1 – Localização:
Município de
Itaboraí, 2º. Distrito. Porto das Caixas. Avenida Nossa Senhora da Conceição,
s/n. (-22.701071, -42.879202)
2 – Histórico:
A devoção à Nossa Senhora da
Conceição começou no distrito de Porto das Caixas quando, após terem recebido
uma sesmaria em 1571, construíram em 19 de maio de 1595 a capela de Nossa
Senhora da Conceição, em estilo barroco. Em 1718 foi ereta uma igreja de
grandes proporções. Inácia das Neves, Senhora da Fazenda, em que se achava esta
Capela, lhe fez Patrimônio em 130m de terras em Porto das Caixas. A Fazenda e a
capela passaram em herança a Manoel José Bessa Negrão. De um lado desta Capela
havia uma Tribuna que podia servir para proteger desacatos e por isto Monsenhor
Pizarro ordenou, que se a tapasse com uma parede. Em 1747 só restavam a
capela-mor, o arco-cruzeiro e as ruínas das paredes externas da nave central,
quando Francisco Pinto Cardoso construiu a atual nave e a torre sineira.
“[A capela] Da
Senhora da Conceição do Porto das Caixas. Seus títulos não me foram apresentados, ou porque estejam anexam
os Autos de Patrimonio, ou porque se perdessem
com as passagens da Fazenda á vários donos. Parece, que foi ereta por Provisão do Ilmo. Sr. Bispo D.
Francisco de S. Jerônimo em data de 17/6/1.718. Inácia das Neves, Senhora que foi da Fazenda,
em que se acha esta Capela, lhe fez Patrimonio em 60 braças [130m] de terras sitas no mesmo
Porto das Caixas, como mostrou da certidão da Sentença,
em set. de 1.782. Passando a Fazenda por herança á Manoel José Bessa Negrão, com ela passou também a
Administração da Capela e por este novo Administrador
conserva-se asseada, renovada, e com os seus paramentos muito sãos. Só o Calix e Patena precisavam ser
novamente doirados, em razão dos defeitos com que estavam; e para isso concedí-lhe o
termo de 1 ano, em que a podesse concluir, e aprontar
tudo mais, de que necessitasse. A um lado desta Capela conserva-se um mui
superfluamente uma Tribuna, e que bem podia servir para protejer desacatos: por
esta causa ordenei, que se
tapasse com parede, para mais não servir em diante. Se em alguma destas Capelas se abrem Sepulturas, e
se fazem alguns Sacramentos, por falta de informação
do Vigário não posso dizer.” (Araújo,
1794)
“5.a de N. Senhora da Conceiçaõ, erigida no
Porto das Caixas, com Provisaõ de 17 de juho de 1718; mas decadente foi de novo
construida a que existe, por Francisco Pinto Cardozo , com Provisaõ de 13 de
janeiro de 1747.” (Araújo, 1820, pg. 206)
Daquela época, restam as paredes da
nave principal. Em 1837 o pastor
americano Daniel Parish Kidder visitou Porto das Caixas e a descreveu como uma
povoação dinâmica e relatou que a igreja estava sendo construída com pedras
vindas do Rio de Janeiro ou de uma ilha da Baía de Guanabara.
“O arraial do Porto das Caixas está
situado nas fraldas de um outeiro em cuja base serpeia o riacho que lhe dá o
nome e a sua razão de ser. É o ponto de encontro das tropas que trazem café e
açúcar das colônias de Nova Friburgo e Cantagalo, bem como de uma grande parte
da zona circunvizinha. Aí também carregam as mercadorias que voltam da capital
em troca de gêneros. Além de sua importância comercial, o lugar é conhecido por
ser a residência da família do Senhor Joaquim José Rodrigues Torres [Visconde de Itaboraí], cavalheiro que tem, repetidas vezes, feito parte do Ministério
Imperial. Antes de desembarcar, fomos prevenidos de que o povo que mora à beira
do rio é muito ignorante e que os habitantes mais esclarecidos residiam mais ao
alto, na cidade. Para lá nos encaminhamos então, [...] Apresentava um aspecto de progresso. Diversas casas bonitas
evidenciavam sua recente construção. Outras mais, do mesmo estilo, estavam
sendo erigidas; o mesmo se dava com uma espaçosa igreja para a qual as pedras
vinham do Rio de Janeiro ou de uma ilha de dentro da baía. Nos lugares mais
altos, o terreno dos arredores apresentava formação barrenta. [...] Pelo que pudemos saber, o Porto das Caixas
tinha, então, quinhentos habitantes, uma escola particular para ambos os sexos,
um médico residente na localidade, dois boticários e um sacerdote, pai de cinco
filhos” (Kidder, 1837, pg. 166)
Em 1855 a Assembleia Legislativa da
Província do Rio de Janeiro concedeu 2 loterias de 120 réis para as obras da
igreja. Em 30 de outubro de 1856, pelo Decreto nº 912, foi criada a freguesia
de Nossa Senhora da Conceição de Porto das Caixas, por desmembramento da
Freguesia de São João Batista de Itaboraí, com a seguinte delimitação:
“[...] pelo lado da freguesia de N. Senhora do Desterro de Itambi, o rumo vai
pelo rio Macacú, fazendo do Engenho Novo até ao rio da Aldeia, e por este à sua
junção com várzea. Pelo lado da freguesia de S. João Batista de Itaboraí, o
rumo que divide a fazenda que foi de Paulo Cesar de Andrade das terras da viuva
Campelo, estrada geral, lado esquerdo, até perto do Angelim, estrada de Iguá,
também esquerdo, até o Ingá e rio Cumbica até o Casseribú [...].”
Pela Deliberação de 12 de agosto de
1857, foram confirmados os limites determinados pelo Decreto nº 912 de 30 de
outubro de 1856. Em 1868 o Presidente da Província do Rio de Janeiro autorizou
auxiliar a Câmara Municipal de Itaboraí na construção de uma capela para o
cemitério. Em 1885 a Assembleia Legislativa novamente liberou verbas para
reparos da igreja. Em 1901 a igreja sofreu reformas, onde o madeiramento do
coro, que se encontrava estragado, foi substituído por um novo e a escada de
madeira que dava acesso ao coro foi trocada por uma de ferro, de forma
helicoidal. Em 1947, o pároco Hugo Montedônio Rego e o administrador Adail
Bento Costa reformaram o forro da capela lateral e realizaram uma pintura.
Entre 1969 e 1978, novas reformas substituíram o piso da capela-mor e da nave
central por placas de mármore, e houve a troca do forro por um novo, de friso
de madeira envernizado e construíram-se anexos ao lado da capela-mor, para
atendimento médico-dentário; nesta época também foram fechadas as arcadas do
térreo da torre sineira, para transformá-la em batistério. Em 1979, foram
construídos os anexos onde funcionam serviços de bar, restaurantes e banheiros.
A atual
igreja é uma superposição de duas igrejas de partidos arquitetônicos idênticos.
A primeira, de 1718, tinha proporções maiores e dela só restou a capela-mor e
as ruínas das paredes externas laterais. A segunda versão, mais modesta,
construção de nave principal e torre sineira, aproveitou a antiga capela-mor. A
porta principal e as laterais da igreja são ainda autênticas, inclusive as
ferragens. Merecem destaque as imagens de São Francisco de Assis, de Jesus
Cristo Crucificado, de Jesus
Cristo, de Santo Antônio, de São Benedito, de Santa Ana e de Nossa Senhora das Dores que datam
do século XVIII; acredita-se que pertenciam ao Convento de São Boaventura e
para aí foram quando aquele foi desativado em 1841. Também valiosa é a imagem
de Nossa Senhora da Conceição trazida de Portugal
e já citada em 1640. A pia batismal, em pedra sabão rosada, parece ter
pertencido, também, ao convento São Boaventura. No centro da sacristia, vê-se
uma laje com uma inscrição designando o túmulo do 1º Vigário de Itaboraí, Padre
Lucas Vieira Galvão.
A
imagem de Jesus Cristo Crucificado foi levada em procissão para a igreja Nossa
Senhora da Conceição em 1850. A estátua foi considerada milagrosa em
1968, por supostamente derramar sangue, e desde então é reverenciada por
peregrinos. Entre 1968 e 1990 a igreja foi palco de extensas romarias. Em 1986,
uma antiga imagem de Nossa Senhora das Dores, com seu semblante de candura,
olhos de luz e vasta cabeleira de um radial prateado, foi descoberta nas ruínas
do Convento de São Boaventura; no chão estava localizada a espada de prata
artisticamente lavrada, pertencente à imagem. Em 21 de setembro de 1986, às 9:30h,
foi conduzida à
Igreja de Nossa
Senhora da Conceição
de Porto das
Caixas, sob as aclamações dos romeiros. A Igreja foi tombada pelo Inepac em
2001. No cemitério da igreja foram inumados personagens famosos e ilustres como
o Visconde de Itaboraí. A venda de santinhos e lembranças ocupou a praça
principal do distrito e transformou-se em importante atividade econômica de
Porto das Caixas. A festa de Nossa Senhora da Conceição é celebrada em 08 de
dezembro e é a santa padroeira de Portugal e dos países de língua portuguesa. A
igreja é atualmente a matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Porto
das Caixas, mas de há muito que esta paróquia está anexa à de São João Batista
de Itaboraí; é subordinada à diocese de Niterói.
3 – Descrição:
A Igreja
Nossa Senhora da Conceição situa-se num alargamento da rua principal de Porto
de Caxias, onde desenvolve-se um casario baixo, que ainda guarda um pouco da
aparência antiga do centro histórico. A igreja tem uma orientação geral
norte-sul, com maior eixo ântero-posterior e frente virada para o norte. O telhamento
é em 2 águas. A igreja possui uma área aproximada de 18,20 x 7,20 metros e
capacidade para 70 pessoas sentadas. A igreja possui um adro com mureta e
gradil, que a separa da rua; o acesso à igreja se faz através de alguns
degraus, que a posicionam em patamar elevado em relação à rua. Em frente ao
santuário, sobre um pilar, há uma estátua em mármore de um lindo anjo, espólio
de um jazigo.
A
fachada anterior exibe dois frontões triangulares, um na torre, arrematado por
duas pequenas volutas e o outro na nave, ambos encimados por crucifixos e
ladeados por pináculos triangulares que se alinham aos cunhais. Os cunhais
colocam-se um em cada uma das bordas e outro entre a nave e a torre sineira. A
torre sineira possui a mesma altura da nave e possui no térreo dois arcos
fechados, com janelas ovais na parte superior do antigo vão dos arcos. Na parte
superior da torre, encontram-se 2 vãos para campanários com sinos, gradeados no
século XX, por motivo de segurança. A nave possui uma porta de entrada de verga
em arco abatido, sem sobrevergas, com duas janelas no coro, também de verga em
arco abatido, sem sobrevergas. Um entablamento corre em toda extensão da
fachada superior da nave e da torre sineira. No lado esquerdo, a torre sineira
se destaca um pouco da fachada, com o arco fechado com janela oval e um vão
para campanário com sino, semelhantemente à fachada anterior. Há cunhais nas
duas bordas laterais da torre, com pináculos no topo e um frontão triangular
com volutas e uma cruz no alto. Depois temos 5 janelas retangulares e 2 portas
no 1º andar e 6 janelas retangulares no 2º andar. Na parede direita há uma
porta de entrada de verga em arco abatido, sem sobrevergas; pode-se ainda ver
restos de uma das duas paredes primitiva, deixada exposta, com uma placa com os
dizeres “Ruínas da primitiva igreja 19-05-1855”. No meio da fachada direita há
uma estrutura mais nova, que se estende para trás e para a direita. Na parede
posterior há um recesso com porta e basculante; no 2º andar há 2 janelas.
A igreja
tem nave retangular e capela-mor, cobertas por abóbadas de berço, além da
capela do santíssimo, sacristia e outras dependências. Na entrada da igreja
fica o coro, no alto, com as suas 2 janelas. Nas paredes anteriores e laterais
ficam pendurados pequenos quadros representando as estações da paixão de
Cristo. A parede interior direita tem logo no início uma pia de pedra e depois
uma porta para o exterior. A nave central, no lugar das capelas laterais,
apresenta nichos, semelhantes a vitrines, onde apresentam, as imagens de São
Francisco de Assis, uma santa e um documento comprovando o milagre ocorrido em
1968 (lado direito), e Nossa Senhora das Dores, Cristo carregando a cruz e
outro Cristo em pé (lado esquerdo). No lado esquerdo, logo após a entrada há um
vão em arco, para a base da torre sineira, que serve de batistério. Após os
nichos, fica o arco do cruzeiro e, logo depois, a capela-mor. A capela-mor tem
uma porta à direita para o anexo e à esquerda para a capela do santíssimo. De
cada lado, depois da porta fica um quadro pintado pelos jesuítas; no alto há 2
tribunas. O altar-mor é em estilo neoclássico. Quatro colunas acaneladas
brancas com detalhes dourados, como todo o altar-mor, ladeiam o camarim onde se
localiza a imagem. Acima do altar-mor fica um disco do qual saem projeções
douradas. Na parede posterior do altar-mor, de cada lado, exteriormente às
colunas do altar, há uma pequena porta embutida na fachada. No altar-mor se
encontra a imagem do Jesus Crucificado, à qual é atribuída o milagre de ter vertido
sangue em 1968. A imagem mede 1,30m e está presa em uma cruz de 2m. A cabeça
coroada de espinhos está inclinada; os braços estão abertos e há sangue saindo
das feridas.
À
esquerda da capela-mor fica a capela do santíssimo, onde se vê na parede
anterior, restos não rebocados da parede original da igreja. Na sua parede
externa, há um nicho, onde fica a imagem de Nossa Senhora da Conceição, e duas
janelas; na parede posterior há o altar do santíssimo, com 2 anjos e uma
pintura. À direita da capela-mor fica o anexo, com um portão de ferro, que é o
mesmo que dava acesso ao cemitério, que se estendia até atrás da igreja.
4 – Visitação:
Telefone: (21) 3639-6205 Horário: Diariamente, das 09:00h as 16:00h.
5 – Bibliografia:
ARAÚJO, José de Souza Azevedo
Pizarro e. Visitas Pastorais de Monsenhor Pizarro ao recôncavo do
Rio de Janeiro. Arquivo da Cúria e da Mitra do Rio de Janeiro
(ACMRJ), Rio de Janeiro, 1794.
ARAÚJO, José de Souza Azevedo
Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das Províncias
anexas à Jurisdição do Vice-Rei do Estado do Brasil, vol. 3. Rio de
Janeiro: Impressão Régia, 1820.
REZNIK, L. et al. Patrimônio cultural no leste
fluminense: história e memória de Itaboraí, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu,
Guapimirim, Tanguá. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2013.
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