem de
posses, [...]”, (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“Depois da Viagem referida de Christoval Guerra,
no mês de dezembro, Vicente Yañez Pinzón, que acompanhou ao Almirante [Colombo], no primeiro Descobrimento,
com quatro Navios, armados à sua custa, porque era Homem de posses [...]” (Herrera, 1611, Vol. I,
Livro IV, Cap. VI)
“Vincent Yannez Pinzon, um dos que acompanharam o
Almirante Don Christophore Colomb em sua primeira viagem, descobriu a foz deste
rio no Oceano, como nós já dissemos. Ele armou no Porto de Palos quatro navios
a suas custas durante o mês de dezembro de 1499, e resolveu empregá-los no
fazer novas descobertas nas Índias; este era então o gosto dominante.” (Ulloa, 1748, Vol.
I, pg. 319)
“Erão os Pinzones homens abastados, cujas
riquezas ainda havião engrossado com a viagem anterior; apparelhárão á sua
custa quatro caravelas [...]” (Southey, 1822, Vol. I, pg. 7)
Ele partiu de Palos (o piloto Juan de Umbria
diz que partiram do Rio de Saltes) em fins de 1499, não havendo acordo entre os
autores em relação à data: estas variam entre 13 de novembro (Gómara, Galvão),
18 de novembro (Montalboddo, De la Blache), início de dezembro (D’Anghiera, Las
Casas) e fim de dezembro (De Charlevoix). Dali navegarou para as Ilhas Canárias.
“[...] e no dia XVIII de novembro partiram de Palos
para andar a descobrir novas ilhas e terras; em breve tempo foram às Ilhas de
Canária [...]” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“[...] e tendo obtido permissão
dos Reis zarparam cerca das calendas [entre 14 de novembro e 01 de dezembro] de dezembro
de mil quatrocentos noventa e nove. [...]” (D’Anghiera, 1530, Década I, Livro IX)
“Partiram, pois, de Palos a 13 de novembro do ano
de mil e quinhentos menos um, com pensamento de trazer muitas pérolas, ouro,
pedras e outras grandes riquezas.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV, pg.110b)
“[...] saiu
do porto de Palos, para ir descobrir, por princípio de dezembro, ano de 1499; [...]”
(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“No anno de 499, a treze dias do mes de Nouembro
partiram de Pallos, Vicente Anes piçã & seu sobrinho Aires piçam cõ quatro
nauios que armaram a sua custa, pera descobrimento do nouo mundo, cõ licença
del rey de Castela, & regimento que nam tocasse no que o almirante Colõ
tinha descuberto, [...]” (Galvão, 1563, fl. 27b)
“[...] saiu do Porto de Palos, e tomando o caminho
das Canarias, [...]” (Herrera, 1611, Vol.
I, Livro IV, Cap. VI)
“Vincent Yañez Pinçon, que
havia acompanhado Christophe Colomb à Índia na sua primeira Viagem, tendo
partido da Espanha no fim de dezembro de 1499.” (De Charlevoix, 1736, Vol. I, pg. XIX)
“[...] e fazendo-se de vela do
porto de Palos em dezembro de 1499, [...]” (Southey, 1822, Vol. I)
e.2) Ilhas de Cabo Verde
(13 de janeiro de 1500)
Antes do Natal de 1499, as quatro caravelas já aportavam
em Santiago, uma das ilhas de Cabo Verde, na qual permaneceram
ancoradas por cerca de três semanas. Daí, seguiram, a 13 (Las Casas, Herrera) de
janeiro de 1500, com vento de sudoeste pela proa, em direção à Venezuela, já
descoberta em 1498 pelo próprio Colombo e depois
explorada por Alonso de Hojeda e
Amerigo Vespucci. Nos oito dias seguintes à partida de Santiago, tudo
correu bem e os ventos alísios empurraram os navios de Pinzón no rumo desejado.
Mas, a 21 de janeiro, assim que a frota cruzou o equador, ocorreu uma terrível
tempestade. Esta durou uma semana e quase fez naufragar as caravelas.
Ironicamente, o mau tempo acabaria permitindo a Pinzón realizar umas das mais
rápidas travessias entre o Cabo Verde e a América do Sul. Suas caravelas
gastaram apenas 13 dias para cobrir uma distância de cerca de 2.390 km.
“[...] e, depois, sucessivamente às Ilhas de Cabo
Verde, das quais, partiram, e tomando a rota do Garbino [SO], navegaram por este vento CCC léguas [1.850km]. Nesta viagem perderam a Tramontana [Estrela
Polar] (a qual foi imediatamente perdida)
e foram assaltados de uma terribilíssima tempestade do mar com chuva, e de um
vento crudelíssimo que não diminuiu, seguindo continuamente seu caminho pelo
Garbino; não sem manifesto perigo, andaram para frente CCXL léguas [1.480km]
[...]” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“Pedro Ramirez, [...] em
19 de setembro de 1515, que sabe que o dito Vicente Yañez foi descobrir, e esta
testemunha foi com ele: e foram diretamente às ilhas de Antonio [Ilhas desabitadas ao norte de
Cabo Verde] que são do
Rei de Portugal, [...], e
que dali partiram em direção do sulsudoeste para irem em busca de descobrir, e
pensaram não achar terra em três ou quatro meses, e ao cabo de quatorze dias
deram em terra firme na direção de sulsudoeste, [...]” (Probanza, 1515, 7ª Questão)
“Antón Hernández Colmenero, [...] em
25 de setembro de 1515, que ao tempo em que o dito Vicente Yañez Pinzón, e os
que com ele iam, foram a descobrir, esta testemunha ia no navio do dito Vicente
Yañez, e viu como o dito Vicente Yañez e os que com ele iam foram para a parte
do levante desde a ilha de Cabo Verde, e foram em direção do sudoeste
entremeada do Sul [...].” (Probanza, 1515, 7ª
Questão)
“Diego Hernández Colmenero [...] foi
por capitão de um navio dos que o dito Vicente Yañez levava, e que tomaram sua
derrota das ilhas de Cabo Verde a partir da ilha do Fogo, [...]” (Probanza, 1515, 7ª
Questão)
“Eles se encaminharam primeiramente às ilhas
Afortunadas pelas Hespérides, isto é, pelas ilhas chamadas de Cabo Verde, que
outros chamam as Górgadas de Medusa. Tomaram rumo direto ao Meio-dia. Desde a
Hespéride [Ilhas de Cabo Verde] que
os portugueses, seus possuidores, chamam São João [Na verdade, Santiago], saindo a treze de janeiro, marcharam com
vento ábrego de proa, que chamam Sudoeste, e é meio entre o Austro [S] e
o Zéfiro [O]. Quando lhes parecia que haviam navegado já trezentas
léguas [1.850km] seguindo aquele vento, dizem que perderam de vista o
polo ártico [Estrela do
Norte], e quando este desapareceu,
levantou-se, neste momento, feroz tempestade de ventos, turbilhões e calores.
No entanto, prosseguiram adiante, se bem com sumo perigo, duzentas e quarenta
léguas [1.480km], seguindo sempre o mesmo vento pelo já perdido polo.” (D’Anghiera,
1530, Década I, Livro IX)
“Chegou a Santiago, ilha de Cabo Verde; levou dali sua derrota
mais ao meio-dia que Colombo, atravessou a tórrida [...]” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV, pg.110b)
“[...] o qual, tomado o caminho das
Canárias, e dali às de Cabo Verde, e tendo saído da de Santiago, que é uma
delas, a 13 dias de janeiro de 1500 anos, tomaram a direção do Austro [S] e depois ao Levante [L], e, percorridas, segundo disseram, 700 léguas [4.300km], perderam
o Norte e passaram a linha equinocial. Tendo passado dela, tiveram uma
terribilíssima tormenta que pensaram ir perecer; andaram por aquela direção do
Oriente ou Levante outras 240 léguas [1.480km], [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II,
Cap. CLXXIII)
“[...] pelo que foram as ilhas do Cabo verde [...]” (Galvão, 1563, fl. 27b)
“[...] e
depois o de Cabo Verde, saiu da Ilha de Santiago, que é uma daquelas de Cabo
Verde, a 13 de janeiro do Ano de 1500. Tomou a via do Sul, e depois a Levante
e, havendo navegado setecentas Léguas [4.300km], perdeu o Norte, e
passou a Linha Equinocial, tornando-se o primeiro Súdito da Coroa de Castela, e
de Leão, que a atravessou; e passada a Linha, teve tão terrível Tormenta, que
pensaram perecer: andou pela via do Levante outras duzentas e quarenta
Léguas [1.480km] [...]” (Herrera, Vol. I, Década I, Libro IV, pg.
107, 1611)
“Vincent Yañez Pinçon, [...] foi o primeiro a passar a linha, de todos os
Súditos do Rei Católico [...]” (De Charlevoix,
1736, Vol. I, pg. XIX)
“Com este objetivo, ele fez vela para as Canárias, de onde ele vai
para as Ilhas de Cabo Verde [...]” (Ulloa, 1748, Vol. I, pg. 319)
“[...] ganharão Cabo Verde, d’onde governarão para
sudoeste, sendo os primeiros hespanhoes que passarão a linha, e perdérão de
vista a estrella do norte.” (Southey, 1822, Vol. I)
e.3) Cabo de la Consolación / Rostro Hermoso (20 ou 26 de janeiro de
1500)
E então, na manhã de 20 (Montalboddo) ou 26 (D’Anghiera,
Las Casas, Herrera, De Charlevoix, Ulloa) de janeiro de 1500, vencidos todos os
perigos do mar, Pinzón e seus homens desembarcaram em um cabo, que chamaram de
Cabo de (Santa Maria) de la Consolación; outros falam em Cabo Rostro
Hermoso.
“[...] este cabo se
descobriu no ano de 1499 por Castela, sendo descobridor Vicens ians [...]”
(De La Cosa, 1500)
“[...] andaram para frente CCXL léguas [1.600km]
e no dia XX de janeiro, de longe, viram
terra, [...]” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“[...] Vicente Yañez Pinzón, capitão de
SS. AA., [...] em 21 de março de 1513, [...]
descobriu desde o cabo de Consolación, que está na parte de Portugal
e agora se chama cabo de S. Agustín, e que descobriu toda a costa, e logo,
correndo ao ocidente a quarta do Noroeste, que assim se corre a terra; [...].” (Probanza, 1515, 7ª
Questão)
“Pedro Ramirez, [...] em
19 de setembro de 1515, [...] deram em um cabo ao qual puseram
nome Rostro-hermoso, e lançaram âncoras e saltaram em terra, e dali não puderam
ir mais avante, e voltaram costeando até que deram em Paria [...]” (Probanza, 1515, 7ª
Questão)
“Manuel de Valdovinos, [...] em
19 de Setembro de 1515: disse que foi com o dito Vicente Yañez Pinzón a segunda
vez que ele foi a descobrir, e que sabe e viu que o dito Vicente Yañez
descobriu, partindo de Cabo Verde ao sul Sudoeste, e que acharam terra a
quinhentas léguas [3.900km], [...], e ali pôs o dito Vicente
Yañez por nome Rostro-hermoso, que agora diz que se chama Santa Cruz e San
Agustín, e o dito Vicente Yañez tomou a posse pelo Rei, e dali correram ao
noroeste, [...]” (Probanza,
1515, 7ª Questão)
“García Hernandez, [...] em
25 de setembro de 1515, [...] ao tempo que Vicente Yañez Pinzón e
os que com ele iam, foram a descobrir, esta testemunha foi com eles, e viu como
o dito Vicente Yañez Pinzón descobriu, ele e os que com ele iam, para a parte
do levante até a costa que está descoberta para a ponta que chamam de Santa
Cruz e de San Agustín, [...].” (Probanza, 1515, 7ª Questão)
“Juan
de Xerez, [...]
que esta
testemunha e os que iam em sua companhia com o dito Vicente Añes descobriram da
ponta de Santa Cruz até Paria, pela costa adiante, [...].” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Diego Hernández Colmenero disse, [...], esta testemunha foi por capitão de um navio dos
que o dito Vicente Yañez levava, [...] descobriram a terra firme, e
a partir dali vieram costeando e descobrindo desde Rostro-hermoso, que lhe
puseram ao tempo, até juntar a terra com a Paria, em que houve 800 léguas [4.500km] de costa: [...]” (Probanza, 1515, 7ª
Questão)
“Por fim, no sétimo dia das calendas de fevereiro [26 de janeiro], viram terra de longe; [...]” (D’Anghiera, 1530, Década I,
Livro IX)
“[...] e
a frota foi a dar ao cabo chamado de San Agustín.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV,
pg.110b)
“Uns põe quinhentas léguas [2.800km] e
outros mais desde o rio Marañón ao cabo de San Agustín.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXVII,
pg.113b)
“[Cabo de Santo Agostinho] Ca oito grados e meio, mais além da
Equinocial, o cabo de San Augustin. Descobriu-o Vicente Yañez Pinçon, em janeiro
de mil e quinhentos anos, com quatro caravelas, que saíram de Palos dois meses
antes. Foram os Pinçones grandíssimos descobridores, e foram muitas vezes a
descobrir, e nesta navegaram muito.” (Gómara,
1554, Cap. LXXXVII, pg.113a)
“[...] e a
26 de janeiro viram terra bem longe; esta foi o Cabo que agora se chama de Sant
Agustín, e os portugueses a terra do Brasil: pôs-lhe Vicente Yañez, então, por
nome, cabo de Consolación.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...] & passarã a linha da outra
parte do sul, & descobrirã o cabo de sancto Agostinho que está daquella
banda em oyto graos daltura [...]”
(Galvão, 1563, pg. 27-28)
“O Cabo Sainct Augustin foi
descoberto pelos Pinçons no fim de janeiro de mil e quinhentos, onde eles viram
homens muito grandes, uma vez e meia nosso tamanho [...]” (La Popelinière, 1582,
Livro II, pg. 55)
“[...], e a 26 de janeiro
descobriu Terra, bem longe, e este foi o Cabo, que agora chamam de San Agustin,
ao qual chamou Vicente Yañez, Cabo de Consolacion, e os Portugueses dizem a
Terra de Santa Cruz, e agora de Brasil: acharam o mar turvo e brancacento, como
de rio [...].” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 107)
“[...] a
vinte seis de Janeiro de 1500, ele descobriu um Cabo do Brasil, que ele nomeia
o Cabo de la Consolacion, e tomou possessão dele em nome da Coroa de Castela.
Os Portugueses depois deram a este Cabo o nome de Santo Agostinho.” (De Charlevoix, 1736, Vol. I, pg. XIX)
“[...] &
navegando, então, para o Ocidente, e descobriu terra em 26 de janeiro de 1500;
e como isto foi após uma furiosa tormenta, ele nomeou esta terra de Cabo de
Consolation, e ela é conhecida hoje em dia sob o nome de Cabo St. Augustin.” (Ulloa, 1748, Vol. I, pg. 319)
“Tendo soffrido calores
insupportaveis e tormentas, que á sua mercê os impellião, avistarão terra a 26
de janeiro de 1500, em lat. 8 1/2° S., a que Vicente poz o nome de Cabo de la
Consolação [...] mas que hoje se chama de Sancto
Agostinho.” (Southey, 1822, Vol. I)
“Os Escritores Castelhanos, instigados de emulação,
pretendem que o seu compatriota Vicente Yanez Pinzon apportára no Cabo de Santo
Agostinho, ao qual derá o nome de Cabo de la Consolación, trez mezes antes que
Pedralvez Cabral surgisse em Porto Seguro. E para provar que Cabo de la
Consolación he o de Santo Agostinho, dizem [Herrera,
1611] que Pinzon avistara terra de muito
longe, que a agua do mar era turva, e esbranquiçada, e até mesmo doce como de rio
; e que lançando o prumo, achara fundo em dezaseis braças.... Todos estes
sinaes depõem, e provão contra producentes que o Cabo de la Consolación he o
Cabo do Norte, que fica na latitude de dois gráus Septentrionaes. A terra do
Cabo de Santo Agostinho, e suas vizinhanças, he baixa, e só apparece aos
Navegantes, quando estão perto della: as aguas são alli cristalinas, e a
sondareça só mostra dezaseis braças perto de terra. Em nenhuma parte desta
Costa se acha agua doce senão dentro dos rios, onde não chega a maré. Os mesmos
Escritores confessão que tendo Pinzon navegado quarenta legoas ao longo da
Costa, se certificara que aquella agua doce, em que navegava, sahia do Rio
Maranhão , aliás Amazona, cuja boca fica mais de quatrocentas legoas distante
do Cabo de Santo Agostinho.” (Cazal, 1833)
“O autor da Corographia Brasilica, tomo I, página
34, diz que os escrivãos espanhóis pretendem que seu compatriota Vincent Yanez
Pinzon terá reconhecido o cabo Saint-Augustin, e ele terá dado o nome de cabo de
la Consolacion, três meses antes que Cabral descobriu Porto-Seguro. Os autores
espanhóis, para provar que o cabo de la Consolação é o cabo Saint-Augustin, dizem
que Pinzon viu a terra de muito longe, que a água do mar era muito borbulhosa,
brancacenta, e também mais doce que aquela de um rio; e que tendo lançado uma sonda,
achou-se o fundo a dezesseis braças. Mas todos estes signos, todas estas
particularidades se provam contra-producentes, e mostram que o cabo da
Consolação é o cabo do Norte, que está em 20 de latitude setentrional. A terra
do cabo Saint-Augustin e aquelas que se avizinham são planas, e só podem se percebidas
dos marinheiros quando eles se aproximam de lá; as águas aí são extremamente
claras e transparentes, e a sonda só marca dezesseis braças junto da terra; em nenhuma
parte desta costa encontra-se água doce, a não ser nos rios onde o mar não ascende.
Os mesmos escrivães confessam que Pinzon tendo corrido quarenta léguas ao longo
da costa, verificou que a água doce saía do rio Maranhão, quer dizer o Amazonas,
cuja foz está distante de mais de quatrocentas léguas do cabo Saint-Augustin.” (Visconde de Santarém, 1837, pg. 430)
“¿ Como foi levado Pinzon em 1513 a confundir
Consolación com S. Agostinho? ¿ Teria êle noção exacta da verdadeira situação
dêste último ponto, e teria por lá passado em 1500 ou depois? Eis três
problemas para cuja solução não possuímos elementos seguros, conquanto os haja
para qualificar de inexacta a identificação. A primeira menção do preclaro
doutor da Igreja [Santo Agostinho] ocorre na Lettera de
Vespúcio, impressa entre 1505 e 1506, na qual o florentino narra a sua viagem
ao Brasil em 1501, declarando que a fizera a convite e mandado del-rei D.
Manuel. O silêncio absoluto dos arquivos da Torre do Tombo e dos cronistas
portugueses contraria esta afirmativa. Quer a expedição fôsse mercante, quer
oficial, pensamos que êle foi a mandado do seu compatriota Bartholo Marchioni,
o qual já incluíra um navio seu na armada da Índia comandada por João da Nova,
partida em março ou abril de 1501. Sabe-se que de Portugal fôra neste mesmo ano
ao Brasil uma outra armada, que regressára a Lisboa em 22 de julho de 1502,
muito provávelmente a mesma de Vespúcio, embora êle alegue ter chegado a 7 de
setembro. O rei português consentia nas expedições ao Brasil naus armadas por
mercadores, que lhe apresentavam os capitães delas, às vezes estrangeiros. Um
indício de que Vespúcio não foi em viagem oficial transparece da omissão nos
primeiros mapas de origem portuguesa do nome S. Agostinho, imposto pelo capitão-mór
da frota, ao que êle diz: come doblassimo un cavo, alquale ponemo nome el cavo
di S. Augustino .... et sta questo cavo 8 gradi fuori della linea equinoctiale
verso l’austro. Se tal denominação se ajusta ao cabo hoje assim chamado, ela
estaria inscrita naqueles documentos cartográficos quando o capitão tivesse
missão oficial, mas são outras as que se leem nelas. No planisfério de Cantino,
acabado em outubro de 1502, quando já Vespúcio estava de volta, figura cabo de
Sam Jorge na posição de S. Agostinho ou de outro cabo mais ao norte e próximo
dêste. No de Canério, de época incerta que não pôde ir muito além de 1505, está
em lugar déle cabo de Sta croxe (Santa Cruz), e esta mesma denominação se
inscreve no de Kunstmann n.° 2. cuja data é geralmente fixada entre 1503 e
1505. Os mapas germânicos gravados de Ruysch (1508) e Waldseemüller (1507, 1513
e 1516), inspirados em protótipos portugueses, também a trazem; e na carta de
Pedro Mártir (1511), de origem espanhola, vemos Caput Crucis designando uma ponta
extréma da costa ocidental da América do Sul. A esta regra conhecemos uma única
excepção, a carta de Pilestrina ou Kunstmann n.º 3, na qual vemos cabo de Santo
Agustinho ao lado de nomenclatura portuguesa que se encontra em Canério: mas
temos razões para supô-la posterior ao traçado deste genovês. Não nos resta
dúvida de que a Vespúcio se deve a vulgarização do nome em Espanha, que só mais
tarde se generalizou em Portugal. Aqui se intercala uma pregunta: ¿o cabo de S.
Agostinho indicado pelo navegador florentino porventura será o que hoje é
conhecido sob esta designação? Os pilotos portugueses da expedição de 1501
deviam ser peritos na sua arte, mais que os espanhóis contemporâneos, que
empregavam as rudimentares observações da polar para a determinação das
latitudes em vez das alturas meridianas do sol, utilizadas pelos da nação
vizinha. Mas a latitude de 8º (aliás a única que na terceira navegação da
Lettera é atribuída a um lugar susceptível de identificação) aproxima-se tanto
de 8º21, verdadeira coordenada do cabo, que é lícito duvidar da coincidência
dele com o de Vespúcio. A carta Mundus Novus (1503 - 1504) diz-nos que,
percorrendo o litoral, os navegantes chegaram a um ângulo que êle fazia para o
sul, e a Lettera pelo seu lado conta que foram até um cabo no qual a terra dava
a volta do sudoeste; ora estas duas versões, se diferem no rumo da costa,
concordam em excluir o moderno S. Agostinho, no qual não há inflexão alguma do
rumo. A mudança de direcção efectua-se mais ao norte e torna-se sensível na ponta
do Calcanhar (5º 9 S), onde alguns localizam Santa Maria de Consolacion; e
assim só é satisfatória a resposta negativa à interrogação enunciada.” (Dias,
1921, pg. 148-149)
Neste dia, Pinzón mandou lançar a sonda e
descobriu que a profundidade era de 16 braças (27m); desembarcou neste lugar
com alguns homens e os quatro escrivães (um de cada navio), que tomaram posse
oficialmente da terra em nome do rei da Espanha. Gravaram em árvores e rochedos
os nomes dos reis e os seus. Os navios foram abastecidos de água e lenha.
Durante este dia nenhum nativo foi visto, mas na praia descobriram-se pegadas.
“[...] viram terra, da qual se aproximando, toda a
costa, acharam-na muito funda: lançaram a sonda e acharam XVI braças de água [27m], e, finalmente, chegaram-se, e a terra
desceram e lá permaneceram II dias, mas não apareceu nenhum grupo de dia [...]”
(Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“Antón Hernández Colmenero, [...] em 25 de Setembro de
1515, [...] o dito Vicente Yañez e os que com ele iam acharam
a terra firme, e o dito Vicente Yañez saltou na barca do navio onde iam, e não
consentiu que ninguém dos que com ele iam saltasse em terra, salvo o dito
Vicente Yañez e certos escrivães que iam com o dito navio pelo Rei nosso
Senhor, os quais saltaram com o dito Vicente Yañez em terra, e esta testemunha
viu como o dito Vicente Yañez tomou posse da dita terra firme em voz e em nome
do Rei nosso Senhor: o qual passou ante os ditos escrivães por mandado do dito
Vicente Yañez, e depois da tomada de posse, esta testemunha viu como o dito
Vicente Yañez fez marcos de terra, e lhe pôs um nome que a esta testemunha não
se lhe recorda; [...]” (Probanza,
1515, 7ª Questão)
“García Hernández, físico, disse que o que
sabe esta testemunha é que foi com o dito Vicente Yañez, quando se descobriu o
conteúdo na dita pergunta, por escrivão de S. A., e que viu que aquele dito
Vicente Yañez descobriu a costa de Paria até a ponta de Santa Cruz, e saltou em
terra com quantidade de sua gente e quatro escrivães, um de cada uma das naus,
o seu de S. A., e cortou árvores e bebeu águas, e sua gente, para dar fé à S.
A. e sinal de posse, fizeram cruzes, e puseram nome ali onde tocaram este dia
Rostro-hermoso, o dia que a dita terra se descobriu: ali estiveram certos dias,
e partiram-se dali tomando a volta do noroeste, correndo a costa para a dita
Paria, e que dali deste Rostro-hermoso se achou pelos pilotos haver setecentas
e cinquenta léguas [4.180km] até a baía de Paria, [...].” (Probanza, 1515, 7ª Questão)
“Diego Hernández Colmenero disse, [...], esta testemunha
foi por capitão de um navio dos que o dito Vicente Yañez levava, [...] o dito Vicente Yañez e esta
testemunha tomaram a posse da terra por SS. AA., e cortaram muitos ramos de
árvores: em alguns principais lugares faziam cruzes em sinal de posse e pondo
outras cruzes de madeiros; [...]” (Probanza,
1515, 7ª Questão)
“Foram
para lá, desceram a terra, estiveram ali dois dias, porque não viram homem
nenhum ainda que advertiram vestígios humanos na praia; e deixando assinalados
nas árvores e nas rochas próximas à margem os nomes dos Reis e os seus, com
notícia de sua chegada, partiram.” (D’Anghiera,
1530, Década I, Livro IX)
“Estes descobridores saíram à terra no fim de
janeiro; tomaram água, lenha e a altura do Sol; escreveram em árvores e rochas
no dia que chegaram, os seus próprios nomes e do rei e rainha, em sinal de
possessão, maravilhados e condoídos de não achar gente por ali para tomar
língua daquela terra e sua riqueza.” (Gómara, 1554, Cap.
LXXXV, pg.110b)
“Acharam o mar turvo e brancacento como de rio,
lançaram a sonda, que é una barra de chumbo com seu cordel ou cabo, e
acharam-se em 16 braças [27m]; foram à terra e
saltaram nela, e não apareceu gente alguma, apenas rastros de homens, que,
quando viram os navios, fugiram. Ali Vicente Yañez tomou possessão da terra em
nome dos reis de Castela, cortando ramos e árvores, e passeando-se por ela, e
fazendo semelhantes atos possessionais jurídicos; [...]”
(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...] o
cabo de sancto Agostinho [...] ,
& escreuerã em troncos de arvores & penedos ho nome do Rey & Raynha
com alguns delles, & ho anno & dia que ali chegaram [...]” (Galvão,
1563, fl. 28a)
“[...] acharam o Mar turvado, e
esbranquiçado, como de Rio: lançaram a sonda e acharam-se em dezesseis braças [27m]: saltaram em Terra, e não
apareceu Gente, ainda que viram rastros de Homens, que fugiram, em vendo os
Navios, e ali tomou Vicente Yañez possessão daquela Terra, para a Coroa de
Castela, e de Leão, fazendo quantos Autos jurídicos, que para isto fossem
necessários, [...]” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 107)
“N’aquelle
dia nenhum indígena foi visto, mas na praia se descobrirão pegadas [...] Desembarcando, gravarão os nomes dos navios,
e a data de anno e dia nas arvores e rochedos, e assim tomarão posse do paiz
para a coroa de Castella.” (Southey, 1822, Vol. I)
Durante a noite, perceberam grandes fogueiras
queimando à distância, na linha da costa que se estendia à Noroeste. Pinzón
mandou 25 homens armados para averiguar onde os índios estavam, mas com ordens
de não os incomodar. Na manhã seguinte (2º dia) saíram 30 ou 40 homens bem
armados para tentar negociar com eles, mas os índios mandaram 32 homens ao seu
encontro e se mostraram ameaçadores e eles reembarcaram. Segundos os espanhóis estes
índios teriam uma estatura acima do normal. Nesta mesma noite os índios
abandonaram o local.
“[...] e, percorrendo mais adiante, viram de noite
muitas luzes, que pareciam um acampamento de gente de armas; para estas luzes,
mandaram XXV homens bem armados, e mandou que não fizessem estrépito nenhum, os
quais andaram e perceberam ser uma grande multidão de gente e não quiseram de
modo algum perturbá-los, mas deliberaram esperar a manhã e depois descobrir
quem eram. Ao amanhecer, quando o sol se levantou, mandaram, então, em terra
XXX homens armados, os quais, no momento que foram daquela gente vistos, estes
mandaram ao encontro dos nossos, XXXII homens armados ao seu modo de arcos e
flechas; homens grandes e com a face turva e cruel aspecto, e não cessaram de
ameaçar os espanhóis, os quais, quanto mais agrados lhes faziam, tanto mais se
mostravam desdenhosos e jamais quiseram nem paz nem acordo, nem amizade com
eles. Retornaram, então, para os navios, com ânimo para na manhã seguinte
combatê-los. Mas, aqueles que tinham aparecido primeiro, de noite se levantaram
nus e andaram para longe. Aqueles dos navios estimavam que aqueles fossem
gentes que vagavam como os ciganos ou como os tártaros que não tem própria
casa, mas vão hoje aqui e amanhã ali, com suas mulheres e filhos. Contrariados,
os espanhóis andaram um pouco seguindo seus rastros. E constataram na areia que
as suas pegadas eram muito maiores que as nossas; quase duas vezes maior.”
(Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“Não
distante daquela estação, seguindo fogos que viram de noite a modo de
acampamento, encontraram gente que pernoitava a céu aberto. Decidiram não os
perturbar até que amanhecera. Porém, quando saiu o sol, foram até eles quarenta
dos nossos com armas. Saíram-lhes ao encontro trinta e dois armados com seus
arcos e dardos arrojadiços, dispostos a pelejar, e seguiam os demais com a
mesma disposição. Dizem que aqueles indígenas são mais altos que os Germanos e
os da Panonia. Esperavam aos nossos com mirada turva e em atitude ameaçadora. Os
nossos julgaram que não era caso de pelejar, [...] Porém, entrada a noite, fugiram eles [os índios] abandonando os lugares que haviam ocupado.” (D’Anghiera,
1530, Década I, Livro IX)
“Na segunda noite que ali
dormiram viram, não muito longe, muitos fogos, e, de manhã, quiseram comerciar
algo com os que no fogo estavam comendo; porém, eles não aceitaram fazê-lo,
antes tinham talante de pelejar com muitos bons arcos e lanças que traziam. Os
nossos fugiram deles por serem homens maiores que grandes alemães, e de pés
muito compridos, pois, segundo despois contavam os Pinzons, os tinham por uma
vez e meia [em altura] dos seus.” (Gómara, 1554, Cap.
LXXXV, pg.110b)
“[…] mas encontrando homens em uma ilha, de forma
alguma se lhes pode fazer amigos.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1187)
“[...] aquela noite, fizeram cerca dali muitos
fogos, como que se velavam. Tendo saído o sol, outro dia, dos cristãos, 40
homens, bem armados, saem em terra, e vão aos índios; dos índios saem para eles
trinta e tantos, com seus arcos e flechas, com grande ardor, para pelejar, e,
após estes, outros muitos. Os cristãos começaram a agradá-los, por sinais, e
mostrando-lhes chocalhos, espelhos e contas, e outras coisas de troca, porém
eles não se importavam com isto, antes se mostravam muito ferozes e a cada
momento se esforçavam para pelejar; eram, segundo disseram, mui altos de corpo,
mais que nenhum dos que ali iam dos cristãos. Finalmente, sem combater,
apartaram-se uns dos outros, os índios retornaram para terra adentro, e os
cristãos a seus navios; vinda a noite, os índios fugiram, de forma que por todo
aquele pedaço de terra, não apareceu pessoa alguma; afirmava Vicente Yañez, que
a pisada dos pés daqueles era tão grande como dois pés medianos dos dos nossos.”
(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...], e aquela Noite
descobriram por ali por perto muitos Fogos; no outro Dia, tendo saído o Sol,
desembarcaram quarenta Castelhanos bem armados, foram aonde haviam visto os
Fogos, porque reconheceram que havia Gente: saíram contra eles até trinta e
seis Índios, com Arcos, e Flechas, com demonstração de pelejar, e outros muitos
atrás deles. Muito procuraram os Castelhanos de agradar, e com sinais
amansá-los, mostrando Chocalhos, Espelhos, Contas, e outras coisas; porém, não
se preocupando de nada, mostravam-se mais ferozes: eram, segundo afirmaram,
maiores de corpo, que os Castelhanos, e sem lançarem mãos às Armas,
apartaram-se uns dos outros. Vinda a Noite, não apareceu por toda aquela Terra
Índio algum, pelo que, levantando as Velas, passaram mais adiante, [...]” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 107)
“Tendo-se avistado durante a noute muitos
fogos, sahirão de manhã na mesma direcção quarenta homens bem armados, para
tractar com o gentio. Ao seu encontro se adeantárão outros tantos indígenas,
pouco mais ou menos, armados de arcos e lanças; fazer-lhes gestos amigáveis,
mostrar-lhes guizos, contas e espelhos, tudo foi em vão, os selvagens parecião
resolvidos a repéllir estes extrangeiros, e os Hespanhoes deixárão-se intimidar
ao seu aspecto. Antolhárão-se-lhes elles mais altos do que os mais agigantados
germanos, e sem se darem tempo de examinar mais de perto a estatura da gente do
paiz, tractárão de ganhar outra vez os botes. No dia seguinte não havia ver indígenas: desembarcarão os Hespanhoes e
convencerão-se de que ao seu medo havia sobrado fundamento, achando ou
imaginando achar uma pegada de gigante, duas vezes mais comprida do que a teria
deixado impressa o pé d'um homem regular. Suppozerão este povo uma tribu
nômada, como os Scythas.” (Southey, 1822, Vol. I)
e.4) Rio Formoso
Na manhã seguinte, após 2 dias nestas paragens,
zarparam e navegaram até chegarem a um belo rio. Como ele era raso, as
caravelas não puderam nele entrar. Então, os espanhóis fundearam na sua foz e
foram em 2 (D’Anghiera) ou 4 (Montalboddo) barcas até uma praia às margens do
rio. Lá um espanhol bem armado tentou comerciar com os indígenas, jogando um
chocalho para eles. Os índios lhe jogaram um bastão ou tubo do que parecia ser
ouro, mas quando o espanhol tentou pegá-lo, os índios o atacaram e, enquanto
este se defendia, os outros espanhóis que estavam nas barcas foram em socorro.
Registrou-se um violento combate com os índios
locais e 8 (Montalboddo, D’Anghiera, Gómara, Oviedo) ou 8, 10 ou 11 (Las Casas,
Herrera) espanhóis morreram e muitos foram feridos. Uma das barcas foi
capturada pelos nativos.
“Navegando mais adiante acharam um rio, mas não tão
fundo para que as caravelas pudessem entrar, pelo que, mandaram à terra IIII
barcas dos navios com gente armada; à esta gente armada, em terra, se lhe foi
ao encontro inumerável quantidade de gente desconhecida, as quais, com sinais e
atos, demonstravam muito desejar o comércio com os nossos. Mas, os espanhóis,
vendo tanta multidão, não confiaram em se aproximar. Mas, no meio, jogaram um
chocalho, e, aqueles, ao nosso encontro, lançaram um pedaço de ouro. Então, um
dos espanhóis, fez-se em terra para pegar aquele ouro. Subitamente, uma turba
daqueles canalhas, dele se aproximou para levá-lo preso, mas este, defendendo-se
com a espada, não pôde aquela grande multidão aproximar-se, pois não desejava
morrer. Imediatamente saltaram em terra todos os homens das IIII barcas, e
foram mortos VIII espanhóis e os outros tiveram grande esforço para escapar e
retornar às barcas; nisto lhes valeu estarem armados de lanças e espadas, que
esta gente, apesar de muitos serem mortos, não se preocupavam, mas, sempre mais
ousados, perseguiam-nos, até mesmo na água, de forma que, no final, tomaram uma
das IIII barcas, e mataram seu patrão. O resto teve a graça de escapar com as
outras III. E foram aos navios e fizeram vela e partiram dali, e por isso,
então, achavam-se descontentes, e tomaram o seu caminho para o norte, que aqui
segue a costa.” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXII)
“Prosseguindo,
mais adiante acharam outro rio, porém, não tão profundo que se pudesse recorrer
com as caravelas. Enviaram, pois, à terra dois botes de serviço com homens
armados que investigaram. Viram uma caterva de indígenas sobre alta colina
próxima. Os nossos, por um peão que se adiantou, convidaram-nos a comerciar.
Eles pareciam que queriam tomar a algum dos nossos e levá-lo. Pois desde longe
lhe lançaram um bastão dourado de um côvado [42cm], porque antes ele lhes havia
lançado um chocalho para os atrair. Quando o espanhol se inclinou para pegar o
bastão que lhe haviam lançado, em um abrir de olhos, rodearam-no os indígenas
para tomá-lo; e este, com seu escudo redondo e espada de que ia armado,
defendeu-se deles até que os companheiros lhe auxiliaram com os botes. [...],
com suas flechas e lanças arrojadiças mataram a oito dos nossos e feriram a
maior parte. Dentro do rio rodearam os botes, chegaram temerariamente às mãos,
e desde a margem agarravam as bordas dos botes: com as lanças e as espadas eram
mortos como ovelhas, porque iam desnudos; mas não por isso cediam. Se
apoderaram de um bote nosso, ainda que sem gente, tendo trespassado o que o
mandava com uma seta e morto, mas escaparam os outros botes. Assim deixaram
àqueles homens belicosos.” (D’Anghiera,
1530, Década I, Livro IX)
“Partiram de lá e foram a fundear em um rio pouco
profundo, porque muitos índios estavam em una colina perto da marina. Saíram à
terra com as barcas; adiantou-se um espanhol e arrojou-lhes um chocalho para
atraí-los. Eles, que armados estavam, lançaram um pau dourado, e arremeteram ao
que se abaixou para este para pegá-lo. Acudiram os demais espanhóis, e
travou-se uma peleja, em que morreram oito deles. Os índios seguiram a vitória
até metê-los nas naus, e ainda pelejaram no rio: tão ousados e bravos eram.
Quebraram um esquife; valeu Deus que não tinham veneno; se não, poucos
escapariam, pois muitos ficaram feridos. Vicente Yáñez conheceu quão diferente
coisa é pelejar que timonear.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV, pg.110b-111a)
“Por isto, tendo deixado aqueles, foi a uma outra
terra, na qual povos inumeráveis, desarmados e nus vieram-lhes ao encontro,
fingindo querer a amizade dos Espanhóis. E tendo um dos dos navios lançado um chocalho,
aqueles foram ao encontro e lançaram para os Espanhóis um pedaço de ouro, e
correndo um mais ousado para pegá-lo, aqueles como tinham entre si combinado pegaram-no
com muita presteza. Neste momento os nossos saíram dos navios e puseram-se a
ajudar o companheiro, e subitamente ocorreu uma feroz batalha, na qual os nossos
estiveram em tanto perigo que com dificuldade puderam se retirar, tanto os pressionava
os bárbaros.” (Munster, 1558, libro V, pg. 1187)
“[...] ele me disse que com quatro caravelas pequenas havia entrado neste rio [Oviedo aqui confunde este rio com o
Marañón, fundindo o relato dos dois rios e nomeando Marañón aqui o rio] quinze [84km] ou vinte léguas [110km], no ano de mil e
quinhentos, e que tendo visto muitos índios atrás das costas e na desembocadura
deste rio, e que saíram quarenta cristãos em terra, contra os quais vieram
trinta e dois índios com seus arcos e flechas e atrás daqueles outros muitos; e
estando próximos uns dos outros, lançaram-lhes os índios em terra uma peça de
ouro lavrada, e os cristãos lançaram-lhes chocalhos como por via de comércio e
troca, e os índios tomaram os chocalhos; e quando os nossos quiseram tomar o
ouro, quiseram prendê-lo, e travou-se a batalha e mataram oito espanhóis e
feriram outros doze ou treze, e com trabalho se escaparam os que sobraram.” (Oviedo,
1557, Vol. II, Livro XXIV, Cap. II, pg. 213)
“[...] Alçaram as velas e foram mais adiante, e
acharam um rio baixo, aonde não puderam entrar os navios; fundearam na boca ou
cerca dela, saíram nas barcas, com as quais entraram no rio, com a gente que pôde
nelas caber, para tomar língua e saber os segredos da terra; viram logo numa
encosta muita gente nua, como é por ali toda ela, para a qual enviaram um homem
bem equipado com as armas que pôde levar, para que, com os meneios e sinais de
amizade que pudesse, agradasse-os e persuadisse a que se chegassem para
conversação. Este que enviaram, chegou-se mais para eles, e lançou-lhes um
chocalho para que com ele se servissem e se aproximassem; eles lançaram-lhe uma
vara de dois palmos [40cm] dourada,
e, como ele se abaixasse para tomá-la, arremeteram todos eles para o prender,
cercando-o todos ao redor, porém, com sua espada e escudo redondo, de tal
maneira empenhou-se em defender-se, que não lhes deixou chegar, até que os das
barcas, que estavam à vista e próximo, vieram a socorrer-lhe; porém, os índios
viram-se contra os cristãos com tanto ardor, e disparam suas flechas tão
espessas, que, antes que se pudessem uns aos outros se defender, mataram deles
8 ou 10, e alguns disseram que 11, e outros muitos se feriram. Vão logo às
barcas, e, dentro da água, as cercam; chegam com grande esforço até tomar os
remos delas. Tomaram-lhes uma barca e flecharam ao que a guardava dentro, e
este morreu; porém os cristãos com suas lanças e espadas, evisceraram e mataram
muitos deles, posto que não tinham outras armas defensivas, se não a pele.”
(Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...] pelejaram cõ hos brasis, & nam guardaram
nada [...]” (Galvão, 1563, fl. 28a)
“[...] e ancoraram cerca da Boca
de um Rio, que por ser baixo, não puderam entrar nele os Navios: foi Gente pelo
Rio nas Barcas, a tomar Língua, viram sobre uma Costa muita Gente nua, para a
qual enviaram um Homem, bem armado, e este procurou, com gestos, e agrados,
persuadi-los que se acercassem: lançou-lhes um Chocalho, eles lançaram-lhe uma
vara de dois palmos [40cm], dourada, e
porque se abaixou para tomá-la, correram a prender-lhe, cercando-o ao redor;
porém, com a Espada, e o Escudo redondo, de tal maneira lhes deu combate, com
tanta fúria, e destreza, estando tão em si, que por grande tempo os deteve, sem
que ninguém pudesse dele se acercar, deixando mal feridos a alguns, que o
intentaram, até que se admiraram todos, de ver, que este Soldado, de quem não
se tinha tanta esperança, houvesse feito tão grande prova, e era Homem de
mediano corpo, e não muito robusto, até que os das Barcas se foram a socorrer
e, porém, os Índios dispararam tantas flechas, e tão certeiras, sobre os
Castelhanos, que antes que se pudessem retornar, mataram oito, ou dez, e
feriram a muitos: chegaram às Barcas, e dentro da Água as cercavam, até
chegarem atrevidamente a segurar os Remos: tomaram uma Barca, flecharam ao que
as guardava, ainda que os Castelhanos com suas Espadas, e Lanças, a infinitos
evisceraram, e mataram, e com isto se retiraram, e os Cristãos, com muita
tristeza de haver perdido tantos Companheiros, se foram [...]” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 107)
“D’aqui forão
costeando no rumo do norte, até que chegarão a foz d’um rio mui grande; não havendo água bastante para os navios
entrarem, mandarão a terra quatro escaleres. N'um outeiro perto da praia estava
reunida uma partida de naturaes, e um dos hespanhoes, que estava bem armado,
avançou para elles. Vierão-lhe estes ao encontro suspeitando e ao mesmo tempo meditando
maldade. O hespanhol fez quantos signaes de amizade pôde imaginar, e
atirou-lhes uma campainha, em paga da qual arremessarão elles o que quer que
fosse, que similhava um pedaço de ouro; abaixou-se elle a apanhal-o, visto o
que, correrão os selvagens, para aprizionar o branco. Não era isto porem tão
fácil como a elles se figurara; apezar de nem ser alto, nem robusto,
defendeu-se elle valorosamente com espada e escudo, até que os companheiros,
voando a soccorrel-o, lograrão salval-o, posto que com grande perda. Com suas
lethaes frechas matarão os índios oito, ferirão muitos mais, e perseguirão-nos
até aos botes. Não contentes com isto, attacárão as embarcações. Foi então,
que, achando-se nus, provarão o corte das espadas europeas. Mas nada os intimidava;
atiravão-se como feras, desprezando as feridas, arrostando a morte;
arremessárão-se a nado atras dos bateis, depois d'estes haverem largado, e
galhardamente tomarão um, matando-lhe o commandante, e lançando fora a
tripolação. Dos Hespanhoes mal ficaria um que não recebesse alguma ferida, e se
as settas tivessem sido hervadas [envenenadas], nenhum talvez houvesse conservado a existência.” (Southey, 1822,
Vol. I)
e.5) Rio de Santa Maria do Mar Dulce ou
Maranhón e Região de Paricura
Eles
navegaram 225 km a oeste, beirando a costa, e
descobriram, em fevereiro de 1500, a foz de um grande rio, a que deram o nome
de Rio de Santa Maria de Mar Dulce ou Maranhón. Segundo diziam
os espanhóis, a água doce penetrava 170 a 225km em direção ao mar. Neste rio
observaram o fenômeno da pororoca. Nesta região tiveram trato com índios
pacíficos. A região a oeste do rio chamava-se Paricura.
“Tendo andado XL léguas [225km], encontraram o mar de água
doce, e investigando de onde esta água vinha, encontraram uma boca, que por XV
milhas [30km] desemboca no mar com
grande ímpeto. Diante daquela boca havia muitas ilhas, habitadas por humanas e
aprazíveis pessoas, e ali não encontraram nada digno de nota.”
(Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXIII)
“Vicente Yañez Pinzón, capitão de SS. AA., [...] em 21 de março de 1513, [...] é verdade que [...] descobriu
ou achou o mar dulce, e que sai 40 léguas [225km] no mar a água doce, [...].” (Probanza, 1513, 7ª Questão)
“Manuel de Valdovinos, [...] a
19 de setembro de 1515: disse que foi com o dito Vicente Yañez Pinzón [...], indo costeando, e deram
em um rio grande alagado, ao qual puseram por nome Paricura, onde acharam no
mar, a água doce que saía do rio, por mais de trinta léguas [170km] [...]”
(Probanza, 1513, 7ª Questão)
“Antón Hernández Colmenero, [...] em
25 de Setembro de 1515, [...] e que dali [do Cabo de la Consolación],
depois de tomada a posse, foram descobrindo pela costa da dita terra adiante,
pela direção do nordeste, e entraram em um rio em que acharam água doce, que
entrava no mar 30 léguas [170km] a água doce, [...] e estando fundeados os
navios, alçavam do golpe do mar e o ruído que trazia lhes alçou quatro braças [7m] o navio; e que naquela terra
acharam muita gente pintada, que se vinha seguramente, aonde estava o dito
Vicente Yañez e sua companhia [...]” (Probanza, 1513, 7ª
Questão)
“Juan de Ungria ou Umbria, [...], em 1º de dezembro de 1515, [...] piloto do dito Vicente Yañez, [...] e
que ali acharam água doce que entrava no mar mais de 20 léguas [110km]” (Probanza,
1513, 7ª Questão)
“García Hernández, físico, [...] foi
com o dito Vicente Yañez, quando se descobriu o conteúdo na dita pergunta, por
escrivão de S. A., [...] a baía de Paria, e que dali
correram a dita volta e tocaram em um canal entre dois bancos de areia, um da
parte do mar e o outro da parte de terra, cercados pela parte dianteira assim
mesmo do dito banco, que haveriam de se perder senão fora por Deus e por um
marinheiro que subiu e viu a arrebentação nos ditos bancos por diante, e então,
vieram os navios, achando-se perdidos, a desandar o andado para salvar a ponta
para se salvar pelo mar, a este canal puseram nome de boca de lós Leones; e
dali correram sua derrota, todavia, no noroeste direto a Paria, e ali toparam
com um rio grande, o qual, diziam os pilotos, que havia dali à terra quarenta
léguas [225km], e ali
andando toparam com este rio; havia seis léguas de água [33km], e ali estando esta água
doce tão boa que melhor não podia ser, [...] e que ali vendo esta água
tão boa, esvaziaram as vasilhas da água que de antes traziam, e encheram e
tomaram as que tiveram necessidade, dali para seguir sua viagem: e outro dia
juntaram-se nos navios, e acordaram dar a volta sobre a terra para ver se
poderiam saber o segredo deste rio, e que chegaram até a vista de terra, que
podia haver oito léguas [45km] até a terra, e que nesta
paragem onde chegaram, não havia senão três braças [5m] de água e a terra era alagada, e
dali não ousaram passar mais para a terra pela baixeza da terra, e dali se
retornaram seguindo sua viagem para Paria, [...]
ao dito Vicente Yañez em todo
este tempo e viagem, e que foi o que descobriu desde que deram em
Rostro-hermoso, que foi a primeira terra até a Paria, setecentas e cinquenta léguas
de costa, [...]” (Probanza, 1515, 7ª Questão)
“García
Hernández [...]
e que naquele rio [Marañón] vieram ao dito Vicenti-anhes e sua
companhia muitos índios, e combateram e pelejaram com ele e com a dita sua
companhia, e que depois que descobriram aquela ilha, o dito Vicenti-anhes e a
dita sua companhia, e esta testemunha com eles, vieram a dar a um rio negro na
mesma costa que vinham costeando, e vindo costeando vieram a dar com suas
barcas à terra a tomar língua ou a resgatar algumas coisas que levavam, e que
mataram, os ditos índios, a sete ou oito homens [aqui ele parece ter confundido o Rio Marañón com o Rio Formoso, onde de fato houve
o combate] dos da dita
companhia, porém que o dito Vicenti-anhes que permaneceu no navio.” (Probanza, 1513, 7ª Questão)
“Pedro Ramirez [...] em 19 de setembro de
1515, [...] e que nesta viagem acharam um rio grande, que era tão grande
que entrava quarenta léguas no mar de água doce, a qual provaram e acharam de água
doce.” (Probanza, 1515, 7ª Questão)
“Dirigiram-se para o Ocidente setentrional
pela mesma costa, tristes pelos que foram mortos, e recorreram quase quarenta
léguas [225km],
quando deram com um mar de águas tão doces que puderam renovar ali a das pipas.
Examinando a causa disto, encontraram que de vastas montanhas fluíam com grande
ímpeto rápidas correntes de rios. Dizem que dentro daquele mar há várias ilhas
dotadas de muito fértil solo e cheias de aldeias. Contam que os indígenas desta
região são pacíficos e sociáveis; mas pouco úteis para os nossos, porque não
conseguiram nenhuma vantagem apetecível, como ouro e pedras preciosas. [...] Desde aquela ponta de terra onde se perde o
polo ártico [Estrela Polar],
vindo quase trezentas léguas [1.670km] em contínuo trecho ao Ocidente,
para Paria, como a metade do espaço, dizem que deram com um rio chamado
Marañón, tão largo que suspeito que isto é fábula. Perguntados depois por mim
se seria um mar dividindo terras, responderam que são doces de beber aquelas
correntes, e que quanto mais se avança rio acima, tanto mais doces são, e que
está cheio de ilhas e de pescado. Se atrevem a dizer que tem mais de trinta
léguas [170km] de largo, e que com curso arrebatado corre ao mar, que
cede a seu furor.” (D’Anghiera, 1530, Década I, Livro IX)
“Eu
já relatei suas aventuras nas precedentes Décadas, ao falar dos Pinzons,
nativos dos dois portos Atlânticos de Palos e Moguer em Andalusia, os quais,
enquanto exploravam a vasta costa do continente e as margens do maravilhoso Rio
Maragnon, caíram sob as flechas de selvagens canibais, foram massacrados,
cortados em pedaços, e servidos em diferentes pratos.” (D’Anghiera, 1530, Década I, Livro IX)
“O
rio de Orellana, se é como dizem, é o maior rio das ìndias, e de todo o mundo,
ainda que metamos entre eles o Nilo, uns o chamam mar Dulce, e lhe põem de boca
cinquenta e mais léguas. Outros afirmam ser o mesmo que Marañon, dizendo que nasce
em Quito, cerca de Mullubamba, e que entra no mar pouco mais de trezentas léguas
de Cubagua. Porém ainda não está de todo averiguado, e por isto os
diferenciamos [...] Os Pinçones o descobriram no ano de mil e quinhentos.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXVI, pg.111a-111b)
“Alguns, segundo pouco antes apontei, dizem que
tudo é um rio o Marañon, e o de Orellana, e que nasce lá no Perú. Muitos
Espanhóis entraram, ainda que não povoado, este rio depois que o descobriu
Vincente Yañez Pinçon, ano de mil quinhentos menos um, [...]” (Gómara,
1554, Cap. LXXXVII, pg.112b)
“Porém nem isto nem outra coisa das que eu vi, nem
ouvi, nem li até agora não se iguala com o rio Marañon, que está na parte do
levante na mesma costa, o qual tem na boca, quando entra no mar, quarenta léguas,
e mais de outras tantas dentro dela se colhe água doce do dito rio. Isto eu ouvi muitas vezes dizer pelo piloto
Vicente Yanes Pinçon que foi o primeiro dos cristãos que viu este rio Marañon e
entrou nele com uma caravela mais de vinte léguas, e achou nele muitas ilhas e
gentes, e por levar pouca gente não ousou saltar em terra, e tornou a sair do
dito rio, e bem quarenta léguas dentro no mar colheu água doce do dito rio: outros
navios, viram-no; porém o que mais soube dele é o que digo” (Relación Summaria, Oviedo)
Entram as aguas daquele rio com muito ímpeto no mar, e dentro
dela, dez ou doze léguas [57-67km], colhe-se deste rio água doce: e aquela foz faz lá
dentro dois braços principais, e ao mais oriental chamam rio de Navidad; e o
mais ocidental é o que guarda o próprio nome de Marañon, e é o mais principal,
o qual diretamente vem da parte austral, a terra adentro. [...] desde o
Cabo de Sanct Augustin, que está em oito graus e meio da outra parte da
equinocial, até chegar à foz e atravessar-lhe, ao rio Marañon, tem trezentos e
cinquenta e oito léguas [1.995km], pouco mais ou menos de costa
continuada [...] Esta desembocadura, que tão assinalada coisa
fez Deus no mundo, se chamou um tempo Mar dulçe, porque, com o mar jusante ou
baixo, faz-se água doce no mar, apartados da terra as léguas que disse, e
muitas mais, se crermos em Vicente Yañez Pinçon, que foi o que descobriu este
rio e um daqueles três capitães e pilotos e irmãos que se achavam com o
Almirante primeiro destas partes, dom Chripstóbal Colom, na primeira viagem de
descobrimento destas Índias; e este foi o primeiro espanhol que deu notícia
deste grande rio: [...]” (Oviedo, 1557, Vol. II, Livro XXI, Cap.
III, pg. 123)
“[...] com muita tristeza de ter perdido os companheiros,
alçaram as velas, e, pela costa abaixo, 40 léguas [225km] ao
Poente desceram; ali acharam tanta abundância, dentro do mar, de água doce, que
todas as vasilhas que tinham vazias encheram. Chegava esta água doce, como
Vicente Yañez depõe em seu dizer, no muitas vezes alegado processo, dentro do
mar, 40 léguas [225km], e outros dos que foram com ele, dizem
30 [170km] (e ainda muitas mais, é quase comum opinião dos que
eu via tratar deste rio naqueles tempos); admirados de ver tão grande quantidade
de água doce, e, querendo saber o segredo dela, chegaram-se à terra, e acharam
muitas ilhas que estão nela, todas graciosíssimas, frescas e prazerosas, e
cheias de gentes pintadas, segundo dizem os que ali foram, as quais [gentes] se
vinham a eles tão seguras como se toda sua vida houvessem conversado
amavelmente com eles. Este rio é aquele muito nomeado Marañon; não sei por
quem, nem por que causa, se lhe puseram aquele nome; tem de boca e largura, à
entrada, segundo dizem, 30 léguas [170km], e alguns dizem muitas
mais. Estando nele fundeado os navios, com o grande ímpeto e força da água doce
e do mar, que lhe resistia, fazia um terrível ruído, e levantava os navios
quatro estados no alto, onde não padeceram pequeno perigo; parece aqui o que aconteceu
ao Almirante [Colombo] quando entrou pela Boca de la Sierpe e
saiu pela Boca del Dragón, e o mesmo combate e peleja juntamente, e perigo, lá
onde a água doce se junta com a do mar, quando a doce corre com ímpeto e é
muita, e a praia é descoberta, principalmente se o mar é agitado.” (Las
Casa, 1561s, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...] tomaram ho cabo primeiro, Angra de Sam Lucas a
terra dos Fumos, o rio Maranhõ & ho das Mazonas, & rio Doce [...]”
(Galvão, 1563, pg. 28)
“O Rio Oreglan [Orellana] [...] alguns o
chamam de Maragnon [Marañón] [...] Os Pinçons o descobriram no
ano de mil e quinhentos, e quarenta e três anos depois Oreglan [Orellana] navega-o,
nomeando-o das Amazonas [...]. Vicent Yatues Piçon o descobriu em
mil quatrocentos e noventa e nove, pois ele disse que esteve um ano no
Oreglan.” (La Popelinière, 1582, Livro II, pg. 55-56)
“[...] se foram pela Costa abaixo, quarenta Léguas [225km] ao
Poente, e pela muita abundância de Água doce, que acharam no Mar, encheram suas
Vasilhas, e, segundo o que Vicente Yañez o afirmou, chegava a Água doce
quarenta Léguas [225km] dentro do Mar, e querendo saber este
segredo, se acercaram a Terra, e acharam muitas Ilhas muito graciosas, e
frescas, com muitas Gentes pintadas, que acudiam aos Navios, com tanto amor, como
se toda sua vida com eles houvessem conversado: saía a Água daquele muito
nomeado Rio Marañon, que tem 30 Léguas [170km] de Boca, e
alguns dizem mais, e estando nele saídos os Navios, com o grande ímpeto, e
força da Água doce, e a do Mar, que lhe resistia, fazia um terrível ruído, e
levantava os Navios quatro estados em alto, padecendo grande perigo, quase como
o que sucedeu ao Almirante, quando entrou pela Boca de la Sierpe, e saiu pela
del Drago.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 107-108)
“Yañez Pinçon foi, em seguida, quarenta léguas [225km] a Oeste, e acreditou que
percebia a embocadura de um grande Rio, que ele nomeia Maragnaon. Depois se
reconheceu que este era apenas uma Baía, no fundo da qual há uma Ilha, nomeada,
depois, Maragnaon, e que deu seu nome à toda uma Província do Brasil. Três Rios
muito belos desembocam na Baía, mas nenhum porta o nome de Maragnaon. O Padre
Christophe d'Acunha, Jesuíta Espanhol, na sua descrição do Rio das Amazonas,
pretende que o Rio de Maragnon, é assim que ele o chama, é um forte e grande
rio, e que se vai terminar no Mar. Se há um tal Rio no local, onde ele coloca
este aqui, ele só poderia ser um braço do Amazonas, posto que ele é forte; mas
não se o conhece, e este Autor se enganou por falsas Memórias. Os Capuchinhos
Franceses tiveram uma Missão na Ilha de Maragnaon, que eles escreviam Maragnan,
seguindo a pronunciação Portuguesa, em vez da dos Espanhóis que escreviam e
pronunciavam Maragnon.” (De Charlevoix, 1736, Vol. I, pg. XIX)
“Após ter descido a esta terra, e tê-la reconhecida, ele
reembarcou, e a costeou em direção ao Norte; afastando-se e perdendo-a, as
vezes de vista, ele encontra-se subitamente no meio de um mar cuja a água era
doce. Curioso por saber de onde esta poderia vir, ele dirigiu-se para aquele
lado, e chega na foz do Marannon, cujas ilhas lhe pareceram extremamente
agradáveis. Ele permaneceu lá e teve um tratamento amigável com os Indígenas da
vizinhança, que se mostravam pacíficos e, de forma alguma, inimigos dos
estrangeiros. Ele continua a avançar no rio para reconhecê-lo, à medida que
novas terras lhe mostravam o caminho que ele devia tomar para descobrir
outras.” (Ulloa,
1748, Vol. I, pg. 319)
“Continuando a navegar ao correr da costa
depois d’este mao encontro, chegarão ao que chamarão um mar de água doce, e
alli encherão as pipas. Explicarão elles o phenomeno, suppondo que a impetuosa
corrente de muitas águas, descendo dos montes, adoçava o Oceano; achavão-se
então, como depois descobrirão, na foz do grande rio depois dicto Maranhão,
Amazonas e Orelhana. Aqui encontrarão muitas ilhas, afortunadas e férteis. Uma vez virão-se os seus navios
no mesmo perigo que correra Colombo nas Bocas do Dragão. A vinte legoas [125km]
da confluência do rio Meary, o conflicto
da sua velocíssima torrente com as águas, que sobem do mar, ocasiona um
estrondo, que se pode ouvir de mui grande distancia. É isto que os naturaes
chamão pororoca. Quando ella
afrouxa, precipita-se a maré para dentro, restituindo em menos de quinze
minutos toda a massa de água que a vasante havia levado em cerca de nove horas;
pelo espaço de outras três continua o fluxo com quasi inconcebível rapidez.
Apezar de impetuosa como é a corrente, há logares do rio que ella não alcança:
chamão-nos os Potuguezas esperas. Alli
se acolhem as canoas que navegão o Meary, esperando que passe o macareo, e raras vezes correm risco. No
Araguari se observa o mesmo phenomeno com mais intensidade ainda. Devia ser
perto da embocadura de algum d'estes rios que Pinzon se viu quasi perdido.”
(Southey, 1822, Vol. I)
“[...]
cartografia oficial de Sevilha, [...] Este
mapa, conservado na Biblioteca real de Turim [...] deve ter sido composto em 1523 [...] No ponto onde o cotovelo do Brasil se destaca, sobe uma forma
demasiadamente afiada, da massa do continente, observa-se, a 3° e meio de
latitude austral e a 330° graus do meridiano à Leste das Canárias, um grande
entalhe litoral cuja borda ocidental porta o nome de Costa de Paricura. Este
nome equivale a um sinal: é aquele pelo qual, no seu depoimento pessoal diante
do Fiscal, Vincent Pinzon designa a província imediatamente contígua ao mar de
água doce. Então, o primeiro nome de rio que sucede à Oeste àquele de Paricura,
é o Rio de Vicentianès (sic).” (De la Blanche, 1902)
“Há no nordeste da América Meridional dois
poderosos rios, o Orinoco e o Amazonas, nos quais o volume e ímpeto das águas
determinam a dulcificação do mar onde irrompem. O primeiro tem sua foz por
8º30’ boreais, e a tam alta latitude vê-se perfeitamente a polar, a qualquer
hora da noite; não deve pois ser êste o rio a que se refere Pinzon. Quanto ao
Amazonas, notaremos que a Ponta Grossa, extremo norte da sua embocadura, está
por 1º10’ boreais; e a esta latitude, quando ainda os castelhanos estavam à
vista do rio, a estrêla era francamente observável mais de 2 horas, ao
anoitecer ou de madrugada. Mas se êles ainda caminharam umas 50 léguas na
direcção do norte, com certeza ultrapassaram a latitude de 2º10’, visto um grau
de diferença equivaler apenas a 18.5 léguas; ora então a tramontana estava
visível durante 5 horas. Assim, tampouco pôde ser o Amazonas o rio em questão,
e visto que o problema só oferece duas soluções, ambas incompatíveis com a
descrição da viagem, concluímos que ela neste ponto é mentirosa. O empenho de
Pinzon em se gabar da façanha de atravessar a equinocial arrastou-o a uma
fraude, mas ocorre inquirir ¿ como se aventurou êle a produzir a cifra de 300
léguas? A esta pregunta interessante oferecemos uma resposta meramente
conjectural. A latitude de Santiago de Cabo Verde é de 15º N., muito cedo
arbitrada ao meio da ilha pelos portugueses; mas se estes a conheciam com
exactidão, outro tanto não acontecia aos espanhóis. Queremos admitir que Pinzon
a tomasse em 14º, de acôrdo com Vespúcio ao principio da terceira viagem feita
em 1501. Por outra parte, o navegador pensava que o grau linha 15 léguas; pelo
menos esta era a medição corrente, conforme com a de Colombo. Para vencer 1º de
latitude, pelo rumo de sul, era pois necessário correr 15 léguas, e 21 pelo
sudoeste, assim lho deveriam dizer as tabelas usadas havia longos anos pelos
marinheiros. Por conseguinte, para vencer 14º de latitude até o equador,
seguindo pelo sudoeste, tornava-se mister percorrer 14x21=294 léguas; ora
Pinzon, fraco astrônomo como todos os capitães do tempo (sem exceptuar o
próprio grande almirante), imaginava que perderia a polar quando atingisse o
equador, e daí a sua afirmação das 300 léguas, baseada nas inferências
expostas.” (Dias, 1921, pg. 146-147)
“Na longa faxa costeira de cêrca de 250 léguas
entre o Amazonas e o Orinoco afluem numerosos rios, alguns de grande volume
como o Oyapoc, o Maroni, o Corentine e o Essequibo; mas em nenhum deles é
sensível o fenómeno da dulcificação, nem mesmo no último, a cujo curso assaz
violento se tem querido atribuir esta propriedade. Quando pois Pinzon encontrou
cm 1500 o seu Santa Maria del mar dulce achou-se em presença do Orinoco ou do
Amazonas, sendo que todos os historiadores, com raríssimas excepções, têm optado pelo último.” (Dias,
1921, pg. 153)
“Conta-nos o protonotário apostólico, na versão de
Trevisan [Montalboddo], que quando encontraram o mar doce
procuraram os castelhanos conhecer a origem da singularidade, e acharam que ela
partia de um grande rio, o qual entrava com grandíssimo ímpeto pelo mar dentro
ao longo de 15 léguas. À região banhada pelo rio chamaram Mariatambal. Na
edição princeps de 1511 diz-nos o mesmo autor que, investigando da causa do mar
doce onde encheram suas vasilhas, deram com um concurso de rios rápidos que
afluíam com violência de vastos montes, mas não se menciona a distancia a que
encontraram água potável. Ao nome Mariatambal de tôda a região acrescenta dois
outros, Paricora e Camomoro, o primeiro da margem esquerda do rio, o outro da
direita. Eis tudo quanto até 1511 estava escrito sobre o achado de Pinzon.
Estes escassos esclarecimentos adaptam-se muito melhor à suposição de ser o
Orinoco o grande rio do que à geralmente aceite do Amazonas. Com efeito, a
extensão do mar doce no segundo é muito próxima das 15 léguas indicadas, e o
entusiasmo pela maravilha que os castelhanos viam pela primeira vez devia
levá-los a exagerar a grandeza do fenómeno; além disso, não há elevação
montanhosa apreciável que a vista desarmada alcance do seu estuário, nem montes
classificáveis de vastos para quem entra por êle dentro mais de trinta léguas.
É um facto sabido que quem navega na costa brasileira, partindo do rio do Pará
para o norte, só vê montanhas dignas do nome na foz do Oyapoc; ora precisamente
o contrário sucede no Orinoco, pois na sua margem direita e a curta distância
se alçam diversos montes, ao fim da cadeia que corre ao sabor das costas de
Venezuela, por Humboldt baptizada serras de Parime. O exame topográfico dos
lugares faz-nos pois suspeitar de que Mártir se refere ao rio de Venezuela, e não
ao do Brasil. [...] Por conseguinte, se ele viu o Amazonas, deveria ter
citado suas duas embocaduras, e elas estariam também mencionadas no têrmo das
capitulações de 1505. [...] Ora Pinzon nos fala de uma única bôca, do
mesmo modo que o têrmo de 1501, o que indica não ser o Amazonas o rio em
questão. Harrisse, que consagrou ao Maranon uma análise demorada, acha-se
perplexo diante do silêncio dos espanhóis acerca da dupla embocadura, e conclui
que êles ignoravam em 1519 e ainda depois, a existência do rio do Pará. De
facto, o primeiro a mencioná-lo explicitamente em 1548 é Oviedo, sob o nome Rio
de Navidad. [...] Ela apenas serve para mostrar — e nisto estamos
d'acôrdo -- que só muito tarde conheceram os castelhanos o Amazonas, ou pelo
menos que as suas noções acerca dele eram das mais confusas e suas navegações
para esses lados muito escassas. [...] Mas dado que o fizessem sem
resultado e que calassem suas pesquizas na terra inóspita, é curioso que Pinzon
não nos diga palavra dos grandes rios que abundam na costa: o Oyapoc (mais
tarde conhecido sob o nome de Vicente Pinzon), o Maroni, o Corentine, o mesmo
Essequibo que tem na foz mais de 20 quilómetros. Mais ainda, depois da surprêsa
do mar doce no Amazonas, não julga digno de uma modesta referência o Orinoco,
cujo enorme volume de água, saindo com força por uma boca de 40 quilómetros, se
espraia mar a dentro, reproduzindo por algumas léguas aquele mesmo fenómeno da
dulcificação! O silêncio do navegador, inexplicável na versão corrente, tem ao
contrário justificação na nossa. Da foz do Orinoco até o Garapiche, onde começa
a região que Colombo designou por Pária, não havia senão terras alagadiças
densamente arborizadas e de escassa população, entre as quais circulam os
caítos do delta. Nada tinha Pinzon de interessante a contar nos. O termo das
capitulações de Pinzon em 1501, descrevendo as descobertas do navegador, diz
que a partir de S. Maria del mar dulce a costa segue pelo noroeste até o cabo
de S. Vicente. [...] o Atlas de portulanos designado como de Egerton, se
viu nêle inscrito o nome procurado. A pesar da interpretação do portulano, em
que vém o nordeste da América meridional, estar sujeita a grandes incertezas, é
fóra de dúvida que o cabo de S. Vicente está figurado muito ao norte do
Orinoco, como quer que êste esteja representado. Ora se o rio do mar doce é o
Orinoco, o rumo do litoral que desce do gólfo de Pária pôde arbitrar-se, de um
modo grosseiro, no noroeste, na parte próxima do rio; mas se é o Amazonas, tal
rumo é inadmissível para o trecho de mais de 300 léguas que separa o Amazonas
do incerto cabo de S. Vicente. A costa que sóbe de Ponta Grossa tem primeiro a
direcção norte até o Cabo Norte, depois inclina-se sensivelmente para o
nornoroeste até o Cabo Orange, e a seguir torna até o Orinoco variadas
inflexões, desde oesnoroeste até nornoroeste. O longo trajecto entre o Amazonas
até o cabo de S. Vicente está no termo vazio de qualquer denominação, coisa
singular, já que éle representa quási metade das 600 léguas que Pinzon alega
ter percorrido de terra firme; mas mais nos espantamos quando vemos os reis
católicos privar o descobridor da governação destas 300 e tantas léguas de
costa, nunca antes vistas e exploradas por cristão algum, reservando-lhe tam
somente a região precedente e deixando um vazio importante. ¿ Não se está a ver
que só esta constituía aos olhos dos monarcas descoberta apreciável e que a
outra, além de pequena extensão, porventura já fóra vista? No tam precioso
diploma, para os que veem o Amazonas no rio S. Maria dei mar dulce, até se
ignora a existência do Orinoco de larga embocadura, em que há também um mar
doce! Se até aqui, nas narrativas de Mártir até 1511, só vemos razões para crer
que o ousado capitão não vogára em 1500 nas águas do Amazonas, a terceira de
1516, na qual se lhe atribui a descoberta do Maragnonus, está longe de nos
induzir à convicção contrária! Martir já se ocupára déste rio, que nos descreve
numa carta datada de Valladolid aos 18 de dezembro de 1513, da qual aqui
vertemos livremente uma passagem: Entre os vários rios, quer grandes quer
medíocres ou pequenos, encontraram (os descobridores espanhóis) um de dimensões
tam consideráveis que parece incrível tê-lo produzido a natureza. Asseveram que
tem mais de oitenta milhas de largo, não sendo uma baía mas um rio, pois as
suas águas doces correm para o oceano entre muitas ilhas sendo insensível às
marés. Navegaram as caravelas 40 léguas por êle dentro e travaram relações com
05 régulos indígenas que, conquanto a princípio renitentes, se deixaram levar
de reciprocas dádivas amistosas. Estes régulos se chamam Chiocones. O nome
pátrio do rio é Maranhão; alguns o colocam na equinocial, outro para lá desta
linha, mas todos declaram que néle perdem o Polo árctico. Citaremos em seguida
uma referência no 9° livro da Década 11. escrita nos fins de 1514, embora
publicada em 1516. Contam os castelhanos que no tempo de Colombo descobriram, e
mais tarde percorreram, um rio cuja foz se abre no mar por pouco menos de 100
milhas, na primeira costa de Pária como noutra parte dissemos: Ele vém de altos
montes para uma embocadura furibunda, de modo que com o seu ímpeto e vastidão o
mar retrocede ainda quando revôlto pela força dos ventos; e dizem que em todo
éste grande espaço não sentiram qualquer amargor nas águas que são doces e
próprias para bebida. Os indígenas chamam a êste rio Maranhão, e às regiões
adjacentes Mariatambal, Camomoro e Paricora. Quanto à distância entre o
Maragnonus e Pária, encontrámos no livro 10º da mesma Década II as seguintes
indicações, que Martir declara tiradas do exame cuidadoso das melhores cartas
de Juan de la Cosa e André de Morales, a que procedeu em companhia do bispo D.
Juan de Fonseca, presidente do Conselho das índias. Daquele cabo (S. Agostinho)
incluído na linha dos portugueses, tirada no paralelo das ilhas de Cabo Verde
cem léguas para o ocidente, o qual tem sido explorado para cá e para lá dele,
achamos trezentas léguas até a foz do rio Maranhão. Daí até a Boca do Dragão há
setecentas léguas, em algumas cartas um pouco menos, porque não estão todos de
acôrdo. Querem que a légua espanhola tenha quatro mil passos quando no mar,
porém em terra três. [...] digressão inserta na edição de 1516, já de
nós conhecida e cuja data não sabemos, embora se possa fixar em 1514.
Caminhando éles em território contínuo para o ocidente, em direcção a Pária,
cerca de trezentas léguas desde o ponto de terra que perde o pólo árctico,
dizem que quási a meia distância foram dar a um rio chamado Maranhão, tam largo
que o suspeito de fabuloso. Interrogados posteriormente por mim se era um braço
de mar responderam que eram doces as águas dêste pégo, tanto mais doces quanto
mais se sobe a corrente, e que é semeado de ilhas e peixes. Ousam dizer que tem
mais de trinta léguas de largura e desagua com impetuoso curso no mar que cede ao
seu furor. Estes quatro trechos, apesar de escritos com pequeno intervalo de
tempo, são manifestamente inconciliáveis. Ao passo que no primeiro a largura da
foz é avaliada em mais de 80, o segundo amplia-a a pouco menos de 100 e o
último a 120. A situação geográfica do rio é inteiramente diversa na primeira e
última citações. Naquela diz-se que os navegantes perdem nele o pólo árctico,
nesta está o rio situado a cêrca de 150 léguas acima do ponto em que se oculta
o pólo. São sobretudo de assinalar as divergências entre os textos de 1501,
1511 e 1516, e entre êste e o terceiro dos citados. A sua comparação conduz-nos
ao resultado inesperado de que não é único o rio no qual se nota o mar doce,
sendo que contra o desdobramento não protesta a redacção final de 1516.
Efectivamente lemos na edição princeps e em Trevisan que o pólo foi recuperado
depois dos navegadores se apartarem do rio, caminhando 50 léguas para o norte.
O ponto em que perdiam a tramontana está situado portanto ao norte do rio; mas
na segunda edição está situado ao sul do rio, em posição diametralmente oposta.
Além disso, não concordam as distâncias do rio a Pária. Pinzon declarou no
diploma oficial de 5 de dezembro de 1500 ter percorrido 600 léguas de terra
firme e repetiu-o a Mártir; esta era indubitávelmente a sua versão exagerada do
afastamento entre a primeira arribada ao continente americano, em S. Maria de
la Consolación, e o último promontório de Pária. Ora, segundo a Década 1, o
Maragnonus está situado quási ao meio das 300 léguas que separam este
promontório do ponto em que perderam o pólo árctico; e no trecho em que Mártir
nos dá conta de suas medições nas melhores cartas contemporâneas lemos que o
rio está apartado 700 léguas de Pária. [...] Estamos pois em face dum
dilema: ou o Maragnonus é o S. María del mar dulce de 1500, quer seja o Orinoco
quer o Amazonas, ou há dois rios distintos, o Amazonas, chamado Maragnonus, e o
Orinoco, ao qual cabe a denominação de Pinzon. É claro que o protonotário
apostólico desconhecia em 1501 e 1510 a denominação gentílica Marañon e as 30
léguas da sua foz, [...]. Temos um fiador seguro da ignorância de Mártir
e Pinzon quanto ao nome: é o termo das capitulações de 5 de Setembro de 1501,
que não fala em tal. Os novos dados acerca do rio foram ministrados a Mártir
mais tarde, e como éle declara ter interrogado Pinzon postmodum, somos
induzidos a crer que foram colhidos pelo navegador em viagem posterior a 1500.”
(Dias, 1921, pg. 154-156)
“[...] tôdas as
testemunhas no pleito de Diego Colombo, entre 1513 e 1515, que falam no
Marañon, atribuem invariávelmente a sua descoberta a Diego de Lepe e não a
Vicente Pinzon. Até este, mencionando as suas descobertas, não incluí nelas a
do rio cujo nome por aquele tempo andava em muitas bocas de embarcadiços.” (Dias,
1921, pg. 159)
e.6) Marinatambal
Capturaram em Marinatambal cerca de 36 índios para
vender como escravos na Espanha.
“Tomaram XXXVI escravos. Além disto, não acharam
nada digno de ganho. O nome desta província se chama Marina Tambal e dizia
aquela gente das ilhas que, atrás, na terra firme, se encontrava grande
quantidade de ouro.” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap. CXIII)
“[...] levaram, por isto [por não haver
ouro], dali trinta e seis cativos. Os indígenas chamam a região
Marinatambal; porém a região pelo Oriente de seu rio se diz Camomoro, e pelo
Ocidente, Paricora. No interior daquela comarca indicavam os indígenas que
havia não desprezíveis quantidades de ouro, pois, prosseguindo ao Setentrião
deste rio, por assim exigi-lo os rodeios das costas, voltaram a ver o polo
ártico. Toda aquela costa é de Paria, que dissemos achou rica em pérolas o
mesmo Colombo, autor deste grande descobrimento. Dizem que esta costa é
contigua e uma mesma com a Boca del Dragón, [...], e com as demais
praias, como Cumana, Manacapana, Curiana, Cauchieto e Cuchivachoa, pelo que a
tem pelo continente da Índia do Ganges; pois tão vasto âmbito não parece sofrer
que seja ilha [...]” (D’Anghiera,
1530, Década I, Livro IX)
“[...] os Espanhóis afirmam que eles descobriram, enquanto Colombo ainda vivia,
e que depois eles navegaram um rio cuja foz, no momento em que ele se lança no
mar, não tem menos de cem milhas [185km]. Ele encontra-se no começo de Paria. Ele
desce com uma tal impetuosidade das altas montanhas que ele força o mar, mesmo
no momento da maré, mesmo quando ele está crescido pela violência dos ventos, a
recuar diante da fúria e a massa de suas águas; por um grande espaço as águas
do mar não são mais salgadas, mas boas para beber e de um gosto suave. Os
indígenas chamam este rio de Maragnon, outros povos ribeirinhos Mariatambal,
Camamoros ou Paricora.” (D’Anghiera,
1530, Década II, Livro IX)
“E a primeira província que no levante está situada,
Maria Tambal é nomeada, a qual é muito habitada, [...] , e o mar que esta província
banha é todo de água doce, e isto ocorre pela multidão de rios, [...]”
(Bordone, 1534, fl. 11a)
“Cativaram
trinta e seis Índios em outro rio, dito Mariatambal, [...]” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV, pg.111a)
“[...] rio Marañon [...] na desembocadura deste rio [...] mataram
oito espanhóis e feriram outros doze ou treze [...] Vista esta
maldade e engano, recolheram-se nos navios os espanhóis e passaram-se à outra
costa dentro do mesmo rio e tomaram trinta e seis homens e mataram e feriram
alguns outros, porque os saltearam em uma província que se chama Mariataubal,
que está dentro da costa do Marañon, dentro da qual há muitas ilhas, segundo o
soube do mesmo Vicente Yañez [...], o qual saiu dali com esta presa
que lhe custou caro [...]” (Oviedo, 1557, Vol. II, Livro XXIV,
Cap. II, pg. 214)
“Visto que por aquela terra e rio de Marañon, e gente dela, não
havia ouro nem pérolas, nem coisa de proveito, que era o fim que os trazia,
combinaram de tomar cativos 36 pessoas, que tomar pudessem, daqueles humildes e
mansos inocentes, confessado por eles, que aos navios seguramente se lhes
vinham, [...].” (Las
Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...] Tomaram na mão a costa contra o Ponente,
& no rio Maria, Tambal, captiuaram neste tempo trinta & tanto Indios [...]”
(Galvão, 1563, fl. 28a)
“Visto, Vicente Yañez Pinzón, que não se descobria
coisa de substância, por aquela parte, tomou trinta e seis Homens, [...]” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 108)
“Aqui encontrarão muitas ilhas, afortunadas e
férteis, cujos habitantes os receberão hospitaleiros e confiados, o que Pinzon
retribuiu vilmente, apoderando-se, por não achar outra mercadoria, de trinta
d'estes homens inoffinsivos e levando-os d'onde os achara livres para vendel-os
onde fossem escravos.” (Southey, 1822, Vol. I)
e.7) Golfo de Pária e Rio Dulce
Daí seguindo a costa,
foram até Pária, achando outro grande rio, que nomearam Rio Dulce. Em seguida cruzaram com a expedição de Diego de Lepe
(ver abaixo) e decidiram retornar juntos.
“Depois, tendo partido deste rio [Mar Dulce], em poucos dias
descobriram a Tramontana [Estrela Polar],
que era quase ao horizonte, fazendo L léguas [300km] segundo a sua regra. Dizem que sempre estavam escoltados pela terra
Payra; pouco depois foram à boca chamada del Dragón, que é uma boca que está
nesta terra Payra. Neste lugar percorreu o Almirante por algumas de suas ilhas,
que estavam adiante nesta Payra em grande número. Ali encontraram grande
quantidade de pau-Brasil, do qual carregara seus navios, e entre aquelas ilhas,
havia muitas das quais que estavam desabitadas por medo dos canibais. E viram
infinitas casas arruinadas. E muitos homens que fugiam para o monte; acharam,
também, muitas árvores de canafístula [cássia imperial], das quais levaram algumas à Espanha, [...]” (Montalboddo, 1507,
Livro IV, Cap. CXIII)
“Vicente Yañez Pinzón, capitão de SS. AA., [...] em 21 de março de
1513, [...] descobriu esta província que se chama Paricura, e
correu ao longo da costa até a costa do Dragón, e que ali recebeu, esta
testemunha, a notícia de que o dito D. Cristóbal Colón havia chegado à dita
Boca del Dragón, e que passou a diante à Espanhola [Ilha de
Hispaniola] como foi dito.” (Probanza, 1513, 7ª Questão)
“Pedro Ramirez, [...] em 19 de Setembro de 1515, [...] deram
em Paria, e chegando a Paria, conheceram a terra uns filhos de Diego Martin,
sobrinhos de Vicente Yañez Pinzón, que iam na caravela gorda, o qual disse que
era Paria, e que ali haviam estado com o Almirante Colombo, e os levou a
fundear em uma ilha que está junta da terra firme, que entrou nela pela boca
del Dragón; e dali partiram, e os filhos de Diego Martin os levaram a terra
firme à outra banda do fundeadouro, onde diz que havia estado o dito Colombo, e
dali saíram pela boca del Dragón; [...].” (Probanza,
1515, 7ª Questão)
“Antón Hernández Colmenero, [...] em 25 de Setembro de
1515, [...] e daquele rio grande [Rio Santa Maria do Mar
Dulce] saíram e foram descobrindo pela costa adiante pela terra firme
até dentro de Paria, e que ali em Paria queriam saltar em terra, salvo que não
ousaram, porque lhes havia morto muita gente antes que chegassem a Paria, e os
índios da própria Paria não queriam entrar dentro dos ditos navios, [...] e
que nisto veio outro que se dizia Diego de Lepe [...]” (Probanza,
1515, 7ª Questão)
“Seguindo depois ao Aquilão, que os marinheiros
espanhóis chamam Nordeste e os italianos Grego, encontraram muitas ilhas
abandonadas pela sevícia dos canibais, porém férteis. Desembarcaram em muitos
lugares, e encontraram restos de povoados destruídos. No entanto, em algumas
partes viram homens, porém temerosos, que, ao ver qualquer navio próximo,
fugiam [...]” (D’Anghiera,
1530, Década I, Livro IX)
“[...] e correram a costa até chegar
ao golfo de Paria. Tocaram no Cabo Primero, angra de San Lucas, terra de Humos,
rio Marañón, rio de Orellana, rio Dulce e outras partes.” (Gómara, 1554, Cap.
LXXXV, pg.111a)
“Partindo, pois, de lá foram em direção à tramontana, e chegaram à
Paria […]” (Munster,
1558, libro V, pg. 1187)
“[...] ouvi dizer, que desviado do rio e da costa trinta léguas [170km] apartado de terra, havia
colhido água doce em mar alto, por causa da força e fúria com que este rio
entra nela.” (Oviedo, 1557, Vol. II, Livro XXIV, Cap. II, pg. 214)
“Dali, do rio
Marañon, foram costa abaixo, a volta de Paria, e no caminho acharam outro rio
poderoso, ainda que não tão grande como o Marañon, e, porque se bebeu a água
doce outras 25 [140km] ou
30 [167km] léguas no mar, puseram-lhe o nome de rio Dulce.
Creio que é este rio um braço grande do grande rio Yuyaparí [rio
Orinoco], o qual dissemos no cap. 134, que faz o mar ou golfo Doce que está
entre Paria e a ilha da Trinidad, que estimava o Almirante sair do Paraíso
terrenal; e aquele braço e rio doce que deste caminho achou Vicente Yañez,
também julgou que é o rio donde habita aquela gente boa, que nomeamos os
aruacas. Passaram adiante e entraram em Paria, e creio que tomaram ali
pau-brasil; ainda que, como acharam a gente de Paria escandalizada por
haver-lhes matado muita gente Cristóbal Guerra, ou outro salteador dos que ali
chegaram, [...], e o disseram com juramento os mesmos que foram com
Vicente Yañez, e não ousavam saltar em terra, não sei como o puderam
tomar.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“Assim o dizem
as testemunhas no supracitado processo, convém saber, que quando vieram Vicente
Yañez e sua companhia a Paria, queriam desembarcar nela, e que não ousaram,
porque lhes haviam morto muita gente antes que chegassem a ela; e dizem mais,
que os índios dali não queriam entrar dentro dos navios, salvo que diziam, sai,
Capitão, como se os chamaram para vingar-se deles, ao que parece; [...]” (Las Casas, 1561, Vol. II,
Cap. CLXXII)
“[...] tomaram [...] & rio Doce & outras partes ao longo da costa chegarã aa Paria
em dez graos daltura da parte do norte [...]” (Galvão, 1563, fl. 28a)
“[...] e caminhou em volta de Paria, e no caminho achou
outro Rio poderoso, ainda que não tão grande como o Marañon, porque tomaram
Água doce outras vinte e cinco [140km], ou trinta
Léguas [170km] do Mar pelo que o chamaram Rio
Dulce, e depois se acreditou, que é Braço do grande Rio Yyupari [rio Orinoco], que vai para o
Mar, ou Golfo Dulce, que está entre Paria, e a Ilha da Trinidad; e este Rio
Dulce, que achou Vicente Yañez neste Caminho, se teve, que é o Rio aonde
habitam os Aruacas: entraram em Paria, e ali tomaram pau-Brasil, [...]” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 108)
“Escapando com tudo d’alli, tornou a passar a
linha, e continuando a derrota até chegar ao Orinoco, fez-se na volta das
ilhas, e navegou para casa, perdendo na viagem dous dos seus tres navios. O rio
da Guiana conserva ainda o seu nome, e o curso que ele seguiu para chegar ao
Cabo de Sancto Agostinho, chamou-se por meio século derrota de Pinzon.” (Southey, 1822, Vol. I)
e.8) Ilha de Hispaniola e retorno à Espanha (23 de
junho a 30 de setembro de 1500)
Partiram de Pária para
as Ilhas do Caribe, onde (talvez próximo a Isla Margarita ou na Ilha de
Hispaniola), em julho de 1500, sobreveio um temporal que afundou dois dos
navios com toda a tripulação. O 3º navio teve os cabos das âncoras arrancados e
foi levado pela tempestade com apenas 18 homens, e o 4º navio, apesar de o cabo
da âncora ter resistido, foi tão avariado que os espanhóis acharam que ele
afundaria. Por isto, os espanhóis do 4º navio desceram em terra e, achando que
ficariam presos na ilha, deliberaram matar todos os índios da região, antes que
estes os matassem. No entanto, antes de executarem este seu plano, a tempestade
amainou e o 3ª navio retornou com 18 homens a bordo e o 4º navio resistiu ao
temporal. Navegaram, então, até à Ilha de Hispaniola (Haiti), onde chegaram em
23 de julho de 1500. Em 30 de setembro chegaram na Espanha os 2 navios
restantes. Afirmaram que haviam percorrido 600 léguas (3.350km), sempre ao
longo de Terra Firme.
“[…] que haviam vendido trezentos e cinquenta
quintais de brasil que trouxeram da dita viagem […]” (Real Provisión, 1500)
“Este
Vicentines afirma ter navegado pela costa de Payra mais de DC léguas [3.350km], e não duvidavam que ali era terra firme,
mas estão quase certos disto; tendo partido, dali de Payra, foram até a Ilha de
Espanhola no dia XXIII de julho MCCCCC. E dali dizem ter ido continuamente por
poente mais de CCCC léguas [2.230km] em certa província, onde contra as IIII caravelas que ele tinha, saltou
uma tempestade do mês de Julho, que duas se submergiram e uma se rompeu; pareceu serem os homens perdidos e
extraviados, e a IIII ficou firme e forte, mas não sem pouco trabalho, e já
haviam perdido toda a esperança de salvá-la, e assim estando, viram uma de suas
naves aparecer, mas estava com poucos homens, daí que duvidavam se submergiria
ou se seria lançada em terra; e estavam em grandíssima dúvida e medo de serem
maltratados daquela gente. Fizeram uma deliberação de primeiro matá-los, e
assim estavam em diversos e maus projetos, cerca do VIII dia. Depois, fazendo
bonança, viram a sua nave que ficou com só XVIII homens, e lá subiram e, junto
com aquela outra que fora salvada, fizeram vela de volta para a Espanha, onde,
no último dia de setembro, chegaram.” (Montalboddo, 1507, Livro IV, Cap.
CXIII)
“Saibais, que Arias Pérez, e Diego Fernandez,
sobrinhos de Vicente Yañez Pinzón, [...] o dito seu tio e eles, com nossa licença,
pode haver um ano pouco mais ou menos, que armaram quatro caravelas para
descobrir nas partes das Índias, com as quais seguiram sua viagem em nosso
serviço, em que descobriram seiscentas léguas [3.350km] de terra firme em ultramar, além de muitas
ilhas, por cuja causa diz que vieram mui gastados e pobres, e, assim, por isto,
como porque nas ditas quatro caravelas, na armação delas, gastaram muitas
quantias de suas fazendas [...] trezentos
e cinquenta quintais de pau-brasil que trouxeram de dita viagem [...]”
(Real Provisión, 1500)
“Pedro Ramirez, [..] em
19 de setembro de 1515, [...] boca del Dragón; e dali foram a
uma ilha que acharam, correndo ao Nordeste, à qual puseram nome de ilha de
Mayo; e dali foram em viagem, e foram a dar à ilha de Guadalupe, que é nas Once
mil Virgines, e dali se partiram a S. Juan [Porto Rico], e de S.
Juan foram à Isabela [Hispaniola], e dali foram a outras ilhas, que
dizem Semana, e a outra Someto, e a outra Maguana; [...].” (Probanza,
1515, 7ª Questão)
“Antón
Hernández Colmenero, [...] em
25 de setembro de 1515, [...] e dali [Paria] se
foram à Espanhola [ilha de Hispaniola] que se diz a Isabela, e
que o dito Vicente Yañez se partiu da Isabela que se diz Jumeto e aos olhos da
Babura, e dali perderam dois navios em baixas, e se retornaram para Castela
logo, [...].” (Probanza, 1515, 7ª Questão)
“Juan de Ungria
ou Umbria, [...] em
1º de dezembro de 1515, [...] descobriram 800 léguas [4.460km] de
terra à costa de Noroeste Sudeste, porque esta testemunha era piloto do dito
Vicente Yañez, [...]
“Estes dois Pinzones, tio e sobrinho, passaram
horrendos trabalhos nesta navegação. Pela costa de Paria haviam recorrido já
seiscentas léguas [3.350km], e, segundo eles pensam, más além da cidade de Catayo [China] e da costa da Índia, mais além do Ganges,
quando no mês de Julho lhes sobreveio de repente naquelas regiões tão feroz
tempestade que, de quatro caravelas que levavam, lançou a pique duas à vista
deles, e ao ponto, arrancando das âncoras, com sua violência, à terceira,
levou-a, fazendo-a perder de vista, e à quarta, que estava ancorada, sacudiu-a
de modo que já se abriam todas as juntas. E assim se baixaram, no entanto, à
terra, desta última, perdida toda esperança de que se salvara. Pelo que, tendo
havido conselho, pensavam, já em preparar-se domicílios naquelas regiões, já em
matar todos os habitantes vizinhos, para que, convocando estes uma vez aos
comarcanos, conviera-se de quitar-lhes a vida a eles. Porém saíram melhor:
cedeu a tempestade: voltou a caravela que a tormenta havia levado, na qual iam
dezoito homens, e a que havia permanecido ancorada à vista deles, salvou-se.
Com estas duas naves, pois, fizeram-se ao mar com rumo à Espanha. Na véspera da
calenda de outubro [trinta de setembro],
destroçados pelas ondas, e havendo perdido não poucos amigos, chegaram a Palos,
seu solo natal, a reunir-se com suas mulheres e filhos.” (D’Anghiera, 1530, Década I, Livro IX)
“Tardaram dez meses em ir, descobrir e
retornar. Perderam duas caravelas, com todos os que dentro iam. Trouxeram até
vinte escravos, três mil libras de pau-brasil e sândalo, muitos juncos, dos
apreciados, muito anime branco, cortiças de certas árvores que pareciam canela,
e um couro daquele animal que mete os filhos no peito [gambá
com sua bolsa marsupial]; e contavam por grande coisa haver visto árvore que
não a abraçaram dezesseis homens.” (Gómara, 1554, Cap. LXXXV, pg.111a)
“[...] e na costa cerca de terra
havia perdido as duas caravelas. E retornou à Espanha com as outras duas, mui
perdido [...]” (Oviedo, 1557, Vol. II, Livro XXIV, Cap. II, pg.
214)
“De Paria
navegaram a certas ilhas das que estão pelo caminho da Espanhola [Hipaniola], não soube com que
intenção, nem se foi na costa de Paria, ou em alguma das ilhas ditas, que lhes
aconteceu a tribulação, o que lhes veio: pelo mês de Julho, estando fundeados
todos os quatro navios na parte ou terra onde eram, subitamente veio uma tão
desaforada tormenta, que, aos olhos de todos, se afundaram dois dos navios com
sua gente; o outro, arrebatou-o o vento, rompendo as amarras das âncoras, e
levou-o o vento com 18 homens, e desapareceu. O quarto, sobre as âncoras, que
deviam ser grandes e bons os cabos, tantos golpes deu nele, o mar, que,
pensando que se faria em pedaços, saltaram na barca e vieram à terra, não lhes
sobrando dele alguma esperança. Disseram que começaram a tratar, os poucos que
ali estavam, que seria bom matar a todos os índios que por ali moravam, porque
não convocassem os comarcanos e todos os viessem a matar. Eles pensavam naquela
terra buscar maneira para viver e remediar-se; [...] o navio
que se havia desaparecido com os 18 homens, retornou, e o que estava ali
presente, amansando a tormenta, não se afundou. Com os dois navios, vieram a
esta ilha Espanhola, onde se refizeram do que tinham mister, e daqui tomaram o
caminho e chegaram à Espanha em fim de Setembro de 1.500 anos, tristes,
angustiados, lesas as consciências, pobres, gastado o dinheiro que pôs de sua
fazenda Vicente Yañez na armada, mortos a maioria dos companheiros, deixando
alvoroçada e escandalizada a terra por onde haviam andado, [...],
somente, que haviam descoberto 600 léguas [3.350km] de costa de
mar até Paria, gloriando-se.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIII)
“[...] perderão dous nauios & gente. Poserã na
viagem & descobrimento dez meses & meyo.” (Galvão, 1563, fl. 28a)
“De Paria passou Vicente Yañez às Ilhas, que estão
pelo Caminho da Espanhola [Hispaniola]: e os
Navios tendo partido, sobreveio-lhes tão desaforada tormenta, que dois
afundaram-se aos olhos de todos, com toda a Gente: ao outro arrebatou-lhe o
vento, rompendo as Amarras, e desapareceu com dezoito Homens: o quarto sobre as
Âncoras, que deviam de ser boas, e bons os Cabos, e grandes, tantos golpes deu
no Mar, que pensando que se faria em pedaços, saltaram na Barca os Homens, e se
foram à Terra, sem esperança de salvar-lhe; e para salvar-se, puseram em
prática de matar a todos os Índios, que por ali Viviam, para que convocando aos
Comarcanos, eles não os matassem; porém, o Navio, que se havia desaparecido com
os dezoito Homens, voltou: e, aquele que ali estava, sossegando-se o Mar,
salvou-se. Foram com os dois Navios à Espanhola, onde se refizeram do que
tiveram necessidade, e chegaram a Castela em fim de Setembro, deixando
descobertas seiscentas Léguas de Mar [3.350km],
até Paria.” (Herrera, 1611, Vol. I,
Década I, Libro IV, pg. 108)
“Convencera-se este navegante de que a terra por
elle visitada não era uma ilha; suppunha porem que fosse a índia alem do
Ganges, e que elle tivesse velejado alem da grande cidade de Cathay.” (Southey, 1822, Vol. I)
Deve-se
observar, que, apesar de vários nomes de locais terem sua origem atribuída à Pinzon,
apenas poucos destes são citados nos relatos oficiais das Probanzas e nos historiadores antigos.
“Vós descobrirdes algumas ilhas e terra firme,
às quais vós impusestes os nomes seguintes: Santa Maria de la Consolacion,
Rostro Hermoso; em seguida, vós seguistes a costa que corre ao Noroeste até ao
grande rio que vós chamastes Santa Maria de la Mar dulce, e sempre seguindo o
Noroeste, toda a terra que se estende até o cabo de San Vicente [...] [e os reis
de Espanha nomeiam Pinzón governador] das
ditas terras acima nomeadas desde a dita ponta de Santa Maria de la Consolación
seguindo a costa até Rostro Hermoso, e dali toda a costa que corre ao noroeste
até o dito rio que vós pusestes nome de Santa Maria de la mar dulce, com as ilhas
que estam na boca do dito rio que se chama Marina tubaro” (Capitulación,
apud De la Blanche, 1501)
“Na medida em
que se pode julgar pelo estado mutilado do documento, os nomes que,
segundo o documento citado mais acima (Capitulação de 1501), Vincent Yañez
assignou a diversos pontos da costa, estão longe de figurar todos no mapa de
Juan de la Cosa. P. fermoso corresponde sem dúvida ao Rostro hermoso citado na
Capitulação. Talvez seja permitido de reconhecer, em G° de St Mja, a
Santa Maria de a mar dulce. Mas, procura-se em vão o nome de Santa Maria de la
Consolacion no local do cabo inicial. Lê-se, é verdade, uma legenda que
consagra a glória, do descobridor: « Este cabo se descobriu no ano de mil e
CCCCXCIX por Castela, sendo descobridor Vicentiañs. »” (De la Blanche, 1501)
“Os fenômenos geográficos, que estes relatos
oculares permitem de entrever, localizam-se, manifestamente, entre o canal do
Norte da foz do Amazonas e uma costa alagada que se encontra em se dirigindo
para o Noroeste. Na estação em que se realizou a viagem de Vincent Yañez, é
possível achar água doce ao longo da borda do ancoradouro da ponta Norte da
ilha Baïlique. A região onde se faz sentir a prororoca é restrita, no canal do
Norte, à parte compreendida entre a terra firme e a série de ilhas baixas. À
leste deste canal, não há mais nenhum traço dela; mas, ao Noroeste o fenômeno
grassa em toda a sua força. À foz atual do Araguary, no canal de Tourlouri,
naquele de Carapapori, a costa porta os traços de suas devastações.” (De la Blanche, 1902)
e.9. Conclusões
Não existem dúvidas de que a viagem de Pinzón
tenha sido real, no entanto, o que ainda se debate é que lugares ele realmente
explorou. Não sobreviveu nenhum relato oficial da expedição e nossos
testemunhos baseiam-se unicamente em historiadores espanhóis do século XVI e
início do XVII, além dos testemunhos de Pinzón e outros nos Pleitos
Colombinos de 1512 a 1515 - Probanzas
do Fiscal (vide acima nas
Conclusões, item c.8). Os relatos dos historiadores são muito pobres em
informações e muitos se limitam a copiar historiadores mais antigos.
Os mais antigos relatos desta viagem são
devidos a Pietro Martire d’Anghiera (1459-1526),
tendo sido publicada 3 versões diferentes, impressas nos anos de 1504, 1511 e
1516; estes relatos são vagos, repletos de erros, contradições e acréscimos. A primeira versão foi publicada, em 1504,
por Albertino Vercellese com o título Libretto
di tutta la navigazione del re di Spagna
de le isole et terreni novamente trovati e cujas informações sobre Pinzón proviam de
uma carta de D’Anghiera supostamente datada
de dezembro de 1501, e que mais tarde formaria os Livros I e II da Década I.
Uma compilação contendo partes do mesmo material foi impressa com o título Paesi
nouamente retrouati per la Nauigatione di Spagna in Calicut et da Albertutio
Vesputio Fiorentino Intitulato Mondo Nouo em Vicenza por Francanzio da Montalboddo em 1507; Itinerarium Portugallensium e Lusitania in Indiam et Inde
in Occidentem et Demum ad Aquilonem em Milão por Arcangelo
Madrignano em 1508, e em Basiléia e Paris por Simon Gryneo em 1508. Em 1511 é
publicada a 1ª edição das Décadas de D’Anghiera por Jacobum Corumberger com o
título Legatio Babylonica, Oceani Decas,
Poemata, Epigrammata; o texto sofreu várias modificações, era mais extenso
que a versão de 1504 e correspondia aos 10 livros da Década I. Na versão
publicada em 1516, De rebus oceanis et Orbe Novo Decades tres, Alcalá de
Henares, com a supervisão de Antônio de Nebrija, o texto é já muito distinto da
1ª versão e contém as Décadas I, II e III. Posteriormente houve acréscimos nas
novas edições ficando o livro conhecido como De Orbe Novo Decades Octo (As Oito Décadas do Novo Mundo).
A edição definitiva foi a De Orbe novo
Petri Martyris ab Angleria mediolanensis protonotarii Caesaris senatoris
Decades, de 1530, contendo as 8 Décadas. D’Anghiera afirmou que os fatos narrados foram baseados em
relatos de membros da expedição, entre eles o próprio Vicente Yáñez Pinzón e
seu primo Diego de Lepe. Os
cálculos publicados em 1511 por D’Anghiera, baseados supostamente em afirmações
de Pinzón são uma total trapalhada, que ninguém com mínimo de
conhecimentos náuticos e rigor histórico pode aceitar. Pinzón afirmou que
atravessou a linha equinocial e que deixou de ver a Estrela Polar, o que é uma
manifesta impossibilidade na rota que ele alegadamente seguiu. Para aumentar
ainda mais a confusão, declarou que também encontrou na região do Equador uma
enorme protuberância que o impedia de ver a Estrela Polar (havia na época a
teoria da “Tierra Pezonoidal”, que
sustentava que a Terra tinha forma piriforme; Colombo também seguia esta
teoria). Outro relato importante é o de Gonzalo
Fernández de Oviedo y Valdés na sua Historia General e Natural de las
Índias (1557), pois ele
"conheceu e esteve com"
Pinzón, que lhe proporcionou muitos dos fatos narrados na sua obra. Já as
crônicas de Bartolomé de las
Casas (Historia de las Indias,
1561) e Antonio de Herrera (Historia
General, 1611), se baseiam
no depoimento de Anghiera. Estas três últimas obras são confusas e
contraditórias.
Já nas Probanzas,
discutiam-se os direitos de Diego Colombo, como herdeiro de Cristóvão Colombo,
às terras descobertas por seu pai; neles a coroa espanhola queria diminuir as
descobertas de Colombo e aumentar as de outros navegadores. Portanto,
procurava-se mostrar que foi Vicente Yañez Pinzón quem descobriu grande parte
da costa da América entre o cabo de Santo Agostinho e o Panamá. Parece que
Pinzón, enquanto fazia suas explorações em 1499-1500, nunca soube onde
realmente estava, tendo feito a afirmação que havia chegado ao Brasil apenas em
1513. Por último existem os mapas dos cartógrafos da época, que iam adicionando
os novos conhecimentos adquiridos com estas expedições, de forma que,
sabendo-se o ano da confecção do mapa, pode-se inferir de onde vieram os dados para
o mapa.
No entanto, existem
alguns pontos para se apoiar: (e.3) Cabo
de (Santa Maria) de la Consolación a 8,5º Sul, a 2.500km do Rio Marañón e a 4.500/4.200km de Pária, (e.3) Cabo Rostro
Hermoso a 3.880 ou 4.200km de Pária, (e.4) Rio Formoso a 225km do Rio de Santa Maria de
Mar Dulce, (e.5) Rio de Santa Maria de Mar Dulce ou Marañón, 225km a oeste do Rio Formoso, (e.6) Marinatambal,
(e.7) Golfo de Pária, Ilha
de Trinidad e Rio Dulce.
Destes pontos, o único do qual nós temos certeza é o último (e.7), que mantém o
mesmo nome até hoje: Península de Pária e Golfo de Pária na Venezuela, Ilha de
Trinidad e Tobago. Portanto, o Rio Dulce só pode ser o Rio Orinoco que
desemboca nesta região.
O Cabo de
(Santa Maria) de la Consolación (e.3)
é o ponto de chegada na América do Sul e para localizá-lo nós possuímos 3
indícios. A 1ª indicação é a latitude de 8,5º Sul, situada na costa sul de
Pernambuco, apenas um pouco a sul do Cabo Santo Agostinho, principal cabo da
região; no entanto esta indicação de latitude só aparece a partir de Gómara
(1554), mais de meio século após seu descobrimento e após sua identificação com
o Cabo Santo Agostinho, o que pode ter dado origem ao dado da latitude
secundariamente, o que compromete a confiabilidade desta latitude como
localizador do cabo. A 2ª indicação é a distância explorada por Pinzón, desde
sua chegada à América do Sul, na altura do dito cabo, até o Rio Marañón (2.500km), e até Pária (4.500/4.200km). No entanto, naquela
época, se o cálculo de latitude era relativamente preciso, o de longitude era
bastante defeituoso e, consequentemente, o cálculo de distância também não era
muito confiável. A 3ª indicação é a associação em alguns autores com o Cabo
Santo Agostinho, localizado em Pernambuco. O autor mais antigo, Martire d’Anghiera,
na versão de 1504 de suas décadas,
ignora o nome de Cabo Santo Agostinho, na versão de 1511, afirma que o cabo foi
atingido, a 20 de janeiro de 1500, mas foi-lhe dado o nome de Santa Maria de
la Consolación, e no relato de Anghiera, de 1516, os cálculos de distância
não coincidem com a da versão anterior. Em 1513, o próprio Pinzón nas Probanzas afirmou que descobrira o cabo
de Consolación e que este é o cabo de Santo Agostinho. No entanto, a
confiabilidade desta informação é questionável, pois parece que os espanhóis
nem sequer sabiam onde ficava o cabo de Santo Agostinho e não se pode
considerar seu testemunho, nestas Probanzas,
como legalmente isento. Além disto, nestas Probanzas, a maior parte dos membros da
tripulação indicou como local de chegada o Cabo
Rostro Hermoso e, para quase todos, a navegação ao longo da costa coincidiu
com o rumo noroeste e não norte. Portanto, a controvérsia persiste. Para
alguns pesquisadores portugueses e espanhóis, Pinzón teria desembarcado ao
norte do cabo Orange, nunca tendo
passado das Guianas. Para outros pesquisadores, que se basearam no depoimento
do próprio Pinzón, o desembarque se deu no Cabo
de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco.
Outros julgam que foi a Ponta do Mucuripe, a 10 km ao sul da cidade de Fortaleza
(CE). Outras possibilidades também já foram aventadas, como o Cabo de São Roque
(RN) e a Ponta do Seixas (PB).
A favor do Cabo de Santo Agostinho (8º17’S,
pouco ao sul do Recife - PE) ser o Cabo
de (Santa Maria) de la Consolación, está a localização em 8,5º (1ª
indicação) em Gómara (mas esta indicação é bem tardia, de 1554) e as
declarações (3ª indicação) de Pinzón e outros nas Probanzas e o relato de alguns historiadores (mas estas afirmações
são questionáveis). Contra está e o rumo seguido após chegar à América do Sul,
que deveria ser norte até o Cabo Calcanhar, e só
então deveria se tomar a direção noroeste.
Além disto, o estudo
náutico de travessia, pelo especialista naval Almirante Max Justo Guedes,
baseados nos relatos da travessia nos vários autores e nos ventos existentes
nestas regiões, indica, na opinião dele, que a navegação ocorreu com ventos
alísios de Nordeste, a partir de Santiago (Ilhas de Cabo Verde) até as regiões
das calmarias equatoriais, seguido por travessia da região de calmaria e,
finalmente, a navegação com ventos alísios de Sudeste até a chegada, com tempo
recorde na travessia; conclui o Almirante, portanto, que o Cabo de (Santa Maria) de la
Consolación de Pinzón seria realmente a Ponta do Mucuripe (CE).
A favor da Ponta do
Mucuripe (3º42’ S, a 10km de Fortaleza - CE) ser o Cabo de (Santa Maria) de la Consolación, está a rota seguida
para oeste e não para norte e o supracitado estudo náutico dos ventos e
correntes marítimas. Contra, está a localização em 8,5º (1ª indicação) em Gómara
(mas esta indicação é bem tardia, de 154) e as declarações (3ª indicação) de
Pinzón e outros nas Probanzas e o
relato de alguns historiadores (mas estas afirmações são questionáveis).
Além disto, Pinzón fez, em 1504, nova viagem à
América do Sul, atrás de uma passagem para as Ilhas Molucas, quando, explorou o
Golfo do México e certamente passou pelas costas do Nordeste Brasileiro. Alguns
especialistas, como o professor Juan Manzano y
Manzano acreditam que pode haver confusão entre estas duas viagens, e
consideram que o ponto de chegada no litoral brasileiro na primeira viagem
(1500) teria sido a Ponta do Mucuripe (CE), enquanto que na segunda viagem
(1504) seria o Cabo de Santo Agostinho (PE). Há ainda outros autores, que acham
que toda a viagem de Pinzón ocorreu no litoral das Guianas e Venezuela e ele
nunca esteve no Brasil.
O Cabo Rostro Hermoso (e.3), uma faixa de areia que entrava pelo mar, é de difícil localização, pois não se tem
nenhuma indicação mais precisa de sua localização. Na verdade, nas Probanzas,
a maioria dos depoentes afirma que o local de chegada na América do Sul foi o Cabo
Rostro Hermoso e não citam o Cabo
de (Santa Maria) del a Consolación. Nenhuma destas fontes antigas citam os 2 cabos, tendo cada autor citado
um ou outro dos dois. É difícil, então, se precisar a relação entre estes 2
nomes. Não é crível que Pinzón tenha nomeado o mesmo cabo com 2 nomes
diferentes. É possível que os dois cabos sejam um único e mesmo cabo, que
recebeu nomes diferentes por exploradores diferentes (Pinzón e Lepe?), que
desconheciam o nome dado pelo outro explorador, e os vários autores posteriores
teriam escolhido um ou outro nome na hora de citar o local. Neste caso, Pinzón
teria dado o nome de Cabo de (Santa
Maria) de la Consolación, como ele
próprio afirmou nas Probanzas, e outro explorador o de Cabo Rostro
Hermoso, talvez o próprio de Diego de Lepe. Outra possibilidade, é que os
cabos serem distintos, mas próximos, e que algumas das testemunhas, por lapso
de memória, tenham errado o ponto de chegada no continente americano, achando
que tinham chegado inicialmente no Cabo Rostro Hermoso, quando, na
verdade, tinham chegado no Cabo de
(Santa Maria) de la Consolación,
que ficava próximo. No entanto, como já disse, nenhum dos autores cita os 2
cabos. Há ainda uma 3ª possibilidade, que os 2 cabos sejam realmente distintos,
mas que os diferentes autores achassem que fossem o mesmo cabo, com nomes
diferentes. Portanto o Cabo Rostro Hermoso é, ou o mesmo cabo que o Cabo de (Santa Maria) de la
Consolación, ou é um cabo muito
próximo. Alguns autores consideram que o Cabo de (Santa Maria) de la Consolación seria a Ponta do
Mucuripe (CE) e que o Cabo Rostro Hermoso, seria a ponta de Jericoara
(CE).
O Rio Formoso (e.4)
é de difícil localização, sendo a única indicação mais precisa de sua
localização a informação que ele ficava a 225km do Rio
Maranhón. Se se identificar o Rio Marañón com o Rio Amazonas, 225km a
oeste da foz dele seria algum rio do oeste do Maranhão. Considerando o
desembarque na Ponta do Mucuripe (CE), o rio Formoso possivelmente seria
o rio Curu (CE).
O Rio de Santa
Maria de Mar Dulce ou Marañón (e.5) também é sujeito a dúvidas. Nas Capitulações de 1501,
fala-se de um rio com o nome de Santa Maria de Mar Dulce. D’Anghiera na
versão de 1516, já nomeia o rio de Maragnonum (Marañón, em
espanhol); Las Casas (1552) e Herrera (1611) também o nomeiam claramente Marañón. Além disto, é descrito o enorme
tamanho da foz deste rio e o fenômeno da pororoca. Portanto, este rio,
provavelmente, deve ser o Rio Amazonas. Deve-se, também, acrescentar que em
mapas antigos, o Cabo de Orange chamava-se Cabo de San Vicente, e o rio
Oiapoque, chamava-se Rio de Vicente Pinzón. No entanto, alguns autores julgam
que o Santa Maria de Mar Dulce seria o rio Orinoco.
Marinatambal (e.6) é de difícil localização, pois não se
tem nenhuma indicação mais precisa de sua localização. Em D’Anghiera é uma região, onde fica o Rio Marañón e relata que para leste fica
a região de Camomoro e para o oeste a de Paricora. Las Casas
(1552) e Herrera (1611) não citam Marinatambal e relatam os incidentes
aí ocorridos enquanto falam do Rio
Marañón. Oviedo (1557) cita Marinatambal como uma província que está dentro da costa do Marañón. Gómara (1590)
fala em Rio Mariatambal. Parece, então, que Marinatambal seria
o nome nativo da região onde fica a foz do Rio Marañón, provavelmente a foz do Rio Amazonas. Paricora é a região à oeste do Rio de Santa Maria de Mar Dulce ou Marañón.
Portanto, apesar de não haver consenso entre os
historiadores, é bem possível que Pinzón tenha descoberto o Brasil em 20 ou 26
de janeiro de 1500 e tenha explorado parte do litoral norte da América do Sul,
desde o nordeste do Brasil, passando pelas Guianas até o golfo de Pária na
Venezuela. Seria ele, então, provavelmente, o descobridor do Brasil e do Rio
Amazonas. No entanto, seu descobrimento faz parte da exploração do litoral
norte da América do Sul pelos Espanhóis, não tendo relação com o outro
descobrimento por Cabral, nem o influenciou, pois Cabral partiu de Portugal a 9
de março de 1500 e Pinzón só regressou à Espanha em 30 de setembro deste ano.
e.10)
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que á Vicente Yañez Pinzón y á sus sobrinos Arias Pérez y Diego Fernandez, se
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les dieron mercaderías al fiado para el viage que un año antes habian
emprendido con cuatro carabelas á descubrir por las Indias. apud NAVARRETE,
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Carta del ministro portugués Juan Méndez de Vasconcelos desde Logroño, al Rey
su amo, dándole parte de estar allí los pilotos Juan Diaz de Solís , un hermano
suyo y Juan Anriques: que aquel y este iban de capitanes en los tres navios que
se armaban en Lepe: que en opinión de ellos Malaca pertenecia á Castilla: con
otras cosas que oyó de ambos. Logroño, 30 de agosto de 1512. apud
NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los viajes y descubrimientos que
hicieron por mar los Espaholes desde fines del siglo XV. Tomo III. Madrid:
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carta del mismo á su Señor , participándole lo que el Rey Católico le había
respondido sobre ciertos asuntos de estado; en especial de la armada que se
aprestaba en Lepe , seguridades de que no tocaría en nada de lo de Portugal , y
sus deseos de que todo quedase demarcado. Habla mucho el embajador contra Juan
Díaz, de Solís : dice lo que supo de Anriques acerca del destino de dicha
armada; y concluye con otras varias noticias. Logroño, 07 de setembro de
1512. apud NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los
viajes y descubrimientos que hicieron por mar los Espaholes desde fines del
siglo XV. Tomo III. Madrid: Imprenta Real, 1825, pg. 129-130.
- Probanzas hechas por
el fiscal del Rey en lo pleito que siguió contra el Almirante de índias D.
Diego Colon, perguntas 7ª e 8ª. apud
NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los viajes y descubrimientos que
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Imprenta Real, 1825, pg. 542-547. DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto:
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http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/vicente-pinzon-510-anos-depois-1.713260
f) Diego de Lepe (1499-1500)
f.1)
Partida da Espanha (1499)
Diego de Lepe (1460-1515) era primo
de Vicente Yáñez Pinzón e irmão do piloto português João Rodrigo de Mafra. Apesar de não
ter experiência náutica, obteve do bispo Juan de Fonseca, inimigo de Colombo,
uma licença para resgatar pérolas. Nesta viagem iam os pilotos Bartolomé Roldán
e Pedro Sanchez do Castillo, os guias Bartholomé García (genovês), Andrés
García Valdin e García de Vedia e pelo menos um português, João Gonçalves, morador de Palos. Ele saiu de Palos (Juan Xerez) ou, segundo
outros, de Cádiz ou Sevilha, em dezembro de 1499, com 2 navios e passaram pela
Ilha do Fogo (Ilhas de Cabo Verde).
“Bartolomé Roldán [...]
[diz] que Vicente Añes foi descobrir mês e meio ou dois meses antes que
Diego de Lepe e depois foi o dito Diego de Lepe [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Juan de Xerez, [...] ao tempo
que Diego de Lepe partiu da vila de Palos para ir à dita viagem, [...] e
que o dito Diego de Lepe chegou ao Rio grande, e dali correu a costa até Paria,
e dali foi à ilha de Sant Juan e se foi à Castela [...].” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Depois de Vicente
Yañez [Pinzón] saiu outro descobridor, ou quiçá
destruidor, pelo mesmo mês de Dezembro e ano de 1499 anos. Este foi um Diego de
Lepe, morador do Condado, não sei se de Lepe ou de Palos e Moguer, porém a
maioria da gente que foi com ele, dizem, ter sido de Palos; levou dois navios
equipados.” (Las Casas, 1561,
Vol. II, Cap. CLXXIV)
“No fim do Mês de Dezembro, do mesmo Ano de
1499, saiu depois de Vicente
Yañez Pinzón, Diego de Lepe, Natural de Palos de Moguer, Vila do Conde de Miranda: e toda
a mais Gente que levou, era da mesma Vila: [...]” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 108)
Dirigiu-se para a ilha do Fogo (Cabo Verde) e
daí seguiu em rumo aproximadamente de Sudoeste.
“Bartolomé Roldán [...]
[diz] o dito Diego de Lepe no sudoeste de Cabo-Verde [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Luis do Valle, [...] 1º
de outubro de 1515: disse que o dito Diego de Lepe foi a descobrir, e esta
testemunha com ele em dita viagem, e tomaram sua derrota desde a ilha do Fogo
junto com o Cabo Verde, e correram no Sudoeste até que acharam a terra, [...]”
(Probanza, 1515, 8a Questão)
“Alonso
Rodríguez de la Calva, [...] em 1º de dezembro de 1515: diz que foi em companhia
do dito Diego de Lepe e partiram desde as ilhas de Cabo Verde em dois navios,
de um dos quais era capitão o dito Diego de Lepe, e seguiram a direção de
sudoeste 500 léguas [2.800km] pouco mais ou menos, até que
chegaram à terra, [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Cristóbal
García, [...] foi
a descobrir com Diego de Lepe, e que seguindo a dita viagem tomaram sua derrota
desde a ilha do Fogo de Cabo Verde, que foram correndo no Sudoeste, e daí em
400 léguas [2.230km] acharam terra e deram na ponta do Leste, e
dali foi descobrindo o dito Diego de Lepe por sua indústria e saber pela costa
ao longo até Paria, [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Da ilha
do Fogo, que é uma das de Cabo Verde, seguiu algo a Meio-dia, e depois ao
Levante, pelo caminho que fez Vicente Yañez; [...]” (Las Casas, 1561, Vol.
II, Cap. CLXXIV)
“[...] foi com dois
Navios à Ilha do Fogo, que é uma das de Cabo Verde:
navegou ao Sul, e depois ao Levante,
f.2)
Chegada à América do Sul (Nordeste do Brasil)
Após atravessar o oceano Atlântico, aportou na
América do Sul em um cabo que Las Casas (1552) e Herrera (1611) chamaram de Cabo de San Agustín outros já chamaram
de Cabo Rostro-hermoso.
Segundo outros, aportou na baía de Santa
Julia ou rio San Julián. Ele
tomou posse da região para Espanha, inclusive, gravando seu nome em uma árvore
muito larga.
“Fernando
Esteban, [...] em 1º de outubro de 1515 [...] indo
em companhia do dito Diego de Lepe, [...] Diego de Lepe tomou
posse para o Rei e a Rainha de Castela, e que em sinal de posse cortava ramos
das árvores principais, fez cruzes [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Luis do
Valle, [...] 1º
de outubro de 1515: disse que o dito Diego de Lepe foi a descobrir e esta
testemunha com ele em dita viagem, [...] correram no Sudoeste
até que acharam a terra, e que deram no Rostro-hermoso, e ali saltou Diego de
Lepe e tomou posse por SS. AA., [...], e dali correu a costa
leste-oeste, [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Alonso
Rodríguez de la Calva, [...] em 1º de dezembro de 1515: diz que foi em companhia
do dito Diego de Lepe [...] chegaram à terra, a uma baía que
esta testemunha e os outros que iam juntos lhe puseram nome de Santa Julia, e
na dita baía e terra que dito há, não acharam língua nenhuma, [...],
e dali correram contra o poente até chegarem ao rio de Marañon: [...]”
(Probanza, 1515, 8a Questão)
“Juan
Rodríguez que esteve na viagem de piloto, disse que Lepe descobriu desde o cabo
de S. Agustin até Paria toda a costa que é 600 léguas [3.350km], onde entram o rio grande e o
Marañon; [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Cristóbal
García, [...] foi
a descobrir com Diego de Lepe, [...] e estiveram no Marañon, [...] e
que lhe descobriram pela costa ao longo, e ninguém o havia descoberto, e que de
todo o que descobriu vinha tomando a posse para o Rei e Rainha de Castela desde
o rio de S. Julián, e que em sinal de posse fazia cruzes e as punha nas
árvores, e cortava e fazia outras diligências, assim como escrever seu nome em
uma árvore, em que agora está escrito, a qual árvore era mui espantável de
grossa ali no mesmo rio de S. Julián [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Pedro Sanchez del Castillo, piloto, [...] esta
testemunha foi descobrir por piloto com Diego de Lepe a terra firme e chegaram
à ponta que se diz de Santa Cruz, ao Sul ou ao Meio-dia [...], e o sabe
por que esta testemunha ia na dita viagem com o dito Diego de Lepe, por piloto
em outro navio que ia em conserva do dito Diego de Lepe [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“[...] chegaram ao cabo de Sant Agustín, e dizem que o
dobraram, passando adiante algo. Diego de Lepe tomou possessão pelos reis de
Castela, fazendo em todos os lugares que chegava atos que se chamam
possessionais, segundo direito, necessários; um deles foi, em que escreveu seu
nome em uma árvore de grandeza estranha, da qual, disseram, que 16 homens,
pegadas as mãos e estendidos os braços, não puderam abarcá-la.” (Las
Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“[...] chegou ao Cabo
de San Agustin, e o dobrou, e passou mais adiante, e fez
por toda aquela Terra quantos Autos Possessionais foram necessários,
para os Reis de Castela; e em um foi, que escreveu seu Nome em
uma Árvore de tão estranha grandeza, que não
puderam abarcá-la dezesseis Homens, pegadas as
mãos, e estendidos os braços, [...]” (Herrera,
1611, Vol. I, Década I, Libro IV, pg. 108)
f.3)
Rio Marañon
Depois retornou para o norte, tendo passado
pela foz do Rio Marañon (Rio
Amazonas?), aonde entrou e travou combate com os índios, tendo morrido dez ou
onze espanhóis e muitos índios foram mortos e capturados; alguns dizem que 20
índios foram capturados.
“Diego Fernandez Colmenero [...]
viu [...] ir descobrir o dito Diego de Lepe e que descobriu na terra
firme à parte do meio-dia que dizem marañon, e que antes que ninguém descobriu
naquelas partes [...] e soube da embaixada que trouxe o dito diego de
lepe. (Probanza, 1515, 8ª Questão)
“Juan Rodriguez, [...]
[viu] o Rio Grande [Orinoco] e o marañó e onde está no mar a água doce
[...]” (Probanza, 1515, 8ª Questão)
Juan González
Português, [...] em 1º de outubro de 1515: [...] foi com Diego de Lepe, e sabe que
descobriu a volta do levante, tendo saído do rio grande até outro rio que está
na costa, que se disse o rio grande de Santa Catalina, que está a mais de 300
léguas [1.700km] [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Luis do
Valle, [...] 1º de Outubro de 1515: disse que o
dito Diego de Lepe foi a descobrir e esta testemunha com ele em dita viagem, [...] deram no Rostro-hermoso, [...], e dali correu a costa Leste-Oeste [...] e foram a dar à Navidad [rio que forma o braço oriental da
foz do Marañón], onde tomaram certa gente, e andaram e descobriram mais de
700 léguas [3.900km] segundo que os pilotos diziam, e
que foram a dar ao rio grande que se chama Marañon, e dali foram a dar à Paria [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Alonso
Rodríguez de la Calva, [...] em 1º de dezembro de 1515:
diz que foi em companhia do dito Diego de Lepe [...] Santa Julia, e na dita baía [...], e dali correram contra o
poente até chegar ao rio de Marañon: a qual terra viu esta testemunha que
descobriu o dito Diego de Lepe a costa ao longo até que chegaram a Paría, [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Cristóbal
García, [...] foi a descobrir com Diego de
Lepe, [...] e estiveram no Marañon, e
ali lhe mataram onze homens [...]”
(Probanza, 1515, 8a Questão)
“Garcia Ferrando [...] sabe que o dito diego de lepe foi descobrir por sua
parte e chegou ao rio de marañon, onde receberam muita afronta dos índios [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Bartolomé Roldán [...]
e que entrou no Rio Grande, pelo qual subiu setenta léguas rio adentro, e
deu a volta pela costa do mar para o poente até chegar a Paria e que Vicente
Añes chegou naquela viagem entre Paria e o Rio grande, que havia descoberto
Diego de Lepe, e esta testemunha passou pela costa, até Paria, [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Alonso Rodriguez de La Calva, disse, [...]
que esta testemunha foi descobrir com Diogo de Lepe o Rio de Marañon e toda
a terra até a parte das pérolas por mandado de sua alteza, e que já estavam
descobertas a Paria, e tudo era uma costa, [...]” (Probanzas del Almirante,
1515, 13a Questão)
“Entraram no rio Marañon, e ali roubaram e
saltearam a gente que puderam, onde Vicente Yañez havia também tomado com
injustiça as 36 almas, que vinham pacíficos e confiados aos navios, e trouxe-os
por escravos. Parece, que como ficaram de Vicente Yañez contrariados e
experimentados, chegando o Diego de Lepe, puseram-se em armas, mataram-lhe 11
homens, e porque sempre hão de ficar os índios mais lastimados, deviam de matar
muitos deles e prender o maior número possível por escravos. ” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap. CLXXIV)
“Voltou ao Rio
Marañon, entrou nele, e, como
a Gente estava experiente, pelos trinta e seis
Homens, que levou dali Vicente Yañez, achou-a em armas:
mataram dez Castelhanos, porém, eles mataram muitos Índios, e capturaram outros.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I,
Libro IV, pg. 108)
f.4) Pária
Ele conduziu seus
barcos quase na mesma rota de Pinzón, bordejou a costa do Amapá, seguiu em direção às Guianas e
percorreu, em seguida, a costa da Venezuela e, tendo achado a região de Pária
alvoroçada, capturou alguns índios.
“Alonso Rodríguez de la Calva, [...] em
1º de dezembro de 1515: diz que foi em companhia do dito Diego de Lepe [...] e desde que chegaram a Paria
tomaram na ilha de Paria certos índios, os quais o dito Diego de Lepe trouxe
nos navios e os entregou ao Sr. bispo D. Juan de Fonseca na cidade de Sevilha [...]” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“Do rio Marañon, vieram
costeando a terra firme pelo caminho que havia feito Vicente Yañez [Pinzón]; de crer é que saltearia em alguns
lugares, e o que ali saltearam e mal fizeram, eles o sabem, [...]. Chegaram a Paria, e como
acharam as gentes dela estranhadas e alvoroçadas, pelos muitos que lhe haviam
matado, fazia poucos dias [...],
deviam de fazer-lhes guerra e cativar os que puderam ter em mãos; [...] em Paria tomou Diego de Lepe
certos índios, os quais, o dito Diego de Lepe, trouxe nos navios e os entregou
ao bispo D. Juan de Fonseca nesta cidade de Sevilha.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap.
CLXXIV)
“[...] e disse mais uma testemunha, que
nisto veio outro descobridor, que se disse Diego de Lepe, ali, e para provar o
Fiscal, que Diego de Lepe havia também descoberto terra, e não toda o
Almirante, dizem as testemunhas, que chegaram a Paria o dito Diego de Lepe e
sua companhia, e que tomaram ali certos índios, os quais depois ele entregou em
Sevilla ao bispo D. Juan de Fonseca. Estes não os pôde ele tomar senão fazendo
escândalo, injustiça e violência, e fora bem, que o bispo o examinara [...], porém nunca o senhor
bispo deste teve muito cuidado em todo seu tempo.” (Las Casas, 1561, Vol. II, Cap.
CLXXII)
“Foram costeando a Terra-Firme, pelo mesmo
caminho, que levou Vicente Yañez: chegaram a
Paria, e como acharam a Gente alvoroçada, andaram às mãos, e capturaram alguns Índios.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I,
Libro IV, pg. 108)
f.5) Retorno à Espanha
Diego de Lepe passou pelo Caribe e aí
achou Pinzón e decidiram ambos retornarem juntos; retornou em setembro do mesmo
ano à Espanha. Segundo alguns autores, Diego de Lepe, no Brasil, teria ficado
espantado com uma cruz que fora aí colocada por anteriores visitas de
portugueses. O historiador espanhol Juan Manzano y Manzano, atribui a
colocação da cruz a Duarte Pacheco Pereira que supostamente teria explorado esta
região em 1498 (ver acima em 2.b). Desta expedição resultou um
enorme saque e um mapa que teria sido feito para o Bispo Fonseca. Foi-lhe dada
mais uma licença para resgatar pérolas (15/11/1500).
f.6)
Conclusão
Angheria, Oviedo e Gómara não o mencionam. O seu
nome é, no entanto, citado por 10 testemunhas nos Pleitos Colombinos de 1512 a 1515 (Probanzas do Fiscal). As informações disponíveis são muito
escassas e confusas. Poucos nomes de locais são citados e o são sumariamente.
Não é possível saber os locais em que ele esteve.
A 28 de fevereiro de 1500, ele teria atingido
um cabo que batizou de Cabo Rostro Hermoso. Outros creem que ele chegou
ao litoral brasileiro em fevereiro de 1500, provavelmente em 12 de fevereiro,
por causa de um rio ao que ele teria dado o nome de San Julian, padroeiro desse
dia. Esse rio ficaria nas proximidades do Cabo Rostro Hermoso. Este
seria o Cabo de Santo Agostinho (PE), o Cabo de São Roque (RN),
as regiões costeiras de Mucuripe (CE) ou Cabo Branco. Dobrou o Cabo Rostro
Hermoso até certa distância e rumou para o sul até certo ponto (baía de
Santa Julia ou rio de San Julián, rio de Contas?). Lepe sabendo que se
encontrava em zona adjudicada a Portugal pelo tratado de Tordesilhas, e que a
licença que o Bispo Fonseca lhe concedera lhe proibia expressamente navegar
pelos domínios de Portugal, viu-se obrigado a seguir a costa para o norte. Ele
foi sempre costeando o litoral, aproveitando a luz do dia, reconhecendo a
costa, buscando porto seguro, rios com foz ampla e fundeadores bem protegidos
dos ventos e do mar forte. Afirma-se que ele explorou mais de 1.700km até
a foz do Rio Marañón. Também se debate sobre qual rio corresponde ao rio que
Lepe denominou Rio Marañón? Alguns
opinam que corresponderia ao Rio Pará, outros ao Amazonas, outros poucos ao Rio
Orinoco. O primeiro cosmógrafo que desenhou a costa oriental da América do Sul,
Juan de La Cosa, situava o Rio Marañón
de Diego de Lepe no Pará. Após o incidente em que morreram 11 espanhóis no Rio Marañón, Lepe continuou seguindo o
litoral, e viu outro estuário, este mais largo que o anterior, provavelmente o
do rio Amazonas, porém decidiu não levar a seus homens a terra temendo repetir
o conflito anterior no Rio Marañón.
Depois, após navegar algo menos de 1.700km, chegou a outro grande delta,
provavelmente o do Rio Orinoco, ao que nomeou Rio Santa Catalina, e que anos mais tarde foi conhecido pelos
espanhóis pelo nome de Río Dulce. Ele
realizou uma breve incursão por suas águas salobras e retornou de novo ao mar.
Desembarcou na Ilha de Trinidad, e ao entrar no golfo de Pária topou com os
navios de Vicente Yáñez Pinzón. Ambos decidiram continuar navegando juntos,
indo descansar em Puerto Rico.
No entanto, parece que Diego de Lepe teria
organizado 3 ou 4 viagens entre 1499 e 1503. Na última expedição (1503-1504?),
ele deixou os navios e as cartas aos espanhóis e regressou a Portugal, onde veio a
falecer enquanto preparava uma nova expedição espanhola à América. Não é,
todavia, possível saber com precisão, em qual das expedições teria atingido o
Brasil, e em particular o Rio Marañón.
No entanto, segundo alguns autores, lendo-se com a atenção os testemunhos,
concluir-se-ia que este feito, a ter existido, só teria ocorrido depois de
1504. As
provas da descoberta do Brasil por Diego de Lepe são baseadas em testemunhos
muito contraditórios expressos nos Pleitos
Colombinos (Probanzas) em 1515,
interpretados de forma contestável por Las Casas e copiado por António de
Herrera, que fez alguns acréscimos. Portanto, o possível descobrimento do
Brasil por Diego de Lepe é incerto e contestável, mas possível.
f.7) Bibliografia
- Probanzas hechas por
el fiscal del Rey en lo pleito que siguió contra el Almirante de índias D.
Diego Colon, pergunta 8ª. apud
NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los viajes y descubrimientos que
hicieron por mar los Espaholes desde fines del siglo XV. Tomo III. Madrid:
Imprenta Real, 1825. pg. 542-547. DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto:
Litografia Nacional, 1921. Pg. 203-216
(Original de 1513 e 1515)
- LAS CASAS,
Bartolomeu de. Historia de las Indias. Vol. II. Madrid: Imprenta de Miguel Ginesta, 1875. Cap. CLXXIV.
(original, 1561)
- HERRERA, Antonio de. Historia
General de los Hechos de los Castellanos en las Islas y Tierra Firme del Mar
Oceáno. Vol. I. Madrid: Imprenta Real de Nicolás Rodriguez Franco, 1611.
Livro IV, Cap. VII.
- ROUSELOT DE SURGY,
Jacques Philibert. Histoire générale des
voyages, ou Nouvelle collection de toutes les relations de voyages par mer et
par terre qui ont été publique jusqu’à present... Vol. 12. Paris: Didot,
1746. pg. 97.
- NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de los
viajes y descubrimientos que hicieron por mar los Espaholes desde fines del
siglo XV. Vol. III. Madrid: Imprenta Real, 1825. pg. 23-24.
- IRVING, Washington. Voyages and discoveries of the companions of
Columbus. Philadelphia: Carey and Lea, 1831.
- HUMBOLDT, Alexander von. Examen Critique de l’Histoire de la
Geographie du Noveau Continent et des Progrès de l’Astronomie Nautique au
Quinzièm et Sezième Siècles. Paris: Librairie de Gide, 1836-1839. Vol. 1,
pg. 314.
- VARNHAGEN, Frederico Adolfo. Historia geral do
Brazil. Vol. I. 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa E. e H. Laemmert, 1877. pg. 80.
- CAPISTRANO DE ABREU, João. Descobrimento
do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI. Rio de Janeiro: Leuzinger e
filhos, 1883, pg. 25-26
- MEDINA, JOSÉ Toríbio. Juan Diaz de Solis. Estudo Historico.
Santiago de Chile: Impresso en la casa del autor, 1897.
-
DIAS, Carlos Malheiro. História da
Colonização Portuguesa do Brasil. Porto: Litografia Nacional, 1921. Pg.
186-195.
- BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as
primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. Rio de Janeiro: Editora Objetiva
Ltda., 2006.
- HOLANDA, Sérgio Buarque de et al. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo
I. Volume 1. A Época Colonial. Do
descobrimento à Expansão Colonial. 20ª ed. Rio de Janeiro: Betrand Russel,
2015.
g) Alonso Velez de Mendoza (1499-1500)
Alonso Velez de Mendoza
(fim do século XV-1511) era comendador da Ordem de Cristo e explorador
espanhol. A informação básica sobre esta viagem é dada pelo piloto Juan
Rodriguez Serrano, nas Probanzas, em
13/11/1515, onde afirmou que Alonso Velez de Mendonza havia descoberto o
Brasil em 1499.
“Juan Rodriguez Serrano, piloto de Sua Alteza, dou parecer
sobre certas coisas que V. M. me mandaram que dissesse e desse meu e firmado de
meu nome, e eu dou parecer no dia de hoje, na data desta minha assinatura, que são
treze dias do mês de novembro de mil quinhentos e quinze anos, e depois de dado
parecer ante V. M. me ensertaram uma carta de sua Alteza, a qual carta me foi
lida, sobre onze portugueses que trouxeram presos da Ilha Española, os quais
vieram sob acusação de que haviam tocado na terra do Rei nosso Senhor, e que disséssemos
e declaramos, cada um por si, o que nos parecia digo senhores, no que alcançou
deste negócio que há dezesseis anos pouco mais ou menos que parti desta dita
cidade [Sevilha] em duas caravelas que foi
por capitão Alonso Vellez de Mendoza e fomos às Ilhas de Canárias e dali fomos
na ilha de Santiago que está nas Ilhas de Cabo Verde, e sendo ali partimos da dita
Ilha de Santiago pelo sul certa quantidade de léguas diárias o tempo que não
correr … pelo sulsudoeste e sem caminhar outro caminho nenhum, fomos no cabo de
Sant Agustin algo da parte do norte cinco ou oito léguas e dali dobramos o dito
cabo sem nenhum trabalho para a parte do sudeste certa quantidade de léguas em
que neste tempo eu era homem mancebo e não me entendia nada das alturas e pelo
que agora entendo, digo que me é isto duvidoso, que o cabo de Sant Agustin está
em oito graus como dizem, mas, o que eu ouvi dos pilotos que iam em ambos os
navios, conforme o caminho que haviam feito davam quinhentas e sessenta léguas
desde a ilha de Santiago até o cabo de Sant Agustin nornordeste-susudoeste, e
também digo que ouvi que desde o Cabo de Sant Agustin a Paria correm noroeste-sueste
e que há seiscentas léguas e não sei mais do que dito tenho já sobre o que V.M. mandam que dê meu parecer e digo que não se
pode saber a verdade se não se vai ver de vista de olhos.” (Parecer de Juan Rodriguez Serrano,
1515)
“Arias
Pérez disse, que sabe do contido na dita pergunta, descobriram Francisco Velez,
comendador, morador de Moguer, e que o descobriram no tempo que esta testemunha
havia vindo de descobrir em sua viagem, e que pela informação que dele tiveram,
foram adiante e dobraram a ponta de S. Agustín e foram à volta do Sul e
descobriram a costa por sua indústria, [...]” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“André de Morales [diz que depois de
Diego de Lepe] foi outro que se dizia Alonso Vellez e descobriu, desde o
cabo de Cruz, na parte do meio-dia, tudo o que está descoberto.” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Juan de Xerez, [...] [conta que saiu
com Vicente Yañez depois de ter partido Diego de Lepe] e em quatro ou cinco
meses esta testemunha partiu. Alonso Vellez e Luys Guerra partiram de Sevilla e
foram descobrir o que está contido nesta pregunta, e descobriram desde a ponta
de Santa Cruz, à banda do Sul, até o término que agora está descoberto.” (Probanza,
1515, 8a Questão)
“Anton Garcia, [...] [narra que
Diego de Lepe, Vicente Yañez e outros] saíram juntos e esta testemunha e os
que com ele iam, que eram Luys Guerra e Alonso Vellez, chegaram ao contido na
dita pergunta, e os ditos Diego de Lepe e Vicente Yañez ficaram mais atrás na banda
do norte.” (Probanza, 1515, 8a Questão)
“O piloto do Rei Juan Rodríguez Serrano que havia
navegado nas caravelas que mandou Alonso Velez de Mendoza, pelos anos 1499 ou
1500, para o cabo de S. Agustín, e o dobraram, nada sabe de certo porque então
era mancebo.” (Registro, 1519)
A outra informação que
se tem é que em 20 de julho e em 18 de agosto de 1500 ele estava solicitando
autorização (Capitulação) para ir explorar a América do Sul.
“Na mui
nobre e mui leal cidade de Sevilha, segunda vinte dias do mês de julho, ano do
Nascimento do nosso Salvador Jesucristo de mil e quinhentos anos [...] um dos quatro navios que o Comendador
Antonio Velez de Mendoza tem de licença de suas Altezas para ir a descobrir
ilhas e terra-firme pelo mar Oceano, e que o dito navio que ele forneceu, é o
dito navio nomeado S. Cristóbal, de que é Mestre o dito Cristóbal Rodriguez
Tiscarenho; [...] Primeiramente que
por quanto suas Altezas vos dão licença para que possais ir com quatro navios a
descobrir ilhas e terra-firme pelo mar Oceano às partes das Índias, ou a outra
qualquer parte, que não sejam das ilhas e terra-firme que até aqui são
descobertas pelo almirante D. Cristóbal Colon e por Cristóbal Guerra e por
Alfonso de Hojeda nem das que serão
descobertas antes que vós partais, por outras pessoas das que foram com mandado
e licença de suas Altezas a descobrir, nem das ilhas e terra-firme que
pertencem ao Senhor Rei de Portugal [...] Depois desta Quarta vinte e dois dias do dito mês de Julho do dito
ano, apareceu diante de nós, os ditos escrivães, o dito Comendador Antonio
Velez de Mendoza [...] Depois desta
Terça dezoito dias do mês de Agosto do dito ano de quinhentos anos, apareceram
diante de mim [...] o dito Comendador
Antonio Velez de Mendoza [...]” (Capitulación,
1500)
Segundo alguns, Velez
de Mendonza foi apenas um dos companheiros de Diego de Lepe. Segundo outros,
ele fez efetivamente uma viagem e foi o primeiro que dobrou o cabo de Santo
Agostinho para o sul. Ele teria partido do Rio Guadalquivir em dezembro de
1499, com 2 caravelas, Santi Spiritus
e San Cristóbal, com o
apoio econômico dos irmãos banqueiros Luis Guerra e Cristóbal Guerra, os quais
impuseram a participação do escrivão Antón García e do próprio Luis Guerra; a
tripulação incluía o veterano piloto Bartolomé Roldán. Após parar nas Ilhas
Canárias e Cabo Verde, tomaram o rumo sudoeste, chegando às costas brasileiras
na altura do Cabo de San Agustín. Por ser outono, os ventos alísios os levaram
para o sul até chegarem a um rio que ele denominou Rio Cervutos, talvez quase até o Rio da Prata. Ele teria sido o
primeiro espanhol a ir ao sul do Cabo Santo Agostino e teria provado que esta
terra não era uma ilha e que pertencia a um continente e que ao prolongar-se ao
sul, entrava na jurisdição portuguesa. Mas, também, ao navegar para o sul,
comprovou que o litoral se dirigia para sudoeste, o que faria que a parte sul
do continente entrasse novamente na jurisdição espanhola. Teriam regressado em
julho de 1500.
Navarrete (1825),
depois de estudar atentamente o assunto, chegou à conclusão que a expedição
nunca se realizou, tudo o que se havia escrito sobre a mesma era uma completa
falsidade.
“[...] porque se se examina o primeiro
artigo da capitulação feita com o comendador Alonso, que publicamos (tom. II,
pág., 247), e que só se lhe permite ir a descobrir pelas partes não descobertas
pelo Almirante Colon, por Cristóbal Guerra, nem por Alonso de Hojeda, nem das
que serão descobertas antes que vós partáis, por outras pessoas das que foram
com mandado e licença de SS. AA. a descobrir, se inferirá claramente que Lepe,
Pinzón e outros que saíram a descobrir com licença dos Reis, não haviam
retornado de suas viagens em 20 de julho de 1500. Como, pois, pôde fazer aquela
viagem o comendador Alonso quando não somente naquele mês de julho, senão em 18
de agosto estava ainda concluindo sua capitulação para ir a descobrir com
quatro navios, e em 15 de fevereiro de 1501 fez, segundo Herrera (D. I, 1ib 4,
c. 12) [ver abaixo], um assento
para levar famílias à ilha de Santo Domingo? Como pode verificar uma viagem em
que dobrou o cabo de S. Agustín em pouco mais de cinco meses? Nos pareceres
dados em 13 de novembro de 1515 sobre a situação do cabo de S. Agustín por
vários pilotos, somente Juan Rodríguez Serrano fala da viagem que fez com o
comendador Alonso, dizendo: “Faz 16 anos, pouco mais ou menos, que parti desta
dita cidade (Sevilla) em duas caravelas, que foi por capitão Alonso Velez de
Mendoza"; e que desde Canárias se dirigiram às ilhas de Cabo Verde, e dali
ao Cabo de S. Agustin e o dobraram; porém ele era mancebo, e não sabia de
navegação. Poderia deduzir-se daqui que o comendador Alonso saiu para esta
expedição a fins de 1499 ou em 1500 com duas caravelas; porém ele mesmo se
achava capitulando para ir com quatro em Julho e Agosto de 1500 a descobrir
pelas partes não descobertas por outros antes da sua saída; e como o fiscal na
pergunta oitava do pleito com os filhos do Almirante disse que Lepe e os que
com ele foram, descobriram desde o Cabo de S. Agustin a costa que volta para o
meio-dia ou o sul, até o término que então estava descoberto, porque nem antes
nem depois o Almirante nem outras pessoas não haviam ido a descobrir naquelas
partes, prova-se com maior fundamento que Alonso Velez de Mendoza não foi com
posterioridade a Lepe a descobrir pelas costas do Brasil; e que talvez sua
expedição, com as quatro caravelas, não teve efeito por haver chegado, antes de
empreendê-la, Pinzón e Lepe, com a notícia de seus descobrimentos, e de que em
toda a costa ao sul da equinocial, desde o cabo de Santa María até o de S.
Agustin, só havia muito pau-brasil e nenhuma outra coisa de proveito, como
expressa Enciso na Suma de geografia que imprimiu em Sevilha no ano de 1519.
Isto é tanto mais provável quanto nada consta sobre a viagem e descobrimento do
comendador Alonso, como sucede com os que deveriam fazer Juan Escalante,
morador de Palos, de que fala Herrera (Déc. I, lib. 4, cap. 12) e Juan Dornelos
e Juan de Agramonte, [...]” (Navarrete, apud Probanzas, 1825)
“[...] [Assento] com Alonso Velez de Mendoça,
para levar cinquenta moradores casados, às Indias, nesta frota do Comendador
Nicolas de Ovando.” (Herrera, 1611, Vol. I, Década I, Libro IV,
Cap. XII)
Alguns autores acham,
no entanto, que na verdade a viagem realmente aconteceu, mas posteriormente a
agosto de 1500. As notícias que haviam chegado de Portugal do descobrimento do
Brasil por Cabral teriam levado o bispo Juan de Fonseca a organizar uma
expedição que confirmasse este descobrimento e o comparasse com os anteriores
feitos pelos espanhóis. Concedeu (Capitulação), então, o bispo espanhol, ao
explorador espanhol Alonso Velez de Mendoza, em 20 de julho de 1500, licença,
em nome dos Reis Católicos, para navegar às Índias. Ele, então, teria partido
do Rio Guadalquivir em setembro de 1500, e alcançado o Cabo de Santo Agostinho
em outubro de 1500, retornando para a Espanha em maio ou junho de 1501. Portanto,
parece pouco provável, que ele tenha vindo ao Brasil antes de Cabral.
Bibliografia
- Probanzas hechas por el fiscal del Rey en lo
pleito que siguió contra el Almirante de índias D. Diego Colon, apud NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de
los viajes y descubrimientos que hicieron por mar los Espaholes desde fines del
siglo XV. Tomo III. Madrid: Imprenta Real, 1825. Observación III
sobre la Declaración de Aríaz Paz à la
Octava Pregunta del Fiscal. pg. 594-595. DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do
Brasil. Vol. 1. Porto: Litografia Nacional, 1921. Pg. 203-216
- El Parecer de Juan Rodriguez Serrano, apud DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Vol. 1. Porto:
Litografia Nacional, 1921. Pg. 224-225.
- Capitulación hecha en nombre de los Señores Reyes
Catolicos con el Comendador Alonso Velez de Mendoza... apud
NAVARRETE, Colecion de los viajes y descubrimientos que hicieron por mar los
Espaholes desde fines del siglo XV. Tomo II. Madrid: Imprenta Real,
1825-1837. núm., CXXXV, pg. 247-252.
- Registro de copias de cédulas, previsiones &, de la Casa de la
Contratación desde 5 de Febrero de 1515 hasta 6 de Marzo de 1519, apud NAVARRETE, Colecion de los viajes y
descubrimientos que hicieron por mar los Espaholes desde fines del siglo XV. Tomo
II. Madrid: Imprenta Real, 1825-1837. pg. 320.
- HERRERA, Antonio de. Historia General de
los Hechos de los Castellanos en las Islas y Tierra Firme del Mar Oceáno.
Vol. I. Madrid: Imprenta Real de Nicolás Rodriguez Franco, 1611. Livro IV, Cap.
XII.
- NAVARRETE, Martin Fernandez. Colecion de
los viajes y descubrimientos que hicieron por mar los Espaholes desde fines del
siglo XV. Vol. III. Madrid: Imprenta Real, 1825. pg. 23-24.
- CAPISTRANO DE ABREU, João. Descobrimento
do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI. Rio de Janeiro: Leuzinger e
filhos, 1883, pg. 25-26
- MEDINA, JOSÉ Toríbio. Juan Diaz de Solis. Estudo Historico. Santiago
de Chile: Impresso en la casa del autor, 1897.
- DIAS, Carlos Malheiro. História da Colonização Portuguesa do Brasil. Porto: Litografia
Nacional, 1921. Pg. 195.
h) Conclusão:
Não se pode afirmar com certeza que
alguém tenha chegado ao Brasil antes de Cabral em 22 de abril de 1500. A
pretensão de Jean Cousin (1488) não tem nenhuma base e deve ser desconsiderada
nos nossos conhecimentos atuais. O mesmo vale para Duarte Pacheco Pereira
(1498). A pretensão de Vespucci (1499), também tem uma credibilidade muito
baixa. A pretensão de Vicente Yánez Pinzón (1499-1500) é bem séria e provável,
mas não se pode ter certeza absoluta. De qualquer forma, ele não influenciou
Cabral e fazia parte da exploração espanhola da costa norte América do Sul, que
se teria estendido um pouco para leste. A pretensão de Diego de Lepe
(1499-1500) é mais fraca que a de Pinzón, além de ser posterior a ele. A
pretensão de Velez de Mendoza (1500) também não tem nenhuma base e deve ser
desconsiderada nos nossos conhecimentos atuais.
Detalhe do mapa anterior. A terra descoberta por Cabral (Porto Seguro) é esta ilha à direita, e não está conectada com o resto do Brasil Detalhe do mapa anterior. A terra descoberta por Cabral (Porto Seguro) é esta ilha à direita, e não está conectada com o resto do Brasil |
Mapa de Cantino, ca. 1504, mostrando a costa do Brasil |
Mapa de Cantino, ca. 1504, mostrando a costa do Brasil, detalhe |
Mapa de Cantino, ca. 1504, mostrando a costa do Brasil, detalhe da costa da América do Sul |
Mapa de Cantino, ca. 1504, mostrando a costa do Brasil, detalhe da costa do Brasil |
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