BRASIL: RJ: ITABORAÍ:
Convento São Boaventura -
Monastery of Saint Boaventura
1 – Localização:
Município de Itaboraí, 2º. Distrito. Porto das Caixas. Estrada de Macacu, Rua Santo Antônio de
Sá, s/n. Fazenda Macacu (-22° 39' 22.07", -42° 53' 26.73")
2 –
Histórico:
Em 1606, o frei franciscano
Francisco da Cruz andou pelas terras de Macacu, angariando donativos para a construção do
convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca (Centro do Rio de Janeiro). Em fevereiro de 1649, durante o primeiro Capítulo da
Custódia Independente de Santo Antônio do Brasil, no convento de São Francisco,
na Bahia, discutiu-se foi sobre a construção de um convento no povoado de Santo
Antônio de Macacu, no Rio de Janeiro, o que era “pedido insistentemente” pelo Padre
Bartolomeu Simão Pereira, primeiro Vigário de Macacu e pelo povo. Os capitulares anuíram, desde que o próprio Custódio, frei
João Batista, desse a palavra final, após conhecer o local. Assim, nos meses
seguintes, o Custódio frei João Batista, às vésperas de completar 80 anos, fez,
a pé, como mandava a Regra Franciscana, sua viagem do Nordeste até os conventos
do sul. Hospedado no convento Santo Antônio do Rio, foi visitar a localidade de
Santo Antônio de Macacu, no dia 22 de agosto de 1649. Além do Custódio, frei
João Batista, estiveram presentes o guardião do Convento de Santo Antônio, frei
Sebastião do Espírito Santo, que, após a morte de frei João Batista foi eleito
Custódio, frei João da Purificação, e frei Antônio de Jesus, discretos do
convento Santo Antônio do Rio, frei Jacome da Purificação, Secretário da
Custódia de Santo Antônio do Brasil, frei Geraldo dos Santos, confessor, e os
irmãos frei Pedro do Rosário e frei Simão do Salvador. Após a visita ficou
definitivamente acertada a fundação. Foi constituída uma fraternidade para o
local, com frei Geraldo dos Santos como superior, e deu-se início à construção
de uma moradia provisória, uma espécie de “recolhimento”, com capela,
dormitório e um pequeno claustro, enquanto iam sendo feitos os preparativos
para uma construção definitiva, nas imediações de Porto das Caixas, mais
especificamente, no arraial de Santo Antônio de Cacerebu ou Macacu. Em 21 de abril de 1650, o novo Custódio, frei Sebastião do Espírito Santo,
recebeu de João Gomes Sardinha e sua esposa Margarida Antunes terras em doação
para construir uma morada definitiva. O terreno doado seria cercado de muro para horta, dentro do qual existiam
uma fonte d’água e dois poços, mas em troca, os franciscanos deveriam construir
uma igreja de pedra e cal e ele e seus herdeiros deveriam ser enterrados aos
pés do altar-mor da referida capela. A doação oficial deu-se cinco dias depois,
numa reunião realizada no Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro, estando
presentes o Custódio, o capitão João Gomes Sardinha, o síndico dos religiosos,
Manuel Rodrigues Ferreira e o Tabelião Pero da Costa, que lavrou o documento de
doação; como os franciscanos não podiam ter bens materiais devido ao seu voto
de pobreza, o terreno foi doado ao papa.
“Condições
com que se deu o sítio de Cassarebu. Ano do nascimento de nosso Senhor Jesus
Cristo de mil seiscentos e cinquenta aos vinte e um dias do mês de abril em
este convento de São Boaventura de Cassarebu, estando os religiosos dele
moradores em plena Comunidade, o irmão Custodio frei Sebastião do Espírito
Santo lhes propôs em como o Capitão João Gomes Sardinha nos dava graciosamente
toda a terra que fosse necessária para este novo convento e que além da cerca,
que pedíamos cerca de pedra e cal, dava ainda fora dela toda a terra que
ficasse do caminho do carro vindo da parte da vala ao redor deste outeiro até
intentar com a cerca, que entrasse pelo brejo, tudo o que for necessário para
se fazer a horta, ficando o muro pela parte da Matriz de sorte que nos fique
dentro da cerca a fonte de água e dois poços, que estão diante dela correndo o
muro direito por enquadro por encima à rua direita que fica de fronte da porta
do convento, e igreja, que ora ser faz de novo; e que reservava para si somente
a sepultura do meio do Cruzeiro entre o Arco e grade da Igreja, que se fizer de
pedra e cal em o convento que se houver de fazer depois deste que de presente
há; e sendo Nosso Senhor servido levá-lo antes de se fazer o dito convento,
seja depositado seu corpo neste convento que agora há no mesmo lugar do
Cruzeiro para a seu tempo se transferir ao outro convento, que assina: e queria
que este jazigo fosse perpétuo seu, e de todos os seus herdeiros; e que se ele
quisesse fazer a capela do dito convento de pedra e cal, à sua custa com seus
retábulos pela ordem que os religiosos lhes dessem, e a sustentasse conforme o
Concílio Tridentino dispõe, então seja o seu jazigo ao pé dos degraus do altar
mor no meio da Capela, e os religiosos e sindico do convento lho não poderão
nunca estouvar ou impedir; e dando caso que não quisesse, ou não pudesse fazer a
dita capela, e os religiosos a fizessem com as esmolas dos fiéis, e em tempo de
sua vida ou de quaisquer herdeiros seus, que pelo tempo adiante houver, se
desfizerem dela pelos modos lícitos, e concedidos a sua ordem, seja ele, ou
seus herdeiros primeiro afrontados, e dando por ela, o que outrem dá, lha darão
a ele, ou a seus herdeiros, o que proposto; como dito é, todos os religiosos
vieram em que se aceitasse o sítio que ora graciosamente nos dava, e oferecia,
com as condições propostas e de boa mente aceitavam por não serem contra o
nosso modo de vida e regra, e se assinaram com o irmão Custodio em o sobredito
dia, mês e ano: frei Sebastião do Espírito Santo, Custódio, Fr. Geraldo dos
Santos, frei Mateus da Conceição, frei Simão do Salvador, frei Baltazar da
Trindade, frei Jacome da Purificação, secretário, que escrevi. O dia seguinte
em plena Comunidade tornou o Irmão Custódio Fr. Sebastião do Espírito Santo
diante de mim Secretário a perguntar aos religiosos moradores do sobredito
convento se vinham e eram de parecer se concedesse o acima dito, disseram todos
e cada um por si, que sim, lhe parecia muito bem. E tornando-lhe a fazer a
terceira advertência, em plena comunidade disseram que sim lhe parecia muito
bem, como tinham dito na primeira e segunda comunidade: em fé do qual me
assinei com o irmão Custódio aos 24 do dito mês de abril do mesmo ano acima.
Frei Sebastião do Espírito Santo [...]”. (Arquivo Geral da Província da Imaculada
Conceição do Brasil, Gaveta Verde no. 7, Pasta II: Macacu)
“Na mesma Vila há um Convento dos Religiosos Antoninos da
Ordem de S. Francisco, fundado em 1.694 com o
termo de S. Boaventura.” (Araújo, 1794)
“Em
curto espaço arredado da Matriz existe um Convento dos Padres Capuchos da
Província da Conceição , principiado à fundar em 20 de Novembro de 1648 com a
dedicação de S. Boaventura. Percebe a Ordinária de 90 réis annuos , que El-Rei
D. Joaõ IV. lhe permitiu , com a obrigação de conservar duas Aulas das
primeiras , e segundas letras ; mas essa condição naõ se cumpre à muitos annos.”
(Araújo, 1820, vol. 2, pg. 193-194)
“Em 1619, já depois da separação da
Custodia de Santo Antonio do Brazil , o Padre Pregador Fr. João Baptista o
primeiro Custodio, depois daquella separação, acceitou a fundação do Convento
de Santa Boaventura na Freguezia de Cassarabú, e por sua morte confirmou a
acceitação referida Fr. Sebastião do Espirito Santo, Livro do Tombo fl. 23 v.
de Santo Antonio: O Capitão João Gomes Sardinha fez doação do seu sitio para a
fundação do Convento constante da escriptura seguinte: “Saibão quantos este
publico instrumento de doação virem, que no, anno do Nascimento de Nosso Senhor
Jesus Christo de 1650 aos 29 de Abril do dito anno, em esta Cidade de S.
Sebastião do Rio de Janeiro em o Mosteiro de Santo Antonio desta Cidade , onde
eu Tabellião vim, e sendo appareceu o Capitão João Gomes Sardinha de huma banda
, e de outra o Padre Custodio desta Provincia Fr. Sebastião do Espirito Santo ,
que succedeu ao Padre Custodio Fr. João Baptista que Deos tem , o qual indo á
Freguezia de Santo Antonio de Cassarabú á petição e pedimento dos moradores
della , levando em sua companhia o Padre Fr. Sebastião do Espirito Santo, que
actualmente era Guardião neste Convento; o Padre João da Assumpção e Fr,
Antonio de Jesus, discretos no mesmo Convento ; o Padre Fr. Jacome da
Purificação, Secretario da Custodia do Brazil; o Padre Fr. Gerardo, Confessor;
os Irmãos Fr. Pedro do Rosario, e Fr. Simão do Salvador para edificarem o convento
da sua Ordem na dita Freguezia para gloria e serviço de Deos Nosso Senhor,
salvação das almas, e augmento da nossa santa fé Catholica por ordem que para
isso tinha e tem de sua Santidade e licença de Sua Magestade que Deos guarde,
assenso e consentimento do ordinario conforme o Sagrado Concilio dispõe. O que
visto e sabido por todos, e pelo Capitão João Gomes Sardinha e sua mulher
Margarida Antunes por ambos juntos movidos com santo zelo do serviço ele Deos
Nosso Senhor, e bem commum, augmento espiritual que com os taes Religiosos e religião
receberia aquella Freguezia, lhe offerecerão para a sua morada o Convento que
logo assignalárão, que he o seguinte : a saber, começando de huma balisa, que he
huma arvore de andaguassú, que os ditos Padres plantarão defronte da Igreja,
indo á mão esquerda por a porta da Igreja que ora está feita rumo direito por
detraz ilharga da casa da carpintaria vinte palmos affastado da dita casa, indo
diante correndo direito, até chegar ao caminho de carro, o qual ficára da banda
de dentro para serventia do dito Convento até sahir ao brejal, aonde está a
fonte do dito, e tomárão do dito brejal quanto lhe for necessario para horta, ficando
de dentro a fonte, e os poços d’agua que estão no principio do brejo, virá
correndo rumo direito pela ladeira acima até chegar á outra arvore de
andaguassú, que está defronte da outra onde está feito portaria, e toda esta
terra acima declarada, e pelas confrontações desta escriptura disserão que
doavão aos ditos Religiosos que situarem o seu: Mosteiro e cerca, e o mais que dentro
delle lhe fôr necessario , e lhe davão com condição que elles doadores reservão
para si e seus herdeiros o lugar e jazigo do meio do cruzeiro para sua
sepultura para sempre que he entre o arco e grade da Igreja que se fizer, de
pedra e cal, depois deste que de presente está feito; e sendo que Nosso Senhor
seja servido levar algum delles doadores antes de se fazer o dito Convento, seraõ
depositados no que agora ha no mesmo lugar no cruzeiro para a seu tempo se passarem
ao Convento, que se fizer para sempre: e querendo elles ditos doadores fazer á
sua custa a Capella mór do dito Convento de pedra e cal com o seu retabolo,
ornamentos e mais cousas necessárias pela ordem que os Religiosos, lhe derem, e
a sustentarem em tudo conforme o Concilio Tridentino dispõe, então será
perpetuo jazigo o meio da Capella do arco para dentro ao pé dos degrãos do
altar mór dos Religiosos; e o Sindico do Convento lhes não poderá impedir ou
estorvar ; e dando caso que não queirão ou não possão fazer a dita Capella, e
os Religiosos a fação com esmolas dos fieis, e em tempo de sua vida ou de
quaesquer herdeiros deles doadores, os Religiosos a queirão dar a outrem pelos
modos licitas e concedidos á sua regra e ordem, seráõ elles os herdeiros
primeiro affrontados, e dando por ella o que outrem der, na mesma forma que outrem
a pedir ou quizer, lhes daráõ a elles ou a seus herdeiros; o que visto pelos
ditos Padres Custodio e mais Religiosos, disserão que acceitavão o sitio,
segundo elles podião e lhes era licito, segundo sua regra, e declaração della
feitas pelos Summos Pontifices especialmente Nicoláo III e Clemente V, convem a
saber: uso simples que elles podem ter das cousas offerecidas e dadas a sua
Ordem; da maneira que as podem receber, segundo por elles foi declarado, o que
sabido e entendido pelos ditos doadores, e que os taes Frades erão incapazes
por regra da propriedade e domínio, e para que em algum tempo não fossem
perturbados e prejudicados do uso simples do sitio que lhes davão, e lhes podião
ter, houverão por bem elles ditos doadores que a tal propriedade e domínio
desde logo fosse traspassado e de feito o traspassárão em Summo Pontifice á
Santa Igreja Romana, como está declarado pelos Srs. Papas acima ditos, e que delle
tomava posse ManoeI Rodrigues Ferreira como Sindico economico dos ditos Frades,
e actual Procurador de sua Santidade, que em nome do dito Convento acceitou a
dita doação, e huns e outros se obrigárão ao cumprimento desta escriptura. E
pela doadora Margarida Antunes a seu rogo assignou Antonio Lobo, e ella me deu
sua outorga em sua casa, aonde eu Tabellião fui, sendo mais por testemunhas
Sebastião Monteiro e Manóel Antunes, todas pessoas por mim Tabellião conhecidas,
que com o dito Custodio e mais Religiosos e Sindico assignúrão com os doadores:
E eu Pedro da Costa Tabellião do Publico Judicial e Notas o escrevi. João Gomes
Sardinha. Assigno a rogo de Margarida Antunes, Antonio Lobo. Fr. Sebastião do Espirito
Santo, Custodio do Brazil. Manoel Rodrigues Ferreira Sindico. Fr. Antonio. Fr.
João da Assumpção de Lisboa. Sebastião Monteiro. Manoel Antunes.” (Lisboa,
1835, pgs. 221-225)
No princípio era um pequeno convento erguido a pedido da
população. Com a destruição, pela guerra com os Holandeses, de três Conventos
no Norte, o Convento de Macacu, passou a receber os frades vindos destes
Conventos. A casa provisória era pequena e já não comportava o número de
religiosos que ali chegavam, por isso, foi decidida a construção de um Convento
de proporções maiores. O Convento de São Boaventura no Distrito de Porto
das Caixas é cronologicamente a quinta construção conventual da Ordem
Franciscana do Brasil. A
construção do convento propriamente dito só começou em 1660, ficando pronto em
fevereiro de 1670. Esta demora de 10 anos para se iniciarem as obras deveu-se a
dois motivos. Primeiro à remodelação que passava a ordem franciscana no Brasil
que passava de Custódia de Santo Antônio do Brasil, dependente da Província de
Santo Antônio dos Currais (Portugal) para Província de Santo Antônio do Brasil,
com sede na Bahia, independente da de Portugal e a subsequente criação da
Custódia da Imaculada Conceição, abarcando o território desde o Espírito Santo
até o sul do Brasil. O outro motivo é a necessidade de reconstruir os conventos
recuperados aos Holandeses no Nordeste e a criação contemporânea de vários
conventos novos neste período, como Angra dos Reis (RJ), Itanhaém (SP) e São
Sebastião (SP). Como patrono foi escolhido São Boaventura, um dos grandes
doutores franciscanos do passado, o que reflete a preocupação com formação de
noviços do convento.
A mão de
obra utilizada foi a escrava, de negros africanos e de escravos indígenas.
Embora os frades também possuíssem escravos, recebidos geralmente em “doação” a
algum santo, ou deixados em herança, seu número não era grande. O grosso do
trabalho era executado por escravos de outros senhores, que doavam, como esmola,
alguns dias de trabalho de seus escravos para a construção. Os trabalhos eram
dirigidos por um frade, geralmente irmão leigo, especialista em alguma das
muitas artes necessárias à construção que então se iniciava: carpinteiro,
pedreiro, artesão, ferreiro, etc. Havia, também entre os irmãos e entre os
escravos, verdadeiros artistas, empregados principalmente nas obras de
acabamento e decoração, cujos nomes infelizmente se perderam na história. A
planta do convento foi feita pelo próprio frei Simão do Salvador.
A
escravidão era parte integrante do cotidiano da Ordem e quando um pregador
franciscano recebia ordem de transferência de um convento para o outro, recebia
também o direito de ter dois escravos como companhia. Os conventos possuíam
escravos conventuais que desempenharam diversas funções. Trabalharam, entre
outros ofícios, nos serviços da lavoura, no transporte de água e lenha, em
obras do convento, na alvenaria, marcenaria e na lavanderia. Além disto, os
escravos poderiam ser enviados à comunidade fora do convento para pedir
esmolas, com ou sem o acompanhamento dos frades. Alguns autores franciscanos
postulam que os escravos pertencentes aos franciscanos receberam um tratamento
menos agressivo, quando comparados com as senzalas dos senhores leigos, no
entanto, este fato não pôde ser verificado. Foram os escravos da ordem, junto
com outros cedidos por proprietários de escravos da comunidade, que construíram
o convento.
Em 04 de fevereiro de 1670, o convento foi
inaugurado e os frades passaram a habitá-lo, realizando, ao longo do tempo,
acabamentos e ornamentações. O convento objetivava formar missionários,
iniciando o noviciado em 1672. Pelo silêncio do lugar e pela distância do
burburinho da Cidade do Rio de Janeiro, que começava a crescer, o local era
ideal para os candidatos à vida franciscana fazerem seu “ano de provação” na
vida religiosa. Os frades franciscanos também se empenharam na assistência
religiosa na bacia do Rio Macacu e na conversão dos índios da região. Em 1675 a
Custódia da Imaculada Conceição foi transformada em Província. Entre 1676 e
1681 o primeiro Provincial, frei Eusébio da Expectação, ordenou a construção de
retábulos para os altares laterais da igreja do convento e cercou a horta com
muros de taipa. As autoridades da Província da Imaculada Conceição também
faziam suas visitas periódicas ao convento, por ocasião dos Capítulos,
realizados a cada três anos. Era uma forma de manter a disciplina claustral e
combater eventuais abusos.
Em 1710, foi fundada a Ordem Terceira de
São Francisco, pelos moradores da região, que inicialmente tinha uma capela na
lateral esquerda da igreja conventual. Os membros da Ordem Terceira, em sua
maioria, vinham de fora, das localidades vizinhas, para as práticas próprias da
Ordem, para as reuniões, festas e dias de preceito.
Em 1715,
por ocasião da nomeação de um Visitador português para o Capítulo, frei Marcos
de Jesus apoiado por frei Boaventura de Jesus, ambos brasileiros, encabeçaram
uma rebelião contra o Visitador português, legitimamente nomeado. Um dos
motivos da rebelião era a injusta distribuição dos ofícios na Província, com
privilégio para os nascidos em Portugal, em detrimento dos brasileiros. O
centro da resistência foi o Convento de São Boaventura, onde os rebeldes se
reuniram com aqueles que os apoiavam, convocaram um Capítulo e nomearam um
Vigário Provincial e guardiães para os conventos. Era o cisma. Só cinco
conventos aderiram: Macacu, Santos, São Sebastião, Angra dos Reis e Bom Jesus
da Ilha. O Visitador nomeado pelo Geral também convocou o Capítulo, realizado
no convento Santo Antônio. Ambas as facções recorreram ao Geral da Ordem que
reconheceu como legítimo o Capítulo realizado em 1717 pelo Visitador nomeado, e
declarou nulos todos os atos realizados por frei Marcos. Antes do início do
próximo Capítulo, em maio de 1719, a maioria dos rebeldes apresentou-se no
convento de Santo Antônio e submeteu-se ao novo Visitador. O capítulo podia
celebrar-se em paz. No entanto, o conflito não terminou e entre 1723 e 1726 o
foco da resistência dos brasileiros foi o convento Bom Jesus da Ilha (Ilha do
Fundão, Rio de Janeiro). No final, entre 1738 e 1740 a Província da Imaculada
Conceição sofreu uma intervenção do bispo do Rio, Dom Antônio de Guadalupe.
Frei Santa
Maria fez elogios do convento:
“[...] Villa de
Santo Antonio de Lisboa, aonde se não acha mais que a Igreja Matriz dedicada ao
mesmo Santo Portuguez, & aqui se acha hum magnifico Convento, & muyto
reformado dedicado ao Doutor São Boaventura, que he a Casa de noviciado da
Provincia da Conceyção dos mesmos Religiosos Capuchos.” (Santa Maria, 1722,
Tomo X, Livro III, Título LVII, pg. 214)
O convento foi um dos
mais importantes da época, abrigando cerca de 25 a 30 religiosos, com noviciado, seminário de
gramática (1718), além da Ordem Terceira com capela
própria. Sua localização às margens do rio
Macacu proporcionava fácil locomoção por via fluvial oferecendo melhores
perspectivas de progressos, tanto cultural como econômico. Antes da construção
do convento de Macacu, havia noviciado no convento de Vitória (ES) e no
convento Santo Antônio (Centro do Rio de Janeiro). Depois da construção do
convento São Boaventura, receberam noviços, além de Macacu, os conventos São
Francisco (São Paulo), São Domingos (São Paulo), São Bernardino (Angra dos
Reis, RJ), Nossa Senhora dos Anjos (Cabo Frio, RJ), Imaculada Conceição de
Itanhaém (SP), Bom Jesus da Ilha (Ilha do Fundão, Rio de Janeiro) e Santo
Antônio (Centro do Rio de Janeiro). Tanto nestes conventos como em Macacu o
noviciado funcionou com interrupções, por causa das leis restritivas do
governo, proibindo o ingresso de noviços. À exceção de Macacu e Bom Jesus da
Ilha, o número de noviços nos outros conventos, quando funcionava, era
reduzidíssimo, não passando, quase sempre, de apenas um candidato.
O
funcionamento do noviciado no convento São Boaventura ocorreu entre 1672 e
1784, mas este não funcionou entre 1727 e 1750 e entre 1764 e 1778. O auge do
noviciado ocorreu entre os anos de 1750 e 1762. Nestes 12 anos, tomaram o hábito
franciscano 168 noviços.
Nestes anos, a maior turma foi em 1761, com 29 noviços, sendo
18 brasileiros e 11
portugueses. Nesse mesmo ano havia 6 noviços fazendo o noviciado no convento São
Francisco e São Domingos, em São Paulo, 3 no convento São Bernardino, em Angra
dos Reis, e 1 no convento de São Francisco, em Vitória. Tão
importante chegou a ser este Convento, que, em 1765, abrigava 21 sacerdotes, 5
leigos e 1 donato, contando 12 coristas para os autos do culto, sendo, então, o convento de São Boaventura o segundo da
Província em número de frades. Entre os que aí se formaram destaca-se o Frei
Antônio de Sant’Ana Galvão (1739-1822), mais conhecido como frei Galvão, que lá
permaneceu de 1755 a 1761, e que tomou o hábito em 1760; foi declarado pelo
Papa Bento XVI, em maio de 2007, o primeiro santo brasileiro.
No período
pombalino (1750-1777) houve uma diminuição geral da influência das ordens
religiosas, com proibição de formação de noviços. Como no início da década de
1780 o convento achava-se em ruínas, em 1784, o convento foi reconstruído e
ampliado e aí, então, a Ordem Terceira fez uma igreja própria. Em 1786 o
noviciado foi fechado, por causa dos trabalhos de reconstrução do convento.
Nunca mais voltou a ser aberto. Entre fins de 1700 e inícios de 1800 o
noviciado funcionou, com interrupções, no convento de Bom Jesus da Ilha e no
convento Santo Antônio do Rio de
Janeiro. A partir de 1809, só funcionou no convento de Santo Antônio.
O Seminário
de Gramática foi mandado construir em 1727 e iniciado em 1728. Era uma casa de
estudos para os “coristas”, frades que, após o noviciado, eram destinados aos
estudos para futura ordenação. Foi construído nos fundos do convento, com
capacidade para abrigar 12 estudantes. O convento tinha uma biblioteca
volumosa, pois, além do cuidado dos superiores em relação a este particular, o
convento havia herdado, do Administrador Eclesiástico Francisco da Silveira
Dias, uma biblioteca (livraria) “assaz
copiosa e bem sortida”. No governo de frei Agostinho de São José
(1748-1751), o convento foi agraciado com uma relíquia do Santo Lenho, com sua
devida autenticação.
Em 1768,
foi feita uma reforma na capela do convento, passando a ter quatro altares,
além do altar-mor. Estando o convento e a igreja conventual apresentando
nítidos sinais de deterioração devido à passagem do tempo, o Provincial enviou
uma comissão para analisar in loco a situação da construção. Esta foi do
parecer de que era “inadiável a
construção a fundamentis tanto
da igreja, da qual uma das partes estava desaprumada palmo e meio, como da
Casa, cuja maior parte se achava arruinada não só nas paredes mas também no
madeiramento”. Numa reunião do Definitório, do dia 20 de fevereiro de 1784,
decidiu-se a reconstrução, dando-se autorização ao guardião do convento para
que demolisse o que fosse preciso, “e
desse princípio à reedificação, acostando-se aos votos de oficiais
inteligentes, e segundo risco, que fosse conforme aos preceitos da arte, a fim
de se prosseguir, e concluir a obra regularmente; não perdendo de vista a
conformidade que ela devia ter em tudo, com o nosso pobre e humilde estado de
Religiosos Franciscanos Reformados”. A igreja e toda a parte da frente do
convento foram postos abaixo e começou a reconstrução. O resto do convento não
foi reconstruído, sendo feitos apenas reparos nas partes mais críticas. Como
eram de taipa, mais tarde acabaram caindo, e hoje praticamente não há vestígios
desta parte. Toda a fachada, construída de novo, seguiu o estilo artístico em
voga então: o barroco. A igreja da Ordem Terceira, construída também neta
época, contígua à Igreja conventual, seguiu o mesmo estilo, e também resistiu
ao tempo, fazendo hoje parte das ruínas. A reedificação do corpo da igreja
conventual e do corredor de fachada do convento concluiu-se em 1788. A fachada
hoje existente é o resultado dessas obras. A
igreja era de pedra e cal.
“A sua Igreja, feita de pedra e
cal, é perfeita, e asseada: a casa conventual estava á renovar-se com melhor
gosto, e com parede de pedra e cal.” (Araújo, 1794)
“Aquí
acha-se estabelecida uma Ordem 3ª, que atualmente trabalha na construção de nova
Igreja, contígua á Igreja do Convento; e pelo que se divisa na perspectiva,
denota ser de bom risco. Esta Ordem é sumamente prejudicial a Freguesia e ao
Pároco: porque devendo os fregueses contribuir com as suas esmolas, e doações
para a Matriz, só fazem gosto de se exaurirem com a Ordem; e para a Matriz, nada querem dar. A Fabrica vê-se prejudicada dos
seus reditos pelas sepulturas; por que os
Irmãos Terceiros só querem ser alí enterrados; e por esta mesma causa se fazem diminutos os reditos dos Párocos, aumentando-se a
custa deles, os da Ordem Terceira e do
Convento.” (Araújo, 1794)
“Unida à Igreja do Convento está a
Capella dos Terceiros de S. Francisco, que o Prelado da Casa dirige , em
conformidade dos seus presumidos , e fantásticos privilégios ; [...]”
(Araújo, 1820, vol. 2, pg. 194)
O combate
sem trégua dos representantes da administração civil, aliados ao difuso
“espírito das luzes”, difundido também entre o clero secular, que considerava
que o tempo dos religiosos já havia passado, que eram inúteis à sociedade,
aliados ao mal exemplo que os próprios frades davam com as animosidades “intra
claustro”, estão entre os
principais fatores que causaram a decadência da Província. Com relação ao
convento de Macacu, outros fatores devem ser arrolados. Além da diminuição
numérica, o convento e a Vila sofreram também pela mudança de eixo econômico da
região.
A decadência do convento e
da Vila de Santo Antônio de Sá deveu-se às epidemias de “febres de Macacu” de
1829 a 1840, que devastaram a Vila de Santo Antônio de Sá onde se localizava,
provocando mortes e o êxodo da população, inclusive dos monges que abandonaram
o Convento. O irmão leigo frei
Manuel de São José morreu em março de 1829. Em abril faleceu o guardião, que
tinha assumido dois meses antes, frei José da Madre de Deus Loreto. Diante da
situação, os demais frades, seguindo o exemplo dos moradores, fugiram
amedrontados para o Rio de Janeiro. O convento foi sendo gradativamente
abandonado, no entanto, o abandono do convento ainda não era definitivo. Pelos
anos seguintes, a Província tentou manter a vida regular no convento, nomeando
sempre um guardião. Em 1835, quando o Presidente da Câmara requisitou o
convento para servir provisoriamente de Casa de Caridade para doentes pobres, a
Província cedeu, com a condição de que se reservasse uma cela para o guardião e
mais um religioso. Um destes guardiães, frei Theotônio de Santa Humiliana,
deixou um relatório sobre a situação, escrito entre 1836 e 1838:
“Vestirão-se
os Religiosos, Escravos, e curarão-se os Enfermos. [...] Reedificaram-se os
muros do convento do melhor modo possível. Pos-se hua grande escora de canela
para amparar hua parede, e hum corredor, ou Quadra da parte do claustro. Fez-se
um novo Portão para as senzalas. Comprou-se, e fica em poder do Ir. Syndico hum
cavallo de sela. Comprarão-se bolças, saccos, e cangalha, e hum cavallo para
cangalha, cujo cavallo o Escravo Martins hé que sabe o fim, que levou, ou que
lhe deo, andando às esmolas. Fizeram-se duas escadas novas de tacoarania. Fica
o convento provido de várias coisas que não havia e até mesmo dalgum mantimento
para os primeiros dias do novo guardião.”
Em 1837 o
pastor americano Daniel Parish Kidder visitou o convento e observou seu estado
de decadência:
“Fomos primeiramente
convidados a visitar o Convento de Santo Antônio. Era um grande edifício de
imponente aparência externa, mas, bem mal acabado por dentro. Na ocasião em que
o visitamos, estava caindo aos pedaços. Entramos primeiramente na capela [igreja conventual] onde os frades haviam iniciado o louvável trabalho de expulsar as
baratas e remover a poeira, antes de começar a ornamentação para a qual haviam
trazido da cidade os preparos necessários [era véspera de Santo Antônio,
padroeiro da vila]. Entretivemos então
longa conversa sobre as diferentes formas de culto e os sentimentos religiosos
em que se baseavam. A adoração das imagens foi, naturalmente, um dos pontos
abordados de preferência. Pareceu-nos que essa capela, ao contrário de qual
todas as outras do país, era extremamente pobre em imagens. De fato a única que
vimos foi a de S. Benedito, “o pai dos negros”, como jocosamente o denominam.
Conduziram-nos então através de uma longa fila de dormitórios vazios e daí para
o coro onde alguns frades se ocupavam em afinar um velho órgão e organizar
algumas peças de música para a festa. No nicho que ficava num dos lados dessa
galeria, sem dúvida destinado a algum patrono da boa música, descobrimos um monte
de velhos livros corroídos de traça, ao lado de algumas pilhas de manuscritos
que, ao que nos informaram, constituíam toda a biblioteca do convento. Nas
paredes laterais viam-se diversas pinturas toscas, uma das quais parecia
representar Cristo subindo da cruz ao céu, enquanto que de cada uma de suas
chagas corria uma torrente de sangue que ia ter a uma figura, em postura
devota. Nenhum dos frades pôde nos dar explicação dessa pintura, nem citar alguma
passagem das Escrituras que ela pretendesse ilustrar. O convento havia sido
fundado em 1648 e doado por D. João IV, de Portugal, sob condição de manterem,
os frades, uma escola primária de latim. Em tempos foi ele ocupado por
numerosos membros da ordem monástica; na ocasião em que o visitamos, porém,
havia apenas o guardião e oito ou dez escravos. As terras a ele pertencentes
eram extensas. Pudemos fazer idéia de sua vastidão olhando de uma das janelas
superiores do edifício, mas, ninguém nos pôde dizer qual a área aproximada.
Esta circunstância harmonizava-se perfeitamente com o fato de não haver o menor
indício de cultura em ponto algum das terras.” (Kidder, 1837, pg. 162)
A
decadência foi irreversível, fechando
o convento em 1841 com a saída do último Guardião do Convento (abade). O mesmo
frei Theotônio, que foi Provincial entre 1847 e 1850, escrevia ao Ministro
Geral, em 18 de outubro de 1848, expondo a situação geral da Província. Sobre o
convento de São Boaventura, afirmava que o convento não tinha mais nenhum
religioso e que:
“Este Convento é
situado na Vila de Macacu na Província do Rio de Janeiro; é pequeno, velho,
arruinado e caído quase todo: tem a parede da frente nova, feita há muito
tempo. A sua Igreja é nova, mas arruinada no teto. Tem Ordem Terceira anexa;
hoje não é frequentada, está abandonada com o Convento”.
O fotógrafo austríaco Mario Baldi
que visitou as ruínas do convento em 1928 descreveu a senzala deteriorada pelo
abandono:
“Outro edifício do tempo, o cárcere dos escravos,
igualmente em completa ruína, está cercado de uma flora esmagadora. Ainda ali
existem no subterrâneo poderosas grades de ferro avermelhadas pela ferrugem”. (Baldi, 1936)
Os pertences do Convento foram transferidos
para o Convento de Santo Antônio (Largo da Carioca, Centro do Rio de Janeiro),
Igreja de Nossa senhora da Glória (Glória, Rio de Janeiro) e Igreja de Nossa
Senhora da Conceição (Porto das Caixas, Itaboraí). Os azulejos foram retirados
e usados nas fazendas locais. O Convento de São Boaventura entrou em processo
de arruinamento e foi cedido a uma Casa de Caridade, possivelmente, em 1855. Em
abril de 1859, uma parte já estava toda caída, assim como partes do assoalho e
da parede das celas. A partir de 1872 houve um grande vandalismo da estrutura
por indivíduos que procuravam tesouros. Embora em estado de ruínas, os
franciscanos foram seus proprietários até 1918, quando venderam, junto com todo
seu terreno ao redor, para a Abadia de Nossa Senhora do Monserrate (Mosteiro de
São Bento no Centro do Rio de Janeiro). Em 1922 suas terras foram parceladas em
fazendas. Essa propriedade, já com o nome de Fazenda Macacu e conhecida também
como Fazenda Nossa Senhora das Dores de Macacu, ficou em posse da Ordem
Beneditina até 1930. As ruínas do Convento, da Igreja de Santo Antônio de Cacerebu
e da Vila passaram a fazer parte da Fazenda Macacu, vendida pelos beneditinos
para Henrique de Almeida Leite Guimarães em 1930. Em 1937, a fazenda foi
vendida para a Sociedade Comercial E. Jonhonston & Cia. Ltda., que a
vendeu, no mesmo ano, para a Sociedade Agrícola de Macacu. Em 1947, esta a
vendeu para Armando da Silva Chermont, que, por sua vez, vendeu-a, em 1959,
para Joaquim Maciel Didier e João Junqueira Meirelles. Em 1962, o espólio de
Joaquim Maciel Didier foi comprado pelo seu sócio e vendido para a
Agro-Pastoril Santo Antônio de Macacu. Em 1971, a fazenda foi vendida para a
empresa Bozzano Simonsen Investimentos Agrícolas S.A., que, em 1980, vendeu-a
para Maria Cristina Fontes Tourinho. Passou, então, para a Petrobrás, para a
instalação do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (COMPERJ). As
ruínas, foram tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC)
em 1978. São Boaventura é comemorado a 15 de julho.
3 – Descrição:
As ruínas do convento situam-se em uma das
poucas elevações do terreno na planície alagadiça do rio Macacu. A visão do
conjunto das ruínas é impressionante. Só restou do convento a fachada, os muros
da igreja, a torre, a sacristia e os muros da igreja da Ordem Terceira.
Conservam‐se ainda todo o frontispício e as paredes das igrejas e da ala frontal
do convento. Por elas depreende‐se que São Boaventura tinha a tipologia
característica dos conventos franciscanos construídos na província da Imaculada
Conceição. Igreja conventual com galilé em três arcadas e única torre, tendo
sido a Igreja da Ordem Terceira construída ao lado da conventual e em paralelo.
Ambas as igrejas tinham nave única. Com
repetidos saques ao local, nenhuma madeira da construção original restou,
nenhum piso ou ornamentação; até mesmo as sepulturas dos religiosos enterrados
ali foram saqueadas. As paredes eram feitas em alvenaria de pedra
argamassada com cal e areia, enquanto as divisões eram de alvenaria de tijolos
maciços; no chão havia lajotas de barro cozido.
A igreja da Ordem Terceira
ficava à esquerda da Igreja conventual de São Boaventura e apresentava um belo
tratamento de sua fachada. Na fachada anterior havia uma porta central de arco
abatido, que segue o eixo central da construção. A portada possuía moldura em
cantaria e delicado trabalho em pedra. Possuía três janelas no coro em arco
levemente abatido, menos curvo que a porta. A janela central era um pouco mais
estreita que as outras duas. Todas as janelas possuíam moldura em cantaria, com
belas sobrevergas. Cada sobreverga era adornada com um ornato, dos quais só
restou um. Acima, uma larga cimalha dava base a um frontão triangular, com
formas curvilíneas, com um óculo no centro do tímpano. Um cunhal de cada lado
marcava o corpo da capela e se elevavam até o frontão. À esquerda da igreja
ficava um anexo, talvez uma sacristia, com um cunhal na extremidade e uma porta
em arco com moldura em cantaria, e uma janela no 2º andar. Deste anexo, restam
na parede lateral esquerda, 2 andares com quatro janelas em arco em cada andar.
A igreja possuía portas e janelas em ambas laterais. No alto havia pináculos
nos cantos. Atualmente a igreja termina atrás em um arco, provavelmente o
arco-cruzeiro, havendo desaparecido, provavelmente, a capela-mor. A igreja da
Ordem Terceira separava-se, à direita, da Igreja de São Boaventura por um
corredor fechado na frente por um muro com porta em arco de entrada.
A Igreja conventual de São
Boaventura possuía três cunhais bem trabalhados e no 1º andar possuía 3 portas
em arcos plenos (a porta do centro era ligeiramente mais alta), que davam
acesso a galilé. Na altura do
coro havia três janelas de verga curva com moldura em cantaria e sobreverga, emparelhadas
com os vãos do 1º andar, sendo a central ligeiramente mais alta. Todas as
janelas possuíam sobreverga, sendo o ornato da janela central curvilíneo, e os
demais, com arremate realizados com volutas. A parte inferior das janelas
guardava ornatos que seguem o mesmo padrão dos três vãos. Acima das janelas
ficava a cimalha que servia de base ao frontão, que era do tipo clássico
triangular, com semelhanças com o do convento de Santo Antônio, na cidade do
Rio de Janeiro, também da Ordem Franciscana. Havia um óculo em seu tímpano, que
era circundado por ornamentos. Do lado direito da igreja e unida visualmente a
esta pelo cunhal, pela linha que demarca a altura do coro e pela cimalha,
estava a torre sineira. Esta era mais alta que a igreja e possuía no andar
térreo um vão em forma de trevo. No segundo andar havia uma janela em verga
curva com moldura em cantaria e sobreverga, mas sem nenhum ornato nas partes
superior e inferior. Acima da cimalha, no campanário, ficavam 2 janelas em arco
pleno. No alto ainda havia mais uma janela em arco pleno. Da galilé se
adentrava na nave através de uma parede com um vão em verga curva. As paredes
direita e esquerda da nave da igreja possuíam várias portas e janelas, nos dois
andares. Após o arco-cruzeiro surgia uma capela-mor mais estreita com 2 portas
no 1º andar e 2 janelas no 2º andar em cada lado. A igreja conventual tinha uma
nave mais comprida que a da igreja da Ordem Terceira. No interior havia 2
altares laterais, um de Nossa Senhora da Conceição e outro de São Francisco. No
altar-mor ficava a imagem de São Boaventura. O altar-mor era todo folheado a
ouro em estilo barroco e havia uma imagem de São Benedito dos Homens pretos.
Na extrema direita ficava o convento, que
tinha dois andares. Havia sete janelas de verga reta no 1º andar e 2 portas,
sendo uma em arco, emparedada. No 2º andar havia 9 janelas de verga reta. No
entanto, as janelas e portas do 1º e 2º andar não obedeciam a um ritmo regular,
nem em relação as do mesmo andar, nem em relação ao do outro andar, destoando,
desta maneira, das outras construções deste complexo. O mosteiro, apesar dessa
diferença morfológica em relação à igreja, se unia visualmente a esta, graças à
faixa de marcação dos pavimentos, que cruzavam ambas as construções, dando
impressão de unidade. Vestígios no local assinalam que o convento seria em
quadra com um claustro único quadrado. A ala anterior do convento era dividida
internamente em 3 unidades aproximadamente quadradas. A mais externa (direita)
correspondia as 3 janelas mais à direita da parede anterior e tinha na parede
lateral direita uma janela estreita em fresta no 1º andar e 2 janelas no 2º
andar; a parede posterior tinha 2 portas e uma janela pequena no 1º andar e 2
janelas no 2º andar. As outras 2 seções da ala anterior correspondiam, cada
uma, a 3 janelas da fachada anterior e tinham várias portas de comunicação com
a seção contígua e com a parte traseira. No entanto, as paredes divisórias
internas ruíram. Outrora havia, atrás desta ala anterior, e anexa à igreja
conventual, um pátio quadrado aberto e com peristilo em volta. No entanto, tudo
já ruiu.
4 –
Visitação:
Encontra-se em terrenos
do COMPERJ e a visitação é proibida.
5 – Bibliografia:
- SANTA MARIA, Agostinho
de. Santuário Mariano. Tomo X,
Lisboa: Oficina de Antonio Pedrozo Galram, 1722.
- ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Visitas
Pastorais de Monsenhor Pizarro ao recôncavo
do Rio de Janeiro. Arquivo
da Cúria e da Mitra do Rio de Janeiro (ACMRJ), Rio de Janeiro, 1794.
- ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das
Províncias anexas à Jurisdição do Vice-Rei do Estado do Brasil, vol. 2. Rio
de Janeiro: Impressão Régia, 1820.
- LISBOA, Balthasar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro. Vol.
7. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher e cia, 1835.
- KIDDER,
Daniel Parish. Reminiscências de Viagens
e Permanência no Brasil. Brasília: Editora do senado Federal, 2001.
(Original de 1837)
- REZNIK,
L. et al. Patrimônio cultural no leste
fluminense: história e memória de Itaboraí, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu,
Guapimirim, Tanguá. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
- COSTA, Gilciano Menezes. A escravidão em Itaboraí. Uma vivência às
margens do rio Macacu (1833-1875). Niterói, 2013.
- COSTA, Gilciano Menezes. As relações escravistas no Convento de São
Boaventura. Revista Tessituras, no 6, maio 2015
Monastery of Saint Boaventura: Brazil, State of Rio de Janeiro, Municipality of Itaboraí, Porto das Caixas.
The monastery
was constructed from 1670 to 1680 and was the fifth franciscan monastery in
Brazil. It became one of the most important Franciscan monasteries in the novice
formation in Brazil, in the period of 1672 to 1784. From 1786 to 1788 the
monastery was reformed, but there was no more novice formation. After 1829, the
Village of Saint Anthony of Sá suffered a series of epidemics of infectious
diseases (Macacu fevers), probably Malaria and/or Yellow Fever, with many
deaths. The village became depopulated and was progressively abandoned, and so
the Monastery. In 1841 the monastery was closed.
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Mapa Google Earth de Itaboraí |
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Mapa Google Earth. Observe que a vila ficava em uma colina e o rio passava logo atrás dela. Ao norte o ficava o convento |
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Mapa Google Earth. Vê-se as ruínas da Igreja de Santo Antônio e do Convento |
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Mapa da vila feito pelo Major Rivierre, 1838. 1. Casa de Câmara e Cadeia; 2. Igreja Conventual de São Boaventura; 3. Igreja da Ordem 3ª Terceira; 4. Convento de São Boaventura; 5. Rio Macacu; 6. Igreja de Santo Antônio de Cacerebu |
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Reconstituição da Vila de Santo Antônio de Sá. Mesma legenda do mapa anterior. |
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Reconstituição do Convento. À esquerda a Igreja da Ordem Terceira, em seguida a Igreja Conventual e à direita o convento |
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Mapa em 3D do Convento |
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Mapa em 3D do Convento em vários ângulos |
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Mapa em 3D do Interior do Convento em vários ângulos |
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Mapa em 3D do interior do Convento em vários ângulos |
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Vista aérea. Frente |
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Vista aérea. Frente e lado esquerdo |
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Vista aérea. Frente e lado direito |
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Vista aérea. Frente e lado esquerdo |
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Vista aérea. Frente |
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Vista aérea. Frente e lado esquerdo |
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Frente. Igreja da Ordem Terceira e Igreja Conventual |
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Frente, vista da torre sineira da Igreja de Santo Antônio |
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Frente. Observe as escavações das fundações das casas da vila |
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Frente |
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Frente |
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Frente |
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Frente, Edgard Jacintho, 1963 |
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Frente e lado esquerdo |
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Frente |
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Frente |
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Frente e lado esquerdo |
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Frente |
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Frente |
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Frente |
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Frente |
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Frente. Igreja da Ordem Terceira e Igreja Conventual |
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Frente. Igreja da Ordem Terceira e Igreja Conventual |
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Frente. Igreja da Ordem Terceira e Igreja Conventual |
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Frente. Igreja Conventual e convento |
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Vista aérea, lado esquerdo |
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Vista aérea, lado esquerdo e frente |
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Lado esquerdo |
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Lado esquerdo |
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Frente. Igreja da Ordem Terceira |
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Frente. Igreja da Ordem Terceira |
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Frente. Igreja Conventual. |
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Frente. Igreja Conventua |
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Frente. Igreja Conventual |
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Frente. Igreja Conventual. Reconstituição. Detalhe |
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Frente. Igreja Conventual. Reconstituição. Detalhe |
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Frente. Igreja Conventual. Detalhe |
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Frente. Convento |
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Vista aérea. Fundos |
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Vista aérea. Lado direito |
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Vista aérea. Lado direito e fundos |
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Vista aérea. Fundos. No topo da foto à esquerda, a torre sineira da Igreja de Santo Antônio |
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Vista aérea. Fundos.Mais acima, a torre sineira da Igreja de Santo Antônio |
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Fundos. Arco Cruzeiro da Igreja da Ordem Terceira |
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Fundos. Arco Cruzeiro da Igreja da Ordem Terceira |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Fundos do Convento |
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Arco Cruzeiro e Capela-mor |
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Arco Cruzeiro lado direito e Capela-mor |
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Arco Cruzeiro e Capela-mor |
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Capela-mor |
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Nave, Arco Cruzeiro e Capela-mor |
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Nave, Arco Cruzeiro e Capela-mor
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Nave. Coro
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Igreja Conventual. Interior. Reconstituição. Sacristia |
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Convento. Interior. Reconstituição. Claustro |