BRASIL: RJ: ITABORAÍ:
Vila de
Santo Antônio de Sá -
Village of Saint Anthony of Sa
1 – Localização:
Município de Itaboraí, 2º.
Distrito. Porto das Caixas (22°39'23.28"S, 42°53'26.64"O)
2 – Histórico:
A Vila de Santo Antônio de Sá é a 2ª Vila
fundada no Estado do Rio de Janeiro, mas dela, atualmente, só restam ruínas. Após
a expulsão dos Franceses da Cidade do Rio de Janeiro a Coroa Portuguesa iniciou
uma política de distribuição de terras no entorno da Baía de Guanabara com
objetivo de povoar as mesmas e controlar as rotas para o interior. Os primeiros registros de ocupação do
território da futura Vila de Santo Antônio de Sá datam por volta do ano de 1567,
logo após a expulsão dos franceses da Baia de Guanabara, com a ocupação das margens
do Rio Macacu.
A ocupação dos baixos leitos tinha tanto objetivo econômico, com a produção
agrícola para exportação e abastecimento interno, quanto objetivo geopolítico,
pois restringia o acesso às regiões das minas no interior.
As terras da bacia do rio Macacu foram
doadas em Sesmarias por Men de Sá, Governador Geral do Brasil, em 25 de
dezembro de 1567, ao escrivão da Fazenda Real de Portugal e secretário
particular do rei D. Sebastião I, Miguel de Moura, por instâncias de Cristóvão de
Barros, que as pediu para aquele, em razão de amizade, ou por algum outro motivo,
com as medidas de 4.500 braças (9,9km; Pizarro: 3 léguas [20km]) de testada,
ficando o Rio de Macacu em meio, e 12.000 braças (26,4km) de sertão (ou seja,
uma área de 118,8 km²), a maior de todas as sesmarias doadas durante o século
XVI no Rio de Janeiro; outra sesmaria doada no restante da bacia do rio Macacu
foi a de Cristóvão de Barros, capitão-mor de uma frota de três galeões que
haviam chegado ao Rio de Janeiro para o ataque aos franceses, com as medidas de
6.000 braças (13,2km) de largura e 9.000 braças (19,8km) em direção ao interior
a partir do limite das terras de Miguel de Moura.
“É de saber, que por Mendo de Sá Cap. da Cidade de
S. Salvador da Bahia, e Governador Geral de todas as Capitanias e terras
de toda esta Costa do Brasil, foram dadas em
Sesmarias aos 25/10/do ano de 1.567. todas as terras compreendidas na distância
de 3 leguas de largo / ficando o Rio de Macacú em meio / e quatro de fundo para o Sertão, a Miguel de Moira, Escrivão da
Fazenda d´El Rei, por instâncias de Cristóvão
de Barros, que as pediu para aquele, em razão de amizade, ou por algum outro termo.”
(Araújo, 1794)
“He de saber, que Mem de Sá, Capitão da Cidade do
Salvador da Bahia, e Governador Geral de todas as Capitanias da Costa do Brasil
, à instancia de Christovaõ de Barros , (Capitão Governador do Rio de Janeiro
em tempo posterior) concedeu a Miguel de Moura, Escrivão da Fazenda d'El-Rei,
nove mil braças de terra de largo , ficando em meio d’ellas o Rio Macacu , e doze
mil para o Sertaõ de ambas as partes do mesmo Rio, por Sesmaria de 29 de
Outubro de 1567 , como se declarou no Liv. III de Sesmarias de 1567 à 1568.” (Araújo,
1820, vol. 2, pg. 184)
Principiou-se a medir estas terras em 6 de julho de 1571; e por esta medição
se veio a descobrir dentro delas a Aldeia Tapazora, ou Tapocorá, e
Morahasey, de que era o chefe o índio Boissininga. Todavia, Miguel de Moura
jamais veio ao Rio de Janeiro para colocar em prática a colonização de suas
terras e Cristóvão de Barros acabou por doar sua parcela para a Companhia de Jesus em 1571. De Miguel de Moura
passou a Sesmaria para a Companhia de Jesus,
por doação em Escritura de 18 de outubro de 1571. Esta doação foi
confirmada em Lisboa em documento de 06 de dezembro de 1571 e endossada através
de registro no Rio de Janeiro pelo Governador Cristóvão de Barros em 27 de
Outubro de 1573, dia em que Gonçalo de Oliveira, procurador do Colégio de
Jesuítas tomou posse das mesmas. Em 1579, após o fim da guerra com os Índios,
teve início a medição das terras, tarefa que durou até 1599. Nesse mesmo
período outras Sesmarias foram doadas na região, ampliando a ocupação do
entorno da Baía de Guanabara.
“Em
conseqüência á esta conceção foram medidas, ou principiadas a medir-se as terras aos 6/7/1.571; e por esta medição se veio a
descobrir dentro delas a Aldêa Tapazora, ou Tapocorá, e outra chamada
Morahasey, de que era o principal gentío um, por nome Boissininga, [...].
Do dito Miguel de Moira passou a Sesmaria aos PP. da Cia. de Jesus, por doação em Escritura de 18 de outubro do dito ano de
1.571; e persuadidos estes que não
podiam possuir terras, sem que S. Mag. houvesse de permitir-lhe esta faculdade; obtiveram do Sr. Rei. D.
Sebastião a confirmação da mesma Sesmaria, em Carta sua de doação passada
em Lisboa aos 6/12/1.571.” (Araújo,
1794)
Os padres Jesuítas venderam uma parte das
terras, contíguas à sua fazenda em Papucaia, a Manoel Fernandes Ozouro que, em
1612, construiu uma capela, sob a invocação de Santo Antônio, entre os rios
Macacu e Cacerebu (atualmente em Porto das Caixas, Itaboraí); esta capela
dependia da freguesia da Candelária, a segunda fundada na cidade do Rio de
Janeiro, e que englobava a maior parte da baía de Guanabara, excluída a cidade
do Rio de Janeiro. Uma área de 350 braças (770m) de terras ao redor da capela
foi destinada aos clérigos que mantinham as atividades desta capela, sendo
aumentadas em mais 100 braças (220m) quando da criação do curato. A Ermida foi transformada em Cura, em escritura de
11 de agosto de 1624.
“Feitos
Senhores destas terras, passaram a dividi-las, e fazer vendas á diversas
pessoas: entre essas foi uma o dito Manoel
Fernandes Ozouro, que primeiro comprou 350 braças, e dentro delas fez a Ermida de S. Antonio, para cuja sustentação
as hipotecou todas no ano de 1.612: e havendo depois maior porção delas
em compra no ano de 1.614, quando se tratou de fazer criar-se a Cura, ou Freguesia na mesma Ermida, por Escritura de
11/8/1.624 eximindo-se da hipoteca geral, doou / além das 50 braças em quadra
na frente da Ermida, para a Igreja e Fabrica / 100 braças em quadra por
trás da Igreja, para nelas fazer suas casas,
e assento, o Vigário, que o Prelado puzesse nesta Igreja.” (Araújo, 1794)
“Senhor da dada, o dito Moura , doou-a aos Padres
Jesuitas por Escritura de 18 de Outubro de 1571; e os novos proprietários naõ
se descuidaram de confirma-la por El-Rei D. Sebastião, em Carta lavrada á 6 de
Dezembro do mesmo anno. Parte das terras declaradas vendeu o Collegio a Manoel
Fernandes Ozouro, que, com permissão do Prelado Aborim , fundou uma Capella em
sitio entre os Rios Cassarébu , e Aquápehy-Assu , dedicando-a à Santo António
no anno de 1612 , e hypothecando-lhe trezentas e cincoenta braças de terra para
sua subsistência.” (Araújo, 1820, vol. 2, pg. 184)
Nas terras ao redor da capela de Santo
Antônio, do início do século XVII em diante, fixaram-se diversos trabalhadores
e pequenos colonos sem terras próprias, formando ali um arraial, denominado
Santo Antônio de Casserebu ou Casarabu, que aos poucos formou uma freguesia. Formou-se
ali um pequeno núcleo agrícola e, aproveitando a fertilidade natural dos solos,
desenvolveram-se cultivos de mandioca, milho, cana-de-açúcar, arroz e feijão. A
Vila de Santo Antônio de Sá passou por um razoável desenvolvimento e em fins do
século XVII desempenhava um papel relevante como entreposto comercial entre a
cidade do Rio e a região do entorno da baía.
Em 1644, o Monsenhor Antônio de Marins Loureiro elevou o Curato de
Santo Antônio do Cacerebu, provisoriamente, à categoria de Paróquia ou
Freguesia, por desmembramento da freguesia da Candelária, que através de Alvará
Régio de 1647 foi confirmada como Freguesia de Santo Antônio de Cacerebu
abrangendo mais 10 léguas (66km) ao norte, sendo popularmente conhecida como
Freguesia de Santo Antônio do Macacu.
Em 05 de agosto de 1697, a antiga freguesia
Santo Antônio de Cacerebu é honrada com o título de Vila, sendo a primeira
povoação do Recôncavo a receber título de vila e tornando-se a segunda vila
mais antiga da Província do Rio de Janeiro. Seu fundador, o Governador da
Capitania do Rio de Janeiro, Capitão-General Artur de Sá e Menezes, acrescentou
uma parte de seu nome à Vila, dando-lhe o nome de Santo Antônio de Sá, e
compareceu em pessoa à cerimônia de fundação.
“Ano de nascimento de N.S. Jesus cristo de mil seiscentos
e noventa e sete, aos cinco dias do mês de agosto do dito ano, neste lugar da
freguesia de Casserebu, junto ao Rio Macacu, nas casas em que se acha pousado p
senhor General e Governador Artur de Sá e Menezes, aí sentado na cabeceira de
uma mesa e o Ouvidor Geral Manoel de Souza Lobo [...] disse o dito Governador que era vindo a este lugar para estabelecer e
formar uma vila, com seu distrito e termo, na forma de uma ordem que tinha de
Sua Majestade [...] porquanto o
apelido que até agra se denominou de Macacu é menos curial, assentou-se que de
hoje em diante se chamasse a vila de Santo Antônio, por ser o orago da
freguesia matriz, e que por obséquio e gratulação do trabalho que ele
Governador teve em vir formar esta vila, por ser a primeira que a ilustrou com
sua presença, pela excelência de sua primazia, querem condecorar mais o dito
nome com o apelido de Sá [...] a esta
vila de Santo Antônio de Sá.” (Auto da Ereção da Vila de santo Antônio de
Sá, 1697)
“Por Ordem do Senhor Rei D. Pedro IIº foi nesta Freguesia
fundada a Vila, e República, fazendo-se cabeça dela no
Povoado, onde se achava situado o Convento de S.
Boaventura. E com efeito foram ao dito lugar o Governador desta Cidade, e Gal Artur de
Sá e Menezes, com o seu Secretário do Governo, e o Dr. Manoel de Soiza Lobo,
que era Ouvidor Geral da mesma Cidade, e Corregedor da Comarca em toda a
repartição do Sul, acompanhado dos
oficiais da sua alçada: e no dia 5 de agosto do ano de 1.697 sendo
presente a nobreza, e povo da Freguesia, e seu distrito, foi ereta,
estabelecida, e formada em Vila, com o
apelido de Santo Antonio de Sá, sendo até esse tempo intitulada a
Freguesia de S. Antonio de Cassarebú: e assim se determinou que fosse nomeada
para sempre, [...]. A
Vila de Santo Antonio de Sá tem por Termo
desde a entrada da boca da barra do Rio chamado Macacú, todo o seu
comprimento até a dita Vila, e também é Termo da dita Vila, e lhe pertence toda
a Povoação, morada, casal, ou terra, que está pelos lados do dito Rio, por Vales, ou Riachos, ou qualquer caminho de terra,
de que os moradores costumam usar, e servirem-se com melhor cômodo: como
declaração, que este dito Termo dos lados do Rio
nunca excedera á distância de 6 leguas [40km] da dita Vila, salvo aquela
terra, lugar, morada, ou
povoação, que ficar por cima da mesma Vila contra a Cidade, de maneira, que
seja mais perto caminhar para a Vila, que caminhar para a cidade, em razão de
lhe ficar a dita Vila primeira. E as
Freguesias que ficam compiladas debaixo desta corporação de Termo, por não haver dúvidas, são as seguintes: "Toda
a Freguesia que é hoje de Cassarebú, cujo nome se transformou no fausto
apelido de Santo Antonio de Sá" toda a
Freguesia, e tudo o mais sem limite para o Sertão. "Toda a Freguesia do
Desterro de Itamby" toda a Freguesia de S. João de Itaborahy, e
Tapocorá". E da Freguesia de
Nossa Senhora d´Ajuda de Sarnambetiba" cede este Termo tudo que fica do Rio de Magé para a dita Vila de S. Antonio de
Sá, e do dito Rio de Magé Guapí, para a
parte da Freguesia de N. Sra. da Piedade, fica pertencendo a Cidade do Rio de
Janeiro até aquí". Santo Antonio
de Sá 7 de agosto de 1.697". Manoel de Souza Lobo =. Bem se conhece, que a razão da mudança, que houve no
Termo de Cassarebú para o de Sá, não foi outra, senão, ter sido criada a
Vila por Artur de Sá e Menezes, Governador desta Capitania, querendo deixar em memoria a sua fundação, pelo apelido, de
que usava.” (Araújo, 1794)
“Sendo já crescido o numero dos
povoadores das terras além do Rio , e assas distantes da Cidade , donde naõ
podiam ter prompto o recurso em dependências ordinárias , nem era sempre fácil
, que dos ministros Seculares , ou Régios residentes na Capital , dimanassem
prestes as ordens , e os despachos à providenciar em alguns casos repentinos ,
e à remediar necessidades presentes ; para preveni-las em tempo , passou o
Governador e Capitão General Artúr de Sá e Menezes , acompanhado do Secretario
do Governo , e do Ouvidor Geral , e Corregedor também da Commarca do Sul ,
Manoel de Souza Lobo , ao lugar povoado junto à Matriz , onde , presente o Povo
da Freguezia , e do seu termo , criou , estabeleceu , e formou uma Vilia,
correndo o dia 5 de Agosto de 1697 com Ordem Regia. Mudado o titulo de Santo
António de Cassarébú , com o qual se conhecia o território da Freguezia , pela
visinhança do Rio assim chamado, em Carta de Diligencia datada à 7 do mez dito
determinou , que para sempre se denominasse Santo António de Sá , e marcou o
termo da sua Jurisdicçaõ desde a entrada da boca da barra do Rio Macacú , em
volta das Freguezias de Itamby , e Tapócorá , todo Sertão, sem limite, da mesma
Freguezia de Santo António, e de Cernambitygba , até o Rio de Magépe , ou
Magépe-guapy , como consta dos documentos lançados no Liv. 1º da Camara da
mesma Villa.” (Araújo, 1820, vol. 2, pg. 195-197)
Segundo
José Matoso Maia Forte, a Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu tinha por
termo:
“[...] desde a
boca da barra do rio chamado Macacu, todo o seu comprimento até a vila.
Pertenceriam, também, à vila toda povoação, morada, casa ou terra que estivesse
pelos lados desse rio, tendo o seu adito [entrada], saída e serventia pelo mesmo rio, por valas, riachos ou qualquer
caminho de que os moradores costumassem usar ou se servirem para sua melhor
comodidade [...] [O] termo, do lado
dos rios, nunca excederia de seis léguas da vila, salvo as terras, lugares,
moradas ou povoação que ficassem por cima da mesma vila contra a cidade [do
Rio de Janeiro], de modo que fosse mais
perto caminhar para a vila do que para a cidade, por ficar aquela mais próxima.”
Com a elevação
do arraial à categoria de vila, foi criada uma Câmara de Vereadores, com
direito a cobrar impostos e baixar “posturas” (espécie de leis municipais).
Podiam, também, receber um “juiz de fora”, pelourinho e cadeia pública. O
território começou a ser construído em função do Rio Macacu, principal via de
acesso e a Vila de Santo Antônio de Sá sediada na Freguesia de Santo Antônio do
Cacerebu ou Macacu passou a organizar jurídica e politicamente todo o
território da vila de Santo Antônio de Sá. Seu núcleo principal se localizava
nas proximidades da confluência dos rios Caceribu e Macacu – sendo formada pelo
convento de São Boaventura, pela Casa da Câmara, cadeia, Igreja de Santo
Antônio e algumas casas, e foi onde também se desenvolveu um núcleo agrícola.
“Para se erigir a Cadêa, e Casa de Camara na Villa de Santo António de
Sá , concedeu , por dez annos , a Carta Regia de 17 de Dezembro de 1710 um
imposto de 20 réis em cada medida , ou canada de aguardente da terra , ou do
Reino , e do vinho que se consumisse , como haviam offertado os moradores : e a
Provisaõ do Conselho Ultramarino de 14 de Fevereiro de 1715 prorogou sem limite
de tempo a mesma graça. Na maça geral dos reditos da Camara entra o de 800C
réis annuos , que por Contrato dá este imposto.” (Araújo, 1820,
vol. 2, pg. 198)
“Por Provisão do Conselho Ultramarino de 17 de Março de
1702, registrada no Liv. 1 fol. 43 da Camara da mesma Villa , gozam os
Officiaes della os mesmos privilégios , que aos da Camara da Cidade [do Rio de Janeiro] sam concedidos.” (Araújo, 1820, vol. 2, pg. 198)
A Vila de
Santo Antônio de Sá, no século XVIII compreendia os atuais Municípios de São
Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim, Tanguá, Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu. A
Freguesia Sede de Santo Antônio do Cacerebu ou Macacu (1644) foi desmembrada
progressivamente com a criação das Freguesias de São João Baptista de Itaborahy
(Itaboraí, 1696); da Santíssima Trindade (Cachoeiras de Macacu, 1737); de Nossa
Senhora da Conceição do Rio Bonito (Rio Bonito, 1768) e de Nossa Senhora do
Desterro de Itamby (Itaboraí, 1773). Em 1704 a Vila de Santo Antônio de Sá
recebeu a visita do bispo diocesano, Francisco de São Jerônimo.
Durante o
Século XVIII, a área subordinada à Vila de Santo Antônio de Sá passou a ser
mais intensamente ocupada e o povoamento avançou em direção às cabeceiras dos
rios. No contexto da década de 1760 houve grande expansão econômica da
colonização nos arredores do rio Macacu. Na primeira metade do século XVIII, as
concessões de terras já alcançavam a Serra da Boa Vista, registrando-se que em
1725 o colono Antônio Pacheco de Oliveira recebeu 5.000 braças (11 mil metros)
nas cabeceiras do Rio Macacu. Em 1763, um colono chamado Matheus Antônio da
Silva recebeu 3.000 braças (6,6km) em quadra nos sertões e Matos Gerais do rio
de Macacu. Neste ano, a diligência de arrasamento das fazendas do alto rio
Macacu e percorrimento dos sertões para a identificação de possíveis
mineradores, emitida pelo o Conde da Cunha, foi entregue ao Mestre de Campo
Miguel Antunes Ferreira, do distrito de Maricá. Este fez entrada pelas
cachoeiras do Rio Macacu, junto à Serra dos Órgãos, onde se achavam
estabelecidos Maurício José Portugal, José Correia Morvan e outros, cujas casas
e fazendas foram demolidas e arrasadas e seguindo o caminho para a Serra dos
Órgãos, foi dar a uma povoação do Reverendo Cônego Antônio Lopes Xavier, que
foi evacuada e demolida. Em 1773, a área sob
administração da Vila de Santo Antônio de Sá foi novamente reduzida com a elevação da
aldeia de São Barnabé à categoria de vila com o nome de Villa Nova de São José d’El-Rey (Itambi,
Itaboraí), como consequência da expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759,
“Logo pela extinção dos
mesmos Padres [Jesuítas] cessou a direção, e a natural frouxidão para o trabalho se apoderou dos Índios, a terra se
fez estéril. [...] todas aquelas terras, que nas visinhanças do Rio Macacú se tem arrendado por
muito módico preço á diversas pessoas: por que os índios á quem elas
pertencem na distância de 2 leguas [13,2km], não podem cultivá-las competentemente, e se acham estabelecidos na
Aldêa Velha, distante 1. ½ légua [10km]. [...]
Sendo
Vice-Rei deste Estado o Ilmo. e Exmo. Marquês de Lavradio, por Ordem Sua,
se demarcaram as terras pertencentes aos Índios, pondo-se balizas ou marcos de
pedras; e pelo mesmo foi ordenado este lugar, e declarado Vila em 1.773,
ficando para memoria a pedra, em que se gravaram suas Armas, que se firmou no
terreno entre a Igreja, e o Cruzeiro, como alí se vê. Aquela declaração faltou
o distintivo própria de Vila que era, e
consistia em ter Pelourinho, Casa da Câmara, e Cadeia. Isto tudo mandou executar o Ilmo. e Exmo. Vice-Rei, que foi
deste Estado Luiz de Vasconcelos e Soiza
pela Sua Portaria datada do 1º dia de fev. de 1.783 em resulta da Informação,
que precedeu sobre este objeto do Dezembargador Conservador dos Índios
José Feijó de Melo e Albuquerque, de 20 de
set. de 1.782. Com efeito se executou toda aquela providência no dia 7 de fev. do mesmo ano de 83,
aclamando-se por três vezes [...] e aos 12 seguinte foi-lhe consignado
territorio nas duas leguas [13,2km] de
terras em quadra, que já tinham os mesmos
Índios, antes dessa aclamação, como disse supra, e as demais porção, que
lhe foi adjudicada pela extinção dos Regulares Jesuítas, [...]” (Araújo, 1794)
“Projectando o Vice-Rei Marquez de Lavradio crear uma Villa nesse lugar
, fez primeiro demarcar as terras da Aldea, para lhe servirem de termo à sua
jurisdicção ; e concluida a diligencia no anno de 1773, deu por fundada a Vila
Nova de S. José d ElRei , sem preceder outra formalidade mais que a de fazer
enterrar entre a Igreja , e o Cruzeiro do Adro , um Padrão de pedra com as suas
Armas. Satisfeito com esse facto simples , procurou os meios de augmentar a
povoação , e melhorar os seus habitantes , dando-lhes um Inspector, que
vigiasse os interesses dos Indios , sobre cuja fortuna muito se desvelou , e
providenciando a nova Republica com alguns estabelecimentos úteis. Informado
porem o Vice-Rei Luiz de Vasconcellos e Sousa pelo Juiz Conservador dos índios,
e da Aldea, o Desembargador José Feijó de Mello , da incurialidade, com que se
levantara a Villa e da necessidade de melhor forma , que significasse o titulo
; em Portaria de 1 de Fevereiro de 1787 commetteu essa diligencia àquelle
Ministro , mandando-lhe levantar Pelourinho , e construir as Casas precisas de
Camara , e Cadeia. Autorizado Feijó com a Ordem referida, foi executa-la no dia
7 do mesmo mes , e anno : [...] Creada nesse mesmo dia a Camara com os Officiaes competentas , no
12.º immediato foram-lhe dadas por
limites da sua jurisdicção as duas legoas [13,2km] de terra em quadra, que se havião balisado antes, e mais alguma
estensão adjudicada pelo Auto da Fundação da Villa [...]”. (Araújo, 1820, pg. 112-114)
Em 1778 a
Vila de Santo Antônio de Sá alcançou domínio de cerca de 1.500 km², mas em 9 de
junho de 1789 é criada a Vila de Magé, por desmembramento da área da Vila de
Santo Antônio de Sá, sendo-lhe anexa a Freguesia de Nossa senhora da Ajuda de
Guapimirim.
“Criada
a nova Vila em Magé, ou Magepí, fez-se necessário diminuisse desta uma parte do
seu Termo, para se adjudicar aquela: por isso ficou servindo de divisa todos o
terreno Ocidental do Rio Aguapehy-Merim, para a nova Vila; e o Oriental para
este de S. Antonio de Sá; e pela Costa do Mar, pelo Rio dito, desde a sua
primeira, e mais volumosa vertente, até a
sua barra, como foi determinado pelo Auto da demarcação.” (Araújo, 1794)
“Assim se conservou , em quanto naõ
houve outra Villa , que lhe diminuisse a extensão de limites : mas fundada esta
em Magépe , ficou balisando , pela parte Oriental, no Rio Aguápey-mirim, e pela
Costa do mar da Enseiada , desde a primeira, e mais volumosa vertente do mesmo
Rio , até a sua barra. Sam por tanto barreiras limítrofes desta Villa com a
Cidade , a Serra do Lagarto ; com a Villa nova de S. Jozé d'El-Rei , o rio da
Vargem ; com Cabo Frio o rio da Domingas ; com a Villa de Magépe , o rio
Aquâpey-mirim ; e finalmente com a Villa da nova Fribourg , em Cantagalo , pelo
Sertão. Desta Villa se apossou o Conde da Ilha do Príncipe António Carneiro de
Souza, como seu Donatário; mas por Ordem Regia expedida na Provisão do Conselho
Ultramarino datada em 24 de Outubro de 1713 , que se registrou no Liv. 4 da
Ouvidoria fol. 83 v, foi esbulhado da Donatária.” (Araújo, 1820,
vol. 2, pg. 197-198)
Em 1804 a Vila de Santo Antônio de Sá contava com
mais de seis mil e quatrocentos e oitenta almas sujeitas a sacramentos,
contidos em oitocentos e dez fogos, ou mais. O alvará de 1808 criou o cargo de
Juiz de Fora.
“O Alvará de 27 de Junho de
1808 criou ahi a Vara de Juiz de Fora do Civel , Crime e Orfaons , à cuja
jurisdicçaõ uniu o districto da Villa de Magépe ; e o Bacharel Sebastião Luiz
Tinoco foi o 1.° que serviu esse cargo, por Despacho em Decreto de 29 do mesmo
mez, e anno , com o Ordenado , Propinas, e Emolumentos, que vence o Juiz de
Fora da Cidade de Marianna , [...]
Com a fundação da Villa teve principio o
Posto de Capitão Mor das Ordenanças do districto. O termo Miliciano , de que he
principal o território d’esta Freguezia , abrange os limites das Parochias da
Trindade, Aquápey-mirim , e de Itamby.” (Araújo, 1820,
vol. 2, pg. 198)
Apesar da
relativa pujança econômica da região, a sede da Vila de Santo Antônio de Sá não
era uma localidade das mais desenvolvidas. Monsenhor Pizarro informou que, em
1795, havia na Vila 4.600 pessoas livres, para 782 fogos. Segundo a Discripção,
em 1797, existiam, na localidade, 6.831 cativos e 4.707 livres. Segundo monsenhor Pizarro, apesar de haver
grande número de casas na vila, quando de suas visitas, as propriedades não
eram delineadas e as ruas não eram calçadas.
“Há
nesta Villa um grande número de casas, principalmente térreas, conservadas pela
maior parte no gosto da sua antiga fundação. A situação não é a melhor; por que
não goza de vista mais agradável.” (Araújo, 1794)
“Suficiente
numero de Casas , quasi todas térreas , fazem apparatoso o lugar da Villa , que
podera ser mais brilhante , se com perfeição se executasse o delineamento das
propriedades , e se calçassem as ruas: mas a falta de policia tem atrazado o
adorno publico, satisfazendo-se a Camara com o cuidado de conservar
desempedidas , e sempre limpas as estradas , à beneficio de quem as cultiva ate
as Minas novas de Cantagálo.” (Araújo,
1820, vol. 2, pg. 198)
“Seus principais edifícios são dentro a casa da Câmara, cujas lojas
servem de cadeia, a Igreja Matriz e o Convento de Santo Antônio da parte de
fora. As ruas são mal alinhadas e mal calçadas, as casas, térreas e de pouca
aparência.” (Saint-Adolphe, 1845)
A Vila de
Santo Antônio de Sá de Macacu, ao longo do século XVIII, caracterizava-se por
apresentar em conjunto com algumas plantations
de açúcar, uma economia doméstica
de produção variada, que englobava o cultivo do arroz, do feijão, da farinha,
do milho, do fumo, a exploração das madeiras, a criação de aves e a consequente
comercialização dos seus ovos, além da criação de porcos. Apesar de haver
alguns grandes engenhos de açúcar e aguardente, a maior parte da produção
agrícola era feita por pequenos proprietários, com poucos ou nenhum escravos, e
por pequenos arrendatários. A vida econômica era baseada na intensa navegação
fluvial que movimentava a importante produção agrícola, principalmente
plantação de cana-de-açúcar, para produção de açúcar ou sua transformação em
aguardente de cana. Posteriormente, o crescimento da população provocou um
incremento na produção agrícola para a subsistência, que passou a ser a
atividade principal, visando o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. Produzia-se
mandioca para farinha, milho, feijão e arroz. A produção de uma farinha de
excelente qualidade também ajudou no desenvolvimento da região. Criavam-se
porcos e galinhas e produzia-se mel. A criação de gado era importante como
força de tração para as moendas. Havia alguns engenhos de médio e pequeno porte
na região do Casserebu. Pequenos proprietários produziam melaço e rapadura. Os
maiores produziam açúcar. Alguns economicamente mais bem situados produziam
aguardente, importante moeda de troca na compra de escravos na África. O
engenho era um centro economicamente vivo e ativo, dando origem a uma série de
outras subatividades, que ajudavam a manter a vida no lugar. Uma relação do
Marquês do Lavradio, de 1778, traz um mapa com a distribuição dos engenhos na
região do “vale do Macacu” em Santo Antônio de Sá: havia 17 engenhos e 2
engenhocas de aguardente, que produziam 255 caixas de açúcar e 197 pipas de
cachaça.
A Vila de Santo Antônio de Sá nesta
época alcançava o posto de maior produtora de madeira da capitania do Rio de
Janeiro. A madeira descia pelos rios até a Baía de Guanabara, e era promovida
majoritariamente por colonos arrendatários de pequenas parcelas de terra em
atividade anexa à produção dos gêneros alimentícios. Também se produzia carvão
vegetal. Um mapa desenhado em 1767, mostra a região do Caceribu e a área do
médio e alto vale do rio Macacu ainda cobertas de florestas. A madeira era
utilizada em larga escala no processo de produção de açúcar: as caixas para o
transporte, o reparo nas moendas, além de combustível para os fornos. Outra
empresa que se utilizava em grande escala da madeira era a construção naval,
para pequenas embarcações, barcos de pesca, navios de médio porte. Em 1763, por
ocasião da transferência da sede da colônia para o Rio, se dá a construção do
arsenal da Marinha do Rio de Janeiro: “A
madeira necessária ao empreendimento foi encomendada às ‘pessoas que assistem
no termo de Macacu, e costumam fazer negócio em madeiras’”. Em 1797,
segundo a Discripção, Macacu produzira 1.482 dúzias de
tábuas,‘conssoeiras’, vigas, ‘frexaes’, ‘páos de prumo’, ‘pernas’, caibros e
curvas, perfazendo um total de 17.784 peças, indicando também a presença de 55
‘serradores’. Essas madeiras rendiam bom lucro aos extratores. Utilizava-se
madeira também para a produção de carvão, e lenha para as olarias que produziam
telhas e tijolos, além de cerâmica. A argila, abundante na região, deu origem a
uma rica produção de telhas e tijolos, incrementada após a chegada da família
real, em 1808. As principais áreas produtoras de madeira da vila eram a Posse
na freguesia de São João Batista de Itaboraí e Papocaya ou Collegio na
freguesia da Santíssima Trindade.
“[...] tirão os Lavradores grandes
vantagens nas Colheitas q. fazem das suas Lavouras, sendo as principaes a Cana,
o Arroz, o Milho, o Feijão e a Mandioca, q. são os gêneros em q. elles mais se
empregão.[...] Ella [a
madeira] he de tal interece, q. sendo laborioza e pezada a sua factura, e
conducção para os Portos de Embarque, nem por isso deixão de continuar com as
fabricar [...].” (Discripção do que contém o distrito da
Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu feita por ordem do vice-rei do estado do
Brasil, conde de Resende, de 07 de abril de 1797)
“A maior parte dos habitantes deste
districto se exercita na lavoura da Cana para assucar , trabalhada em quinze
Fabricas , e para aguardente em duas Engenhocas ; na mandioca para farinha ,
milho , feijão , e arroz , entretanto que outros se applicam pelos matos ao
trato de madeiras de falquejo , e de serra , e ao commercio de lenha , e de
carvaõ , cujos effeitos fazem o todo de 210:5761.000 réis, em calculo. Por canoas
desde as origens dos Rios principaes Aquápey-assú , Aquápeymirim , e Cassarébú
, até algumas legoas à cima do lugar da Freguezia , onde chegam as barcas à
carregar madeiras, se conduzem os sobreditos effeitos : dalli , ou continuam as
canoas com as suas cargas até a Cidade , ou as despejam nas barcas , e lanchas
, que as transportam pelos Rios mencionados , cujas aguas se depositam no de
Macacú , à procurar o mar da Enseiada , por onde se communica a grande fartura
de peixe, de que todos gozam.” (Araújo, 1820, vol. 2, pg. 194)
O
desmatamento desordenado das margens dos rios da bacia do Macacu, desde o fim
do século XVIII, levou ao progressivo assoreamento dos principais rios desta
bacia, com o surgimento de bancos de areia que dificultavam a circulação fluvial.
Este assoreamento dos rios e o uso intensivo da terra transformaram largas
porções de terrenos aráveis em charcos e pântanos. Isto começou a provocar a
decadência da Vila de Santo Antônio de Sá, que tinha como base econômica a
produção agrícola e o transporte fluvial.
Em 24 de janeiro de 1820 é criada a
1ª Agencia postal na Vila. Em 1821, a população da Vila de Santo Antônio de Sá
e suas freguesias totalizava 34.030 habitantes (12.085 livres e 21.945
escravos), sendo 11.081 na Freguesia de São João Batista de Itaboraí (4.517
livres e 6.564 escravos), 7.744 na de Santo Antônio de Sá (3.918 livres e 3.826
escravos), 2.990 na Santíssima Trindade (1.332 livres e 1.658 escravos) e
12.215 em Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito (2.318 livres e 9.897 escravos).
A obstrução
das vias fluviais, acompanhada por períodos de chuva abundantes, alagavam a
planície, inutilizando terras e formando pântanos. Isto motivou a proliferação
dos mosquitos transmissores da febre amarela e da malária, principalmente nas regiões
vizinhas à sede da vila por se situar próximo ao Rio Macacu. No ano de 1829 tem
início uma sequência de surtos epidêmicos, conhecidos como “febres de Macacu”,
provavelmente malária e/ou febre
amarela.
Após dez meses de seca a doença voltou com toda força e entre 1831 e 1835, as
“febres de Macacu” tornam-se endêmicas, com grande perda de vidas e um significativo
processo de êxodo rural, tendo se desorganizado as atividades produtivas na
região. As cheias e inundações favoreceram o surgimento de focos de mosquitos
transmissores de febres e fizeram com que mais tarde os colonos abandonassem o
local e saíssem em busca de terras menos inundáveis como Itaboraí. Diante
disto, as famílias abastadas da região (os Azeredo Coutinho, os Batista
Pereira, os Antunes Macedo, os Rodrigues Torres, os Menezes Drummond, etc),
mudam-se para a Freguesia de São João Batista de Itaboraí. Em 15 de janeiro de
1833, a Freguesia de São João Batista de Itaborahy (Itaboraí) foi elevada à
categoria de Vila, incorporando as freguesias de Nossa Senhora do Desterro de
Itambi (Itaboraí) e Nossa Senhora da Conceição do Rio Bonito (Rio Bonito),
assim como da Vila Nova de São José d’El-Rei, então extinta, e a povoação de
Nossa Senhora da Conceição de Porto das Caixas (Itaboraí). A Vila de Santo
Antônio de Sá ficou apenas com a Freguesia de Santo Antônio do Cacerebu ou
Macacu e a Freguesia da Santíssima Trindade.
“Era Presidente da Camara
Municipal de S. Antonio de Sá, quando em 1829 a mais horrivel peste assollou
quasi todo o municipio, e dispovoou a consideravel e rica villa tornada vasto
cemiterio em poucas semanas. Alexandre Fortes [de Bustamante e Sá] escapou de ser victima da fatal e desmesurada epidemia; porque o
arrancárão da villa flagellada; quasi moribundo deixou-se levar; mas deixou o
coração no meio das ruinas que a peste espalhava. A Camara Municipal, e a
justiça transferirão-se para a freguezia de S. João de Itaborahy, que a nove ou
dez milhas da villa de S. Antonio de Sá, era o oasis da saude em todo o
municipio. Em Itaborahy Alexandre Fortes restabelecido continuou a presidir a
Camara e a exercer a advocacia. A influencia sinistra da peste na villa de S.
Antonio de Sá chegou a tal ponto, que muitos proprietários mandárão demolir
suas casas para recolher o desesperado producto da venda das madeiras, das
telhas, e das pedras: assim desappareceu mais de uma rua da villa, e Alexandre
Fortes, que deixara o coração naquellas ruinas, fez adoptar pela Camara
Municipal artigos de postura, prohibindo a demolição das casas da sua villa
querida, em favor da qual éra elle só á lutar contra a fatalidade. Em 1833moribundo deixou-se levar; mas deixou o
coração no meio das ruinas que a peste espalhava. A Camara Municipal, e a
justiça transferirão-se para a freguezia de S. João de Itaborahy, que a nove ou
dez milhas da villa de S. Antonio de Sá, era o oasis da saude em todo o
municipio. Em Itaborahy Alexandre Fortes restabelecido continuou a presidir a
Camara e a exercer a advocacia. A influencia sinistra da peste na villa de S.
Antonio de Sá chegou a tal ponto, que muitos proprietários mandárão demolir
suas casas para recolher o desesperado producto da venda das madeiras, das
telhas, e das pedras: assim desappareceu mais de uma rua da villa, e Alexandre
Fortes, que deixara o coração naquellas ruinas, fez adoptar pela Camara
Municipal artigos de postura, prohibindo a demolição das casas da sua villa
querida, em favor da qual éra elle só á lutar contra a fatalidade. Em 1833
reeleito Presidente da Camara, e tendo não acabado, mas arrefecido a
malignidade da epidemia, Alexandre Fortes conseguio por maioria de um Voto na
Camara Municipal, que esta voltasse a funccionar na arruinada villa de S.
Antonio de Sá, propondo por transacção indeclinavel a creação da villa de
ltaborahy, que o Governo da Regencia logo decreto.” (Macedo, pg. 5-6)
Em 1834,
formou-se um povoado nas terras da Fazenda São José, uma das principais
fazendas de região, ao redor da capela de São José da Boa Morte, e a
localidade, tornou-se um grande e produtivo núcleo agrícola onde os primeiros
colonizadores desmataram para cultivar milho, aipim, feijão e outras culturas de
subsistência, além da cana-de-açúcar. Ainda em 1834, a Freguesia de Santo Antônio
do Cacerebu foi novamente desmembrada com a criação da Freguesia de São José da
Boa Morte, com as localidades do Vale do Rio Guapiaçu até a Capela Carmelita;
corresponde hoje a maior parte do atual 3° Distrito de Cachoeiras de Macacu.
Entre 1836 e 1839, novo surto
devastou a Vila de Santo Antônio de Sá, fazendo com que se sugerisse a extinção
da vila já quase deserta. A população da Freguesia de Santo Antônio de Sá em
1840 totalizava apenas 2.522 habitantes, sendo 1.105 livres e 1.417 escravos,
em 1850 totalizava apenas 2.210 habitantes e em 1856 apenas 1.940 habitantes. Em
1842 a vila já se mostrava em franca decadência e quase abandonada.
“A Villa de
Santo Antonio de Sá, quasi completamente abandonada de habitantes, tendo de ser
sujeita á jurisdicção do Juiz Municipal de Itaborahy em execução da Lei Geral
já mencionada, conviria talvez extinguir-se, reunindo duas de suas Freguezias á
Villa de Itaborahy, e uma á de Magé. A comodidade dos povos parece-me nada ter
de soffer com essa extincção, por estar o assento da Villa de Santo Antonio de
Sá mui próximo ao de Itaborahy.” (Relatório do Presidente da Província do
Rio de Janeiro, 1842, pg. 7-8)
Em 1837 o
pastor americano Daniel Parish Kidder visita a vila e observa seu estado de
decadência:
“A Câmara Municipal e a
Cadeia Pública estavam ambas instaladas sob o mesmo teto. Através das grades
desta última via-se um preso, preguiçosamente escarranchado num banco, perto da
janela. Era um escravo, encarcerado pelo crime de desobediência aos seus
senhores, umas crianças órfãs. Quase todas as casas tinham arandelas para
iluminação, junto à platibanda e às janelas. Nas ruas o silêncio era completo;
dificilmente encontrava-se alguém a passeio ou nas janelas. Os dados
censitários da cidade eram conhecidos de todos. A população orçaria por 300
almas. Não havia escolas a despeito da obrigação perpétua do convento. Apenas
um senhor se prestava obsequiosamente a ensinar alguns meninos.” (Kidder, 1837, pg. 162-163)
Em 1851, o viajante alemão Hermann Burmeister passou
pela vila a caminho de Nova Friburgo:
“A localidade que tínhamos diante de nós era
Santo Antônio de Macacu, monótona, mas propícia ao comércio, devido ao rio
navegável em cujas margens se encontra. Seus habitantes são vítimas da febre
tifoide, que ali grassa muito frequentemente. Por este motivo, apesar de sua
vantajosa situação, o lugar se acha isolado e quase abandonado. Rente da cidade
desemboca o rio Caceribu, afluente do Macacu. Atravessamo-lo por uma ponte e
subimos a colina onde edificada a vila. Não nos demoramos e seguimos, passando
por uma segunda elevação, onde se ergue a igreja, rodeada de algumas casas em
ruínas.” (Burmeister, 1851)
Embora as epidemias continuassem a assolar
a Vila de Santo Antônio de Sá, esta ainda tinha alguma vitalidade com o
comércio de madeiras, lenha, carvão, farinha e cereais, procedentes das zonas
não alagadas, além da produção de seus engenhos de açúcar e aguardente. Além
disto, por ela passava toda a produção local e ainda os produtos de Nova
Friburgo e Cantagalo, principalmente o café, que começava a despontar
economicamente, em direção à Cidade do Rio de Janeiro. No entanto, em 1855
houve uma epidemia de cólera que atingiu a cidade do Rio de Janeiro e se
espalhou pelo recôncavo da Guanabara. A mortalidade, principalmente entre os
escravos é altíssima, atingindo seriamente a Vila de Santo Antônio de Sá.
O golpe de misericórdia para a Vila de
Santo Antônio de Sá vem com a inauguração da Estrada de Ferro Cantagalo que ia
de Porto das Caixas ao Arraial da Cachoeira (atual sede do Município de
Cachoeiras de Macacu), deslocando o eixo de circulação de pessoal e mercadorias
para a nova Estrada de Ferro, situada no sopé da Serra. Neste local ocorria a
transferência da produção transportada sobre lombos de mulas de Cantagalo e
Nova Friburgo situados no alto da Serra, para os vagões dos trens na base da
Serra. Os trens também traziam mantimentos que eram levados pelas mulas Serra
acima. Sendo assim, o Arraial da Cachoeira (futura Cachoeiras de Macacu) servia
de entreposto comercial e teve vários armazéns construídos, além de hotéis,
cafés, restaurantes.
Pela lei
provincial nº 1379, de 06 de novembro de 1868 a sede da Vila de Santo Antônio
de Sá é mudada para a Freguesia da Santíssima Trindade de Sant’Anna do Macacu. Santa
Ana de Macacu, atual Japuíba, era mais salubre e já servia de sede da Freguesia
da Santíssima Trindade. Em 1875, parte da Freguesia de Santo Antônio de Sá mais
sua Vila foram anexadas ao Município de Itaboraí e o restante do antigo
município teve sua sede redirecionada para a Vila de Santana de Macacu. Em 1877
o nome do município é mudado de Santo Antônio de Sá para Sant’Anna de Macacu.
Cerca de 1890 a Agência Postal da antiga Vila de Santo Antônio de Sá é fechada.
3 –
Descrição:
Da vila só restou a torre sineira da Igreja de Santo Antônio de Cacerebu
e o complexo do Convento de São Boaventura, incluindo a igreja conventual e a
da Ordem Terceira. A Igreja de Santo Antônio de Cacerebu e o complexo do Convento
de São Boaventura serão descritas nas próximas postagens. A vila ficava em uma
colina baixa com maior eixo Norte-Sul, tendo ao fundo o Rio Macacu. Na parte
mais ao norte ficava o complexo conventual, com uma extensa praça na frente. À
esquerda do convento ficava a Casa de Câmara e Cadeia, uma construção de dois
andares com quatro portas ou janelas de verga reta em cada andar e frontão
triangular com óculo no tímpano e telhado 2 águas. Em frente à Casa de Câmara e
Cadeia ficava uma praça cercada por casas baixas. À esquerda da Casa de Câmara
e Cadeia havia uma rua de sentido Norte-Sul, que ia até outra rua de direção Leste-Oeste. Da praça em frente ao complexo do Convento de São Boaventura saía
a principal rua para o sul, que era flanqueada por casas. Bem ao sul do lado
direito da rua, ficava a Igreja de Santo Antônio de Cacerebu.
4 –
Visitação:
Proibida pela Petrobrás
5 – Bibliografia:
ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Visitas
Pastorais de Monsenhor Pizarro ao recôncavo
do Rio de Janeiro. Arquivo
da Cúria e da Mitra do Rio de Janeiro (ACMRJ), Rio de Janeiro, 1794.
ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das Províncias anexas à
Jurisdição do Vice-Rei do Estado do Brasil, vol. 2. Rio de Janeiro:
Impressão Régia, 1820.
MACEDO, Joaquim Manoel de. Supplemento
do Anno Biographico. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1880.
COSTA, Frei Sandro Roberto da. Pedras
que falam.
CABRAL, D.C. A bacia hidrográfica como unidade de Análise ambiental. Rev Hist
Reg, 12(1) 133-162, 2007, pgs. 133-162.
REZNIK, L. et al. Patrimônio cultural no leste fluminense:
história e memória de Itaboraí, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim,
Tanguá. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
COSTA, Gilciano Menezes. A escravidão em Itaboraí. Uma vivência às
margens do rio Macacu (1833-1875). Niterói, 2013.
AMANTINO, Márcia; CARDOSO,
Vinícius Maia. Múltiplas Alternativas:
diversidade econômica da Vila de Santo Antônio de Sá - século XVIII.
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5
Jul-Dez 2008.
Ver postagens neste blog: Convento de São Boaventura e Igreja de Santo Antônio de Sá
Village of Saint Anthony of Sá: Brazil, State of Rio de Janeiro, Municipality of Itaboraí, Porto das Caixas.
It was the second village founded in the actual State of Rio de Janeiro. Its origins was a hamlet around the Chapel of Saint Anthony of Cacerebu or Macacu, erected ca. 1612, and, in 1644, it became a Parish. In 1697, it received the title of Village. It was a very prosperous village, due to its fertile lands and its closeness to the River Macacu, the biggest in Guanabara Bay. The Village produced sugar-cane, manihoc, beans, flour, tobacco, molasso and a spirit produced from sugar-cane and much used as a means of exchange for slaves in Africa. It was also the biggest producer of wood and vegetal coal of Guanabara Bay. But, in the end of eighteenth century, due to the cutting of wood, the river suffered silting and marshes became common place. After 1829, the Village suffered a series of epidemics of infectious diseases (Macacu fevers), probably Malaria and/or Yellow Fever, with many deaths. The village became depopulated and was progressivelly abandoned. In 1868, the semi-abandoned village lost its condition of Village
Ver postagens neste blog: Convento de São Boaventura e Igreja de Santo Antônio de Sá
Village of Saint Anthony of Sá: Brazil, State of Rio de Janeiro, Municipality of Itaboraí, Porto das Caixas.
It was the second village founded in the actual State of Rio de Janeiro. Its origins was a hamlet around the Chapel of Saint Anthony of Cacerebu or Macacu, erected ca. 1612, and, in 1644, it became a Parish. In 1697, it received the title of Village. It was a very prosperous village, due to its fertile lands and its closeness to the River Macacu, the biggest in Guanabara Bay. The Village produced sugar-cane, manihoc, beans, flour, tobacco, molasso and a spirit produced from sugar-cane and much used as a means of exchange for slaves in Africa. It was also the biggest producer of wood and vegetal coal of Guanabara Bay. But, in the end of eighteenth century, due to the cutting of wood, the river suffered silting and marshes became common place. After 1829, the Village suffered a series of epidemics of infectious diseases (Macacu fevers), probably Malaria and/or Yellow Fever, with many deaths. The village became depopulated and was progressivelly abandoned. In 1868, the semi-abandoned village lost its condition of Village
Casa de Câmara e Cadeia, frente e lado direito |
Casa de Câmara e Cadeia, frente e lado esquerdo
|
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